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Quando um partido político escolhe para vice-presidente da sua bancada parlamentar um deputado que roubou gravadores a jornalistas no decorrer de uma entrevista, que lhe estava a ser incómoda, a coisa parece um bocado estranha; quando um outro vice-presidente da mesma bancada defende publicamente, de forma empolgada, que Portugal não deve pagar as dívidas que contraiu, então a coisa começa a ficar mais séria. Este partido é o PS e esses deputados são Ricardo Rodrigues e Pedro Nuno Santos. Como se pode confiar num Parlamento que funciona assim?
Para usar uma expressão de marketing, se há partido que precisa de fazer um rebranding e voltar a ganhar credibilidade, esse partido é o PS, depois de quinze anos quase seguidos de Governo que levaram o país onde estamos, com compadrios diversos – desde os contentores do Porto de Lisboa até uma série de obras públicas suspeitas e parcerias público-privadas ruinosas.
Mas em vez disso o PS chama para os postos de responsabilidade políticos absolutamente suspeitos, pelos actos e pelas palavras. Nenhum partido está isento de ter nas suas hostes pequenos escroques e oportunistas que vivem dos favores da política para irem fazendo as suas vidinhas. Na realidade todos os partidos deviam fazer periodicamente uma reclassificação de militantes, que depurasse as suas fileiras daqueles que comprovadamente não têm ética por palavras e actos. Mas ninguém tem coragem de fazer isso com medo de ferir susceptibilidades do célebre aparelho.
O aparelho é a máquina partidária que elege os líderes e depois apresenta a factura – em negócios de favores locais, regionais ou nacionais, e em colocações. O aparelho é uma máquina de apetite voraz que não tem memória nem coerência. Hoje aplaude um líder num congresso e amanhã aplaude outro da mesma forma, sem se preocupar em saber o que se passou. O aparelho é um monstrinho autofágico que só olha para dentro de si próprio e das vantagens que consegue obter para si e para os seus fiéis. Ou os partidos mudam de funcionamento ou vão ser cada vez mais apenas o refúgio de gente que não olha a meios para atingir os seus fins. Ou seja, gente que não interessa.
(publicado no Diário Metro)
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