Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
FACTURAS - Com C e sem acordo ortográfico - assim é menos politicamente correcto.
Vamos a factos: um comunicado do Ministério das Finanças, emitido quarta-feira para a Rádio Renascença, dizia que “a autoridade tributária está a actuar à saída de estabelecimentos comerciais e já instaurou diversos processos de contra-ordenação a consumidores que não pediram factura”. Os consumidores estão assim a ser transformados em polícias. A lógica do Estado é simples: ter polícias em todo o lado, fazer de cada cidadão um vigilante. A coisa é ainda mais apurada que no antigamente: há umas décadas atrás os funcionários públicos - mas só estes - podiam receber umas gratificações se denunciassem quem não tinha licença de uso de isqueiro. Agora todos são chamados a ter o seu quinhão na colecta de impostos. A melhor de todas as observações sobre este triste episódio que revela a natureza do Estado que este Governo quer, veio do Cão Azul, um fabricante de T shirts, com mensagens irónicas estampadas, que colocou no Facebook, esta observação: “As repartições de finanças não têm mãos a medir com a quantidade de contribuintes que hoje foram pedir a factura do BPN com medo de serem multados por falta de factura do dinheiro que gastaram na privatização do banco".
CRIAR - Gostava de recordar que no Reino Unido as indùstrias criativas dāo trabalho a milhāo e meio de pessoas, em mais de cem mil empresas, que atingem 41 mil milhōes de euros de facturação e asseguram exportaçōes no valor de nove mil milhōes de euros. Em Londres, a seguir ao sector financeiro, o sector das indústrias criativas é o mais importante do ponto de vista de volume de negócios. Ali estão incluídos o design, a moda, a música, os filmes, as produções de televisão, a publicidade, assim como diversas artes. Na Universidade de Londres, seis colégios são dedicados ao ensino de várias destas artes e ofícios e 40 por cento dos seus alunos são estrangeiros, oriundos de 91 países. Empresas do sector das tecnologias de informação,das telecomunicações e do turismo vão lá frequentemente recrutar talento. Em Março, no muito prestigiado e imperial Victoria & Albert Museum, inaugurará uma exposição dedicada a David Bowie, mostrando o seu papel e influência na alteração dos padrões de criação e consumo da cultura popular em várias áreas. E por cá, com tanta conversa sobre indústrias criativas, que se fez? Lisboa que tem para mostrar nesta área?
SEMANADA - António Costa e António José Seguro foram a Coimbra abraçar-se; Mário Soares e Manuel Alegre fizeram as pazes; António José Seguro escolheu para slogan a expressão “Portugal Primeiro”, a mesma que foi utilizada por Passos Coelho em 2012; cada português gastou 259 euros em medicamentos em 2012, menos 11,7% que em 2011; Portugal aplicou apenas uma das 13 recomendações do Conselho da Europa para melhorar a incriminação de suspeitos e a transparência do financiamento partidário; a área ocupada pelo pinheiro bravo reduziu-se um terço nos últimos 15 anos; uma reportagem de um jornal diário relata que a crise está o provocar enchentes nos consultórios de bruxos e videntes; Portugal é o segundo país europeu com o preço mais baixo de um hamburguer Big Mac, logo a seguir à Estónia; as exportações para a China quase que duplicaram em 2012 em relação ao ano anterior; os países fora da União Europeia são responsáveis por 88% do crescimento de exportaçōes em 2012; no último ano os bancos portugueses cortaram 2350 postos de trabalho e fecharam mais de 150 balcões; os bancos portugueses têm cerca de 23 mil milhões de crédito malparado.
ARCO DA VELHA - A Câmara de Torres Vedras quer candidatar o carnaval da localidade a património da humanidade
VER - Três sugestões de fotografia para esta semana. No Espaço BES Arte, no Marquês do Pombal, José Medeiros, um dos grande nomes da fotografia brasileira, propõe “O Rio É Uma Festa”, que pode ser visto até 4 de Abril. Na Kameraphoto (Rua da Vinha 43A, Bairro Alto) os brasileiros Fábio Messias, Gio Soifer, Maíra Ramos, Marco A.F. e Otávio Almeida apresentam “Tanto Mar”. E, na Cordoaria Nacional, até 23 de Março, Valter Vinagre apresenta o trabalho que desenvolveu com a APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) com o objectivo de retratar o universo das vítimas de crime em Portugal.
