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(publicado no jornal Metro de 5 de Julho)
Vamos levar com mais impostos. Ninguém gosta de uma notícia destas. Já pagamos muito e vamos pagar ainda mais – e o equilíbrio das contas é sempre a razão invocada. Durante anos gastámos demais e durante anos foram-nos sempre aumentando os impostos. Cada vez que nos apetecer protestar contra novas medidas de austeridade é por isso saudável que todos nos lembremos de como aqui chegámos e quem nos trouxe – quem ajudou ao crescimento do Estado, ao romance das grandes obras públicas de utilidade duvidosa, quem fomentou parcerias público-privadas e quem preferiu ignorar a realidade das contas.
Sabemos agora que o défice orçamental no primeiro trimestre foi afinal de 7,7%, acima dos 5,9% que constam do memorando de entendimento com a troika e daquilo que em vésperas de deixar o Governo o Ministério das Finanças afirmava. Continuo a achar que os responsáveis políticos devem ser criminalmente responsabilizados pela má gestão da coisa pública – um exemplo nesta matéria seria bem vindo. Mas em vez disso vemos os dois candidatos à liderança do PS a abrigarem-se da chuva e a criticarem um imposto cujo efeito prático é igual a uma medida que Mário Soares tomou ele próprio, há uns anos, em circunstâncias semelhantes. Em política a falta de memória ou a irresponsabilidade devem ser punidas – o PS fez muito mal as contas enquanto governou e pelos vistos não se arrepende do assunto.
Temos pela frente um novo imposto extraordinário, que vai permitir arrecadar cerca de 800 milhões de euros – um considerável aumento de receita que vai sair do bolso de todos. Eu gostava muito que este pedido de sacrifício fosse acompanhado de um corte de despesa também significativo. De cada vez que o Governo nos carrega de taxas e impostos, devia apresentar um plano de redução de despesa idêntico, a curto prazo e calendarizado.
Este Governo podia dar o exemplo nessa matéria – cortar primeiro e pedir depois. Se isso não começar a acontecer ficamos com a sensação de que o Governo serve para vender ilusões e os contribuintes cá estarão para serem pagadores de promessas.
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