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AFECTIVIDADES - Na semana passada meio país andou a falar sobre a privatização da TAP, uns a favor, outros contra, outros ainda na típica posição de “vamos ver”. E não faltou quem aparecesse a criticar a privatização em nome da afetividade à companhia. Pois eu, que às vezes tenho que voar na TAP, tenho cada vez menos afetividade por ela e isso é basicamente porque a TAP não mostra nenhuma afetividade para com os passageiros. Já nem falo dos atrasos, mas falo da forma como os passageiros são tratados, tantas vezes sem manga à saída ou chegada a Lisboa e com um serviço de bordo no mínimo pouco simpático. Mesmo quando achávamos que a coisa não podia piorar, eis o que me aconteceu num recente voo de Valência para Lisboa, ao que parece operado por uma tripulação búlgara num avião com as cores da TAP. Para além do costumeiro atraso este vôo teve uma particularidade: nenhum dos membros da tripulação dirigiu palavra aos passageiros. Passeavam, mudos e vigorosos, no corredor, a ver se os cintos estavam apertados. Não surgiu nem um copo de água - que teria sido bem vindo depois de todo o atraso. Cereja no topo do bolo: o comandante não dirigiu uma única palavra tão pouco, não pediu desculpas pelo atraso, não falou durante todo o voo, nem na aproximação a Lisboa, com as habituais informações que se dão nestas circunstâncias. Foi um vôo sui generis, o preço do bilhete não foi nada barato mas a TAP comportou-se pior que uma low cost. Assim sendo, a minha afetividade pela companhia é nula. António Costa nacionalizou a TAP com juras de amor eterno e até a comparou às caravelas portuguesas que partiram a descobrir mundo. Agora já está disposto a vendê-la até na totalidade, se necessário fôr. É mais uma manifestação da sua incoerência e da sua habilidade no ilusionismo político. Nada de novo, portanto.
SEMANADA - Os pedidos para bolsas de estudo no ensino superior já totalizam 90 mil, mais dez mil que no ano passado; o consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens está a aumentar desde 2015 e quase 40% dos jovens de 18 anos admitem terem-se embriagado severamente no último ano pelo menos uma vez; apenas 60% dos alunos inscritos concluem os cursos de mestrado; no âmbito de investigações sobre corrupção há 29 inspecções a decorrer no Ministério da Defesa; este ano já foram abertos 220 processos crime a lares por “condições indignas e cruéis de tratamento” de idosos e por propriação indevida dos seus bens; a esperança de vida em Portugal dos homens é 78,05 anos e a das mulheres é 82, 52 anos; entre Janeiro e Outubro reformaram-se 705 médicos do Serviço Nacional de Saúde e espera-se a reforma de mais uma centena até final do ano; segundo a Ordem dos Médios há duas dezenas e meia de hospitais sem meios para tratar os doentes em áreas como a medicina interna, pediatria, cuidados intensivos, ginecologia, obstetrícia e cardiologia; a recusa de médicos a mais horas extra fechou as urgências em seis hospitais; em 2021 74% da população portuguesa dizia-se satisfeita com o SNS mas esse valor desceu agora para 53% e três em cada cinco pessoas afirmam ter reduzido os gastos com a saúde por razões económicas; a avaliação bancária na habitação teve uma subida de 8,8% no período de um ano, fixando-se em agosto nos 1538 euros por metro quadrado; os novos radares quadruplicaram as multas por excesso de velocidade em apenas um mês.
O ARCO DA VELHA - Em vésperas do início do debate sobre o Orçamento de Estado constata-se que a maioria dos estudos, grupos de trabalho e avaliações propostos pelos partidos da oposição na sequência da discussão do anterior orçamento não saíram do papel e não se efectuaram.
O ENCANTO DA PINTURA - A pintura ocupa um lugar à parte nos meus gostos pessoais em matéria de artes plásticas. Está a par com a fotografia e, ambas, um pouco acima da escultura. Entre estes três mundos - pintura, fotografia e escultura - podia bem passar os meus dias a lavar a vista e a estimular o pensamento. Vem isto a propósito do trabalho que Pedro Cabrita Reis apresentou na passada semana em Lisboa, na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). É um conjunto de oito quadros com o título comum “Flores”, pintados em 2020 os mais pequenos e em 2023 os de maiores dimensões. Para Pedro Cabrita Reis “estas flores são francamente flores, não são flores disfarçadas, digamos, nem de arte abstrata nem conceptual”. O artista confessa a sua admiração pela pintura de Giorgio Morandi (1890-1964) e admite a sua influência: “A Morandi vou buscar os vasos das plantas e, a mim próprio, estas flores impossíveis que não existem.”, Na imagem está “Flower Pot 6”, uma das oito pinturas da exposição , cujos preços oscilam entre os 150.000 euros e os 25.000 e que ficarão expostas até 25 de Novembro. Um dia antes da inauguração de Lisboa, Pedro Cabrita Reis esteve em Londres para a inauguração da sua exposição “insomnia” numa das mais prestigiadas galerias locais, a Sprovieri, onde apresenta cinco obras até 24 de Novembro. No texto que escreveu para esta exposição londrina, João Pinharanda recorda a importância das referências à história da arte na obra do artista e sublinha: “Insomnia” é um programa ideológico: refere o estado de permanente vigilância em que Pedro Cabrita Reis se encontra, revela-nos como ele dá continuidade discursiva à corrente de testemunhos culturais que nos definem transformado-os em obra pessoal — através dessa obra o artista refere-se ao mundo e a si mesmo mantendo-nos despertos para a realidade“.
O ESPÍRITO DO TEMPO - The Legendary Tigerman, aliás Paulo Furtado, tem um novo disco que é uma surpresa irresistível. O disco chama-se “Zeitgeist” e vai buscar o seu nome a um termo alemão cuja tradução significa "espírito do tempo". O zeitgeist é, no fundo, um conceito que abarca o clima intelectual, sociológico e cultural de uma certa época da história, ou as características de um determinado período de tempo. E é isso mesmo que este disco faz. Longe vão os tempos em que The Legendary Tigerman era um one man band com sonoridades tradicionais. “Zeitgeist” é o resultado de um trabalho de composição que demorou o seu tempo, um tempo de recolhimento, de pesquisa, de ensaio de sonoridades. A electrónica é aqui dominante, a par com um conjunto de vozes marcantes que dão outra consistência ao projecto, sem abafar a composição e o experimentalismo sonoro que ele tem. Há em “Zeitgeist” uma síntese entre a música e a palavra num território que The Legendary Tigerman desbravou em dez temas ao lado de nomes como Ana Prior, Sean Riley, Ray, Ed Rocha Gonçalves, Asia Argento, Jehnny Beth, Delila Paz, Best Youth, Catarina Salinas, Calcutá ou Sarah Rebecca,. É o testemunho de uma geração que não faz música óbvia, que trabalha para além das canções como se estivesse a fazer uma banda sonora do mundo que nos rodeia agora, uma geração de músicos que aposta na diferença e criatividade. Num universo musical estagnado onde quase tudo é corriqueiro, este disco faz a diferença e volta a mostrar o talento e a solidez de Paulo Furtado. Disponível nas plataformas de streaming.
UM LIVRO POLÉMICO - Michel Houellebecq, uma das estrelas da actual literatura francesa, é também um dos seus mais controversos escritores. Colecciona prémios, entre os quais o Goncourt, com o romance “ O Mapa E O Território”. Boa parte da sua obra está publicada em Portugal e agora surge o seu mais recente e polémico livro: "Alguns meses na minha vida, outubro de 2022 a março de 2023". Em circunstâncias ainda hoje em dia confusas, Houellebecq assinou contrato com um realizador holandês, Stefan Ruitenbeek, para protagonizar um filme pornográfico. Houellebecq conta que desejava fazer videos pornográficos com a sua mulher e reconhece que para o fazer “a única solução realmente eficaz consiste no recurso a uma terceira pessoa”. O resultado foi o filme “Kirac 27”. O escritor afirma que tinha dito não querer ser reconhecível no filme e o realizador, ele próprio também uma figura polémica, garante que não foi isso o acordado. O resultado de toda esta polémica é este "Alguns meses na minha vida, outubro de 2022 a março de 2023"”, que relata a visão do escritor sobre a sua participação em “Kirac 27”. Ao longo de cerca de 120 páginas, fala sobre esta sua experiência de forma confessional e até inesperada, neste tempo em que proliferam os caçadores de bruxas. Pelo meio, Houellebecq processou o realizador, e o filme, que tinha distribuição em streaming, foi retirado. "Pela primeira vez na minha vida, senti-me tratado, absolutamente, como o tema de um documentário sobre a vida selvagem; é difícil para mim esquecer aquele momento" - escreveu Houellebecq na contracapa do livro. O editor português do livro, Manuel S. Fonseca, sublinha: “o meu desejo por este livro vem da candura, inocência e franqueza com que o autor o escreve”. Edição Guerra & Paz.
SIGA A MARINHA - É nos restaurantes mais simples que por vezes surgem as melhores surpresas. Foi o que me aconteceu numa das estivais noites deste início de Outono na Praça da Armada. Não se apoquentam que não foi no restaurante com o mesmo nome do local, mas sim num outro, bem mais simpático. Falo do Zanzibar, situado numa das extremidades do largo. A sala é confortável e a esplanada é agradável nestas noites. A simpatia e eficácia do serviço está a par com a qualidade da comida. Na circunstância a escolha recaiu num rosbife, que pedi sem o molho que podia acompanhar, pedindo para o substituir por mostarda. Assim aconteceu, o rosbife estava no ponto, fatiado fino e em boa quantidade. Veio acompanhado por batatas fritas bem fritas, aos palitos, estaladiças. Do outro lado da mesa a opção foi filetes de peixe galo com arroz de berbigão e um toque de tomate. Os filetes estavam impecáveis, o arroz guloso e sem estar a afogar-se em malandrice. Para quem gosta, a casa tem frequentemente ovos verdes e peixinhos da horta cuja prova ficou guardada para próxima oportunidade. O restaurante aposta na comida tradicional portuguesa e desde a língua estufada à alheira, passando por rabo de boi ou moelas e croquetes, há várias opções. Os preços são sensatos, quer na comida quer na lista de vinhos, curta mas bem escolhida. O Zanzibar fica na Praça da Armada 36 e o telefone é o 216 050 908.
DIXIT - “Parece que a Europa encontra satisfação na sua vocação de parque temático e de atracção turística. A sua força é o seu passado. Não o seu futuro” - António Barreto
BACK TO BASICS - “Não é a mesma coisa ser-se uma boa pessoa ou ser um bom cidadão” - Aristóteles
Vamos lá a ver como estão hábitos de internet, as audiências de TV e o investimento publicitário. Começo pelo digital, que continua a ser um mundo em permanente transformação. De acordo com os dados do Bareme Internet de 2023 da Marktest, há 6 milhões e 286 mil portugueses que utilizam regularmente redes sociais, um número que corresponde a 73.2% dos portugueses com mais de 15 anos. As maiores diferenças no acesso a redes sociais observam-se entre os vários grupos etários, com os jovens dos 15 aos 24 anos a registarem quase o pleno (99.3%) e taxas de penetração bastante acima da média junto dos indivíduos até aos 54 anos. Também entre as classes sociais há diferenças, com taxas mais elevadas junto das classes mais altas. De notar ainda que a penetração de redes sociais cresceu sobretudo entre a população mais idosa, com os indivíduos com mais de 64 anos a apresentarem em 2022 uma taxa de uso de redes sociais 40% acima do observado no ano anterior. Permanecendo no mundo digital, e abandonando as redes sociais, de acordo com o mesmo estudo da Marktest os sites de informação são os mais procurados pelos portugueses e, no seu conjunto, captam cerca de 17 milhões de visitas por semana. Os sites das estações de televisão surgem a seguir, na segunda posição, com 11 milhões, seguidos pelos sites de desporto e de automóveis com 10,7 milhões de visitas semanais.
E como acedem os portugueses à internet? O telemóvel mantém a liderança e 80,4% da população utiliza-o para estar online, enquanto o computador é utilizado por 63,5%, o tablet por 22,4% e as consolas de jogos por 9,8%. Um dado novo revelado pelo mesmo estudo da Marktest é o número de pessoas que acedem à internet através de um aparelho de Smart TV de tal forma que o televisor foi o suporte tecnológico cuja utilização para aceder à Internet mais cresceu nos últimos anos. As pessoas que em Portugal acedem à Internet através do televisor mais do que duplicou nos últimos quatro anos, coincidindo esta "explosão"’ com o período de pandemia e pós pandemia de Covid-19 e com o aumento de smart-tvs e connected tvs no mercado nacional. Em 2019, apenas 18,6% dos utilizadores de Internet em Portugal estavam online via televisor. Na primeira vaga de 2023 deste estudo, no entanto, esse registo situa-se já nos 49,2%.
