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TELEVISÃO – Nas últimas semanas têm-se sucedido os anúncios de novos canais de televisão – Correio da Manhã, Bola, dois novos da TVI – (um de ficção e outro de entretenimento). Os indicadores mais recentes apontam para que em Portugal mais de 70% dos lares já utilizam televisão por assinatura – aquilo a que vulgarmente se chama TV Cabo. Este aumento brutal do número de utilizadores do cabo, é, em grande parte, devido à forma desastrada como o processo de transição para a TDT foi gerido. Mas, seja qual for a causa das coisas, agora a maior parte dos telespectadores vê televisão por cabo e no futuro a probabilidade é de a situação não se alterar e até de se aprofundar um pouco mais. De forma quase sistemática o conjunto de canais do cabo é já o segmento que regista valores mais altos de audiência, maior que qualquer dos canais generalistas. Por outro lado parece ser cada vez mais provável que para a próxima época os jogos da Liga portuguesa não sejam transmitidos em nenhum canal aberto e apenas na Sport TV, que detém os direitos das respectivas transmissões. Esta situação não é nada de espantar, o mesmo acontece em vários países europeus, que há muito deixaram de ter futebol em canais gratuitos. Sucede que esta paisagem – proliferação de canais no cabo, aumento do universo de espectadores do cabo - é uma má notícia para a privatização da RTP, cujos contornos se continuam a desconhecer. De tal modo estão as coisas que nos últimos tempos há quem se questione sobre se surgirão candidatos a essa privatização – será sempre uma operação mais cara do que o lançamento de novo canal – e embora os resultados sejam diferentes, também é certo que o risco é menor, até porque a publicidade no cabo aumenta e nos canais de sinal aberto diminui. Como a questão passou para a esfera política mais do que económica, quer dizer que começou a ficar irracional. A ver vamos se nenhum dos operadores de cabo vai ter, in extremis, de engolir o veneno em que a privatização da RTP se arrisca transformar.
SEMANADA – Os emigrantes que vêem a Portugal de férias, por automóvel, queixam-se de não receberem informação suficiente sobre as portagens electrónicas nas SCUT; os turistas estrangeiros deixaram em Portugal, de Janeiro a Abril, 475 milhões de euros, mais 15% que no ano passado; um ladrão roubou material de guerra da GNR à porta do quartel do Comando da corporação no Porto; no primeiro semestre deste ano já se verificaram nas prisões portuguesas tantos suicídios como no total do ano passado; em Portugal, de Janeiro a Março, morreram 33 101 pessoas e nasceram apenas 20 794; por dia ficam falidos 25 particulares; compras da China a Portugal cresceram 64% este ano; António Costa declarou considerar ter “algumas qualidades” para ser secretário geral do PS; António Costa admitiu querer alargar ao PCP a coligação nas próximas autárquicas de Lisboa; a CMVM detectou uma pessoa – não identificada - que exerce cargos na administração de 73 empresas cotadas em bolsa; taxa oficial de desemprego duplicou em quatro anos; a cobrança de impostos está a arrecadar menos receita do que em 2008, quando o IVA estava a 21%.
ARCO DA VELHA – O Ministério das Finanças é aquele onde a dívida a fornecedores mais aumentou no primeiro semestre deste ano – em casa de ferreiro espeto de pau.
VER – A fotografia em película tinha um processo criativo bem diferente da fotografia digital. Cada rolo de película de 35 mm acomodava 36 imagens. Uma vez revelado, o rolo era a base de provas de contacto – folhas que reproduziam em tiras os negativos no seu tamanho original. E era daí que os fotógrafos escolhiam as imagens que consideravam ideais e que , posteriormente, ampliavam. É a partir deste método que o belga Jef Geys olhou para Lisboa. A exposição que está na Culturgest, no Campo Pequeno, até 2 de Setembro, mostra duas provas de contacto resultantes de outros tantos rolos de película utilizados para fotografar Lisboa, a preto e branco, em 1998. É simultaneamente um olhar sobre um método de trabalho que deixou de existir e uma interrogação sobre a forma como a fotografia pode evoluir. É um curioso registo de uma forma de olhar e de fotografar.
