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PROBLEMA – Há um problema neste Governo e chama-se Ministério das Finanças. É dele que depende o fisco e é da politica fiscal que depende o desenvolvimento da economia. Todos sabemos o que está a acontecer por causa da diminuição do consumo provocado pelo aumento da carga fiscal. Mas há mais: o fisco português tem automatismos que funcionam a favor do Estado, mas não tem automatismos que funcionam a favor dos contribuintes. Um cidadão que tenha sido ameaçado de execução por causa de uma suposta dívida, arrisca-se a ficar meses com a indicação de devedor mesmo depois de o Estado reconhecer razão ao contribuinte. Há umas semanas atrás o fisco enviou milhares de ameaças aos possuidores de motociclos de 125cc, na maioria scooters, por supostamente não terem pago o imposto de circulação de 2008 – quando nesse ano esses veículos ainda não eram taxados. O que nisto provocou de horas perdidas aos contribuintes e aos funcionários das Finanças não é mensurável. Mas será que o Fisco apresentou desculpas e anulou as ameaças? Até agora nada fez, nem sequer reconhecer publicamente o problema. Este exemplo pode parecer mesquinho ao pé das barbaridades que se passam com execuções fiscais a famílias carenciadas e das tolerâncias a dívidas de milhões. Mas é um exemplo da arrogância, arbitrariedade e impunidade do Estado e dos seus agentes - que erram e não corrigem os erros.
SITUAÇÃO – O facto politico mais relevante desta semana foi o apoio de utentes – doentes – à greve dos médicos . O protesto fez o “crossover” – uma coisa rara e que geralmente é desejada quando, em comunicação, se tentam tocar públicos bastante diversos. Pois os médicos conseguiram-no, com a preciosa ajuda de uma notável falta de jeito do Ministério da Saúde. Desde o caso do encerramento de serviços e unidades, passando pelo caso dos salários dos enfermeiros, o Ministério conseguiu o notável feito de fornecer motivos para juntar os grevistas com os utentes atingidos pela greve. Este facto mostra o estado a que está a chegar a tensão social em Portugal. Numa época em que os protestos neste rectângulo pouco têm passado de desabafos no Facebook e outras redes sociais, e de uma acções insignificantes do PC e da CGTP, a greve dos médicos é um sinal vermelho ao Governo. A despesa do Estado deve diminuir sim, mas saber onde cortar e quem penalizar é a questão mais decisiva num país em que as grandes fraudes financeiras são branqueadas. Há qualquer coisa errada na forma como se resolvem os buracos deixados pelos grandes infractores e se penalizam os cumpridores. O Estado da Nação é este: o esforço dos portugueses não é acompanhado por um esforço do Estado e nem os malabarismos das esotéricas criaturas que povoam o Tribunal Constitucional conseguem disfarçar isso.
SEMANADA – A imprensa relata que aumenta o número de empresas que estão a adiar o pagamento dos subsídios de férias; mais de dez mil empresas foram extintas em Portugal no primeiro semestre deste ano; segundo a OCDE Portugal destruiu quase meio milhão de postos de trabalho nos últimos quatro anos; os ginásios perderam cerca de 100 mil clientes nos primeiros seis meses do ano; um pedófilo assumido foi condenado a 5 anos de pena suspensa depois de pagar uma indemnização à família de uma das vítimas - diz-se “arrependido” e o tribunal justifica a decisão dizendo que ele é uma pessoa “inteligente e estruturada”; um empresário da noite, julgado e condenado a 22 anos de prisão por homicídio em atentado à bomba, é deixado em liberdade por decisão de um tribunal que anula a decisão anterior por motivos processuais. um psiquiatra foi ilibado depois de ter violado uma paciente grávida em 2011; um psiquiatra foi ilibado por um Tribunal depois de ter violado uma paciente grávida em 2011.
ARCO DA VELHA – O sector leiteiro português pode perder metade do seu rendimento com a nova reforma da politica agrícola comum europeia.