É chegada a altura de falarmos de como tem evoluído a audiência de televisão neste ano. A SIC continua a liderar, seguida pela TVI e depois pela RTP1. De notar, no entanto, que o share médio semanal da SIC anda nos 15% , o da TVI nos 14,5%, e o da RTP1 nos 11,1%, bem longe de valores na casa dos 20% do canal líder, obtido há uns anos atrás. No cabo a liderança pertence à CMTV com 5,2%, seguida da CNN com 3,1% e da SIC Notícias e Fox, cada uma com 2,1%. Mas o conjunto dos canais de cabo tem somado cerca de 42% do total de espectadores de TV e as plataformas de streaming andam na casa dos 16% - o que significa que entre os espectadores que seguem o cabo e os que utilizam as plataformas de streaming está cerca de 58% da audiência, o que deixa para os canais generalistas apenas 42% dessa mesma audiência.
Tudo isto tem reflexos directos no investimento publicitário. Os números mais recentes deste ano apontam para um aumento global do investimento realizado até final de Agosto, mas com variações significativas nas parcelas destinadas a cada meio. Assim , percentualmente, o investimento em televisão generalista está a cair em relação ao ano passado, significando agora cerca de 35% do total e o investimento publicitário no cabo está subir e situa-se nos 12,4%. Mas a maior variação positiva em termos percentuais verifica-se na publicidade exterior, os cartazes de outdoors, que já captam quase 15% do total do investimento publicitário, tendo estado a subir nos dois últimos anos. O investimento em meios digitais anda na casa dos 30%, a rádio um pouco acima dos 5% e a imprensa ligeiramente abaixo dos 2%. Este é o melhor espelho da alteração dos hábitos de consumo de mídia dos portugueses.
Publicado na edição do NOVO de 30 de Setembro de 2023)
SOBRE AS ELEIÇÕES - O resultado das eleições na Madeira não é nenhuma surpresa. O que surpreende é que após 47 anos ininterruptos no poder o PSD tenha conseguido ficar tão próximo da maioria absoluta. Esta permanência longa num governo regional não é caso único na Europa, mas quase. É um sinal da estreita ligação que a nível regional um partido consegue construir, atravessando diversas situações da História e uma sucessão de crises políticas e económicas a nível nacional. Não é uma vitória qualquer - a lista da coligação PSD-CDS ganhou nos 11 concelhos da Madeira e em 52 das suas 54 freguesias. Novidade é a queda do PS, embora se deva mais a problemas locais do que a um descontentamento face ao Governo central. No entanto há um dado que tem dimensão nacional - o Chega continua a subir e teve na Madeira um resultado alinhado com o que as sondagens indicam a nível nacional. Toda a acção política do Chega se centra no protesto - é um partido do contra e esse é o terreno onde se alimenta e cresce. É aliás curioso ver como este posicionamento contrasta com o da Iniciativa Liberal, um partido mais apostado em propostas de transformação do país que em acções de protesto. E, como acontece por essa Europa fora, as posições radicais de protesto contra o aparelho político estabelecido rendem mais eleitoralmente do que propostas construtivas para mudar a sociedade - na extrema esquerda e na extrema direita. Esse é um dos grandes problemas com que as sociedades democráticas se batem hoje em dia - como conseguir que propostas valham mais que protestos. Os próximos ciclos eleitorais, das europeias, legislativas e autárquicas, poderão trazer surpresas. Montenegro bem quis cavalgar a vitória de Miguel Albuquerque, de forma aliás desajeitada, mas o seu desejo de alcançar números como os que o PSD obteve na Madeira são uma perigosa ilusão, nefasta até para o seu partido.
SEMANADA - Os docentes que agora são integrados no quadro vão ganhar menos do que quando estavam a contrato e os professores que vincularam com 50 anos ou mais também terão de trabalhar mais horas que os seus colegas; a viatura de emergência médica de Portalegre esteve inoperacional mais de 700 horas num ano, ou seja cerca de 30 dias; em três anos o peso dos professores de ensino superior em situação precária subiu de 39% para 43%; mais de 74 mil estrangeiros, descendentes de judeus sefarditas, pediram a nacionalidade portuguesa desde Setembro de 2022; segundo Pacheco Pereira é maior a probabilidade de alguém ser multado por mau estacionamento do que uma trotineta ser multada por andar nos passeios pedonais ou atravessar sinais vermelhos; há zonas de Lisboa onde a maioria dos veículos em circulação são TVDE; no final de julho 17,9% dos alunos inscritos no 1º ciclo eram crianças estrangeiras e no ano lectivo 2020/2021 a média nacional era 8%, menos de metade; 151 dias depois dos relatos dos incidentes no Ministério das Infraestruturas, a investigação do que nesse dia aconteceu no gabinete de Galamba com o ex adjunto Frederico Costa está parada; segundo José Miguel Júdice Marcelo Rebelo de Sousa abdicou e “desitiu de fazer seja o que for”; Pedro Santana Lopes apresentou um extenso programa de evocação do centenário de Mário Soares, que decorrerá na Figueira da Foz ao longo de 2024; o pagamento a dinheiro em estabelecimentos comerciais caiu 18% desde 2017, substituído por pagamentos electrónicos ; em 2022 Portugal produziu 2,7 milhões de bicicletas, 18% da produção total na Europa.
O ARCO DA VELHA - Há quartéis à míngua de efectivos e o Estado Maior do Exército confirmou que faltam 5745 militares para suprir as necessidades de funcionamento.
VER POMAR - A exposição da semana é “A Mão É Que Vê. E Manda!”, na Galeria S. Roque, em Lisboa, que reúne cerca de 130 obras, feitas por Júlio Pomar entre 1946 e 2017, década a década. São obras que o pintor conservou e se mantiveram sempre no espólio da família. A exposição, que abriu dia 27 e se prolonga até 17 de Janeiro, coloca no mercado um grande número de obras inéditas de Pomar, maioritariamente desenho a carvão, tinta da china, marcador, lápis de cera e esferográfica, ao lado de quadros em técnica mista ou acrílico sobre tela e pastel, óleo sobre madeira, apresentando ainda peças de cerâmica pintada e assemblages. O magnífico catálogo da exposição sublinha que foram oito décadas “de uma dedicação plena à criação visual, e também à escrita, de facto, sem se deixar prender em fórmulas ou receitas, investigando sucessivamente diferentes linguagens plásticas, renovando interesses e assuntos.” A Galeria de São Roque fica na Rua de S. Bento 269. Na imagem está a obra inédita “Abutre”, feita em Paris em 1963. Por estes dias duas importantes galerias assinalam aniversários importantes. No Porto a Galeria Fernando Santos assinala os seus 30 anos de existência com uma exposição colectiva de artistas que representa. E em Lisboa a Galeria Carlos Carvalho assinala os seus 35 anos de vida também com uma colectiva que se prolonga até final do ano. Finalmente destaque fotográfico para os Encontros da Imagem em Braga e para o Imago Lisboa Photo Festival que decorre até final de Outubro em diversos locais da cidade. E já que estamos na fotografia, vale a pena ir ao Panteão Nacional, polémicas sobre Eça de Queiroz à parte, para ver a exposição de Jorge Rodrigues, “Natureza Morta”, que mostra a profunda transformação da paisagem alentejana devido a práticas agrícolas que afectaram o património cultural da região.
OUVIR POMAR - Além da sua actividade como artista plástico, Júlio Pomar tinha uma paixão pela escrita, nomeadamente de poesia. Pegando em alguns dos seus poemas, o Museu do Fado em Lisboa produziu um disco que parte de nove poemas de Pomar e de um de António Lobo Antunes, entregando-os a sete vozes e vários músicos. Comecemos pelas vozes, que vão de Carminho a Camané, passando por Aldina Duarte, Cristina Branco, Ana Sofia Varela, Ricardo Ribeiro e Carlos do Carmo. O acompanhamento musical é maioritariamente assegurado por José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na Viola de Fado e Daniel Pinto no Baixo. Mas há outras participações - António Vitorino de Almeida interpreta um fado que compôs, “Sobretudo no Verão”, Pedro Jóia toca também uma composição sua, “Liberdade”, e há um tema instrumental, “Balada da Oliveira”, interpretado por Pedro Caldeira Cabral na guitarra portuguesa e Duncan Fox, no contrabaixo. Rui Vieira Nery escreveu para este disco um texto intitulado “Com A Vida Por Amante”, onde afirma: A relação de Júlio Pomar com o Fado é tudo menos linear, e pode até considerar-se uma história de amor mal agourado que, quase só no fim, vai desembocar num final feliz”. Nery recorda que num dos murais que Pomar pintou para o Cinema Batalha está presente a guitarra portuguesa, juntamente com a viola e o acordeão, mostrando “ uma espécie de empatia afetiva entre o pintor e aquilo que há de uma pureza essencial e de energia elementar no canto e na dança populares ali representados”. Depois do disco com letras de Júlio Pomar aguarda-se, mais para o final do ano, uma recolha da sua poesia, que será editada pela Assírio & Alvim.
DINHEIRO ACONSELHADO - Rob Dix é hoje um dos peritos financeiros mais respeitados do Reino Unido, conhecido pelo seu “The Property Podcast” ou pela coluna semanal que publica no “The Sunday Times”. O foco de Rob Dix é querer ensinar ao mundo o modo como o dinheiro, a economia e os investimentos funcionam realmente. No seu novo livro, “O Preço do Dinheiro”, Rob Dix aborda o que mudou nos últimos cinquenta anos e a situação actual, escreve sobre o que é a inflação e porque afeta diariamente as nossas vidas, mas também o que faz aumentar as taxas de juro que pagamos pelos empréstimos que contraímos. De forma simples explica conceitos de que ouvimos falar constantemente, como espiral inflacionista, estagflação, défice e dívida pública. E, ao mesmo tempo, pode ficar a conhecer as origens do dinheiro e o que lhe confere valor. “Se não houver com quem o trocar, o dinheiro não tem qualquer utilidade”, escreve Rob Dix e dá um exemplo: se um milionário for parar a uma ilha remota onde uma tribo primitiva usa conchas como moeda de troca, ele bem pode mostrar-lhe resmas de papéis com a imagem de Benjamin Franklin impressa que isso não lhe valeria de nada. O livro começa por responder a uma pergunta básica: o que é o dinheiro? e depois aborda temas como o aumento de preços, as relações entre o dinheiro e o poder, como se chegou a uma situação em que o mundo está alicerçado na dívida e finalmente como é que que cada pessoa pode melhorar na forma como utiliza o seu dinheiro. E o posfácio tem um título sedutor: Sete maneiras de prosperar seja qual for o clima económico. A edição é da Ideias de Ler.
ITALIANANDO - Restaurantes italianos e pizzarias há muitas mais a maioria não tem grande história. Há excepções, claro, e quando aparecem vale a pena falar delas - é o caso do Bozollo, situado perto do Hospital dos Lusíadas. O restaurante fica junto a uma praceta arejada numa urbanização recente, tem uma boa esplanada e a sala interior é agradável. O menu apresenta diversas propostas de saladas mas não é aí que as coisas começam a entusiasmar. Já com o carpaccio di lombata o caso muda de figura, assim como com a bruschetta com mozzarella de búfala. Nas pastas ouvi elogiar o tagliatelle gamberi e a mesa apreciou um risotto de cogumelos com tomate seco e queijo parmegiano. O Bozzolo aposta forte nas pizzas e o segredo está na massa e no seu preparo: massa leve, bem fermentada ao longo de 48 horas, bem cozinhada, pasta de tomate saborosa. Há 18 propostas de pizza, incluindo a que leva o nome da casa e que incorpora tomate, mozzarella, pancetta, rúcula e pecorino e que é uma boa escolha.Outra possibilidade, para uma próxima oportunidade será a que, além de tomate e mozzarella, leva salame de Nápoles, azeitonas e oregãos. Nas sobremesas há uma mousse de chocolate com flor de sal e azeite, que é um dos emblemas da casa em matéria de doçaria. Carta de vinhos simpática com algumas propostas inesperadas. Muito bom serviço, bom ambiente. Bozzolo, Rua Mário de Azevedo Gomes 3C, tel . 21 586 3562.
