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ILUSIONISMO – Os próximos meses vão mostrar como o Governo, em vez de governar, ser sério e encarar os problemas de frente, transformou o poder num exercício quotidiano de ilusionismo. Estamos a meio de Abril e já é patente que a redução de custos na administração pública se está a fazer na base de uma orçamentação irrealista – tudo foi sub-orçamentado para caber nesta politica do esconde-esconde. Já se percebeu que faltam coisas básicas nos hospitais, que nas forças de segurança e no exército as contas foram muito mal feitas e desconfio que os próximos meses vão trazer dolorosas surpresas – não pela mão do FMI, mas pelo que se tornará patente do malabarismo que a equipa de Teixeira dos Santos e Sócrates andou a fazer. Tudo o que está a acontecer – e o que aí vem – tornará mais claro que chegámos à situação em que estamos por causa da acção do executivo ao longo dos últimos seis anos e não por causa do derrube do Governo.
Já percebemos que este vai ser um ano terrível – para muita gente o subsidio de desemprego está a acabar; os preços vão aumentar, sobretudo o dos alimentos; é inevitável que aumente o preço dos transportes. A fome e a miséria vão tocar a muitas portas que as não conhecem. O país, que se transformou num gigantesco hipermercado onde comprar se tornou mais importante que produzir, resume-se a isto: temos uma agricultura e um sector das pescas destroçados e uma indústria sufocada e, nalguns sectores, em vias de extinção. De Madrid chegam notícias de que a Espanha está a sair da crise e nos supermercados portugueses só encontro alhos e fruta espanhola.
Organismos internacionais dizem que Portugal vai ser o único pais europeu em recessão em 2012. Batemos no fundo – e a única vantagem de bater no fundo é que daqui para a frente é mais fácil fazer coisas bem feitas, até porque é difícil fazer pior. A negociação com o FMI tem um único grande desafio pela frente: como aplicar os remédios, dando ao mesmo tempo as vitaminas necessárias para começarmos a crescer?
ARCO DA VELHA – Os descontos efectuados para o IRS, Caixa Geral de Aposentações e Segurança Social a cerca de 50.000 agentes de forças de segurança não foram pagos pelo patrão Estado ao cobrador Estado. Se um empresário fizer isto arrisca-se a ir preso, por reter dinheiro que foi cobrado aos seus funcionários. E quem vai preso no Estado?
SEMANADA – O PS mostrou-se unido; o PSD apareceu partido; Manuela Ferreira leite recusou integrar as listas do PSD; Luis Filipe Menezes recusou integrar as listas do PSD; Marques Mendes recusou integrar as listas do PSD; António Capucho recusou integrar as listas do PSD; Fernando Nobre aceitou integrar as listas de deputados do PSD; Fernando Nobre fez saber que se não chegar a ser Presidente da assembleia da República também não quer ser deputado.
AGENDA – Na edição desta semana da “Newsweek” não perder o belíssimo e oportuno artigo sobre Francis Fukuyama – o que ele tem feito, as suas preocupações actuais em Stanford, o modo como vê o mundo hoje em dia – e ele, Fukuyama, mudou, percebe-se logo. Ainda por cima as cinco páginas que a revista lhe dedica são acompanhadas por excelentes fotografias, numa demonstração do que, de forma simples, pode ainda ser feito na imprensa.
LER – Infelizmente a VASP resolveu aumentar em Portugal o preço de venda da edição norte-americana da Wired para 10,20€ - escandaloso se pensarmos que o PVP original nos Estados Unidos é de 4.99 US$. Assim, para evitar alimentar a especulação da VASP, resolvi passar a ler a Wired no iPad, onde cada edição custa apenas 2.99€ e tem, ainda por cima, muito mais conteúdos. Está feito o aviso à navegação, passemos ao conteúdo. A edição de Abril é dedicada à criatividade, sobretudo aplicada a novos projectos – ideias interessantes que se podem tornar negócio – desde cortadores de relva a mobiliário, passando por roupa. E como arranjar fundos para desenvolver estes projectos – a Wired relata a experiência do Kickstarter, um site originalmente pensado para angariar fundos para projectos artísticos, mas que agora também proporciona captação de investimento inicial para projectos empresariais. Vejam o site www.kickstarter.com que vale a pena. E é uma bela ideia para tempos como os que vivemos.
