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A GRANDE ILUSÃO

por falcao, em 18.06.21

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A RESPONSABILIDADE DA LIBERDADE - Ora adivinhem lá quem salvou Medina de um voto de censura na Assembleia Municipal, no caso dos dados pessoais de manifestantes fornecidos a embaixadas estrangeiras, entre as quais a da Rússia? Se disseram PCP acertaram. Estamos pois conversados - até o Bloco de Esquerda se pôs de fora da confusão e votou contra. Já que o caso envolveu igualmente o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério da Administração Interna, que também esconderam conhecer o assunto, espero que alguém apresente um voto de protesto pelo sucedido na Assembleia da República para ver o que lá acontece: quais os partidos que na casa da Democracia acham normal enviar dados pessoais a embaixadas estrangeiras e quais os que censuram o que se passou. E o que se passou foi que o Gabinete do Presidente da Câmara enviou nomes, moradas e contactos de manifestantes que protestavam contra as acções dos governos da Rússia, da Venezuela, de Israel e da China às respectivas embaixadas. O que se passou não foi um problema burocrático - não nos tomem por parvos - o atendimento não foi num guichet de um serviço anónimo mas no gabinete de apoio ao próprio Presidente da autarquia. O que verdadeiramente me preocupa é a maneira como o centro de poder da Câmara funciona. Um bom amigo chamou-me a atenção para uma evidência: este episódio atesta incompetência, mostra a falta de capacidade de Medina para gerir o seu próprio gabinete, evidencia uma acção que prejudica os lisboetas e a cidade e causa danos à reputação do país. Este é mais um caso que evidencia que o Governo da cidade necessita de mudanças profundas. Medina, no entanto,  escolheu fugir às suas responsabilidades políticas enquanto anda atarefado em inaugurações de obras incompletas. Na realidade o actual Presidente da Câmara de Lisboa  deixou de ter autoridade para se recandidatar. Este incidente foi a última gota de água para se perceber como Medina funciona - em modo exibicionista para celebrar, e em modo escondido para assumir responsabilidades. Medina e o PS preferem continuar entretidos a chuchar no dedo e a olhar para o lado, a ver se o assunto cai em esquecimento. A liberdade traz responsabilidades, não gosta de quem se esconde atrás de desculpas manhosas. 

 

SEMANADA - Um inquérito da organização Transparência Internacional indica que 60% dos portugueses classificam como “mau” o desempenho do Governo no combate à corrupção; o mesmo estudo coloca Portugal no terceiro lugar, entre os países da União Europeia, na percepção da gravidade da corrupção; quase 90% dos portugueses acreditam que há corrupção no Governo; o Conselho Superior da Magistratura considera que as propostas do PS, Bloco e PAN sobre a ocultação de riqueza têm efeito prático reduzido; da zona dos mármores no Alentejo são transportadas por ano 300 mil toneladas de pedra em 11.700 camiões e não está previsto um terminal de mercadorias ferroviário na zona, o que permitiria poupar 2600 toneladas de CO2 por ano; com autárquicas à vista o Parque Ribeiro Telles foi inaugurado no Domingo passado por Fernando Medina apesar de não estar concluído e de as obras continuarem; o programa de financiamentos ao desenvolvimento da economia baseada no mar só executou um quarto do orçamento em cinco anos e empresários do sector queixam-se de cativações e de ineficácia do sistema que está a gerir o processo; o Instituto Bruegel elaborou um estudo em que Portugal aparece como um dos países europeus mais lentos na sua planificação da utilização dos fundos da bazuca; segundo uma associação do sector das telecomunicações Portugal é dos países europeus mais atrasados em matéria de 5G.

 

O ARCO DA VELHA - A Câmara Municipal de Lisboa tem cerca de 13.000 funcionários, ou seja um por cada 38 habitantes da cidade. Entre os funcionários da CML contam-se 381 advogados, 159 relações públicas, 443 arquitectos e 168 historiadores, entre muitas outras profissões.

 

