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SOBRE O ESTADO QUE TEMOS

por falcao, em 01.11.13

ESTADO - Uma grande parte do nosso mau estado vem do demasiado Estado que temos. Quando o 25 de Abril se deu, em vez de mudar o Estado, criaram-se mecanismos que o reforçaram. Se nessa altura já tínhamos muito Estado, o que aconteceu de 1974 para cá foi um absurdo e descontrolado crescimento desse Estado - na economia, nas empresas, na justiça, em tudo. Se antes tínhamos um Estado autoritário, depois criou-se um Estado permissivo, ineficaz, gigantesco, amorfo e imóvel. O Estado passou a ser o país, confundiu-se com ele e foi alastrando de forma descontrolada. Os custos do Estado passaram a ocupar todos os custos do país - de maneira que nada sobrou e aconteceu o que se sabe e que estamos agora a pagar. Os partidos gostaram disto, porque o Estado era uma espécie de brinquedo da Lego nas suas mãos - iam pondo e tirando peças à medida das suas conveniências. Todos cresceram assim. Devo reconhecer que em matéria de abuso do Estado a União Nacional era tímida aprendiz ao pé daquilo que os partidos parlamentares posteriores fizeram. O Estado serviu para tudo - para encomendar obras cujas comissões financiaram eleições, para promover carreiras, para encomendar o desnecessário e criar o inútil - veja-se como o despudor do Estado, em Portugal, tem uma imagem, que é a epidemia das rotundas. A reforma do Estado que agora se anuncia pode ser uma intervenção profunda ou uma cirurgia superficial, mas para o tratamento resultar é preciso que por uma vez os Partidos queiram mudar este estado de coisas e criar um Estado que permita que a sociedade viva. Como já se viu nas últimas 48 horas, a reforma do Estado é travada por aqueles que consideram que o Estado social só existe com um Estado tentacular. Acontece que é o contrário - o tamanho do Estado está a matar o papel social que ele devia ter.


SEMANADA - Esta foi a curiosa semana em que o mundo descobriu que havia espiões e que os Estados Unidos espiavam o que podiam; António Costa, na Quadratura do Círculo, apostou que Santana Lopes seria candidato à Presidência da República; três dias depois Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que não exclui uma candidatura à Presidência da República; Sócrates lançou um livro; Carrilho lançou um escândalo; Seguro não fez nada; em 2012 registou-se em Portugal o menor número de nascimentos desde que há registos - menos 7,2% que em 2011; cerca de dez mil pessoas deixam Portugal todos os meses; o PSD prepara processos de expulsão contra cerca de 400 militantes que nas autárquicas participaram em outras campanhas que não as do partido; a Inspecção Geral de Actividades de Saúde afirma que três em cada dez atestados médicos não têm fundamento; o Estado deve 2600 milhões de euros a empresas; Paulo Portas anunciou a reforma do Estado; os custos da nova sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, Alemanha,  já derraparam mais de cem por cento e a construção de cada posto de trabalho vai custar 30 vezes mais que o preço de mercado; em 2012 Portugal exportou 17,5 milhões de euros de castanhas; título da semana: “Cristas deixa cair limitação do número de animais domésticos”; Fernando Ulrich afirmou que Portugal não tem moral para dar lições a Angola.



ARCO DA VELHA - Vai-se a ver e o processo da Procuradoria Geral da República, que precipitou uma crise diplomática com Angola, tinha sido arquivado dois meses antes do pedido de desculpas de Machete em Luanda  - que, portanto,  na altura já era mais que escusado. Há demasiado tempo que a Procuradoria brinca com o país.


VER -  Miguel Barceló, um dos grandes artistas catalães, tem uma ligação curiosa a Portugal - durante um tempo, nos anos 80, viveu em Vila Nova de Milfontes.  No escondido Museu do Azulejo, em Lisboa, tem uma exposição até 24 de Novembro, onde sob o título “Terra Ignis” mostra algumas das suas cerâmicas que vale a pena ver. Na Pequena Galeria, Av 24 de Julho 4C, uma mostra do acervo de fotografia, naquele que é o mais estimulante local de Lisboa para ver e debater a imagem fotográfica. E na VPF Cream Art Gallery, Rua da Boavista 84, pode ainda ver aquela que é a mais marcante peça em exposição em Lisboa, a montagem (re)visito(me), de André Banha. Finalmente finalizo as sugestões com a exposição que está na Galeria Cristina Guerra (Rua de Santo António à Estrela 33), “Ouriços”, de José Loureiro, de que aqui se deixa uma imagem.