OUVIR- Rodrigo Amado é um dos mais interessantes músicos de jazz portugueses, com o atractivo suplementar de ter carreiras paralelas enquanto editor e produtor discográfico, crítico e, também, fotógrafo. Mas é o seu mais recente disco, “Live At Jazz Ao Centro”, que aqui merece destaque. O Motion Trio (Rodrigo Amado no saxofone, Miguel Mira no violoncelo, Gabriel Ferrandini na bateria) teve a participação do trombonista Jeb Bishop na actuação realizada no Festival “Jazz Ao Centro” de Maio de 2011, em Coimbra, e o resultado deste cruzamento é uma explosão de improvisação - no primeiro tema Rodrigo Amado e Bishop exploram os respectivos territórios e é o diálogo entre os dois músicos que acaba por ser o ponto alto nos outros dois temas, “Imaging Caverns” e “Red Halo”. É justo sublinhar o trabalho do baterista, permanentemente a servir de ponto de união entre as improvisções, e a sonoridade invulgar conseguida por Miguel Mira no violoncelo, nomeadamente na abertura de “Red Halo”.
FOLHEAR - A "Aperture" é uma revista norte-americana, que se edita quatro vezes por ano, exclusivamente dedicada á fotografia. Existe graças à Aperture Foundation. que além de uma galeria, mantém uma actividade de edição de livros muito interessante e é ainda responsável por um curioso blog. Se acederam a www.aperture.org poderão ter uma ideia da extensão do projecto. A revista fez agora 60 anos e ao longo das décadas que existe tornou-se uma referência em termos de história e crítica da fotografia. Na ediçāo de Outono (a mais recente disponível na Amazon UK ) destaco um ensaio sobre a fotografia de guerra, um portfolio sobre comunidades rurais na Rússia e fotografias de publicidade na Vogue americana entre 1930 e 1950. Em apenas 80 páginas percorre-se um mundo de imagens.
PROVAR - Uma coisa que me enerva é a utilização abusiva da palavra gourmet aplicada à designação dos restaurantes. Iludido pela palavra e por maus conselhos, caí um dia destes na Hamburgueria Gourmet, um estabelecimento localizado no 114 da Rua da Alfandega, já a chegar ao Terreiro do Paço. No princípio da refeição nada fazia prever o que aconteceu; a lista incluía promessas de haburgueres que incorporavam queijo da serra, presunto de Chaves e até copita de Barrancos. No entanto, e por estarmos em Lisboa, decidi experimentar o hamburguer Marrare, que imaginei homenagear o bife do mesmo nome criado por um cozinheiro italiano que andou por estas paragens no final do século XVIII. A receita original é simples, mas complicada demais para esta hamburgueria. Vou passar por cima do facto de a cerveja pedida ao mesmo tempo que o bife ter demorado mais de dez minutos a chegar e vou esquecer que estive 35 minutos à espera do tal hamburguer. Passemos à substância: o hamburguer tinha sido grelhado na chapa, não tinha tempero que se saboreasse nem paladar que se percebesse. Derramava-se em cima de uma alface que entretanto recozeu, e tinha uns pedaços inusitados de tomate e cebola intercalados entre as duas fatias da carne ressequida. A apropriação indevida do nome Marrare vinha de uma tímida colherada de uma pasta, que teoricamente imitava o molho que deu nome ao bife, e que originalmente tinha a particularidade de ser o produto no qual a carne era cozinhada - e não minguamente baptizada, como neste caso. Em resumo, uma experiência a não repetir e que me faz desconfiar de algumas revistas que fazem listas dos melhores sítios para comer hamburgueres e colocam este local em lugar de destaque.
GOSTO - A revista literária Granta vai ter uma edição portuguesa dirigida por Carlos Vaz Marques.
NÂO GOSTO - Do regresso das obras de construçāo de novas rotundas a seis meses das próximas autárquicas.
BACK TO BASICS - Estar na política é parecido com ser treinador de futebol - tem que se ser suficientemente esperto para perceber o jogo e estúpido ao ponto de julgar que se é importante - Eugene McCarthy
(Publicado no Jornal de Negócios de dia 15 de Fevereiro)
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.