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Na ressaca das autárquicas começam a surgir as notícias de que alguns partidos políticos estão a mover processos contra militantes que apoiaram outras listas que não as dos partidos onde estavam filiados. Estas purgas internas varrem em graus diversos todo o leque partidário, mas o PSD é porventura o partido onde existem mais casos.
Eu percebo que um partido fique incomodado quando um militante se rebela. Mas também não posso deixar de pensar que muitas vezes a rebelião dos militantes nasce do facto de os partidos se afastarem dos seus princípios, de tomarem decisões erradas, de terem o processo de decisão concentrado em meia dúzia de pessoas que não se importam nem com a análise do que pode ser melhor e proporcionar melhores resultados, e muito menos pensam no que pode contribuir para uma boa imagem do seu partido.
O que se passou em vários pontos do país teve a ver com análises mal feitas, com juízos que tiveram mais em conta guerras de poder internas do que a apresentação de candidatos e programas credíveis. Muitas vezes, contrariando o mais elementar bom senso, foram apresentados candidatos sem nenhum ligação com os círculos onde iriam ser votados. O resultado foi sempre negativo para os partidos que fizeram este tipo de escolhas.
Ocorre-me perguntar se, em vez de instaurarem processos a militantes que se rebelaram contra más decisões, não valeria a pena averiguar quem tomou essas más decisões, saber porque as tomou e, no fim, instaurar processos a quem foi afinal o responsável pelo que sucedeu.
Ao longo dos anos, infelizmente, os partidos têm-se afastado da realidade e são cada vez mais círculos fechados que apenas se movem para benefício de quem domina o aparelho, e não uma organização que se move em nome de uma ideia ou de um programa. E isso vai dar mau resultado.
(Publicado na edição de 5 de Novembro do diário METRO)
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