DIXIT - “Para mim, a desobediência equivale à liberdade, à coragem, à independência, à originalidade e à imaginação, ao hedonismo e ao espírito artístico” - Miguel Esteves Cardoso
BACK TO BASICS - “De vez em quando convém parar e pensar naquilo que estamos a fazer” - Audrey Giorgi
A AMBIÇÃO - O destaque político da semana vai para a observação do corpo humano. Passo a explicar: os casos que movimentaram maior rebuliço mediático foram o decote comentado pelo Presidente da República e a eventual remoção da estátua de Camilo Castelo Branco envolvido por um corpo desnudo. Isto por si só dá conta do estado da nação. Soube, por um artigo de António Barreto, que existem mais de uma centena de observatórios no país que são supostos seguir e aconselhar nas mais diversas áreas. Depois desta semana proponho que se crie mais um: o observatório da nudez. E já que estamos nisto, talvez não seja pior criar outro observatório dedicado a inventariar os subsídios e gratuidades que se vão estabelecendo para dar a impressão que os políticos se preocupam com as pessoas e tomam medidas. Claro que com estes dinheiros que vão espalhando faz-se propaganda, pescam-se talvez uns votos, mas sobretudo esta política assistencialista evita aquela maçada que é tomar medidas de fundo que vão à raiz dos problemas, fazer reformas e definir estratégias para que o país saia da cauda da Europa. Oito anos de Governos liderados por António Costa e há tanta coisa a funcionar mal que vale a pena perguntar quem está mal - o país ou quem manda nele? Acabo a citar João Miguel Tavares que esta semana recordou que a única ocasião em que o PS cultivou uma ambição transformadora para Portugal foi com Mário Soares. Com Costa essa ambição esfumou-se. E assim fomos deslizando para a cauda da Europa. Um escorrega que leva já oito anos, entretidos que estamos com decotes e estátuas de nus.
SEMANADA - Os norte-americanos são já a terceira nacionalidade mais relevante do turismo em Portugal; os proveitos totais do turismo cresceram 31,8% no primeiro semestre, para um total de 2,5 mil milhões de euros; desde o início do ano, foram registadas no Portal da Queixa 2.690 reclamações relacionadas com o sector da saúde, um aumento de 27%, face ao ano passado; obstetrícia e pediatria são as especialidades com o maior volume de reclamações; no verão deste ano as maternidades da região de Lisboa fecharam quatro vezes mais dias que no mesmo período do ano passado; o preço dos quartos para estudantes aumentou mais de cem euros por mês em 11 concelhos; no final da primeira semana de aulas ainda existiam 85 mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina; um estudo da Universidade do Minho indica que há cerca de cem mil adultos em Portugal com comportamentos problemáticos com raspadinhas, dos quais cerca de 30.000 apresentam perturbação de jogo patológico; Portugal é o país com maior gasto per capita em lotaria instantânea, dez vezes mais do que os espanhóis, mais do dobro da média europeia; um estudo divulgado esta semana indica que Portugal é o terceiro país europeu que perdeu mais ferrovia; a rede ferroviária portuguesa diminuiu 18% entre 1995 e 2018, o terceiro maior declínio entre um grupo de países que inclui a União Europeia a 27, o Reino Unido, Noruega e a Suíça; no sector agrícola há mais de 1200 taxas; a subida das taxas Euribor em agosto elevou a taxa de juro dos novos empréstimos à habitação para o valor mais elevado em mais de 11 anos e actualmente, 57% da prestação da casa são juros; segundo o INE o indicador de actividade económica em agosto caiu para o nível mais baixo desde o final de 2022.
O ARCO DA VELHA - A modernização da linha ferroviária da Beira Baixa, entre Pampilhosa e Vilar Formoso, principal via férrea de ligação à Europa, já dura há 50 meses e está a demorar mais tempo a ficar pronta que a sua construção no final do século XIX, que levou 46 meses.
IMAGENS DE GUERRA - Quase 600 dias depois da invasão da Ucrânia pela Rússia a exposição que a galeria Narrativa inaugurou é um testemunho da brutalidade desta guerra e uma homenagem à resistência. Intitulada “Ucrânia: Um Crime de Guerra”, esta exposição mostra o trabalho de alguns dos melhores fotojornalistas mundiais, vários deles ucranianos, que aparecem em destaque. A exposição parte do livro homónimo publicado pela editora FotoEvidence, uma obra que reúne o trabalho de 93 fotojornalistas de 29 países, e que está disponível para venda na Narrativa (Rua Dr. Gama Barros, 60 - de quarta a sexta entre as 14 e 19h e sábados entre as 14 e as 17h ), onde a exposição fica patente até 28 de Outubro. Daniel Berehulak, Fabio Bucciarelli, Ron Haviv, Eric Bouvet, David Guttenfelder, Finbarr O'Reilly, vencedores de múltiplos World Press Photo, são alguns dos autores com fotografias patentes na exposição, destacando-se ainda o trabalho de Carol Guzy, vencedora de quatro prémios Pulitzer, e de Evgeniy Maloletka, fotojornalista ucraniano vencedor da fotografia do ano do World Press Photo e do Prémio Pulitzer de 2023 (na imagem) e que é exposta pela primeira vez em Portugal. A Narrativa é uma galeria dinamizada por Mário Cruz, fotojornalista, e que tem tido um assinalável papel na fotografia em Portugal nos últimos anos. Outra exposição de fotografia a não perder está na galeria Bruno Múrias, “Guiné-Bissau 1990”, de António Júlio Duarte, que ficará até 11 de Novembro (Rua Capitão Leitão 10). Também esta exposição é acompanhada de um livro, com o mesmo título, editado pela Pierre Von Kleist.
OUVIR DE NOVO - Editado originalmente em 1977, “Pharoah” é um dos discos marcantes da carreira do saxofonista Pharoah Sanders e foi editado originalmente numa pequena editora independente, India Navigation. Embora tivesse tido pouco impacto quando foi lançado, “Pharoah” tornou-se uma espécie de objecto de culto entre os apreciadores de jazz. A sua reedição, que agora surge, é apresentada numa magnífica caixa, com um pequeno livro com ensaios sobre a obra do músico e fotografias e é uma oportunidade para redescobrir o trabalho - disponível também nas plataformas de streaming. A reedição actual é da Luaka Bop, a editora fundada por David Byrne, e respeita o formato original do disco que tinha apenas três composições, todas originais de Sanders. O lado A do LP era preenchido integralmente pelo tema “Harvest Time”, ao longo de cerca de 20 minutos, e no lado B do vinil estavam dois temas, “Love Will Find A Way” e “Memories of Edith Johnson”. A reedição respeita o som original, um obra crua e simples que parece gravada em casa - na realidade a gravação foi feita no edifício de uma antiga fábrica onde Bob Cummins, um advogado que foi o fundador da India Navigation, vivia com a sua família. Esta gravação quase amadora acaba por ser bem adequada, em ambiente e atmosfera, ao que Pharoah na altura queria fazer. A seu lado, em Harvest Time, tocaram o guitarrista Tisziji Muñoz e o baixista Steve Neil. A faixa seguinte, “Love Will Find a Way” é um tema a que Pharoah voltaria várias vezes ao longo da sua carreira e tem a particularidade de mostrar Sanders a cantar, de uma forma completamente descontraída, mas emocional. É aqui também que entram pela primeira vez no disco percussões. Finalmente a terceira faixa, “Memories Of Edith Johnson”, inclui o som marcante de um teclado e é uma homenagem à tia do músico, que teve um papel na sua educação musical e cuja forma de cantar ele admirava.
A TOLERÂNCIA - Esta semana, com as peripécias que se conhecem, não encontro melhor leitura para sugerir que um estudo sobre a perseguição à liberdade de espírito. Trata-se de “Castélio Contra Calvino - ou uma consciência crítica contra a violência”, numa obra de Stefan Zweig, editada originalmente em 1936 e que agora conhece a sua primeira edição em Portugal pela mão da Assírio & Alvim. O livro narra a história de Sebastião Castélio, que alimentou uma das grandes polémicas do século XVI, quando se opôs a João Calvino e o acusou de fanatismo e homicídio. Trata-se de um louvor à tolerância e uma crítica directa à guerra. Sebastião Castélio interpôs-se no caminho de João Calvino e na sua tentativa de educar os cidadãos de Genebra pela lei da força. Partindo das lutas entre protestantes no século XVI, Stefan Zweig reflete sobre os perigos dos nacionalismos e o terror desencadeado por um homem só. A tradutora, Sara Seruya, sublinha que este é um «grande ensaio contra o fanatismo e o totalitarismo, o qual relata episódios sangrentos relacionados com lutas intestinas entre facções dos adeptos da Reforma protestante desencadeada por Martinho Lutero». Stefan Zweig nasceu a 28 de novembro de 1881 em Viena e é um dos mais importantes autores europeus da primeira metade do século XX. Dedicou-se a quase todas as atividades literárias: foi poeta, ensaísta, dramaturgo, novelista, contista, historiador e biógrafo. De ascendência judaica, empreendeu em 1934 um exílio voluntário da Áustria e viveu na Inglaterra, nos Estados Unidos da América e no Brasil, onde viria a morrer em 1942. São dele, e deste livro, estas palavras: “os verdadeiros heróis da humanidade não são os que edificam os seus reinos efémeros sobre milhões de sepulturas e existências destroçadas, mas sim, precisamente, aqueles que, opositores da violência, a ela sucumbem”.
SOBREMESA - Uma das melhores sobremesas que me podem oferecer nesta altura do ano é um prato de uvas moscatel, acompanhadas por queijo bem curado, de preferência queijo da ilha cortado em fatias finas ou, melhor ainda, um Serpa bem duro, em lascas. A conjugação do doce da uva com o salgado do queijo é uma sensação especial. Queijos curados funcionam bem neste registo de contraste de sabores e consistências. Outra possibilidade, a que recorro fora do tempo das vindimas, é combinar o queijo com marmelada fresca. Esta conjugação nem deve ser acompanhada por pão - que não vem aqui acrescentar nada. Há quem use, em vez de marmelada, a goiabada brasileira - e admito que também é uma boa combinação. Para rematar estas coisas há sempre mais uma incontornável combinação: requeijão do sério, acompanhado por doce de abóbora. É espantoso como a simplicidade destas combinações pode proporcionar um final de refeição que é uma explosão de sabores - mais ainda se for acompanhado de um Vinho do Porto Tawny de 20 anos. Recomendação final: nunca ousem acompanhar o queijo por bolacha tipo cream craker. Quanto muito, se tiver que ser, um pão de mistura bem cozido, cortado em fatias muito finas.
DIXIT - “Em Portugal, a atividade mais entusiástica entre os políticos e a sociedade em geral é o impasse. Há sempre um factor impeditivo, e é um alívio quando pára tudo” - André Jordan.
BACK TO BASICS - “Para uma empresa, a marca é como a reputação para uma pessoa. E a reputação constrói-se a procurar fazer bem as coisas” - Jeff Bezos
UM BRINCALHÃO - Durante alguns anos tive esperança de que poderia surgir em Portugal uma nova geração de políticos mais abertos ao mundo, menos manobristas e oportunistas, mais apostados em novas formas colaborativas para além das barreiras ideológicas e, sobretudo, mais interessados em melhorar o funcionamento do país, aumentar a riqueza da economia portuguesa e melhorar as condições de vida das pessoas. Imaginei que políticos assim poderiam estar menos presos às máquinas partidárias, interessados em fazer reformas no país, na área da justiça, no sistema eleitoral, melhorando a educação e a saúde. Durante anos disseram-me que sem uma maioria absoluta era difícil mudar o estado das coisas. Temos agora uma maioria absoluta, António Costa é Primeiro Ministro há quase oito anos e desde as mais recentes eleições legislativas governa em maioria absoluta. A maior demonstração da forma como encara o País, o Estado e os Portugueses foi dada pela sua atitude no mais recente Conselho de Estado. Confrontado com críticas e reparos ao desempenho do seu Governo, remeteu-se ao silêncio. Não quis falar, não quis responder, não quis debater, não quis criar pontes, encontrar soluções. Mas criou um problema: a prova de que a sua maioria absoluta usa o silêncio para justificar a inação e esconder a falta de ideias sobre como melhorar o país. A Costa sobra-lhe em táticas manhosas o que lhe falta em estratégia e vontade de mudança. O silêncio de António Costa, maquilhado pelo sorriso sempre igual em todas as ocasiões, é o retrato de uma geração onde deixou de haver estadistas para só haver brincalhões que acham que as suas agendas pessoais valem mais que os interesses nacionais. Imaginei políticos que quisessem um Portugal melhor mas já desisti de os procurar - não compareceram à chamada. E aos poucos este rectângulo à beira-mar plantado vai-se transformando num pantanal.
