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SURDEZ – Uma característica do nosso sistema partidário é a surdez selectiva. Passo a explicar – quando o PS está no poder os seus deputados fazem ouvidos de mercador a tudo quanto são dislates governativos ou de empresas públicas nas mais diversas áreas. Uma vez no Governo o PS tem tendência a deixar que todas as asneiras sejam tapadas pelo grande sol que nos ilumina. Claro que quando o PS passa à oposição todos os movimentos governamentais são suspeitos e as trivialidades anteriores passam a perigosos actos de censura actuais. Claro que o inverso também se aplica ao PSD. Infelizmente os dois maiores partidos não gostam de reconhecer erros nem de reflectir sobre eles e esse é um dos grandes problemas do nosso sistema político. Vivemos na permanente luta entre o mal e o bem, que vão variando conforme os resultados eleitorais – o mal de ontem é o bem de hoje e por aí adiante. O sistema é esquizofrénico e o resultado está dramaticamente à vista. Mesmo em áreas como a Cultura, que devia ser exemplar, o estrago é total - basta ler as extraordinárias intervenções actuais da senhora deputada Inês de Medeiros para me preocupar sobre o que ela andou a conter, provavelmente à custa de calmantes, durante os anos em que o PS desgovernou a pasta da Cultura, num metódico trabalho de criação do caos. Cá para mim alguém deve ter explicado à ex-ministra Isabel Pires de Lima que o caos podia potenciar a criatividade – e vai daí ela atirou-se afincadamente à “caotização” da Cultura, bem seguida aliás pelos seus sucessores na era socrática. O que eu acho curioso é que nessa época a deputada Medeiros tenha andado tão caladinha e agora esteja tão linguareira.
ESPECIALIDADE - A revista do “Expresso” publicou na semana passada um trabalho sobre a vida de José Sócrates em Paris. O que retive na memória foi saber que, enquanto aluno numa universidade parisiense, beneficiava de um estatuto especial que lhe permite algumas práticas pouco usuais em matéria de escolha das disciplinas, frequência das aulas e realização de exames. Depois, voz amiga recordou-me: nada de novo com esse regime especial em Paris – por cá, enquanto na Universidade também viveu de regimes especiais desses. Em resumo, trata-se de um aluno especial, com hábitos especiais.
CONTAS – Depois das afirmações de Cavaco Silva da semana passada percebe-se bem melhor o estado a que o país chegou. O Presidente da República disse que estaria a ter despesas pessoais superiores aos seus rendimentos e, claro, manifestou-se preocupado. É claro que é extraordinário que um reputado economista decida ele próprio gastar acima do rendimento – mas a afirmação deixa-nos perceber o que tem sido o comportamento dos políticos que nos têm governado: gastar acima das posses, fechar os olhos a este simples facto – o dinheiro não chega para as despesas. Insensibilidades políticas à parte o polémico desabafo do Presidente serviu para ilustrar o que é um comportamento recorrente, uma coisa tão interiorizada que ele próprio achou normal dizê-lo.
SEMANADA – Crise força 3300 alunos a desistirem do ensino superior; a reforma da administração local está á espera de decisões do PS; o mercado de trabalho mundial não apresentará sinas de melhoria até 2016; o consumo de combustível caiu 7% no terceiro trimestre; o número de desempregados que não recebe subsídio de desemprego é de 288 mil; O DIAP de Coimbra teve de abrir um inquérito sobre o furto de 77 cêntimos de feijão-verde, num supermercado Lidl. Uma procuradora-adjunta arquivou o caso por se tratar de bagatela, mas o supermercado reclamou, exige julgamento e, agora, o caso ocupa uma procuradora da República; Desligamento do sinal analógico de televisão do emissor da Fóia deixou cerca de 400 pessoas, na sua maioria idosos, sem acesso aos quatro canais de televisão.
ARCO DA VELHA –O departamento do Ministério Público, que tem a cargo a criminalidade económico-financeira e ainda os casos mais graves e complexos, trabalhou em 2010 em mais de 700 investigações mas só 20 resultaram na acusação dos arguidos, isto é 2,7%. O DCIAP queixa-se de falta de meios para investigar.