VER – Manuel João Vieira é músico, cantor, ex-candidato à Presidência da República e artista plástico – e com um bocadinho de esforço ainda lhe encontrava outras actividades. Mais conhecido como músico nos Ena Pá 2000, nos Irmãos Catita ou nos Corações de Atum, Manuel João Vieira é um bom pintor, que traz às suas obras o humor que atravessa a sua carreira musical. Nos seus desenhos e quadros, cheios de pequenos pormenores e com um traço minucioso, vê-se como ele é um observador implacável, que retrata o ridículo e interpreta de uma forma muito peculiar a realidade à sua volta.
Tem um desenho característico e uma utilização das cores também muito marcada e pessoal. O universo das suas obras vive no domínio do fantástico e da manipulação dos corpos e constrói situações complexas, e surreais, com uma aparência de simplicidade. A Galeria Valbom apresenta aquela que deve ser a sua maior exposição de sempre e que, além das pinturas e desenhos, inclui algumas esculturas, uma instalação e um vídeo. No actual panorama lisboeta é uma exposição imperdível, cáustica mas onde o talento e a transbordante criatividade do autor são bem patentes. A exposição tem o título «A mão esquerda contra a mão direita» e vem assinada por Manuel Vieira como Orgasmo Carlos como Manuel Vieira. Avenida Conde Valbom 89-A, de segunda a sábado das 13 às 19h30.
OUVIR – Bill Frisell é um guitarrista norte-americano de 60 anos com uma longa carreira no jazz. Vinicius Cantuária é um músico e cantor brasileiro, também com 60 anos, com longa carreira mas pouco conhecido entre nós. Ambos juntaram-se para fazer «Lágrimas Mexicanas», um disco inesperado e irresistível, onde o calor e ritmo tropicais transmitidos por Vinicius Cantuária se conjugam na perfeição com as sonoridades oriundas dos blues, do jazz e do country da guitarra de Bill Frisell.
Aqui e ali há aromas de outros ritmos, como no «Cafezinho», a atirar para o rockabilly ou o pop de «Lágrimas de Amor» ou, ainda, as referências a Scott Joplin em «Briga de Namorados». A faixa que dá o nome ao álbum, “Lágrimas Mexicanas” é uma esp explosão de ritmos e de energia num e, finalmente, «Calle 7» é a melhor síntese do que ambos conseguiram, uma evocação de um passeio na Sétima Avenida numa mistura de culturas que é a essência da Nova Iorque.
Este dueto é deliciosamente bizarro porque está baseado naquilo que pode tornar um dueto uma coisa séria: a sintonia entre os dois músicos que conseguem combinar a criatividade de cada um de forma natural. Vinicius Cantuária tem estabelecido uma reputação sólida como um dos grandes herdeiros do tropicalismo e tem enveredado por um experimentalismo que nunca abandona as referências populares, mas que aproveita tudo o que pode ser feito com a sua guitarra, voz e percussão e Bill Frisell é um dos magos da guitarra, acústica e eléctrica, e que crescentemente recorre à electrónica para trabalhar as sonoridades e acentuar a improvisação.
É certo que a forma como Vinicius Cantuária canta é irresistível, mas neste disco a qualidade da execução instrumental, a sua riqueza e variedade, é verdadeiramente invulgar. E muito melhor que a maior parte das brasileiradas da moda que por aí aparecem. CD Naive, via Amazon.
PROVAR – Com este calorzinho só apetece um gelado, Se não quiserem ir ao Santini, ao Chiado, podem experimentar as propostas de sabores do Artisani – que tem uma bela esplanada na Doca de Santo e uma loja simpática na Pedro Álvares Cabral 65, ao pé da Estrela (esta nas noites de sexta e sábado está aberta até às onze), Entre as especialidades da casa há uma espécie de bolos gelados, como os Pinguins ou a revisitação do clássico esquimó fresquinho. A Artisani, recordo os amnésicos, foi a casa que no Natal passado teve a ideia de fazer um gelado de Bolo Rei e que tem cupcakes gelados. Imaginação é o mote desta gelataria que apresenta sabores como canela e mel.
BACK TO BASICS – Toda a nossa ciência, confrontada com a realidade, é primitiva e infantil – Albert Einstein
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