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(Publicado no diário Metro de hoje)
Esta coluna de hoje destina-se a dar os parabéns aos hipermercados Modelo/Continente e à sua agência de publicidade, a EURO-RSCG. De uma assentada conseguiram criar um evento que paralisou o centro de Lisboa durante quatro dias, transformando a avenida da Liberdade num misto de arraial publicitário e estúdio da TV Rural, convencendo a RTP a transmitir a coisa em directo durante quase quatro horas. Esta iniciativa devia entrar directa para o Guinness – um spot publicitário de quatro horas na televisão do Estado, em sinal aberto é obra.
Claro que o Modelo e a sua agência publicitária sabiamente usaram argumentos politicamente correctos, como o apoio aos produtores nacionais ou a entrega de produtos a instituições de solidariedade social. Estas iniciativas publicitárias – porque é de publicidade pura e dura que se trata e é bom ter isso presente – são na aparência muito interessantes, mas só vivem quando há utilização abusiva de bens públicos, facilitada por diversos poderes.
O que me revolta é a desfaçatez com que António Costa e José Sá Fernandes tomaram a decisão de utilização de um espaço público crucial à vida da cidade, ainda por cima argumentando que teriam feito bom negócio – gabaram-se de terem recebido 100.000 euros de contrapartidas. Além de abuso de poder, fazem gestão danosa: quatro dias de utilização total no pavilhão Atlântico teriam custado mais, quatro dias de um estúdio de televisão de grande dimensão teriam custado bem mais. E nem me ocorre querer saber quanto levaria a SONAE pela utilização em exclusivo dos corredores de um dos seus hipermercados durante quatro dias, se porventura o autorizasse.
O Continente e a Sonae fizeram um grande negócio –a cidade é que não. Os que cá pagam impostos, os que têm lojas abertas na Avenida e pagam contribuições à autarquia, o comércio de rua que é esmagado pelas grandes superfícies é que saem a perder destas coisas. Sá Fernandes já não é o emplastro de António Costa, agora passou a ser o contrário. A criatura tomou conta do seu criador.
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