SEMANADA - As exportações portuguesas registaram em Julho uma quebra de 10,6% face ao mesmo mês do ano passado e as vendas para Espanha e Reino Unido foram as que mais caíram; a tarifa social da internet só chegou a 510 das 800 mil famílias que a ela podiam aceder; 632 euros é o valor que as famílias portuguesas esperam gastar, em média, com o regresso às aulas, mais 107 euros que no ano passado; 44% dos portugueses compram produtos de marca branca nos supermercados; o retrato da execução dos fundos comunitários tem um problema estrutural de atrasos sucessivos: o programa Portugal 2020 começou em 2014, está a 4 meses do seu fim e ainda tem 2.6 mil milhões de euros por executar e sua taxa de execução é de 90,2%; quanto ao PRR já passou 36% do seu tempo de vigência mas ainda só está executado a 15,6% tendo apenas sido atribuídos 2,6 mil milhões de euros da dotação inicial de de 16,6 mil milhões; já o Portugal 2030 praticamente ainda não atribuíu verbas e só 4% da sua dotação já está em concurso; nos últimos 11 anos as escolas públicas e privadas perderam mais de 300 mil alunos dos ensinos básico e secundário; na semana passada estavam cerca de mil horários escolares por preencher, o que implicava que mais de 90 mil alunos teriam professores em falta se as aulas começassem naquela altura; uma professora que lecciona há 50 anos só agora, aos 68 anos, entrou para os quadros; entre 2015 e 2022 os salários reais dos professores caíram 1% em Portugal mas subiram 6% nos outros países da OCDE; segundo o Eurostat 1,7 milhões de portugueses não conseguem aquecer convenientemente a sua casa no Inverno e a situação portuguesa só encontra paralelo na Lituânia, Bulgária, Chipre e Grécia; há 600 médicos em falta em 16 hospitais e 23 centros de saúde; na quarta feira passada ocorreram, em simultâneo, greves de professores, médicos e funcionários judiciais.
O ARCO DA VELHA - A freguesia de Santo Amaro, na ilha do Pico, Açores, tem mais camas turísticas que residentes - 264 camas em unidades hoteleiras ou alojamentos locais e 255 habitantes.
RETRATO DE UMA LUTADORA - “Memórias de Uma Menina Bem-Comportada”, de Simone de Beauvoir, regressa às livrarias, de onde estava ausente há muitos anos, pela mão de uma nova edição da Quetzal, com tradução de Maria João Remy Freire. O diário francês Le Monde, na altura da sua publicação original, em 1959, escreveu que este livro «podia ter como subtítulo História de Uma Libertação - A revolta da menina bem-comportada tem como objetivo essencial a conquista do espaço em redor para pensar à sua maneira.» Neste primeiro dos volumes de memórias que Simone de Beauvoir escreveu, publicado originalmente dez anos após o controverso “O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir narra a infância, a adolescência e a juventude – as suas primeiras duas décadas, no seio de uma família burguesa, sem dinheiro ou posição. Aqui se reencontra Zaza, a sua melhor amiga durante a adolescência e a primeira idade adulta, figura central do romance autobiográfico “As Inseparáveis”, figura determinante para o seu desenvolvimento. “Memórias de Uma Menina Bem-Comportada” é um bom retrato de Simone de Beauvoir, onde vemos surgir os traços de personalidade e os interesses da pessoa em que a escritora se veio a transformar: a mulher anticonformista, ambiciosa, lutadora e socialmente empenhada. Simone de Beauvoir nasceu em Paris, em 1908, estudou Filosofia na Sorbonne, onde conheceu Sartre, companheiro de toda a vida e com quem viveu uma relação célebre pelos seus padrões de abertura e honestidade. Foi ativista no movimento francês de emancipação das mulheres, nos anos de 1970, e serviu de modelo e de influência aos movimentos feministas posteriores. Morreu em Paris, em 1986.
IMAGENS FOTOGRÁFICAS - A primeira das exposições do Imago Photo Festival já abriu e merece ser vista na Sociedade Nacional de Belas Artes. Enquanto o resto das exposições do Imago abre no fim do mês, na SNBA já se pode ver “Rethinking Identities”, que apresentam trabalhos de Maria Gruzdeva, Lois Cid Ma e Lara Jacinto. Maria Gruzdeva mostra “O Território”, um trabalho sobre como se estabelece a ligação entre os cientistas que estudam diversas disciplinas em reservas naturais de áreas remotas, no caso situadas na Rússia, focando a forma de coexistência entre o ser humano e o mundo natural. Já Lois Cid Ma, observa em “Estruturas de Fusion”, espaços em construção, fotografando-os “como se fossem um jazigo arqueológico para analisar os resíduos que ficam depois do levantamento de um edifício, relacionando-os com os entulhos gerados pelo derrubamento de antigos prédios”. Lara Jacinto apresenta “O Paraíso”, uma observação atenta que mostra os bastidores de locais que são atracções turísticas, no caso, no concelho de Lagoa, no Algarve (na imagem). A fotógrafa mostra como pessoas que vivem e trabalham nessas zonas balneares, vindas de outras partes do mundo, mantêm a sua identidade, enquanto buscam um outro futuro. Outra sugestão é “Outro Jardim Interior”, uma exposição de Luísa Ferreira e António Faria que fica até final de Setembro na Galeria de Santa Maria Maior, prosseguindo o bom trabalho que este espaço tem vindo a desenvolver na área da fotografia. Por último, Nuno Cunha, apresenta na Galeria Sá da Costa uma série de desenhos a grafite e tinta da china sob o título genérico “So Far” .
BEPOP & SWING - George Shearing foi um talentoso pianista e compositor de jazz londrino que depois de ganhar notoriedade no Reino Unido desenvolveu uma extensa carreira nos Estados Unidos, sendo o autor de temas como “Lullaby Of Birdland” e “Conception”, por exemplo. Agora , em sua honra, foi editado o disco “Shear Brass: celebrating Sir George Shearing”. A Shear Brass é um agrupamento que junta alguns dos melhores instrumentistas de jazz britânicos, dirigido por um sobrinho neto de Shearing, o baterista Carl Gorham. Para este disco James McDermid escreveu onze arranjos novos de composições de Shearing , interpretados por ele próprio e por Chris Storr (trompete), Pete Long (clarinete, e saxofone), Alistair White (trombone), James Pearson e Simon Wallace (piano), Anthony Kerr (vibrafone), Alec Dankworth e Arnie Somogyi (baixo), Carl Gorham (bateria), Satin Singh (percussão) e Sarah Moule, Louise Marshall e Romy Sipek (vozes). Os novos arranjos de McDermid mostram a forma como Shearing apreciava o bebop e a forma como tocava piano, cheio de swing. Ouçam as versões de “Let There Be Love” (o único dos temas que não foi composto por Shearing) ou “Lullaby Of Birdland” na voz de Romy Sipek. As sonoridades do bebop estão bem presentes em “Conception” e é curioso o contraste com um tema escrito um ano antes, “The Fourth Deuce”. Outros destaques vão para “Children’s Waltz”e a balada “Midnight Mood”, cantada por Sarah Moule. Disponível nas plataformas de streaming.
A ARTE DA TOSTA CASEIRA - Por acaso já apanharam grandes irritações numa tostadeira, com o pão a colar-se às placas e o queijo espalhado por todo o lado? Pois graças ao admirável mundo digital descobri a solução para o problema e é a coisa mais simples do mundo. Basta ter à mão um pedaço de papel vegetal, daquele que se usa para ir ao forno. Corta-se à medida das duas placas abertas da tostadeira e dobra-se ao meio. Quando quiser fazer uma tosta basta colocar o pão por cima do vegetal e cobri-lo com a outra metade, fechando a tostadeira. Assim nada cola nem nada fica a deixar restos pelas placas. Agora que já aprendeu o truque, mãos à obra: corte duas fatias de pão de forma de Rio Maior, com cerca de um centímetro de espessura cada uma. Barre cada uma delas com chutney de manga, corte várias lascas finas de queijo da ilha para fazer duas camadas, uma por cima de cada fatia de pão, e, numa delas, rodelas finas de pepino fresco por cima do queijo. Fecha-se a sanduíche, coloca-se na tostadeira já quente, com uma folha de papel vegetal por baixo e outra por cima, fecha-se e deixa-se ficar dois a três minutos, conforme o gosto de cada um. Vai ver que no fim tudo é mais fácil quando levar a tosta para um prato e a cortar ao meio na oblíqua, de canto a canto, sem se queimar nem ver a tostadeira toda suja. Bom apetite.
DIXIT - “Quando vejo esta gente querer julgar a História pelos dias de hoje, vendo apenas o mal e não também o fantástico, dá-me vontade de lhes perguntar porque não experimentam embarcar numa coisa parecida com aquilo a que então chamavam naus e tentarem chegar vivos às Berlengas” - Miguel Sousa Tavares
BACK TO BASICS - “Quem não sabe nada de ciência não devia intervir na política” - Richard Roberts, Prémio Nobel da Medicina
O GRANDE ENGANO - Há dias, por acaso antes da reunião do Conselho de Estado onde se iria debater a situação económica, o Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, abandonou o princípio de independência que devia nortear as suas funções e veio vestir a camisola de ex -governante a mando do PS, clamando que o país registou fortes progressos nos últimos anos. Acontece que não é isso que o país sente. As palavras de Mário Centeno não chegam para esconder que os dados europeus mostram que Portugal está na cauda da Europa e o silêncio de Costa no Conselho de Estado, face às críticas sobre a política do Governo, são o exemplo da auto-suficiência e arrogância que tem caracterizado o comportamento da maioria absoluta. Temos o sexto mais baixo PIB per capita da Zona Euro, a par da Roménia e da Hungria. Em Portugal faltam professores, juízes, enfermeiros, médicos e militares. Em sectores que vão da contrução à agricultura, passando pela restauração e hotelaria, faltam pessoas. E no país faltam casas para as pessoas que cá vivem. A verdade de que Centeno não fala é que, depois de décadas a recebermos fundos de Bruxelas, os números totais da emigração são superiores aos da década de 60. Conseguimos educar uma geração mas não conseguimos dar-lhe condições para poder trabalhar e realizar-se pessoal e profissionalmente em Portugal. António Costa é Primeiro-Ministro há quase oito anos, período durante o qual se assistiu à progressiva deterioração da classe média e ao aumento da carga fiscal, sem reformas em nenhuma área fundamental. O mais curioso de tudo isto é que os propagandistas do PS, face à revelação das evidências e dos dados reais, vêm dizer que quem afirma que o país está pior é arauto de André Ventura. O Papão Ventura é um balão insuflado pelo PS e pelos seus estrategas, que querem reduzir toda a oposição a aliados do Chega, da mesma forma que Salazar quis fazer crer que todos os que lutavam contra a ditadura eram do PCP. É uma infeliz, mas real coincidência.
SEMANADA - 70% da população portuguesa afirma ter o poder de compra fortemente afectado pela inflação; a taxa de juro média dos novos depósitos concedidos em julho fixou-se em 1,66%, uma tímida subida face aos 1,58% registados no mês anterior; de acordo com os mais recentes dados do Banco Central Europeu (BCE), a fraca taxa de juro dos depósitos em Portugal só é ultrapassada pelas baixas taxas pagas pela Eslovénia, Chipre, Croácia e Grécia; em sentido inverso, França oferece 3,51% em juros aos clientes bancários para aplicarem depósitos a um ano, a Estónia paga 3,39% e Itália 3,29% e em Espanha, país de onde são oriundos os acionistas de grandes bancos portugueses (Santander e BPI), a média é de 2,36%; aumentou o número de famílias em sobrecarga financeira com o crédito da casa e cerca de 70 mil agregados familiares estão em vias de gastar mais de metade do rendimento no empréstimo; em 2022 a Justiça arrecadou mais de 382 milhões de euros em custas judiciais e taxas de registos, um aumento de 22,21% face ao ano anterior; as empresas portuguesas estão a pagar quase 6% para conseguirem obter novos empréstimos junto da banca portuguesa, um valor mais alto que a média europeia; 92,2% das famílias têm acesso a internet de banda larga fixa; mais de metade das medidas anti-fraude ficaram na gaveta e não são aplicadas; Marques Mendes já ganha a Marcelo nas audiências de TV - o espaço de comentário de Luís Marques Mendes na noite de domingo na SIC teve mais 242 mil espectadores do que a entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, que passou ao mesmo tempo.
