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O país anda suspenso da palavra “refundação”. Há políticos que discutem o seu significado, há líderes da oposição que se opõem à palavra – mas até hoje ninguém explicou o que ela quer dizer de facto - como muito bem notou o Professor Adriano Moreira, que sugeriu que fosse Passos Coelho a dizer o que entende ser a tal “refundação”. De uma forma simples, Adriano Moreira veio chamar atenção para o ridículo da situação – um Primeiro Ministro que proclama um objetivo que não detalha e uma classe política que não faz o óbvio, que é perguntar-lhe o que quer dizer. O episódio da refundação teve dois efeitos colaterais: acentuou o silêncio de Cavaco Silva e mostrou que o líder da oposição é do contra por princípio, mesmo sem saber, como nesta caso, aquilo que está a contrariar. Temos portanto o caldo entornado porque a refundação evidenciou que o PS deixou de querer fazer parte da solução e colocou-se do lado do problema, que aliás ajudou substancialmente a criar.
No meio disto, há uma pergunta que se repete com persistência: onde anda Cavaco? No Facebook, um dos seus locais de eleição, anda desaparecido desde o dia 13 do mês passado, o dia em que invocou o estudo do FMI sobre os efeitos das medidas de austeridade. No resto, não se sente nem se ouve, num momento em que o PS diz que se vai embora do sistema, em que o estado de paz podre da coligação faz aumentar os sinais de crise política, em que o orçamento é o que se sabe, e, finalmente, num tempo em que as eleições autárquicas e o romance dos candidatos que transitam de círculo eleitoral são matéria que promete. Entre um governo que criou a imagem de ser uma correia de transmissão da senhora Merkel e uma oposição suicida seria desejável existir um árbitro, alguém com bom senso. O bom senso que Adriano Moreira tem e que falta tanto noutras paragens.
(Publicado no Diário Metro de 6 de Novembro)
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