Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Coincidências e Estranhezas

por falcao, em 25.01.12

COINCIDÊNCIAS - Eu não quero lançar suspeitas vãs, mas acho uma extraordinária coincidência que logo a seguir a um convívio, em jeito de almoço, ocorrido em Lisboa, entre José Sócrates e alguns dos seus fiéis, um grupo de deputados do PS, considerados muito próximos do ex-Primeiro Ministro, tenha avançado com um pedido de fiscalização sucessiva do Orçamento, por iniciativa individual e à revelia do grupo parlamentar socialista. Mais curioso ainda é que, até ao momento em que escrevo, a Direcção desse grupo parlamentar continue silenciosa sobre o tema, que aliás em termos práticos ilustra a vontade de sectores do PS romperem com o acordo que subscreveram com a troika – retomando assim o que era o desejo profundo imposto por Sócrates na sua obstinação de não reconhecer a realidade. Esta iniciativa de alguns deputados, que se esconde debaixo de uma candura do direito constitucional, é, no fundo, apenas uma manobra de baixa política. De uma assentada cria-se um bloco interno, organizado, a demarcar-se de todas as medidas de austeridade, sem, evidentemente, propor nenhuma alternativa. Ali estão os suspeitos do costume – Vitalino Canas, Alberto Costa, Fernando Serrasqueiro, o sempre fiel José Lello e o iluminadíssimo Sérgio Sousa Pinto, entre outros. Tudo isto acontece ao mesmo tempo que Teixeira dos Santos, de regresso à Universidade, admite, contrariando o pensamento de Sócrates, que a ajuda externa devia ter sido pedida logo em 2010 e reconhece que não existe alternativa ao que está a ser feito. Ouvimos isto e ficamos a ver os pândegos do costume, que levaram o país ao estado onde está, a dizerem alto e bom som que querem que as coisas piorem ainda mais e que nada se faça para resolver os problemas que existem – esse é o sentido único da iniciativa dos apaniguados socráticos. De Seguro e Zorrinho não se sabe o que pensam nem o que dizem. Estão encolhidos a um canto a ver se passam na chuva sem se molharem.


 


ESTRANHO - A RTP nomeou um Director-Geral, Luis Marinho. Conheço o nomeado há muitos anos, trabalhei com ele em várias ocasiões e tenho muito boa impressão dele, além de uma relação cordial. Por isso mesmo nada do que a seguir escrevo significa qualquer dúvida em relação à pessoa. Acontece, no entanto, que esta nomeação está ferida de um pequeno problema – o cargo de director-geral da RTP não está previsto no quadro legal da empresa (desde a Lei da Televisão – na parte que incide sobre a televisão pública - até aos contratos de concessão) e isso não é por acaso. Na última revisão da Lei o assunto foi debatido e a opção dos legisladores foi no sentido de não criar esse cargo, para evitar um conflito de interesses entre as áreas da informação e da programação e para manter a autonomia dos respectivos directores, como a Lei estabelece. Acontece que o novo Conselho de Administração da RTP, que continua a fazer mudanças estruturais mesmo sem saber o que se vai passar a médio prazo, optou por criar uma situação em que irá ter um Director Geral, que obviamente reporta ao Conselho de Administração e recebe as suas orientações, e que terá por missão dirigir o trabalho das diversas direcções de conteúdos da RTP. E é aqui que está o problema – os directores das áreas de conteúdos, seja na informação ou na programação, são supostos terem independência em matéria editorial em relação à Administração e não receberem instruções nessas áreas – é isso que está na Lei. Eu duvido que o Director Geral vá apenas controlar orçamentos, meios de produção e emissão. E não consigo perceber como a ERC concorda com uma nomeação neste enquadramento e nestas condições. Como bem disse Eduardo Cintra Torres numa recente audição parlamentar, a ERC «funciona em roda livre e tem sido muito negativa, no modelo actual, para o serviço público de televisão».


 


GASTRONOMIA – Em honra ao ministro Santos Pereira esta semana não falo de petiscos. Fico-me pelos seus pastéis de nata e pelo frango no churrasco – que de um dia para o outro se tornaram na chave para o desenvolvimento da economia portuguesa. É pena que o Santos Pereira ainda não tivesse saído da casca quando no ano passado houve a votação das maravilhas da gastronomia portuguesa – outros resultados teriam certamente surgido. Mas adiante: o cómico caso dos pastéis de nata a servirem de sobremesa ao frango só revela que este ministro é mais rápido a lançar uma piada do que a anunciar medidas concretas. Se num qualquer cidadão isto se aceita, num Ministro da Economia já não. Dizem-me que o homem aterrou num Ministério onde, em vez de uma equipa, lhe puseram ao colo um saco de gatos. Tudo isto pode ser verdade, mas não explica a tentação de Santos Pereira pela metáfora. Esta semana – dizem-me que apesar dele – foi fechado o acordo de concertação social. É melhor notícia que o sururu pasteleiro.