O ARCO DA VELHA - Cerca de metade da receita do Estado vem dos impostos pagos pelos quase cinco mil grandes contribuintes.
VER FOTOJORNALISMO - Esta é uma semana cheia de fotografia e começo pela exposição do fotojornalista Fernando Ricardo na Casa da Imprensa, “Momentos”, que pode ser vista até 6 de Outubro. A exposição apresenta cerca de meia centena de imagens feitas desde os anos 70 até agora. Fernando Ricardo tem uma longa carreira, sendo um dos fotojornalistas portugueses com maior actividade a nível internacional. Trabalhou em agências como a Associated Press e a Gamma, fez reportagens em cenário de guerra em África (na imagem) e no médio oriente. Além do “Expresso” e da “Visão”, publicou em jornais e revistas como o International Herald Tribune, New York Times,Washington Post, Boston Globe, Time, Newsweek, Stern, Der Spiegel, Paris Match, L’Express, Figaro, Times of London, Sunday Times e El País, entre outros e realizou várias exposições em Portugal e no estrangeiro. António Sánchez Barriga, o fotógrafo espanhol que escreveu o texto que acompanha esta mostra, afirma que as imagens apresentadas são “o ensino da vida numa só exposição.” Casa da Imprensa, Lisboa (Rua da Horta Seca 20, ao Largo de Camões). Outra exposição que destaca o papel do fotojornalismo é CASA, uma mostra coletiva de 27 fotógrafos, integrada na MFA – Mostra de Fotografia de Arroios, patente no Quartel do Largo do Cabeço de Bola, Arroios, em Lisboa, até 15 de setembro. São nove exposições colectivas e individuais, de fotojornalistas e fotógrafos documentais portugueses e estrangeiros, que abordam questões sociais e ambientais. A organização é das associações C11 e Largo Residências nas instalações de um antigo quartel da GNR no Largo Cabeço da Bola. Há ainda visitas comentadas às exposições, a projeção de 'slideshows' de autores emergentes e consagrados, a exibição de documentários, a apresentação de livros e revistas, e conferências e debates, "que abordam temas da fotografia e do jornalismo". Além disso, aos fins de semana decorre o Mercado do Autor, com uma larga seleção de livros e fotografias para venda e oficinas "em várias áreas da fotografia e processos fotográficos". Pode consultar a programação completa nas contas da associação CC11 nas redes sociais Instagram e Facebook.
UMA AVENTURA GELADA - Gosto de ler relatos das aventuras dos grandes exploradores e tenho um fascínio especial por aqueles que se lançaram à descoberta do Pólo Sul. Um desses homens foi Henry Worsley, admirador de Ernest Shackleton, o explorador do século XIX que tentou ser o primeiro a chegar sozinho ao Polo Sul, e que nunca conseguiu completar a sua viagem. Worsley, que viveu entre 1960 e 2016, sentiu um grande fascínio por essas expedições à Antártida e em 2018 fez a sua primeira viagem, na companhia de mais dois aventureiros, um deles um descendente de Shackleton. Depois disso, quis voltar à Antártida sem qualquer companhia e é a história dessa aventura que David Grann, um jornalista da revista The New Yorker, escreveu. O resultado é “A Escuridão Branca”, um livro que parece um thriller no qual o suspense se desenvolve no cenário da Antártida. A aventura começou a 13 de Novembro de 2015, tinha Henry Worsley 55 anos. Sozinho, com foco e dedicação, o então já aposentado oficial do exército britânico deixou o mundo em suspenso enquanto tentava vencer onde os seus antecessores tinham falhado. Andou mais de mil quinhentos e cinquenta quilómetros, durante sessenta e dois dias, em condições adversas, mas foi obrigado a desistir a duzentos quilómetros do destino final. Esta é uma história de superação que não é obscurecida pela derrota. O livro está editado na bela colecção “Terra Incógnita”, da Quetzal e tem tradução de Vasco Teles de Menezes.
ALÉM DO JAZZ - Sugiro que vão direitos a uma das plataformas de streaming e procurem o disco “Flowers In The Dark”, assinado por Kofi Flexxx, personagem enigmático que tem estabelecido relações criativas com algumas das mais importantes figuras da música britânica contemporânea. O novo disco baseia-se num ensemble que agrupa alguns desses músicos, orientado pela batuta de Shabaka Hutchings, outro nome sonante da cena musical londrina, que percorre à vontade os territórios do jazz e do hip-hop e que é a figura principal do grupo The Sons Of Kemet. O disco foi editado pela Native Rebel, que acolhe as produções e explorações das várias personalidades musicais de Shabaka Hutchings. O seu trabalho anda sempre na fronteira entre sonoridades do jazz improvisado, cruzando-o com outros géneros musicais. No disco colaboram nomes como o poeta Anthony Joseph, o pianista Alex Hawkins, o flautista Ross Harris, o rapper Billy Woods, o baterista Jas Kayser, o baixista Daisy George e mais algumas contribuições - o resultado é um disco que é mais que a soma das partes ao longo dos seus nove temas. Disponível nas plataformas de streaming.
UMA BOA SURPRESA PERTO DE PALMELA - Na estrada entre Azeitão e Palmela, à saída da Quinta do Anjo, no Espaço Fortuna- Artes e Ofícios, fica o Flavors. É um restaurante inesperado naquele local, que foge da tentação do óbvio regionalista, evitando grelhados de peixe ou choco frito e procurando uma lista alternativa em relação à oferta local. Logo nas entradas somos surpreendidos pela proposta de gyosas, o primeiro indício de elementos da cozinha asiática na lista. Nos pratos principais as propostas têm uma alheira de caça de Mirandela e bochechas de porco estufadas, a coexistirem com caril verde tailandês ou caril goês, ambos de frango e com arroz basmati. Mais abaixo observa-se uma inesperada alheira de bacalhau, a abrir caminho para um caril goês de lulas e camarão e um caril vermelho tailandês de vieiras e camarão ou ainda umas lulas recheadas. Dos acompanhamentos consta. além do arroz basmati batatas doces fritas aos palitos de se lhes tirar o chapéu. A mesa provou um ceviche peruano de vieiras e o caril goês de camarão e lulas e ambos passaram com distinção. A cerveja de pressão é a alemã Franziskaner e a de garrafa é a belga Stella Artois. Nos vinhos há boas ofertas da região como os vinhos da Quinta do Piloto e de Venâncio da Costa Lima. A cozinha é dirigida por Pedro Castelo Branco, o serviço de sala é irrepreensível, o espaço é confortável e foi um belo jantar- é o que vos tenho a dizer. Para reservas, recomendadas sobretudo ao fim de semana, o telefone é o 917 263 116.
DIXIT - “Com uma dívida pública colossal e preconceitos que o PS alimentou, mas que outros países venceram há décadas, a diferença entre o nível de vida em Portugal e na Europa tornou-se impossível de ignorar” - André Abrantes do Amaral.
BACK TO BASICS - “Uma lufada de vento é capaz de mover uma árvore, mas não uma pedra” - Robert Walser
O IMOBILISMO - As próximas eleições presidenciais são apenas em 2026, mas nos últimos dias elas entraram em força no noticiário político depois de Marques Mendes ter manifestado disponibilidade para se candidatar e um mês depois de Santana Lopes ter afirmado estar a ponderar o tema. É portanto à direita que o assunto está mais efervescente, com alguns observadores a darem conta que Paulo Portas pode também ser um potencial candidato. Do lado da esquerda, por enquanto há silêncio, em boa parte porque nesse lado do espectro político se aguarda qual o próximo movimento de António Costa - e há quem diga que é mais provável ele candidatar-se à Presidência do que a um cargo internacional. Depois de ter institucionalizado uma crise entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro, esta pode ser uma tentação para Costa. Na falta de reformas PS e PSD entendem-se às mil maravilhas para não fazerem uma revisão constitucional que, quase meio século depois da entrada em vigor da Constituição, a consiga actualizar. Recordo as palavras de António Barreto, no “Público” do passado fim de semana: “Estamos a assistir a uma mudança do regime. O semipresidencialismo é uma espécie de ocapi: bicho esquisito, tem de burro e de cavalo, de girafa e de zebra. Restringe os poderes do presidente, mas não faz dele um adorno democrático. Modera e limita a representatividade do parlamento, reduzindo por vezes esta instituição a um plano secundário. Reforça e reduz, ao mesmo tempo, os poderes e as responsabilidades do governo. Vivemos tempos de revisão. Já se percebeu que não haverá nada de jeito, a não ser, eventualmente, uma reforma secundária, com pouco significado e alguma demagogia. Se houver revisão, será um exercício fútil de acrescentos e remendos, não de tentativa de reformar e rever. Pense-se, por exemplo, no mais urgente, no mais grave: a reforma da Justiça, a necessitar adequação constitucional. Nada acontecerá. Reflicta-se ainda nos dois mais graves entraves à democracia parlamentar que são o sistema eleitoral e o semipresidencialismo. Podemos ter a certeza de que não teremos novidades nestas áreas “.
SEMANADA - Os quartos para estudantes subiram 10% desde o anterior ano lectivo e podem custar mais de 400 euros em Lisboa e no Porto; as receitas dos operadores de telecomunicações com os pacotes de serviços tiveram o maior crescimento anual desde 2016 e asseguram 51,8% do total das receitas obtidas por essas empresas; o número de partos em Lisboa no primeiro semestre aumentou 20% nos hospitais privados e 3% nos públicos; a dívida dos particulares, das empresas privadas e das administrações públicas aumentou 12.900 milhões de euros no primeiro semestre; em 2022 foram destruídos 17 mil ninhos de vespa asiática e os distritos onde existem mais são Porto, Aveiro e Braga; o PCP não esteve de acordo com a autorização dada pelo Parlamento à deslocação do Presidente da República à Ucrânia; na última década construíram-se apenas 17% dos edifícios para habitação construídos em décadas anteriores; dos 3622 quilómetros de ferrovia existentes em Portugal apenas 2527 têm exploração comercial; 67% das refeições dos portugueses não são cozinhadas em casa; nesta primeira fase de colocação de estudantes há 38 cursos superiores que não tiveram nenhum candidato interessado em os frequentar; o nível de preços na hotelaria acelerou 70% nos últimos dois anos e os restaurantes e hotéis tiveram em Julho a primeira quebra mensal de faturação desde Janeiro; os preços do imobiliário em Lisboa são três vezes mais altos que a média do país.
O ARCO DA VELHA - Uma palmeira do espaço público de Cascais, que tinha um localizador de GPS foi roubada do sítio onde estava plantada e foi depois descoberta numa casa que pertencia a um militar da GNR.
EXPOSIÇÕES LISBOETAS - Devo começar por fazer uma declaração de interesses: exerço o cargo de administrador não executivo da EGEAC, a empresa municipal que gere a maioria dos equipamentos culturais de Lisboa. Digo isto porque hoje vou destacar três exposições desses equipamentos. Começo pelo Museu da Marioneta, no Convento das Bernardas, que organizou uma nova exposição a partir das reservas do museu. Ao todo mais de uma centena de marionetas, originárias da Europa, África e Ásia, realizadas entre finais dos séculos XIX e XX. foram incluídas na nova exposição da colecção para, na sua maioria, serem mostradas ao público pela primeira vez. A exposição”A Outra Vida das Marionetas” inclui ainda três teatros portáteis e um teatro de sombras. A exposição pode ser visitada até dia 29 de outubro no espaço do Convento das Bernardas. Na imagem, uma fotografia de Nuno Silva, está uma marionete de vara do Mali, de meados do século XX, adquirida pelo Museu em 2005. O segundo destaque vai para uma exposição que assinala o centenário do nascimento de Celeste Rodrigues e que pode ser visitada no Museu do Fado até este domingo, 3 de Setembro. A exposição revisita o vastíssimo legado de Celeste Rodrigues, mostra o seu papel na renovação do Fado e apresenta a sua discografia, os seus repertórios, troféus, galardões, adereços de actuação, periódicos, pinturas e filmes. Finalmente o terceiro destaque vai para “Haven”, de James Newitt, que está na Galeria da Boavista. Newitt elaborou a exposição a partir da investigação que fez sobre um facto real e quase desconhecido: a história de uma pequena plataforma abandonada ao largo da costa britânica, construída pelo governo com funções militares de defesa anti-aérea no tempo da II Grande Guerra e, ocupada por um casal na década de sessenta que reivindica a sua independência do Reino Unido denominando-a de Principado de Sealand. Entre a realidade e a fantasia Newitt mistura arquivo e criações originais. A exposição tem uma folha de sala feita propositadamente para visitas de crianças que vale a pena conhecer.
