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MUDANÇA - A partir de segunda-feira nada será igual. Temos prazos apertados para cumprir. Metas difíceis de atingir. Equipas governativas para formar. Vão encontrar um país que precisa de voltar a ganhar confiança e energia – porventura o desafio mais difícil depois de anos de anestesia e depressão. O novo executivo vai ter de gerir melhor os recursos, dinamizar a economia e motivar as pessoas. Espero que os novos governantes tenham o bom senso de olhar para Portugal como um país e não como uma empresa integrada numa multinacional europeia. Espero que saibam que a governação e a política têm um lado racional e rigoroso, mas também um lado de paixão e desafio. Espero que combinem o cumprimento dos compromissos exteriores com as expectativas de quem cá vive. Temos um PIB reduzido, um crescimento anémico. Deixámos de produzir e concentrámo-nos a consumir e a alteração deste paradigma é decisiva para podermos sobreviver. Quem se sentar no Governo tem que ser realista, encarar os problemas de frente, não esquecer as dificuldades do país nem as dificuldades das pessoas. É no equilíbrio da gestão destas dificuldades – colectivas e individuais – que está a chave de podermos começar a resolver os nossos problemas mais importantes. E, sobretudo, de termos êxito a recuperar a economia e tornar melhor a vida dos portugueses – que é a única razão de existência de qualquer Governo. Muitos dos anteriores dirigentes políticos e partidários esqueceram-se deste objectivo, que parece simples. Por isso mesmo segunda-feira começa um desafio ao nosso sistema político e aos nossos partidos. Serão os partidos e os seus dirigentes capazes de vencer a descrença? Querem continuar, como até aqui, a lamentar o passado, ou estão mesmo interessados em mudar o futuro? Será possível que os partidos voltem a conquistar a confiança e a participação cívica dos portugueses?


 


COLIGAÇÃO – Miguel Relvas disse esta semana numa entrevista que «Passos Coelho será melhor Primeiro-Ministro do que candidato» - a frase resume o percurso zigue-zagueante do PSD nestes meses mais recentes, os erros de comunicação e a forma como geriu, mal, expectativas. Já aqui escrevi que sou incapaz de votar Fernando Nobre, que vou votar no CDS, por ter sido um exemplar grupo parlamentar na oposição a Sócrates e porque assim estou certo de reforçar o equilíbrio das forças num governo de coligação - que é necessário para tirar o país do pantanal onde foi colocado por anos de autismo de José Sócrates. Continuo sem perceber porque é que na conjuntura em que estávamos o PSD não quis fazer uma coligação eleitoral com o CDS-PP – provavelmente a campanha seria mais esclarecedora, o senhor engenheiro teria ficado antes numa situação mais incómoda e ter-se-iam evitado disparates como a candidatura de Fernando Nobre em Lisboa. Estava eu muito irritado com tudo isto quando, há umas três semanas, tive a sorte de assistir a uma conferência de Bob Wilson - ele veio a Lisboa falar sobre as cidades mas acabou a falar da vida. Mostrou como é importante parar para pensar, como falar devagar ajuda os outros a perceberem o que se passa. Falou do equilíbrio, da importância do vazio e do silêncio. Do palco, do teatro e do dia-a-dia. Da luz, e da sombra. Foi uma conferência absolutamente extraordinária, organizada por Luis Serpa. Foi um fim de tarde onde aprendi muito, e que me ajudou a tomar uma decisão. Nesse dia, à noite, lembrei-me de Bob Wilson ter dito que gostava de ver as notícias na televisão com o som desligado. Ele tem razão. Passei a perceber bem melhor as coisas.