OUVIR – O novo disco de Neneh Cherry não é para ouvidos delicados e incapazes de aventuras. Trata-se de um disco de jazz como já é raro encontrar hoje em dia. Neneh, que é filha de Don Cherry, um trompetista marcante com quem Ornette Coleman gostava de tocar na década de 60. Neneh começou carreira na pop e tem andando arredada de gravações a solo desde 1996 – à excepção de umas vocalizações esporádicas - por exemplo com Gorillaz. Agora ressurge num disco atrevido, com um trio de músicos suecos e noruegueses que fazem da improvisação sem barreiras o seu estilo de eleição. Para Neneh Cherry este álbum é um momento de redenção, onde todo o seu talento surge de forma clara. The Thing, o nome da banda, é uma homenagem a um tema homónimo de Don Cherry. O ”The Cherry Thing”, assim se chama o disco, inclui quase só versões – apenas o tema de abertura, “Cashback” foi escrito por Neneh Cherry. Aqui podem encontrar “Golden Heart”,de Don Cherry, “What Reason Could I Give”, de Ornette Coleman, mas também surpresas como “Dirt” dos Stooges ou uma interpretação absolutamente inesperada e arrebatadora de “Dream Baby Dream” dos Suicide ( de Alan Vega) – que engraçado que hinos punk sejam agora, passadas algumas décadas, homenageados pelo jazz improvisado. As coisas, afinal, não andam longe umas das outras. CD Small Town Supersound, na Amazon.
FOLHEAR – A “Egoísta” de Junho é redonda e dedicada à noite. É redonda porque tem o formato de um círculo perfeito, à excepção de uma pequena pega na lombada, que serve para prender as páginas. Mário Assis Ferreira, o director da revista, recorda que “ a noite é um hiato contínuo em metade das nossas vidas” – por alguma razão se diz que ela é boa conselheira. Esta noite, da “Egoísta”, traz-nos fotografias de fantasia de Andreas Reinhold, fotografias testemunho de Augusto Brázio, fotografias memória de António Barreto, um magnífico texto de Fernando Sobral sobre a vida que não tem horas e um conto inesperado de Marta Jecu. Mais uma boa edição cheia de imaginação. Que seria de nós sem estas surpresas sazonais que a “Egoísta” nos proporciona?
PROVAR – Esta semana experimentei o QB, localizado na Quinta da Beloura, perto da entrada da zona de escritórios, numa das antigas casas originais da Quinta, remoçada há uns anos para a actual função. Fiquei a apreciar a robustez de um petisco de entrada que é uma morcela no forno com cebola e maçã caramelizadas, bem seguido por uns estimáveis pasteis de massa tenra com arroz de coentros. O serviço é eficaz, o local arejado e confortável, a lista de vinhos tem boas surpresas e a refeição correu da melhor forma. Na lista existem outras propostas como pastéis de bacalhau com o tradicional arroz de cenoura, bifes e iscas a portuguesa. Bom sítio para, por estes dias de verão, fugir à ventania do Guincho rumo a uma almoçarada depois de uma partida de golfe. Telefone 219 240 166 .
GOSTO – Do apoio da PT às boas ideias de novos projectos, que pode ser visto no site vamosla.pt – precisam-se de mais empresas com a dinâmica de inovação e de intervenção social da PT, neste acaso através da TMN.
NÃO GOSTO – Da maneira como a Câmara dificulta a vida dos lisboetas cortando o trânsito no Terreiro do Paço.
BACK TO BASICS – “Quem quiser ter uma carreira com êxito na política tem que ter consciência de que há um assunto que nunca deve mencionar – a política” – Gore Vidal.
(Publicado no Jornal de Negócios de 3 de Agosto)
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