UM GRANDE MISTÉRIO - Yrsa Sigurdardóttir escreve policiais arrebatadores e ao mesmo tempo é diretora de uma das mais importantes firmas de engenharia da Islândia. Saber como consegue conciliar as duas coisas é logo um mistério. Yrsa Sigurdardóttir é editada internacionalmente e é a escritora islandesa mais conhecida além-fronteiras, autora de mais de uma dezena de grandes histórias policiais e thrillers, várias em adaptação para o cinema e televisão. “A Boneca” é o seu novo livro, o quinto volume da série DNA. Ao longo de 475 páginas Yrsa Sigurdardóttir desenvolve uma sucessão de mistérios, ligados a outros tantos crimes, que passam pelo tráfico de droga e vários assassinatos. Na origem de tudo está uma boneca, apanhada numa rede de pesca e cuja fotografia, publicada nas redes sociais, provoca a morte de quem divulgou a imagem. Em “A Boneca”, Yrsa Sigurdardóttir recorre a uma já conhecida dupla - o detetive Huldar e a psicóloga infantil Freyja. Os dois completam-se e conseguem perceber a ligação entre a morte de uma jovem adolescente, que teve uma vida problemática, e os crimes anteriores, que incluem a morte da sua própria mãe - a mulher que tinha publicado a foto da boneca anos antes. Pelo meio percebe-se a tensão que existe na sociedade islandesa, os conflitos dentro da polícia, as dúvidas sobre o sistema de assistência a menores e, também, a forma como os adolescentes se relacionam, se protegem e como contactam uns com os outros nas redes sociais. Como em anteriores livros de Yrsa Sigurdardóttir a intriga é viciante e o ritmo da narrativa é intenso. Edição Quetzal.
O OUTRO LADO DE HARVEY - “I Inside The Old Year Duing” é o décimo álbum de estúdio de P.J. Harvey, o seu primeiro trabalho desde o álbum “The Hope Six Demoition Project” de 2016. No novo trabalho Harvey volta a trabalhar com os seus habituais colaboradores de longa data, John Parish e Flood. O disco nasce de um livro de poemas que Harvey escreveu nos últimos anos, “Orlam”, baseados na tradição - e no dialecto - de Dorset, onde ela vive. Musicalmente é uma combinação de influências folk com experiências eletrônicas. As 12 canções, com letras adaptadas de 12 poemas do livro, estão cheias de imagens bíblicas e de referências a Shakespeare. Rezam as crónicas da gravação deste disco que ela terá dado indicações claras a Parish e a Flood, sublinhando que não queria que a sua voz e forma de cantar se assemelhasse ao que fez a sua imagem de marca, criando um território vocal entre o antigo e o novo e mostrando um outro lado de Harvey. Aparentemente conseguiu-o e canções como “Lwonesome Tonight”, “Seem an I”, “The Nether-edge”, “A Child's question, August”, “I Inside the Old Dying” e “A Child's Question, July” destacam-se pelo que mostram sobre a forma como P.J. Harvey encara a sua música a partir de agora. Disponível nas plataformas de streaming.
UMA BOA PROVA - Em pleno centro de Azeitão, junto ao largo central, no nº1 da Rua José Augusto Coelho, paredes meias com os edifícios que albergam a empresa vinícola José Maria da Fonseca, está o By The Wine. Depois de uns anos iniciais oscilantes, agora o restaurante, que pertence também à José Maria da Fonseca, está em estada mais segura. O responsável pelo feito é o Chef José Barradas. A lista é essencialmente petisqueira e a ideia é pedir e repartir na mesa. Numa incursão recente provaram muito bem as amêijoas do Sado à Bulhão Pato, um quinoto de legumes do outro lado da mesa e um choco frito com maionese e lima, tenro e saboroso, acompanhado por batata frita aos palitos feita com competência. Antes disso havia umas boas azeitonas, bem temperadas e pão da região. Na lista há tábuas de queijo da região e a possibilidade de experimentar algumas das conservas artesanais Belmar, de Setúbal, muito apreciadas. Para acompanhar os petiscos recomenda-se um dos vinhos da José Maria da Fonseca ou então a sua própria cerveja artesanal, Mosquita. Nos vinhos não perca a possibilidade de experimentar o fabuloso Quinta de Camarate Branco Seco a um preço de combate - 4,30 euros o copo. Aliás o By The Wine é um bom sítio para provar os vários vinhos da casa. O serviço, que nessa noite esteve a cargo do Ricardo, é expedito e simpático e a esplanada é deliciosa nas noites de verão. Se quiser mesmo a esplanada é aconselhável reserva pelo telefone 212 191 366.
DIXIT - “Eu ainda sou do tempo em que a política, aqui e lá fora, não era apenas um espectáculo” - Alberto Gonçalves
BACK TO BASICS - “Quanto mais estudo as religiões mais me convenço que o Homem não venera nada a não ser ele próprio” - Sir Richard Francis Burton
REENTRADA - Daqui a pouco tempo o espírito de férias na política desvaneceu-se: acabam as fotografias dos políticos à beira mar, a comer bolas de berlim ou simplesmente a passear no areal. Imagino que para alguns jornalistas seja um alívio deixar de perseguir notícias e reacções, de microfone em punho, eles razoavelmente vestidos, os entrevistados bastante despidos, em dias quentes, com o oceano como cenário de fundo. Este ano o ridículo da caça à notícia no meio da praia excedeu tudo o que é razoável. Até parece que alguns políticos, nos mais elevados cargos, não tiraram férias, apenas mudaram o cenário das conferências de imprensa. A coisa não correu bem - a política pode ser informal mas quando se vulgariza perde dignidade. Quando tudo se banaliza deixa de haver notícia, passa apenas a fazer-se o relato de ocorrências e tudo se consome de forma apressada como as páginas das antigas gazetas sobre casos de polícia, casamentos e necrologia. Passar as divergências e o confronto cada vez maior entre Governo e Presidente da República para o areal equivale a transformar Parlamento e Palácio de Belém em castelos de areia. A ver vamos como corre a reentrada política entre as eleições regionais da Madeira no final de Setembro, a preparação do Orçamento de Estado - com o cenário de reduções de impostos no horizonte - e a actuação de um Governo de maioria absoluta que bem precisa de um impulso reformista e de uma remodelação. Estes dois pontos, no entanto, dependem de uma única pessoa: António Costa. Que legado quererá ele deixar? Manter Portugal na cauda da Europa? Destruir a classe média? E como é que os próximos meses vão impactar nas guerras internas do PS pela sucessão do líder actual? Vão ser uns meses curiosos de seguir.
SEMANADA - Nesta sessão legislativa o PS chumbou 74 pedidos de audição parlamentar a ministros, 11 deles a Medina; Portugal é o oitavo país da União Europeia onde o IVA mais pesa; desde que António Costa é primeiro-ministro a receita fiscal aumentou 25 mil milhões de euros; Portugal já recebeu quase um terço dos 16,6 mil milhões previstos no PRR, ou seja um pouco mais de 5,5 mil milhões, mas até agora só pagou menos de metade a projectos apresentados, 2,4 mil milhões; Portugal perdeu num ano 200 explorações agrícolas e os agricultores com menos de 40 anos são menos de 4% do total; no ano passado as Forças Armadas perderam 7,2% dos efectivos e faltam 7732 militares, havendo actualmente 1,7 oficiais e sargentos por cada praça; mais de metade dos portugueses até aos 34 anos vive com os pais; a prestação média do crédito à habitação subiu 40% entre julho do ano passado e o mesmo mês deste ano; o primeiro semestre de 2023 teve mais nascimentos e menos mortes que no período homólogo de 2022; a corrupção no Ministério da Defesa terá lesado o Estado em pelo menos um milhão de euros e o Ministério Público acusou 73 pessoas e empresas; o número de desempregados aumentou cerca de 2,5% no final de julho, face ao período homólogo, e a maior subida deu-se na região Centro, com um agravamento de 8,7%; o aumento dos juros dos empréstimos de habitação está a levar os portugueses a diminuir despesas correntes e, segundo uma sondagem recente, as maiores reduções foram em restaurantes, férias e roupa; os contratos a termo representavam 13,2% dos postos de trabalho na Administração Central no final de 2015, altura do início da governação do PS de António Costa e em junho deste ano, esse número atingia os 15,2%, o que signfica um aumento do trabalho precário no Estado sob a governação da geringonça e PS.
O ARCO DA VELHA - No serviço nacional de saúde ainda há aparelhos de radiologia antigos, que trabalham com película, cada vez mais escassa no mercado desde a conversão ao digital, impossibilitando a realização de muitos exames.
O HOMEM DA VITÓRIA - Churchill é uma das personalidades políticas mais conhecidas e estimadas graças ao papel que teve no combate aos nazis e na defesa da democracia no Reino Unido e na Europa. Mas como foi a vida de Churchill fora do período da segunda grande guerra? Onde estava ele antes e o que já tinha feito? E no fim da guerra, que aconteceu? Em menos de centena e meia de páginas Sophie Doudet, uma autora de romances históricos e de biografias, escreveu de forma divertida sobre a vida de Churchill. O livro chama-se “Churchill na praia - o velho leão na toalha e na areia”. A autora consegue oferecer ao grande público, com base em elementos biográficos, e de forma rigorosa e acessível, o relato da extraordinária carreira deste homem, considerado um visionário e um dos grandes nomes da História do século XX. Pode ler excertos dos seus grandes discursos, a forma como tomou decisões geniais e também um relato do que foram as suas maiores fraquezas. O livro descreve como Churchill foi um conquistador e um herói, cujo espírito combativo e o desejo de fazer História mudaram o mundo, popularizando o seu gesto de dois dedos a fazerem o V da vitória dos aliados sobre os nazis. Célebre primeiro-ministro de Inglaterra no momento mais crítico da História, os dias sombrios da II Guerra Mundial, deixou ainda a sua marca como jornalista, militar, historiador, Prémio Nobel da Literatura e, por fim, pintor até. Edição Guerra & Paz.
CESARINY - Em Alfama, na Rua das Escolas Gerais, existe uma galeria de arte que se tem dedicado aos surrealistas portugueses, construindo uma importante colecção de artistas portugueses ligados a esse movimento. A Perve Galeria teve há cerca de uma década a iniciativa de, mesmo junto às suas instalações, criar um espaço a que deu o nome de “Casa da Liberdade”, dedicado à obra de Mário Cesariny, cuja fase inicial foi ainda acompanhada na vida do artista. Agora, assinalando o centenário de nascimento de Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006), a Casa da Liberdade e a Perve Galeria apresentam “Primeira Pessoa” e “... e os seus contemporâneos”, duas exposições que celebram a extraordinária vida e o profundo legado daquele que é uma das personalidades maiores das artes e da poesia em Portugal. Na Casa da Liberdade está o núcleo “Primeira Pessoa”, mostrando o seu universo criativo sem barreiras e livre. A exposição, entre uma parte significativa de material inédito, apresenta centenas de documentos, fotografias, textos e obras de arte (na imagem), de Cesariny e de vários autores seus contemporâneos e mostra, pela primeira vez, um núcleo de obras e documentação das décadas de 1940 e 1950, proveniente do recém-doado espólio de João Artur da Silva. No espaço da Perve Galeria são destacadas as relações estabelecidas entre Mário Cesariny “... e os seus contemporâneos” de várias décadas, apresentando perto de duzentas obras de artistas nacionais e internacionais, muitos deles tendo coincidindo com o autor nas múltiplas exposições em que participou entre 2000 e 2006. A exposição, através, da apresentação de correspondência, fotografias e obras visuais podem ser vistas as colaborações de Cesariny com surrealistas portugueses e internacionais, e a sua relação crítica com alguma da tradição nacional. As duas exposições, que ficarão abertas até 26 de Novembro, têm curadoria de Carlos Cabral Nunes, director da Perve Galeria, que começou a trabalhar com Cesariny em 2020, até à sua morte seis anos mais tarde. Rua das Escolas Gerais 13, 17 e 19.
