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POLÍTICA - O expediente é conhecido: quando uma administração de uma empresa quer tomar uma decisão, que já sabe poder provocar rupturas, pede a uns consultores para analisarem a situação a seu contento. E, depois, anuncia que os sábios opinaram naquele sentido e lamenta dizer que, para garantir a sobrevivência, o único caminho é aquele. Isto foi o que o Governo fez com os consultores do FMI - lêem-se os agradecimentos do estudo e percebe-se como saíu este resultado. Não é uma surpresa: quando Passos Coelho anunciou a refundação do memorando, no início de Novembro, era dos preliminares deste estudo que falava, como agora se percebe.
O Estado tem que ser cortado - isso já se sabe. Mas sendo assim, porque é que o Governo de Passos Coelho, que tomou posse a 21 de Junho de 2011, durante um ano e meio nada fez para diminuir o peso do Estado? O curioso é que, quando se lê o estudo do FMI, não se encontram novidades na análise da situação. Para fazer isto, bem podiam ter feito logo o serviço em 2011 - mas isso era desagradável, porque Passos Coelho tinha ganho as eleições com um programa onde não falava em nada disto e tinha escrito um livro, “Mudar”, editado há precisamente três anos, onde o cenário agora traçado não se vislumbrava.
Ninguém se pode queixar de falta de informação. Em 2005, Miguel Cadilhe, num artigo no “Expresso”, explicava como a reforma do sistema remuneratório da função pública, implementada no final dos anos 80 por influência directa de Cavaco, era responsável pelo crescimento do défice das contas do Estado. Segundo o historiador António José Telo, na sua “História Contemporânea”, o lema central do cavaquismo era "Menos Estado, Melhor Estado" - mas a realidade foi completamente diferente: Cavaco aumentou os funcionários em salário e em número, e criou um monstro despesista que foi continuado por António Guterres. Desde 1985, ano em que chegou ao governo, até 1995, no terceiro e último executivo de Cavaco Silva, os funcionários públicos passaram de 464.321 para 639.044, um crescimento de 174.723 funcionários em dez anos - 87 mil por legislatura, mais do que os 75 mil de Guterres (os números são da Pordata). Como tudo isto já era conhecido, o relatório do FMI foi largado na velha táctica política de atirar o barro à parede. Diz-se o pior cenário possível, para depois qualquer recuo dar a sensação de uma vitória aos seus opositores. Não deixa de ser curioso notar que este atirar de barro à parede é feito no dia a seguir ao discurso optimista de Passos Coelho sobre o QREN, por acaso também no dia a seguir a Paulo Portas ter constatado que “há sintomas de desalento e desânimo da sociedade que é preciso contrariar com sensibilidade”. A sensibilidade viu-se - e o mínimo que se pode dizer é que de certeza esta não é a melhor forma de começar uma discussão séria sobre a redução do peso do Estado - que de facto é necessária. Temos vivido numa ilusão, e querem dar-nos outra. Um país, por muito que tenha que ser bem gerido, não é exatamente uma empresa. José Adelino Maltez fez notar que o relatório do FMI apenas numa única nota de pé de página utiliza a expressão “democracia”. E não usa as palavras “justiça”, “nação” ou “igualdade”, já para nem mencionar “liberdade”. Isto traz-nos à questão de fundo: temos que reduzir o peso do Estado, mas temos que o fazer dentro dos mecanismos do regime em que vivemos. Quem se mete na política tem que conhecer as suas regras.
SEMANADA - Os transportes públicos de Lisboa registaram uma quebra de 25% de utilizadores; nas autoestradas portuguesas circulam menos 245.000 carros por dia que há um ano; a Segurança Social registou um défice de 857 milhões em 2012; a receita fiscal continua muito abaixo das previsões; o Presidente da Republica enviou o Orçamento para o Tribunal Constitucional; o PS mandou o Orçamento ao Tribunal Constitucional; o Bloco de Esquerda, os Verdes e o PC deixaram o Orçamento no Tribunal Constitucional; o Provedor de Justiça entregou o Orçamento ao Tribunal Constitucional; o Secretário de Estado do Orçamento fez uma declaração a avisar o Tribunal Constitucional dos perigos em que pode incorrer se rejeitar o Orçamento; Vital Moreira escreveu no seu blog que o Orçamento, na sua opinião, não é inconstitucional; a taxa de desemprego em Portugal é de 16,3% e a média da União Europeia é 10,7%; a taxa de desemprego entre os jovens com menos de 25 anos é de 38,7%; as Presidenciais são em 2016 e Guterres regressou a funções em Portugal, no Conselho de Administração da Gulbenkian.
