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Eu imagino que a vida de Presidente da República deva ser dura. Ainda mais dura quando às funções oficiais se junta o treino de equilibrismo.
Também sei que é tão mal paga que o actual ocupante do Palácio de Belém optou por não receber como Presidente da República porque a sua reforma era melhorzinha que a remuneração presidencial.
Mas como há uns dias atrás o Presidente da República se veio queixar da sua reforma e disse que não devia dar para as suas despesas fixas, imagino que o ordenado de Presidente da República seja mesmo uma coisa modesta – tanto mais que o único número de que Cavaco Silva falou foi 1300 euros.
Eu às vezes interrogo-me sobre a percepção que alguns políticos têm do ridículo de afirmações que fazem. Se tivessem os pés na terra poderiam evitar dizer tantas asneiras e meterem-se em alhadas sucessivas.
Saberá o Presidente da República qual o salário médio dos portugueses? Terá ideia de quanto desconta para a previdência social um jovem acabado de licenciar e a fazer um estágio a recibos verdes pelos mínimos? E terá coragem de dizer a este jovem para continuar a descontar em nome de uma reforma que em boa verdade não sabe se alguma vez vai receber?
As afirmações do Presidente Cavaco Silva são uma séria machadada na já desgastada imagem dos políticos portugueses. Por estas e por outras é que apenas 56% dos portugueses acredita que a democracia é o melhor sistema político. Nós, por cá, não temos elites políticas. Temos apenas ocupantes temporários de instituições, demasiado ocupados a gerirem os seus poderes e a recompensarem os seus apoios. As dificuldades de que o Sr. Silva se queixa são o retrato dos dirigentes que temos.
(Publicado no diário Metro de 24 de Janeiro)
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