UM DISCO INESPERADO - Incorporar a tradição da música negra dos Estados Unidos com a folk e a country norte-americanos é um desafio conseguido por Rhiannon Giddens, uma contadora de histórias com uma interpretação vocal e instrumental muito próprias. Virtuosa e eclética, Giddens tem percorrido vários estilos até chegar a este seu primeiro álbum de originais que ela própria compôs, “You’re The One” . São muitas as influências musicais que se encontram ao longo dos 12 temas do álbum desde sonoridades zydeco da música Cajun de “You Louisiana Man”, os blues com influência country em “Way Over Yonder” (escrita em parceria com Keb’Mo), a percussão forte a acompanhar palavras certeiras em “Hen In The Foxhouse”, o tom soul envolvente de “Who Are You Dreaming Of”, o jazzy de “You Put The Sugar In My Bowl” e a energia contagiante de “Wrong Kind Of Right” ou de “Yet To Be” num dueto imparável com Jason Isbell, dos 400 Unit, o relato de uma história de amor entre uma mulher negra e um homem irlandês. Dois destaques mais - para “You’re The One”, que dá o título ao álbum e à faixa final, a divertida e contagiante “Good Ol’ Cider”. Um disco absolutamente irresistível. Só para terem uma ideia da versatilidade de Giddens, em 2019 ela gravou, com o músico de jazz Francesco Turizzi o álbum “There Is No Other”, por onde passam evocações de ópera, bluegrass, gospel e músicas tradicionais americanas. Mas este novo “You’re The One” mostra bem, além da versatilidade e virtuosismo, o seu talento de compositora. Disponível nas plataformas de streaming.
PETISCARIA ENTRE MURALHAS - E se ao fim da tarde rumasse a um castelo, se sentasse numa esplanada que de um lado permite vislumbrar Lisboa e do outro a foz do Sado e o mar? O sítio existe e é o Castelo de Palmela. Lá em cima, entre muralhas e ameias, fica O Bobo da Corte, bar e restaurante de petiscos, aberto ao almoço de quarta a domingo e nas noites de sexta e sábado. A casa é uma petiscaria, e não pretende ser mais que isso, mas usa boa matéria prima: queijo de azeitão, pão da região, chouriço assado cortado em rodelas finas, pasta de atum regular e pasta de farinheira superior. Pode pedir uma tábua de presunto e queijos, uma espetada de enchidos ou uma alheira de caça e convém sempre ver qual o prato do dia. Boas opções são o pica-pau, bem temperado e com boa carne e o frango à passarinho, acompanhado de batata doce frita às rodelas. Numa visita recente foi também provado um bom aveludado de melão com hortelã. O vinho da casa, em jarro, tinto ou branco, é honesto e da região e há sangria - que pode ser de moscatel, a pedido. O largo frente à esplanada convida a passear de copo na mão no intervalo dos petiscos. O local é muito procurado por grupos em festa, por isso se quiser ir na noite de sexta ou sábado convém fazer a reserva com antecedência. O Bobo da Corte, Castelo de Palmela, telefone 935 205 936.
DIXIT - “Toda a gente sabe que pelo menos meia dúzia de ministros e mais ainda secretários de Estado não estão à altura”- António Barreto
BACK TO BASICS - “Um bom livro diz-nos a verdade sobre os personagens, um mau livro mostra-nos a verdade sobre o seu autor” - G.K Chesterton
PALAVRAS DE ORDEM - Em 1974, logo a seguir ao 25 de Abril, as palavras de ordem mais enunciadas eram “pão”, “saúde”, “educação” e “habitação” - e , também, “paz”, relativamente à guerra colonial. Hoje, em vez de paz, devia reivindicar-se melhor justiça, um dos cancros da nossa sociedade. O pão, a saúde, a educação e a habitação resumem aquilo que é a aspiração natural a uma vida melhor e mais digna. De uma forma ou outra, ao longo destes 49 anos, todos os partidos têm incluído nos seus programas eleitorais estas aspirações - mas muito está ainda por fazer. António Costa percebeu que a chave para conseguir vencer estava em garantir melhores salários, mas como o dinheiro não dá para tudo, ao mesmo tempo lançou mais taxas e impostos. Na realidade Costa aproveitou as medidas de austeridade provocadas pelo descalabro da governação de Sócrates e exigidas pela troika, para nalguns casos ir ainda mais além, com o seu eterno sorriso bonacheirão. E assim conseguiu receitas fiscais nunca antes vistas, o que lhe permitiu folga orçamental. Injectou dinheiro no sistema de Saúde, mas não melhorou a sua gestão e é claro que a ruptura começa a ficar à vista. O mesmo se passa na educação - com os professores a reclamarem a recuperação do poder de compra que tinham há alguns anos. De uma forma geral Costa seguiu o princípio de aumentar o salário mínimo e as pensões e de não mexer no resto. O resultado foi mais uma cacetada na classe média, que já vinha bem combalida dos anos anteriores e que tem empobrecido nas últimas duas décadas. Se a saúde e a educação são casos de má gestão, a questão da habitação é mais delicada. Centrando a recuperação da economia no turismo, o Governo abriu as portas à especulação imobiliária e à gentrificação das cidades. A questão volta sempre ao mesmo ponto: como fazer crescer a economia e garantir melhor qualidade de vida às pessoas? Não é com impostos altos sobre o trabalho e sobre a actividade das empresas que isso se consegue. As pessoas gostariam que a oposição explicasse como alcançar aquilo que Costa prometeu e não alcançou: maior qualidade de vida para os portugueses. Resta saber se a oposição que temos consegue fazê-lo. Depois dos primeiros ecos da rentrée política, tenho as maiores dúvidas.
SEMANADA - Os aumentos salariais verificados nos últimos dois anos ainda não compensam a subida de preços verificada no mesmo espaço de tempo; as exportações de alta tecnologia portuguesa atingiram em 2022 o valor mais alto desde 2013; o valor total das exportações portuguesas caíu em Junho pelo terceiro mês consecutivo; no total, entre janeiro e junho, os visitantes estrangeiros gastaram em Portugal cerca de três mil milhões de euros, mais 31,3% face ao ano anterior; em Junho o sector do alojamento turístico registou 2,9 milhões de hóspedes e 7,4 milhões de dormidas correspondendo a 622,1 milhões de euros de receita, mais 14% que no mesmo mês do ano anterior; segundo o INE os não nacionais representam 70% das receitas do Turismo e gastaram mais de dois mil milhões de euros no primeiro semestre; até final de Junho os aeroportos portugueses registaram 31 milhões de passageiros, um aumento de 28,4% face ao ano anterior; a economia paralela atingiu em 2022 um novo recorde histórico alcançando 34% do PIB e especialistas fiscais indicam que a carga fiscal alta é a principal razão; a violência doméstica já fez 12 mortes este ano; nos últimos cinco anos 154 menores mudaram de nome e de género; quase 17% dos bebés nascidos em Portugal em 2022 são filhos de mães estrangeiras; quase 20% das freguesias do país estão a ficar despovoadas, com popuação envelhecida e sem oportunidades de trabalho para os mais novos; num ano Portugal perdeu 128 mil trabalhadores com ensino superior e o aumento de emprego no segundo trimestre deste ano foi feito com trabalhadores menos qualificados.
O ARCO DA VELHA - Portugal foi o único país da União Europeia que aumentou o custo do registo de patentes de invenções e inovações industriais.
PINTURA, DESENHO E FOTOGRAFIA - Se estiver em Chaves não perca a exposição de Pedro Calapez, no Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso. Intitulada “Deste Espaço Luminoso e Obscuro”, tem curadoria de Joana Valsassina e apresenta até 28 de Janeiro, um conjunto de obras de Pedro Calapez da colecção de Serralves e da colecção do artista, mostrando a relação entre a pintura e o desenho, desde final da década de 70 (na imagem). Neste sábado 19 decorre uma visita orientada pelo próprio artista e pelo historiador de arte e curador Oscar Faria. Outros destaques: dia 19 de Agosto assinala-se o Dia Mundial da Fotografia e o Centro Português de Fotografia, no Porto, inaugura “Mãe d´Água", a partir de imagens da sua colecção. E no Carvalhal, no âmbito das primeiras iniciativas da Terra Foundation, lançada por Guta Moura Guedes, pode ver o projecto fotográfico “O Dia Abre Os Meus Olhos”, resultante de uma residência do fotógrafo Rafael de Oliveira e da sua visão do ecossistema da região da Comporta, com curadoria de José Cabaço. Ao todo são apresentadas 345 fotografias em formato postal e 24 nos tamanhos A1 e A2. A exposição, com uma bem pensada montagem, decorre no espaço de um antigo café, na Avenida 18 de Dezembro nº5, no Carvalhal, até 27 de Agosto.
PERGUNTAS DIFÍCEIS - Sou fascinado por pessoas que conseguem transmitir conhecimentos complexos de forma fácil. Por cá temos entre outros, Carlos Fiolhais e Jorge Calado. Saber comunicar bem temas científicos é importante e Sabine Hossenfelder, uma cientista, na área da Física, investigadora no Instituto de Estudos Avançados de Frankfurt, sabe fazê-lo. O seu novo livro, “A Física E As Grandes Questões da Vida” é disso um bom exemplo. Ela coloca perguntas como: “Existem cópias de nós mesmos? O Universo pensa? A consciência é computável? Afinal, qual é o propósito do que quer que seja?”. “A Física e as Grandes Questões da Vida” baseia-se nas mais recentes pesquisas em mecânica quântica, buracos negros, teoria das cordas e física de partículas e Sabine Hossenfelder explica o que a física moderna nos pode dizer acerca das grandes questões da humanidade: De onde viemos? Para onde vamos? O que está ao nosso alcance conhecermos? O livro inclui entrevistas com outros cientistas de renome e Sabine Hossenfelder mostra o caminho que falta percorrer para que os físicos consigam responder àquelas questões, indica os limites atuais do conhecimento e aponta as perguntas que podem ficar sem resposta para sempre. «Sim, somos uns sacos de átomos rastejando sobre um ponto azul-pálido no braço espiral externo de uma galáxia notavelmente pouco digna de nota. E ainda assim, somos muito mais do que isso.» Fascinante, sobretudo por um apaixonado por física, como eu.
GUITARRA MÁGICA - Pat Metheny agarrou em algumas gravações suas a solo, dispersas e inéditas, efetuadas nos intervalos de uma série de digressões, em quartos de hotel, ou durante ensaios. A partir daí fez um novo álbum, intitulado “Dream Box”. Aos 68 anos Pat Metheny continua uma referência para todos que gostam de ouvir uma guitarra tocada a solo e aqui ao longo de quase uma hora estão nove temas que mostram a capacidade criativa do músico, que apresenta versões de clássicos como “Never Was Love”, expurgando-os das palavras que integravam as canções e deixando só a voz da guitarra eléctrica. O disco combina versões de canções, de standards de jazz, mas também novas composições que lhe surgiam no momento em torno de melodias que ía construindo. Metheny é sempre surpreendente pelos caminhos que escolhe e este disco permite perceber o seu processo criativo. Aqui está um álbum que nasceu por acaso, a partir de retalhos, improvisações, devaneios melódicos tardios. Cruzam-se géneros, como a evocação das sonoridades dos blues em “From The Mountains” ou da bossa nova em “Morning Of The Carnival”, um clássico de 1959, composto por Luis Bonfá e António Maria e que se tornou popular por exemplo nas versões de Astrud Gilberto e de Nara Leão e de músicos de jazz como Gerry Mulligan. Mas esta interpretação de Metheny é ao mesmo tempo saudosista e inovadora. O disco está disponível nas plataformas de streaming.
