AEROPORTO – O Governo diz agora estar disposto a estudar alternativas à Ota – a abertura de espírito surge em altura oportuna – descomprime as relações com a Presidência da República e pretende aliviar a pressão que esta questão estava a causar na candidatura de António Costa. Mas como de boas intenções está o inferno cheio, cá para mim continua a valer a pena, no âmbito da campanha autárquica de Lisboa, debater de facto qual a melhor localização para o Aeroporto de Lisboa, o aeroporto que serve a capital – e é neste domínio que vale a pena debater: não estamos a falar de um aeroporto nacional, mas sim do aeroporto que serve a capital de um país, as empresas que lá estão, os turistas que vêm à cidade - porque os que quiserem ir descobrir os encantos do Douro aterrarão no Porto e os que querem ir a banhos para o Algarve escolhem Faro. É bom ter isto em conta, e é bom que cada candidato diga claramente que solução prefere e que assuma o compromisso de a defender: se a Ota, se Alcochete, ou se a extensão da Portela, que são as três alternativas em cima da mesa. A maior parte dos candidatos já se pronunciou. António Costa quer agora evitar ter posição sobre a matéria – o que é inaceitável para quem aspira ser Presidente da Câmara de Lisboa. Que quer Costa? Defender o Governo ou os interesses da cidade que aspira dirigir?
VER/LER – Há livros que são objectos visuais, que ultrapassam os textos que publicam e que vivem baseado nas imagens, na forma como elas estão organizadas. Em Portugal não há muitos ensaios fotográficos editados, vale a pena destacar a excelência fotográfica do mais recente trabalho de Inês Gonçalves, aqui com Kiluanje Liberdade. O livro chama-se «Agora Luanda», tem 188 páginas e foi editado pela Almedina. É de uma rara intensidade e é dos melhores livros de fotografia portugueses.
OUVIR – O novo disco de Mário Laginha tem uma história curiosa: parte de um desafio lançado por José Mateus, o Comissário da Trienal de Arquitectura de Lisboa, actualmente em curso. Laginha conta nas notas de capa do disco que Mateus o levou a ver algumas das obras mais significativas da arquitectura portuguesa e que confirmou, nessas visitas, o que já pensava – que existe uma relação entre a arquitectura e a música, assumindo assim de onde veio a inspiração para este disco, a que significativamente deu o nome de «Espaço». Contada a história, passemos ao disco: tem oito composições originais de Laginha, interpretadas por ele próprio ao piano, por Alexandre Frazão na bateria e por Bernardo Moreira no contrabaixo – para mim o trio de piano, bateria e baixo é a formação preferida do jazz, reabilitada nos últimos anos muito por força dos primeiros discos de Brad Mehldau. Este «Espaço» do Trio de Mário Laginha é uma das boas surpresas da edição nacional na área do jazz, mais uma vez da responsabilidade da editora Clean Feed/Trem Azul.
REGISTO – Francisco Amaral é o responsável por um dos melhores programas de rádio, na área musical, alguma vez feitos em Portugal. O programa chama-se «Íntima Fracção» e já passou por algumas frequências. Há uns anos esteve na TSF, depois perdeu-se numa qualquer reestruturação de grelha e nos últimos tempos vivia exclusivamente, mas organizadamente, na Internet no blog que o seu autor criou para o efeito,
http://intima.blogspot.com/ . No meio das recentes alterações que o Rádio Clube Português tem vindo a fazer, eis que o «Íntima Fracção» regressou ao formato rádio e volta a estar disponível para todos os que quiserem ouvir uma das mais perfeitas seleccções musicais que é possível descobrir nas ondas hertzianas. O «Intima Fracção» vai para o ar nas noites de Domingo para Segunda, à meia noite. Obrigado, Rádio Clube Português.
PETISCO – Tenho a mania de provar salgadinhos nos cafés, gosto de experimentar como são os croquetes, as empadas, os rissóis, as merendinhas que tão boas memórias me trazem. Um dos salgadinhos que tento sempre provar, em havendo, dá pelo nome bem português de pastel de massa tenra. São célebres os do restaurante Papa-Açorda em Lisboa, há tempos descobri uns num café do largo de Marvila que eram bem bons, mas por estes dias dei com uns outros que merecem referência. A massa é perfeita, nem muito grossa, nem muito fina, o recheio é bem temperado, o tamanho é honesto. Podem ser provados na Pastelaria Sá, esquina da Conde de Valbom com a Miguel Bombarda, às avenidas novas, em Lisboa.
BACK TO BASICS - A simplicidade é o auge da civilização, Jessie Sampter.