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Quando um cómico tem bom resultado eleitoral fica provado que a política se transformou por completo em comédia. A culpa disso não é do cómico, neste caso de Beppe Grillo, e do seu movimento “Cinco Estrelas”. A culpa é dos políticos que desacreditaram o funcionamento do sistema até ao ponto em que as pessoas ou deixam de votar ou votam de uma forma cáustica, para mostrarem a sua distância em relação aos partidos tradicionais.
Beppe Grillo, que ganhou fama na televisão, desde há anos que faz da crítica à corrupção na política o tema do seu humor cáustico, mas foi a sua intervenção, primeiro num blogue, e, depois, no facebook e noutras redes sociais que massificou verdadeiramente o seu posicionamento político e o do seu movimento.
Mais cedo ou mais tarde um fenómeno semelhante repetir-se-à noutros países – e o sucesso obtido nestas eleições italianas vai servir de catalisador para surgirem localmente candidatos a assumirem o papel de Beppe Grillo. Não me admiraria se nestas autárquicas alguma coisa surgisse já – aliás foi precisamente pelas eleições autárquicas de há uns anos atrás que o movimento de Grillo iniciou a sua intervenção política em actos eleitorais.
Durante uns anos o Bloco de Esquerda foi o refúgio dos descrentes, mas ele acabou por se institucionalizar e existe um vazio no espectro partidário – com a particularidade de poder ser abrangente em termos ideológicos, já que o protesto contra a desgraça do sistema e dos partidos que existem é o ponto de partida de tudo. Vamos ver quem assumirá o papel de Beppe Grillo na tragicomédia em que se tem transformado a política em Portugal.
(Publicado no diário Metro de 5 de Março)
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