 


SEMANADA – Num julgamento de uma caso de violação a juíza-desembargadora Eduarda Lobo, saíu-se com esta pérola na sentença:  "agarrar a cabeça (ou os cabelos) de uma mulher, obrigando-a a fazer sexo oral, e empurrá-la contra um sofá para realizar a cópula não constituíram actos susceptíveis de serem enquadrados como violentos"; o Provedor de Justiça questionou a EMEL sobre a legalidade de algumas taxas que aplica; Pastelaria Nobreza de Braga já exporta dois milhões de pasteis de nata ultra congelados por ano.


 


ARCO DA VELHA – Seguro dos bombeiros não cobre queimaduras.


 


PALAVREADO – «Nunca ocorre ao Dr. Soares: os políticos de agora são uma desgraça porque têm de lidar com as desgraças que os grandes europeístas do passado nos legaram» - João Pereira Coutinho, no “Correio da manhã”


 


VER – Laurie Anderson diz que caminhamos para um mundo em que a visita aos museus e o consumo de várias formas de arte vai depender apenas do próprio indivíduo e da forma como ele consegue utilizar a tecnologia ao seu alcance. Os bons sites de museus já possibilitam uma experiência que vai para além da informação de agenda. Proponho que visitem o site www.guggenheim.org e que explorem o seu potencial – nomeadamente clicando na parte referente à exposição de Maurizio Castellan que ocupa a rotunda do célebre edifício do museu. Poderão ver um vídeo que mostra o making off de uma fantástica exposição que interpreta de forma muito pessoal as últimas décadas.


 


LER - A edição de Janeiro da revista britânica "Wallpaper" tem como tema destacado os alunos recém formados nas principais universidades mundiais e que já estão a deixar a sua marca de criatividade em áreas como o design, a arquitectura, a moda, o grafismo, a fotografia e turismo, por exemplo. São dezenas de pessoas que já concretizaram uma ideia, algumas que já a aplicaram em produção industrial, outras que decidiram mudar de vida e fazer aquilo que gostam - desde um art director que resolveu fazer uma padaria muito especial até um agente de músicos que largou os palcos e se concentrou num pequeno hotel. Outros pontos em destaque na revista são um belíssimo dossier sobre algumas das melhores e mais confortáveis cadeiras que se podem encontrar no mercado, uma reportagem sobre os bastidores criativos de Nova York, um especial sobre a moda austríaca e um guia dos novos talentos em duas cidades espanholas - Valencia e Barcelona.


 


OUVIR – Anders Holst é um sueco, cantor de jazz, que vive em Nova York desde há algum tempo, ocupação difícil para um estrangeiro na cidade do «Blue Note» neste tempo em que toda a gente acha que o jazz vocal e o soft jazz são meio caminho andado para o reconhecimento. Há uma explicação para isto : o grupo etário que gosta do género ainda compra mais discos do que faz downloads. A situação levou a que o outrora quase deserto território do jazz vocal se tenha transformado num local apinhado, as mais das vezes com muito pouco talento pelo meio. Acontece que não é o caso de Holst, que há dois anos não lançava um disco novo. Este CD que editou já no final de 2011, «Soho Suite», tem sido apontado como o seu melhor trabalho de sempre. Todas as composições são da sua autoria ou co-autoria, à excepção de uma, os arranjos conseguem evitar as complicações que grande parte dos discos de jazz vocal tem nos últimos tempos e o resultado é um bom trabalho, bem tocado (na maioria por músicos suecos), muito bem cantado. (CD UOM/Amazon)


 


BACK TO BASICS – A insanidade, em indivíduos, é relativamente rara; mas é a regra em grupos, partidos, nações e épocas – Friedrich Nietzche 


 


(Publicado no Jornal de Negócios de dia 20 de Janeiro)

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:22



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2006
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D
  248. 2005
  249. J
  250. F
  251. M
  252. A
  253. M
  254. J
  255. J
  256. A
  257. S
  258. O
  259. N
  260. D
  261. 2004
  262. J
  263. F
  264. M
  265. A
  266. M
  267. J
  268. J
  269. A
  270. S
  271. O
  272. N
  273. D
  274. 2003
  275. J
  276. F
  277. M
  278. A
  279. M
  280. J
  281. J
  282. A
  283. S
  284. O
  285. N
  286. D