 


ARCO DA VELHA – A sabedoria popular manifesta-se hoje em dia no Facebook, onde li esta pérola:  Espanha pede ajuda à União Europeia por causa dos pepinos – já Portugal pediu ajuda à União Europeia por causa de um nabo…


 


LER –  A edição de Junho da revista «Monocle» é dedicada à importância do transporte num mundo global. É um tema curioso – até nas nossas circunstâncias particulares, com a necessidade de articular ligações com Espanha e ser realista nos custos – a este propósito vale a pena ler o editorial de Tyuler Brulé, o director da revista.. Bons artigos sobre a nova música da Etiópia, uma reportagem sobre a vida em Tunes depois da revolução e a forma como os negócios estão a correr na Tunísia e, ainda, um ponto de situação sobre a evolução do design nos países nórdicos. A rematar um portfolio fotográfico sobre Berlim e as pessoas que para lá foram viver e trabalhar. Outros artigos interessantes: como os locais de trabalho são importantes para o equil´+ibrio das pessoas e como evolui o negócio da arte em Hong Kong. As cidades em destaque são Viena e Londres e para a ediçlão do m~es que vem já se anuncia Florença. Embora algumas vezes sem o fulgor das primeiras edições, a «Monocle» continua a ser o melhor guia de tendências.


 


AGENDA – No MUDE, em Lisboa, a colecção permanente tem uma nova exposição, que refresca o olhar sobre o acervo, com novas peças, novos autores e também uma maior presença de criadores portugueses – ao todo 200 peças em exposição até 2 de Setembro. «Seguindo o Traço», uma nova exposição de desenhos de Teresa Gonçalves Lobo, patente no Centro Cultural de Cascais até 26 de Junho; desenhos e fotografias de Pedro Tropa na Galeria Quadrado Azul, no Largo Stephens em Lisboa até 2 de Junho; «Cem Vezes Nguyen», uma exposição da PHotoEspaña 2011 no Museu Berardo até 28 de Agosto; até 17 de Julho na Fundação EDP «Vestígios - Memórias da antiga carpintaria da Central Tejo», um trabalho fotográfico de Luis Campos; na Módulo Tito Mouraz, apresenta, agora em Lisboa, o portofólio, Leitura(s), depois de uma primeira apresentação nos Encontros da Imagem 2010 em Braga, em Setembro passado. Já agora – visitem o site www.artecapital.net , que tem de longe o melhor guia sobre exposições de arte contemporânea em Lisboa.


 


OUVIR –  Um destes dias li, a propósito de «Here We Go Again», o disco de Willie Nelson e Wynton Marsalis que aborda o rertório de Ray Charles, com a colaboração de Norah Jones em algumas faixas, que Nelson cantava pessimamente e que dava cabo destas canções. Eu acho que afirmações destas são oriundas de concursos tipo «Ídolos» - em que se privilegia quem tem vozes perfeitas, descurando a forma como se pratica a música – de preferência certinha, cinzentinha e chatinha. Pois bem: o mundo está cheio de grandes vozes que cantam mal e tem muitos casos de fracas vozes que interpretam de forma superior – é o caso de Willie Nelson e são estas vozes imperfeitas que ficam para a história na música popular. Integrado na iniciativa «Jazz At The Lincoln Cener», este disco, gravado ao vivo, é uma mostra do que o jazz tem de melhor – a improvisação e o gôzo dos músicos e cantores. É um disco saudavelmente imperfeito, divertido como poucos hoje em dia, espontâneo e natural e, acima de tudo, uma grande homenagem ao talento de Ray Charles. CD Blue Note, na Amazon.


 


PROVAR – Confesso que gosto de conservas e nós em Portugal temos uma grande tradição, hoje em dia por vezes esquecida, na indústria conserveira. Nos Açores as conservas de atum são um clássico e uma das fábricas tradicionais da região – a Santa Catarina - acabou de ganhar um prémio da Greenpeace por boas práticas na pesca e tratamento do peixe. As conservas Santa Catarina apresentam algumas novidades pouco vulgares como filetes com orégãos, com batata doce e com tomilho. Qualquer das três variedades foge ao que estamos habituados e o ex-libris da marca é a conserva de ventresca de atum, a barrtiga do peixe, considerada a parte mais rica e saborosa. As conservas Santa Catarina podem ser encontradas em boas lojas gourmet e num no site www.azoresgourmet.com.pt , que aliás recomendo a quem quiser adquirir on line produtos da região.


 


BACK TO BASICS – A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes (Winston Churchill)

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