VER – Joshua Benoliel foi o mais importante foto repórter português das duas primeiras décadas do século XX. Este pioneiro da fotografia na imprensa portuguesa trabalhava para o “Século” (jornal extinto por Manuel Alegre nos anos 70). Em boa hora o Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, que tem grande parte do espólio de Benoliel, montou uma exposição que mostra a visão que ele tinha das varinas de Lisboa. São imagens autênticas, densas, que mostram o que era a cidade vivida no Mercado da Ribeira, em mulheres que inspiravam (e muitas vezes cantavam) o Fado. A exposição “Varinas de Lisboa”, por Joshua Benoliel, pode ser vista de segunda a Sábado, entre as 10 e as 19h00, na Rua da Palma 246. Agora que os museus da cidade estão em redefinição, aqui está um que bem podia ganhar em protagonismo e notoriedade.
OUVIR – Vou ser prático e rápido – “Orelha Negra” está entre os cinco melhores discos portugueses dos últimos anos. Tem canções, tem músicos, cantores, ritmo, melodia e sentimento. Tem intensidade. Dá gosto ouvir e repetir. Inspira-se em sons americanos e europeus, usa guitarras estridentes e linhas de baixo intensas, percussões soltas e teclados envolventes. Se considerar só este ano, é o melhorzinho que por cá ouvi, mais português que alguns fadistas de ocasião. É um belo argumento de exportação. E de animação em qualquer noite destas.
FOLHEAR – Inauguro hoje a lista de sugestões para leituras de férias com um livro escrito por um professor inglês de Ciência Politica, uma disciplina ultimamente de reputação duvidosa. Adiante – Neill Lochery está actualmente no University College de Londres e no ano passado publicou o livro “Lisbon – War In The Shadows Of The City Of Light 1939-1945”. A Editorial Presença editou o livro em Portugal há pouco tempo e as histórias de espiões que povoam estas páginas encantam-me – até porque o autor soube criar um relato cativante da forma como Lisboa se tornou na única cidade europeia onde aliados e potencias do Eixo operavam à luz do dia e se vigiavam mutuamente. Nestes anos Lisboa era o ponto de passagem de figuras como os duques de Windsor, Calouste Gulbenkian, Ian Fleming (o criador de 007) e muitos outros personagens. O autor mostra o delicado equilíbrio politico em que Salazar jogava a neutralidade na II Grande Guerra e traça um retrao aventureiro de Lisboa. A edição portuguesa, bem traduzida, chama-se “Lisboa – A guerra nas sombras da cidade luz”.
PROVAR –Volta e meia regresso aos mesmos restaurantes, mas é o destino que o dita. Neste caso o destino está ligado a pastéis de bacalhau. É fácil fazer um mau pastel de bacalhau, mas é muito difícil fazer de forma constante um bom pastel de bacalhau. O equilíbrio da mistura entre batata e bacalhau desfiado, os diversos condimentos, a forma de os moldar, de salpicar de salsa a massa crua, e, no fim, o ponto certo da fritura, fazem toda a diferença. Para mim os melhores pasteis de bacalhau nascem no Apuradinho, em Lisboa, na Rua de Campolide 209-A. Nem sempre estão na lista mas pode indagar da sua existência pelo telefone 213880501 . Vêm geralmente acompanhados de um arroz de tomate bem cozinhado sem malandrices, com um toque de pimentos. O “Apuradinho” tem boa fama, mas quem lá vai tem bom proveito. Eu não me canso de repetir a dose e até acontece encomendar, para levar uma pratada de pasteis de bacalhau, acabadinhos de fazer, para uma patuscada de amigos.
GOSTO – As exportações portuguesas continuam a aumentar
NÃO GOSTO – De investigações jornalísticas com agenda politica nem de notícias com cheiro de vingança
BACK TO BASICS – Devemos treinar para suportarmos a perca daquilo que mais tememos ver desaparecer – George Lucas, em Star Wars
(Publicado no Jornal de Negócios de 13 de Julho)
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