VER – Um blog relativamente recente, Acordo Fotográfico, dedica-se a coleccionar imagens de pessoas que gostam de ler livro, no pleno exercício do seu prazer, acompanhado às vezes de uma breve descrição do que estão a ler e porquê. Todoas as fotografias são feitas em locais públicos – na rua, em hardins, em meios de transporte e mostram como um livro é um dos melhores entretenimnentos portáteis. Pode espreitar aqui: acordofotografico.blogspot.com .
LER – A edição de Fevereiro da revista “Monocle” é dedicada ao poder da atitude na negociação: sorrir, ser honesto, ser verdadeiro, ser amigável e ser gentil são as recomendações da «Monocle» que elege a palavra “charm- encanto” como a chave para os novos tempos. Outros temas em destaque são a cidade chinesa de Harbin, no norte da China, que está a ter um enorme desenvolvimento, a riqueza petrolífera do Gana e a transformação que a cidade brasileira de Santos está a viver. A presença portuguesa cabe a Rui Rio que numa curta entrevista explica a importância da reabilitação da baixa do Porto. E uma das escolhas do mês para a “Monocle” é o restaurante «Book», do grupo Lágrimas, concebido pelo arquitecto Pedro Trindade. A grande entrevista vai para a mayor de Houston, que na cidade do estado do petróleo, o Texas, apostou nas energias renováveis e nas minorias. Annise Parker, uma lésbica assumida há mais de duas décadas, tem uma agenda de mudança e tolerância inesperada para uma cidade como Houston e a sua actuação está a ser estudada por todos os que seguem a forma como as cidades podem ser governadas. Para seguir o tema de capa, do “charm-encanto”, a Monocle escolhe os dez locais mais encantadores – de um comboio a um edifício de escritórios, passando por ruas, cidades, hotéis, restaurantes e cafés. A cidade escolhida foi Hamburgo, o Hotel foi o Fasano, em São Paulo, e o restaurante a Osteria della Viletta, numa pequena cidade perto de Milão. Finalmente o suplemento do mês é um excelente guia de viagem ao Japão, que se recomenda a todos os que planeiem uma viagem a oriente. Diz quem conhece o Japão que este é dos melhores guias práticos que se podem encontrar. Só por curiosidade, esta é a edição 50 da «Monocle», cada vez mais indispensável.
OUVIR – Esta semana é impossível não pensar em pegar num disco de Etta James e deixarmo-nos contagiar pela força da sua voz. “Peaches”, como ela era conhecida, dedicou a sua carreira a cantar blues e jazz, e depois gospel, desde o seu primeiro álbum, de 1961, «At Last», ainda considerado um dos seus grandes discos – e que no ano passado teve uma belíssima edição com remasterização digital. A década de 60 foi a da sua afirmação, com outros discos notáveis como «The Queen Of Soul», «Call My Name» ou um registo gravado ao vivo, incontornável, «Etta James Rocks The House». Destaque ainda para «Mistery Lady: The Songs Of Billie Holiday» e para o seu derradeiro disco, de Novembro do ano passado, «The Dreamer». Todos os registos estão disponíveis na Amazon e muitos no iTunes. Se quiserem uma boa compilação das suas grandes interpretações, escolham «The Essential Etta James», uma bela compilação de 2010 que tem sido a minha companhia nestes dias.
PROVAR – Sabem o que são alcagoitas? Não se assustem – alcagoita é o termo popular e bem português para amendoim, mas também uma marca bem posta à genuína manteiga de amendoim produzida em Portugal, no caso no Algarve, por António Rosa, a partir de amendoins de cultura biológica. A iguaria faz um belo lanche, pode ser barrada num bolo do caco ilhéu e é um bom desafio como condimento de alguns molhos. A manteiga de amendoim Alcagoita pode ser comprada em Lisboa na já incontornável Mercearia Criativa, Avenida Guerra Junqueiro 4ª – sim, a mesma que tem aquela tarte de amêndoa….
BACK TO BASICS – De uma escorregadela na rua recupera-se com facilidade; mas uma escorregadela na língua dificilmente é esquecida – Benjamin Franklin
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