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(Publicado no Metro de 25 de janeiro)
No momento da vitória Cavaco Silva congratulou-se com o facto de não ter usado cartazes de rua na sua campanha. Na realidade ele foi o candidato do silêncio – sem cartazes, sem respostas às perguntas. Uma das consequências desta estratégia do silêncio foi afastar os eleitores da política e, por isso, Cavaco Silva pode gabar-se de ter sido o Presidente eleito com menos votos e com maior abstenção. É Presidente de um país que neste Domingo disse não acreditar nos políticos, ele incluído.
Vamos a contas: Cavaco foi eleito com o seu menor voto de sempre nas três eleições presidenciais que já disputou: 2.230.104 votos, menos meio milhão que em 2006. Os seus votos representam uns meros 23% do total de eleitores inscritos. Isto não lhe tira legitimidade, mas mostra uma evidência: só conseguiu o apoio de menos de um quarto dos portugueses.
Mais interessante ainda é vermos que 64% dos eleitores optaram por não votar em qualquer dos candidatos apoiados por partidos – e aqui incluo as abstenções, os votos brancos e nulos, os votos em José Manuel Coelho e Fernando Nobre – ao todo 6.200.636 eleitores. Só as abstenções, votos nulos e brancos somam 5.417.428 eleitores num total de 9629.630 – ou seja 59,56% do total. A verdade é esta – quase 2/3 do país não se revê nos candidatos do sistema político. Dá que pensar. O recado é claro: o regime está vazio.
Há outro número curioso – Manuel Alegre perdeu 306.338 votos de 2006 para cá, apesar do apoio expresso do Bloco de Esquerda e do PS. Mas Fernando Nobre, sem apoios partidários, teve 593.868 votos, o que quer dizer que roubou votos aos candidatos institucionais. Manuel Alegre escusa de procurar muito onde estão os votos que perdeu – a maioria deve ter ido para Fernando Nobre.
Por isso é que me apetece dizer que o grande vencedor da noite eleitoral esteve sossegado, afastado da ribalta, e cultivou, ele também o silêncio. Chama-se Mário Soares, e ontem deve ter sorrido ao ver os resultados. Há cinco anos Alegre desfez-lhe a ele, Soares, os resultados eleitorais; ontem Soares serviu-lhe a vingança. Fria, como convém.
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