EXPERIÊNCIA SADINA - Uma das coisas que qualquer restaurante deseja é ser reconhecido. Se o reconhecimento vier do BIB Gourmand, o patamar de entrada na constelação das estrelas do Guia Michelin, melhor ainda. Há uns anos atrás Rute Marques decidiu que o seu objectivo era criar um restaurante diferente em Setúbal e inventou o Xtoria. Chamou para o seu lado um jovem Chef, Rafael Portasio, que já tinha experiência em alguns bons restaurantes. Localizado em Setúbal, junto ao Porto de Pesca, o Xtoria é referenciado na lista do BIB Gourmand de Portugal pelo segundo ano consecutivo. Nota-se o empenho do proprietário, do Chef, e da equipa de sala em seguir à risca os preceitos que são capazes de seduzir o célebre guia, desde a atenção aos produtos locais, a novas técnicas gastronómicas. A decoração é confortável, o serviço é exemplar, os preços são honestos e há até um menu de almoço simpático. No menu normal, nas entradas deixei para uma próxima visita as moelas glaciadas com sésamo e aneto e as enguias fritas de Alcácer. Mas a minha escolha foi para as ostras da região - que podem vir ao natural ou criativas, estas temperadas ao sabor da inspiração do Chef no momento. Arrependi-me de não ter escolhido as ostras ao natural. Na lista há peixe da lota de Setúbal e um bacalhau em tempura mas eu fiquei pelas lulas recheadas com arroz, cogumelos, toucinho e coentros. Não me arrependi. Nas carnes havia pato em brioche e vaca Mertolenga. Do outro lado da mesa a opção foi por duas entradas: a primeira foi choco, ponzu, batata negra, maionese de Sriracha, e caviar de lumpo, que foi apreciada. A seguir veio ovo panado com creme de ervilhas e hortelã pimenta, espargos marinados, e chouriço frito. A sobremesa, dividida, e que agradou, foi cremoso de cardamomo com cookie de gengibre. A acompanhar o repasto uma vinho surpreendente, pela relação qualidade-preço, o branco da Quinta da Invejosa, de Palmela, feito a partir das castas Fernão Pires e Verdelho. O Xtoria fica na Rua Guilherme Gomes Fernandes 17, Setúbal, telefone 961284144.
DIXIT - “Portugal não pode ser só o país das casas para estrangeiros e dos hotéis para turistas” - Sónia Sapage.
BACK TO BASICS - “Tenham sempre presente que querer obter sucesso é mais importante que qualquer outra coisa para efectivamente terem êxito” - Abraham Lincoln.
PARA MEMÓRIA FUTURA - Como a memória é curta convém recordar como as coisas se passaram. As eleições autárquicas foram há menos de dois anos e quando Carlos Moedas iniciou funções o novo executivo da Câmara Municipal de Lisboa percebeu que a preparação das Jornadas Mundiais da Juventude estava muito atrasada. Em Julho de 2021 António Costa tinha nomeado José Sá Fernandes para coordenar o grupo de projeto que iria assegurar o acompanhamento dos trabalhos de preparação das Jornadas Mundiais da Juventude. Sá Fernandes teve desde a derrota do PS na autarquia lisboeta uma relação difícil com o novo executivo e era patente que o trabalho que tinha entre mãos andava mal e devagar, a passo de caracol. No final de Janeiro deste ano, face aos atrasos e divergências e com o risco de o evento ter sérios problemas, Carlos Moedas decidiu que a CML passaria a articular directamente com a Igreja a organização, excluindo Sá Fernandes do processo. Nessa altura, Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da autarquia lisboeta com a responsabilidade executiva do evento, afirmou que a Câmara não aceitava mais “pretensos coordenadores que não fazem nada e que não ajudam a resolver nada” e que iria tomar o processo em mãos, a seis meses do evento. Na altura , face aos atrasos verificados, parecia impossível. Mas a verdade é que a equipa montada pela autarquia lisboeta, em conjugação com outras autarquias e a Igreja, conseguiu ter tudo pronto, para além até dos planos iniciais, em termos de localização das várias acções. O papel de Sá Fernandes acabou por ser quase nulo. Foi por isso com espanto que se assistiu, a seguir à JMJ, a uma entrevista a Sá Fernandes, na SIC, em que ele se apresentava como o grande obreiro de tudo e mais alguma coisa. Se dúvidas houvesse, depois do onanismo verbal praticado na televisão sobre a JMJ, ficou provado que José Sá Fernandes é das mais desprezíveis figuras da política portuguesa, um lunático encartado com um umbigo descomunal e vendas nos olhos que só lhe permitem ver numa direção. A realidade, para memória futura, é que sem o trabalho de autarcas como Carlos Moedas a festa tinha corrido mal, de atrasada e desorganizada que estava. Verdade seja dita que as culpas do que estava mal não eram só de Sá Fernandes - quem o escolheu, António Costa tem também culpas no cartório - foi mais uma má escolha na sucessão de más escolhas que tem caracterizado a sua acção como Primeiro Ministro.
SEMANADA - Os pedidos de asilo em Portugal aumentaram 30% no ano passado; desde 2011 foram destruídos 89 mil ninhos de vespa asiática em Portugal; há 30 mil crianças estrangeiras inscritas para entrar no primeiro ciclo e no ensino pré escolar; só este ano cerca de sete mil cabo-verdianos já pediram vistos de longa duração para Portugal; o número de pessoas singulares e colectivas que pediram insolvência na primeira metade de 2023 subiu 19,2% face ao período homólogo de 2022, num total de 2482; a linha nacional de Emergência Social recebeu 2372 pedidos de ajuda por perda de habitação nos primeiros seis meses deste ano; taxas e multas cobradas no primeiro semestre somam recorde de dois mil milhões de euros, um aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano passado; os preços dos quartos para estudantes em Lisboa aumentam 19%; a taxa de desemprego jovem em Portugal é de 17,2%, acima da média de desemprego móvel na UE, que é de 14%; o salário dos jovens em Portugal é o segundo mais baixo da UE, logo atrás da Grécia; seis mil alunos de cursos superiores perderam este ano as suas bolsas de estudo por falta de aproveitamento; dos 230 deputados, 37 exercem cinco ou mais cargos além do mandato parlamentar na Assembelia da República e desses, 34 são do PS e PSD; as salas de cinema portuguesas tiveram em Julho o melhor mês desde 2004, com um total de 1,7 milhões de espectadores e 10,5 milhões de euros de receita, um aumento de 64,5% em relação ao mesmo mês do ano passado; os canais generalistas e os de informação no cabo fizeram 278 horas de emissão sobre a JMJ;
O ARCO DA VELHA - O programa Ferrovia 2020 , lançado por Pedro Nuno Santos, devia ter ficado concluído em 2021 mas a execução está atrasada e não há ainda previsão da conclusão dos trabalhos previstos nem do custo final das obras.
UM CLÁSSICO EM LISBOA - Hoje sugiro uma visita ao Museu Nacional de Arte Antiga para visitar a obra convidada, neste caso pinturas de Albrecht Durer. O primeiro é um clássico do artista alemão, o retrato de Jakob Muffel, que foi presidente da cidade de Nuremberga, datado de 1526. A obra (na imagem) mostra como Durer foi um dos grandes retratistas do Renascimento e foi cedida ao MNAA até 24 de Setembro pela Gemaldegalerie de Berlim. O segundo retrato é do rosto de um português, desenhado por Durer em 1521, que se supõe ser de João Brandão, que era feitor português em Antuérpia. Outra sugestão é a exposição “Vita Prima, Santo António em Portugal”, que está no Museu da Cidade, Palácio Pimenta, até 31 de Dezembro. A exposição é uma viagem pela vida de Santo António enquanto jovem, durante o tempo em que viveu em Portugal antes de ingressar na Ordem dos Frades Menores e ter ido viver para França e Itália. Fora de Lisboa, a norte, “Poeta Chama Poeta” é uma exposição realizada a partir de obras de Ana Hatherly da Coleção de Serralves, que fica até 1 de Outubro na Galeria Solar da Porta dos Figos - Casa do Artista, em Lamego. Por fim, se estiver nos Açores, pode visitar, na Galeria Fonseca Macedo, em Ponta Delgada (Rua Dr. Guilherme Poças Falcão) a exposição “1,2,3 O Prado Infinito” de João Miguel Ramos.
UMA VIAGEM IMPRESSIONANTE - No final do século XIX, em 1887, Bernardo Pinheiro Correia de Melo, também conhecido por Conde de Arnoso, esteve durante nove meses em viagem, de Marselha até Pequim, no coração da China, onde se deslocara para a assinatura do tratado sobre a tutela portuguesa de Macau. Pelo meio visitou lugares do colonialismo europeu, do Mediterrâneo e de Suez, a Hong Kong ou a Singapura. O livro que escreveu com o relato dessa viagem levou o nome de “Jornadas Pelo Mundo”, publicado pela primeira vez em 1895. Bernardo Pinheiro Correia de Melo, mais conhecido por Conde de Arnoso, nasceu em Guimarães, em maio de 1855. Estudou matemáticas e engenharia, foi oficial do exército e secretário pessoal do rei D. Carlos, que lhe atribuiu o título em 1895. Membro dos Vencidos da Vida, como autor usou também o pseudónimo literário Bernardo Pindela (era filho do visconde de Pindela), publicou vários livros e deixou vasta colaboração na imprensa da época. Cito excertos da introdução de Francisco José Viegas à nova edição de “jornadas Pelo Mundo”: «O Conde de Arnoso devia ser também assim: um dos elegantes do reino, cultíssimo, afável, naïve, cheio de monde, de curiosidade, de uma toillete adequada, dos pecados da época e de vontade de literatura.» Podia ser uma personagem de Eça de Queirós, escreve também Francisco José Viegas: «Os seus olhos são os de um ocidental vagamente emprestado ao exotismo.» O relato desta grande viagem mostra como os portugueses de então viam o mundo, numa altura em que o conhecimento que as elites europeias tinham da China era quase nulo. Interessam-no as personagens notáveis, os negociadores, o cerimonial, os vasos de porcelana, os templos, a presença cristã portuguesa. Confrontado com o prodigioso passado da China (as termas do imperador Qianlong, os túmulos Ming ou a Grande Muralha) e com as vicissitudes que o Império do Meio atravessava na época, Arnoso nunca abandona o seu olhar cosmopolita, minucioso, chocado diante da penúria, atento aos pormenores, assombrado perante as ruínas ou a promessa do futuro. Edição da Quetzal, na colecção “Terra Incógnita”, com prefácio e notas de Francisco José Viegas.
A DANÇA DA BARBIE - A Rolling Stone diz que a banda sonora de “Barbie” é como uma noite numa discoteca em que a música não deixa ninguém parar e quem lá está não quer que a noite acabe. Nicki Minaj, Dua Lipa, Karol G, Lizzo, Billie Eilish, e vários outros estão nas 16 faixas que integram o CD com a banda sonora do filme que está a bater recordes de bilheteira e que em Portugal já teve mais de 500 mil espectadores nas salas de cinema. Com produção do veterano Mark Ronson, “Barbie - The Album” captura em música a história que o filme conta. Vejam bem: Ryan Gosling, uma das estrelas do filme, canta “I’m Just Ken”, com arranjos e produção que parecem evocar Meat Loaf - um achado. Logo na primeira faixa, “Pink”, Lizzo começa por contar que gosta de acordar no seu mundo cor de rosa, mas reconhece que a vida é mais dura que os sonhos. E a seguir Dua Lipa canta “Dance The Night”, mais à frente Billie Eilish canta “What Was I Made For”. O álbum mistura temas inéditos com canções que evocam memórias e inclui estrelas pop já citadas como Dua Lipa e Lizzo, fenómenos globais como o cantor de reggaeton Karaol Gand ou o grupo feminino Fifty-Fifty e até Tame Impala, um grupo australiano meio psicadélico ou a cantora britânica Charli XCX. E, claro, não falta Sam Smith com o seu hino de dança “Man I Am”, uma pequena provocação no meio do álbum. Disponível nas plataformas de streaming.
PETISCO NO PÃO - Uma das minhas descobertas deste verão é a sanduíche de tomate. Vi a receita numa newsletter norte-americana e lancei mão da adaptação possível em Portugal. Comecei por procurar num comércio local tomate coração de boi bem maduro. Depois fui à procura de pão de crnteio de boa consistência. Tenho grande confiança no que é feito pelo Museu do Pão e que se vende já fatiado. A seguir peguei na minha maionese preferida e coloquei numa tigela duas colheres de sopa, que temperei com pimentão doce fumado, mexendo tudo muito bem. Barrei duas fatias de pão de centeio com esta maionese temperada e, depois, dispus as rodelas de tomate, não demasiado grossas, nem demasiado finas, por cima de uma das fatias. Temperei o tomate com uma pitada de sal, e algumas folhas de manjericão, tapei com a outra fatia de pão, cortei ao meio em dois pedaços. Entretanto para entrada tinha preparado uns figos pingo de mel, partidos ao meio e acompanhados por umas farripas de presunto. Juntei num tabuleiro os figos à sanduíche e sentei-me ao ar livre com um copo de cerveja bem fresca. Um petisco.
DIXIT - “Portugal não é bem um país, é uma sala de espera” - Ricardo Araújo Pereira.
BACK TO BASICS - “Não vale a pena ir por caminhos já percorridos, é preferível abrir um trilho novo e deixar uma marca” - Ralph Waldo Emerson
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