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Começa a ficar claro que os vários serviços secretos portugueses têm vivido em roda livre. Os seus agentes, seguindo os filmes do género, mostram-se pouco receptivos a cumprir a Lei, acham-se acima de qualquer suspeita e não gostam de dar conta do que fazem. Ao longo das últimas semanas vários jornais têm aprofundado a investigação do comportamento das secretas e o rol de irregularidades é considerável – passa por favores pessoais a amigos, informações a empresas passadas debaixo da mesa, trânsito de agentes entre a actividade das secretas e a actividade privada.
Tudo isto, vai-se sabendo, usando meios técnicos e recursos humanos do Estado para fazer uma circulação ilícita de informações, num misto de favores pessoais e negócios muito pouco claros. Face à situação, aparentemente sistemática de abusos, ainda bem que há jornais que conseguiram investigar e publicar estas informações – e no meio de um clima que se começa a gerar por aí vale a pena dizer os jornais têm feito o que devem e têm mostrado que os serviços secretos – e não os jornais - é que têm feito asneira, e da grossa. Num tempo em que se discute muito o serviço público vem a propósito dizer que esta forma de agir dos jornais que têm investigado o caso constitui um dos mais importantes serviços públicos que os órgãos de comunicação podem fazer: denunciar abusos.
Escavar informação sobre abusos do Estado e dos seus agentes é um bom princípio de funcionamento da imprensa livre. Não por acaso, uma das ilegalidades que se descobriu foi a obtenção ilícita de dados de um jornalista que investigava os serviços secretos. Já se sabe que o objectivo era descobrir quais seriam as fontes de informação do jornalista, adivinha-se que para as perseguir, investigar ou pressionar . No fim de tudo isto sobra uma certeza – os nossos serviços de informação são fraquinhos, não resistem a uma investigação sumária e estão mais cheios de guerrilhas e intrigas internas que um clube de futebol.
(Publicado no diário Metro de 6 de Setembro)
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