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Estou sentado em casa, ao fim de tarde, e no meio de um leve dormitar, parece-me ver Sócrates aparecer num telejornal. A princípio penso que deve ser um pesadelo qualquer – noites mal dormidas, sonos acumulados, tudo isso às vezes pode provocar esta espécie de alucinações.
Mas depois reparo que não estou a dormir, estou acordado e que o homem aparece nos jornais das oito da noite das três televisões e, em todas, repete, em directo de Paris, a mesma ladainha – sobre a dívida, sobre as responsabilidades de quem governou. Esteve três meses em abstinência e voltou ao pecado ainda com mais força.
Fico a sorrir – continua igual, ele é que sabe, ele é que tem razão, os outros são todos estúpidos e não o entendem. Reafirma que as dívidas dos estados não são para pagar mas para serem geridas. Claro que não diz uma palavra sobre a forma como geriu a nossa dívida. Fico a acreditar que no vocabulário de José Sócrates gerir é sinónimo de aumentar. A única gestão de Portugal que ele fez foi aumentar a nossa desgraça, aumentar a nossa dívida, aumentar os nossos impostos, aumentar a irresponsabilidade, aumentar os planos megalómanos.
Mas José Sócrates Primeiro Ministro não aumentou nem o emprego, nem o nosso nível de vida, nem o bem estar dos portugueses – tudo coisas que havia entusiasticamente prometido nas eleições em que foi candidato.
Olho para este Sócrates parisiense, a dar palestras numa universidade francesa a estudantes predominantemente latino-americanos, que no fim o aplaudem, e não posso deixar de pensar na forma como se relacionou com outros aldrabões políticos seus contemporâneos, como Hugo Chavez. Imagino este Sócrates, arrogante e cheio de certezas como sempre, a comandar o PS por telemóvel desde os Campos Elíseos, a conspirar com José Lello, ou com Francisco Assis, ou a estimular as piruetas parlamentares de Carlos Zorrinho.
Sócrates resistiu seis meses a aparecer de novo nos telejornais e a dar um ar da sua desgraça. Fez uma abstinência mediática de seis meses e quando foi apanhado em falso não resistiu a declarar-se, mais uma vez, dono da verdade. Ele há coisas extraordinárias – ele em Paris e nós aqui a pagar a factura que ele deixou.
(Publicado no diário Metro de 13 de Dezembro)
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