OUVIR - Já que esta é a semana em que o surf foi notícia por causa das ondas gigantes da Nazaré, vale a pena ouvir uma das bandas sonoras contemporâneas dos surfistas, ou seja, Jack Johnson. O seu novo álbum “From Here To Now To You” é o seu melhor trabalho nos últimos anos, muito graças à obra de Mario Caldato Jr., que produziu vários discos dos Beastie Boys e que aqui está ao lado de Johnson, tal como o seu amigo Ben Harper que mais uma vez o acompanha.. As canções voltam a ser sobre o quotidiano, como se pode ver na faixa de abertura “I Got You”, em “Tape Deck” ou em “Washing Dishes”. Depois de dois álbuns mais duros, voltam as canções com a marca do primitivo Jack Johnson, reflexos de dias calmos no Hawai, canções feitas à guitarra acústica, tão inspiradas como “Never Fade” ou “You Remind Me Of You” e sobretudo aquela que provavelmente é a melhor canção do disco, “Radiate”. (Brushfire Records, na Amazon).

FOLHEAR - A Monocle de Novembro é dedicada ao frio do Ártico mas tem uma página inteira sobre Campo de Ourique. Piadas à parte, esta é uma edição especialmente recomendável para aqueles que já sentem frio nesta semana em que a temperatura desceu um pouco - quando lerem a descrição do que se passa nas zonas perto do Ártico, do número de horas de sol, da temperatura média e de como ali se vive o dia-a-dia do Inverno, começam a achar que apesar da troika temos ainda um resto de paraíso. Esta é também a edição do Design Directory, que explora casas, locais, mobílias e acessórios. E sítios - Campo de Ourique é classificado como o melhor subúrbio dentro de uma cidade, embora seja o bairro de Kapyla, em Helsinquia, que é apontado como o melhor local para estabelecer uma família.. Há um artigo muito interessante sobre as casas pré-fabricadas finlandesas que me faz pensar porque é que com o nosso clima a coisa é tão pouco utilizada. O portfolio desta edição da Monocle, para mim uma das partes imperdíveis da revista, é dedicado aos ferry boats que no Alaska asseguram a circulação de pessoas a zonas onde não há outro meio de transporte. Eu gosto de histórias contadas por imagens. E gosto da forma como a Monocle, nos seus artigos utiliza sempre várias pequenas fotografias para ir mostrando como são as coisas e as pessoas de que fala.


PROVAR - Confesso que uma das coisas que me tira mesmo do sério é o chocolate. Houve tempos em que era capaz de sair a corrrer de casa antes da uma da manhã, tentando ainda apanhar uma loja de conveniência aberta para pode comprar uma tablete de chocolate preto. Hoje em dia tenho o cuidado de me abastecer para evitar correrias. A qualquer cidade onde vá procuro sempre lojas de chocolate e surpreendi-me um dia destes, a passear na baixa lisboeta, quando dei com a nova Chocolataria Equador, na Rua da Misericórdia 72, dedicada a belíssimos chocolates artesanais feitos no Porto. Para os mais novos há uma “birra de chocolate de leite”, formato chupa chupa gigante redondo, para os mais crescidos com saudades da meninice há uma sombrinha de chocolate negro, para os mais aventureiros há um magnífico cacau crioulo, que mistura chocolate negro com vinho do porto, para os mais afoitos há uma barra de chocolate negro “muito forte” e finalmente há o meu preferido, uns insuperáveis cacos de chocolate negro com frutos secos. Tudo isto é demasiada tentação. Vou voltar à Rua da Misericórdia 72.


GOSTO - Uma empresa portuguesa, de Espinho, venceu o concurso para o fornecimento das iluminações de Natal de Oxford Street, em Londres.


NAO GOSTO - De quem transforma a sua vida privada numa lavandaria industrial.


DIXIT - “A Constituição não pode obrigar o país a chegar à bancarrota” - Paulo Mota Pinto


BACK TO BASICS - Quando a compra e a venda são regulamentadas por leis, os primeiros a serem comprados e vendidos são os legisladores - P. J. O’Rourke.

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