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(Publicado no Metro de 1 de Fevereiro)
No último fim de semana o New York Times publicou na sua secção de viagens um guia para um fim de semana em Lisboa – de sexta a domingo. É um belo roteiro rápido da cidade. O ponto principal , repetido várias vezes no texto, é que somos uma cidade baratucha e onde se consegue comer a preços razoáveis e visitar museus gratuitos (perante o espanto do autor do artigo, diga-se).
Todos nós que vivemos em Lisboa ficamos muito contentes quando surgem estes artigos. Mas depois, no dia a dia da cidade, ficamos mais pesarosos. Nos últimos anos assiste-se a um esvaziamento da cidade, cada vez com menos residentes, e a um envelhecimento da sua população. Já nem falo da baixa, votada praticamente ao abandono. Mas basta ir para Alvalade, da Avenida de Roma à Avenida da Igreja, para perceber como uma zona que há trinta anos estava cheia de gente, com uma população jovem considerável, com cafés e esplanadas abertos à noite, se converteu progressivamente num deserto que fecha por volta das nove da noite. Depois disso é raro encontrar alguma coisa aberta e não é frequente encontrar pessoas na rua. O contraste com cidades como Madrid é enorme .
Os governantes da cidade não ajudam a reverter esta situação – Lisboa é uma cidade que trata mal quem cá persiste em viver: mais taxas, maiores dificuldades logísticas, penalização dos residentes com viatura por força da extraordinária EMEL, falta de incentivos para rejuvenescimento da população residente.
Aqui há uns anos dizia-se que era o centro histórico da cidade que estava a ficar deserto. Agora são os bairros mais recentes que começam a sofrer do mesmo mal. Mesmo que os turistas gostem muito de nos visitar, a verdade é que cada vez menos pessoas cá gostam de viver – ou cá conseguem viver em condições. Por este andar qualquer dia Lisboa vai ser uma cidade fantasma – com muitos turistas mas poucos residentes.
Faz-me muita impressão assistir a este definhamento de Lisboa, faz-me uma impressão sentir que a cidade é governada para ser vista e não vivida. Este é o maior crime de quem governa a cidade.
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