ARCO DA VELHA - Josualdo Ferreira é o quarto treinador do Sporting nesta época em que o clube, em sete jogos, leva apenas duas vitórias na Liga. Traduzindo por miúdos: treinadores - 4; Sporting - 2.
OUVIR - Gosto muito de ouvir discos só de guitarra e “Mel Azul”, de Norberto Lobo, é uma bela descoberta. Não é fundamentalista, é arriscado, oscila de ritmos e influências, passa dos sos de Lisboa para os de África, os tropicais ou os blues com à vontade e sem visrtuosismos de pacotilha. É garantidamente um belo trabalho - dá prazer a ouvir e percebe-se ter sido feito com igual prazer e empenho.
VER - Alguns livros, como os que mostram obras de fotografia, são uma espécie de exposições portáteis, que podemos revisitar em casa quando apetece. “A Cortina dos Dias”, de Alfredo Cunha, é um desses livros. Mostra imagens do foto-jornalista Alfredo Cunha, feitas entre 1970 e 2012 e é uma espécie de compêndio visual da História recente de Portugal. Alfredo Cunha foi testemunha de excepção de muitos dos momentos marcantes das últimas quatro décadas - primeiro no “Século”, depois nas agências noticiosas, mais tarde no Público, na Visão e no Jornal de Notícias, para além de uma passagem como fotógrafo oficial dos Presidentes Ramalho Eanes e Mário Soares. No prefácio do livro, João Silva, fotojornalista do new York Times, cita Richard Avedon: “Todas as fotografas são verdadeiras. nenhuma delas é a verdade”. As centenas de imagens deste livro são a preto e branco - como eram impressos muitos dos jornais e revistas onde originalmente foram publicadas. Alfredo Cunha tem uma maneira de ver - não se limita a registar. E é precisamente a existência desta maneira de ver que faz dele um dos grandes foto-jornalistas portugueses.
FOLHEAR - “Debaixo das Tílias” é o segundo volume das poesias de Henrique Segurado, de 1990 a 2010. Há um ano tinha surgido o primeiro volume, que ía de 1969 a 1989 e tinha por título “Almocreve das Palavras”. À semelhança do primeiro volume este tem também ilustrações de Rui Sanches, mas há uma clivagem entre os dois - fruto das épocas e dos momentos de escrita, fruto das diferenças dos tempos e situações. São poesias do quotidiano, um bloco notas de emoções, como um diário que se vai espalhando por folhas soltas.
PROVAR - Durante alguns anos habituei-me, por facilidade logística e genuíno prazer, a almoçar no Cervejanário, um restaurante situado no passeio de Neptuno, loja 9 e 10, em frente à marina da Expo. Além de bifes diversos, a casa fazia jus ao nome com uma boa colecção de cervejas de várias geografias e com uma cozinha portuguesa que tinha sempre bons pratos do dia. Há pouco tempo Joaquim Amaral Marques, o fundador, um homem com história na televisão, passou o testemunho a Carlos Rodrigues. O novo responsável optou por não mexer no que estava a funcionar bem. A casa usa boa matéria prima e a confecção é cuidada - como um polvo à lagareiro atestou um destes dias. Outros pratos usuais são salsichas frescas com couve lombarda, bacalhau à Braz, arroz de polvo. A garrafeira tem preços sensatos e além disso o serviço é atento e expedito, mesmo quando existe um grupo grande na sala, como era o caso. Gozando de uma localização privilegiada, junto ao rio, com vista directa para a marina, o local é ideal para espairecer ideias a meio de um dia de trabalho ou para juntar amigos ao fim de semana. Aberto sempre para almoços, e para jantares mediante marcação prévia, o Cervejanário às vezes mostra os seus pratos do dia no Facebook e pode ser contactado pelo telefone 218 946 044.
GOSTO - Do video do tema “Incomplete”, com Rodrigo Leão e Scott Matthew.
NÃO GOSTO - Do video “Lisbon Soul Of The World” que pretende apresentar a cidade como destino ideal para a instalação de criadores e de indústrias criativas.
BACK TO BASICS- «O que é ilegal faz-se rapidamente; o que é inconstitucional leva um bocadinho mais de tempo» - Henry Kissinger
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