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Começo com uma citação, extraída de um artigo de opinião de Manuel Maria Carrilho, publicado na semana passada, sob o título “Opções Inadiáveis”. Carrilho, que foi dirigente do PS e Ministro no Governo de Guterres, chama a atenção para a necessidade de os políticos assumirem as suas responsabilidades, “não tanto a responsabilidade pela assinatura do Memorando com a troika, mas a responsabilidade pelas opções que o tornaram incontornável e inegociável para Portugal”.
E sublinha: “A prolongada negação da crise e das suas consequências, em 2008, e a total desvalorização do endividamento do País e dos seus efeitos, em 2009 e 2010, fizeram o País perder tempo precioso. Foram erros nacionais, que a crise internacional não explica. E os portugueses não esquecerão tão cedo estas opções - nem o líder que as tomou, nem o Partido em nome do qual governava. Não há como contornar ou relativizar esta questão. Ela exige um sério exame de consciência e uma tão humilde como clara assunção de responsabilidades perante o País.”
Muitas vezes discordo de Carrilho, mas nisto ele tem toda a razão – no texto refere-se obviamente aos Governos de Sócrates, cuja actuação aliás criticou, mas eu tomo como boas as suas palavras em relação a todos os que tiveram responsabilidades políticas.
E é por achar estas palavras tão certeiras que fico chocado com a atitude daqueles que dentro do PS, como José Lello e outros, vieram apelar ao voto dos socialistas contra o orçamento, um voto que teria um duplo significado: em primeiro lugar sinaliza que o PS não quer cumprir o acordo com a troika; e em segundo lugar, e isso é que é mais interessante, mostra que aqueles que preferiam votar contra não vêem motivos de censura naquilo que o Governo do PS andou a fazer ao longo dos anos em que negou a realidade e permitiu que as coisas se degradassem ao ponto onde chegaram. Sabe-se que o próprio José Sócrates andou a instigar esta posição do voto contra, entre recados e encontros, mostrando assim que assumir responsabilidades é coisa que o continua a incomodar .
(publicado no Metro de 8 de Novembro)
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