Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



LISBOA - Leio, e nem acredito: «Os deputados municipais do PS e do PSD em Lisboa recusaram terça-feira, na assembleia municipal, enviar para discussão pública propostas de reorganização das freguesias, alternativas àquela negociada por socialistas e sociais-democratas». Aquilo que podia ser uma boa coisa – a diminuição do número de freguesias e uma reordenação da cidade – tornou-se num case study de manobrismo político. Este é o retrato do pior que existe na traficância de interesses partidários, é o retrato da arrogância e soberba das lideranças dos partidos do bloco central na assembleia municipal de Lisboa. Fui eleito, como independente, mas na lista do PSD, em 2009, para a Assembleia Municipal de Lisboa e depois das primeiras reuniões deixei de participar nos trabalhos, solicitando a substituição, em cada reunião, há mais de um ano. Sobre o assunto tenho mantido silêncio, mas há muito que  discordo da actuação da liderança do PSD na Assembleia, discordo da sua relação com a equipa de vereadores social-democratas, e discordo da forma como tem sido conivente com um funcionamento perfeitamente inútil da Assembleia Municipal. A minha curtíssima experiência autárquica faz-me desconfiar da utilidade deste órgão – um mini parlamento para auto satisfação oratória de alguns funcionários políticos, que  promovem reuniões atrás de reuniões, na generalidade vazias e muitas delas inúteis, para justificar umas senhas de presença e dar uma ilusão de debate. Só que, como se vê, quando o debate público é preciso, ele é abafado. A Assembleia devia ser o garante da relação com os Munícipes, e não um obstáculo. Com esta decisão a Assembleia Municipal de Lisboa ergueu à sua volta um muro que a separa da cidade. PS e PSD foram os obreiros desta obra, um tratado de Tordesilhas da capital, negociado directa e exclusivamente entre as estruturas distritais dos dois partidos, com a benção de António Costa. Assim sendo não se percebe para que serve a Assembleia Municipal – é uma mera figura de corpo presente. Esta semana entreguei a minha renúncia ao mandato de deputado municipal. No estado em que as coisas estão, não alimento a menor esperança que mudem.


 


ARCO DA VELHA – O Tribunal Central de Instrução Criminal, que tem em mãos alguns dos mais mediáticos processos judiciais, é o retrato do país real: uma máquina muito usada de fotocópias, ausência de scanner, falta de armários para guardar os processos, um fax com 11 anos; este é o lado da moeda, inverso ao deslumbre tecnológico de Sócrates. De um lado cenário e fantasia; de outro a crua realidade. No meio, a ineficácia da justiça. Portugal no seu melhor.


 


SEMANADA – O Ministro Silva Pereira foi ao Parlamento dizer que a culpa das falhas nas eleições presidenciais foi do Ministério da Administração Interna, mas zurziu a oposição por pedir a demissão do respectivo Ministro; o Bloco de Esquerda transformou um instrumento político, a moção de censura, numa espécie de bóia salva-vidas para o Governo – que vai sair do assunto a rir-se da oposição; no fundo, Louçã teve uma ideia um bocado parva, para utilizar uma expressão muito em voga.


 


PERGUNTA – Que dirá José Sócrates de Angela Merkel? E que dirá Angela Merkel de José Sócrates?


 


LER - «Prova de Vida» é o novo livro de Filipe Pinhal, ex-presidente do BCP que há três anos foi protagonista de uma história ainda muito mal contada. Neste seu segundo livro sobre o BCP (o primeiro foi «Em Defesa do Bom Nome», de 2009), já com o recuo que o tempo proporciona, Filipe Pinhal relata o que aconteceu, em detalhe, designando pessoas e chamando as coisas pelo nome. É um relato impressionante, muito bem resumido por Miguel Cadilhe, na apresentação pública do livro: «A Caixa Geral de Depósitos financiou o assalto ao BCP, com luz verde do Governo, e apadrinhada pelo Banco de Portugal, CMVM e pelo Ministro das Finanças». Os detalhes e peripécias deste processo que «levou o BCP a mudar de mãos sem que quem o adquiriu pagasse prémio aos accionistas», provocou a governamentalização, politização e desvalorização do Banco – defende Pinhal. Este é um retrato de uma época , a da fase inicial do regime Sócrates, da tomada de posições em vários sectores, numa utilização abusiva do Estado como ainda não se tinha visto de 1974 para cá.


 


VER – A galeria Pente 10 é uma das poucas que em Lisboa se dedica à fotografia – e tem feito um bom trabalho, embora os preços apontados sejam um pouco desproporcionados . Até dia 2 de Abril exibe uma nova série de fotografias de Luisa Ferreira, agrupadas na exposição «Nós». São imagens construídas, situações onde a natureza se cruza com a encenação da presença de pessoas, familiares e amigos da autora. Em boa parte funciona como um regresso às origens, num percurso muito pessoal. Com um cuidado extremo no enquadramento e na abordagem quase gráfica da natureza ( a série dos bosques, por exemplo), «Nós» retoma  a vontade de Luisa Ferreira em mostrar que a sua fotografia vai para além da observação da realidade, preferindo construir momentos. Intervenção na paisagem, como diz Luisa Ferreira.


 


OUVIR – A pianista japonesa Mitsuko Uchida regressa pela segunda vez ao registo dos concertos para piano nº20 e nº 27 de Mozart, duas das peças mais populares do compositor. O registo original foi feito há já algumas décadas, com a English Chamber Orchestra. Aqui Uchida trabalhou com a Orquestra de Cleveland, que surge em grande forma, e com quem a pianista conseguiu estabelecer uma relação perfeita, dirigindo-a a partir do paino, como acontecia na época em que Mozart compôs. Mas o fundamental continua a ser  a precisão, a leveza do fraseado e o sentimento colocado por Uchida nestas peças.


 


AGENDA – Tesouros escondidos por detrás da aparência exterior: assim se pode descrever «BloomArt», a exposição de esculturas murais que Anamar & Telma apresentam na Cordoaria Nacional, até 17 de Março. Cada peça mistura cores com formas, palavras e frases com música e um ponto comum entre todas: no interior, guardado está um anel. E um anel, como escreve João Pinharanda sobre  a exposição, «deve ser um objecto mágico (….) teremos de ser nós a gerir o bem e o mal que ele possui». 


 


PROVAR – O Hotel Inspira Santa Marta é um bom exemplo de recuperação de um prédio antigo. Em vez de uma ruína temos agora um prédio vivido, recuperado com bom gosto e funcional. No seu piso de entrada funciona a Open Brasserie Mediterrãnica – o espaço é amplo, luminoso, infelizmente com clientela não muito abundante. E, no entanto, a cozinha é simpática e baseada em produtos como o peixe espada preto (bons filetes), um saboroso frango do campo recheado ou uma posta de boa carne barrosã, grelhada. Os acompanhamentos tem uma preocupação de agricultura biológica e o restaurante serve água da torneira filtrada. O serviço é simpático, a confecção é boa, a arquitectura é convidativa. Pena não ter mais gente, porque a merecia. Ao almoço e jantar há menus especiais mas em qualquer caso mantém-se a lista. Os vinhos disponíveis não são muitos mas são bem escolhidos e a preço razoável.  Rua de Santa Marta 48, telefone 210440900.


 


BACK TO BASICS – A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano (Voltaire)

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 13:41



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D
  274. 2003
  275. J
  276. F
  277. M
  278. A
  279. M
  280. J
  281. J
  282. A
  283. S
  284. O
  285. N
  286. D