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(Publicado no diário Metro de dia 29)
Não é preciso ser bruxo para adivinhar que estamos todos metidos numa considerável complicação. O Governo que está em funções vai abaixo e o próximo é uma incógnita. Os dados existentes permitem concluir que o PSD terá dificuldades em ter uma maioria clara sozinho, e existe a possibilidade de Sócrates conseguir um resultado eleitoral acima daquilo que há uns tempos atrás se pensava ser possível.
Incúrias várias, de parte a parte, entre partidos e Presidência da República, algum desprezo pela opinião dos portugueses, e a degradação do sistema político criaram uma situação complicada. A coisa acentua-se porque já se percebeu que José Sócrates controla completamente o aparelho do PS e faz o que bem entende – e será ele a liderar as listas socialistas nas próximas eleições.
Estão a vê-lo ser número dois de alguém numa eventual coligação? Isto quer dizer que, do resultado das eleições, sairá sempre um PS pouco disposto a fazer acordos, pouco disponível para negociar, mais interessado em alimentar uma guerrilha contra o vencedor do que em encontrar uma solução de consenso.
Quem rever o que têm sido os últimos dois anos perceberá rapidamente que o padrão de comportamento do PS é fomentar o desacordo em vez de procurar o consenso. Num quadro destes cada vez acho mais complicado defender um sistema de bipolarização, entre PS e PSD – o que faz sentido é que haja maior atenção aos partidos mais pequenos e que o peso dos votos expressos seja mais diluído que o habitual.
Na verdade acredito que só isso possibilitará encontrar soluções equilibradas de alianças parlamentares, sempre mais difíceis quando a diferença entre votos é enorme. Vamos ter pela frente meses difíceis, com um Governo que não inspira confiança, e do qual se pode, legitimamente face à sua actuação ao longo dos últimos anos, pensar que se prepara para aproveitar o tempo que lhe resta para pôr o país ainda mais a saque. Estes meses vão ser um desafio para o funcionamento do regime.
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