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A FORÇA DO DESENHO - Não há fome que não dê em fartura e Lisboa está cheia de boas exposições e hoje destaco duas delas. Começo pela Sociedade Nacional de Belas Artes onde decorre uma exposição dedicada à obra de Gaëtan, um artista português, desaparecido em 2019 aos 75 anos, cuja obra se desenvolveu essencialmente na área do desenho. No texto que apresenta a exposição, assinado pelos seus curadores, Alberto Caetano e Rui Sanches, sublinha-se que a obra plástica de Gaëtan ficou identificada com a auto-representação, “desenhando de forma regular e persistente o seu rosto, olhando-se no espelho”. Gaëtan era destro mas desenhava propositadamente com a mão esquerda para “evitar as armadilhas da representação correcta da factualidade do modelo que tinha perante si”. Gaëtan dava aos seus desenhos, em séries ou individuais, títulos que remeteram para referências literárias, musicais ou cinéfilas, muitas vezes com um humor especial, sempre com um traço marcante. Esta exposição tem uma montagem absolutamente exemplar, que nos ajuda a conhecer melhor o percurso de Gaëtan (na imagem). Outra exposição fundamental está na Gulbenkian - “Tudo O Que Eu Quero”, uma mostra dedicada à obra de mulheres que se destacaram no panorama das artes plásticas em Portugal entre 1900 e 2020. Com curadoria de Helena de Freitas e Bruno Marchand a exposição agrupa duas centenas de obras de 40 artistas portuguesas  como Maria Helena Vieira da Silva, Lourdes Castro, Paula Rego, Ana Vieira, Helena Almeida, Joana Vasconcelos, Maria José Oliveira, ou Fernanda Fragateiro entre muitas outras. Numa selecção é sempre difícil escolher, mas tenho pena que esteja ausente a obra de Maria Beatriz, uma artista portuguesa que fez da libertação e emancipação da mulher o tema de muitas das suas obras. Maria Beatriz morreu o ano passado na Holanda, onde vivia desde 1970, e o seu espólio está em Lisboa, guardado, ao que me dizem, em más condições de conservação.

 

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O POP E O ROCK - Liz Phair é uma cantora e compositora norte-americana, discreta mas com uma obra importante. E, acima de tudo, é uma grande escritora de canções - há mesmo quem diga que ele é das mais relevantes escritoras de canções dos últimos 30 anos, como a revista Rolling Stone. O seu último disco de originais datava de 2010 e agora publicou “Soberish”. Ela fez o seu percurso desde a primeira metade dos anos 90 no rock alternativo e o seu primeiro disco data de 1993, “Exile in Guyville”. Este novo álbum retoma temas que lhe são caros: a amizade, a descrição e o amor que ela deseja. Brad Wood, que produziu o seu álbum de estreia e o seguinte, “Whip-Smart”, foi chamado para trabalhar nas 13 canções deste “Soberish”, mais a meio caminho entre o pop e o rock que o caminho mais alternativo do início da carreira de Liz Phair. “Hey Lou”, o terceiro tema do disco bem pode servir como cartão de visita e mostra bem a forma como Liz ela usa as palavras: “No one knows what to think when you’re acting like an asshole/Spilling all the drinks, talking shit about Warhol.” Ou, como na abertura do tema “Good Side”: “There are so many ways to fuck up a life/ I’ve tried to be original”. Estas palavras duras são a face conhecida de Liz Phair, contrastam com o pop rock que ela adoptou em “Soberish” e o resultado é completamente inesperado. Sinal destes tempos.

 

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O PETISCO EXPLICADO  - Maria de Lourdes Modesto,  é uma das maiores estudiosas e divulgadoras da tradição culinária portuguesa, com numerosos livros publicados. Tornou-se popular graças a um programa culinário que apresentou na RTP desde 1958 e ao longo de 12 anos, depois de ter sido professora no Liceu Francês, em Lisboa. Foi a pioneira portuguesa do “live cooking”. Apaixonada pela cozinha alentejana e de outras regiões de Portugal,  escreveu vários livros de cozinha portuguesa, dos quais se destacam a Grande Enciclopédia da Cozinha, Cozinha Tradicional Portuguesa (o livro de culinária mais vendido em Portugal) e Receitas Escolhidas. Agora, aos 91 anos, acaba de lançar “Coisas Que Eu Sei”, que recolhe alguns artigos publicados na imprensa nos últimos anos, mas também material original. São 185 páginas que percorrem conselhos sobre sopas, recomendações sobre produtos sazonais, especialidades regionais como as bolas e folares transmontanos, o papel do gengibre ou da courgette, o tesouro dentro do mel, guloseimas do arroz doce à marmelada, culminando com recomendações para uma ceia de Natal bem sucedida. Neste novo livro, “Coisas Que Eu Sei”, Maria de Lourdes Modesto escreve: «Para o bem e para o mal, Portugal vive um momen­to de grande euforia gastronómica. Se é verdade que hoje, ao contrário do que acontecia há 50 anos, já é possível encontrar na restauração cozinha tradicional em todo o país, não é menos verdade que o risco de desfiguração e perda se tornou superlativo. Não pensem que têm pela frente a padeira de Al­jubarrota da cozinha tradicional, inflexível a qualquer mudança. Apenas se pede que separem as águas — a chamada cozinha de autor não tem memória, é por re­gra, irrepetível. A tradicional é factor de identificação de uma região, de um grupo, de um país, e quer-se bem copiada.»

 

GOSTO COIMBRÃO - Do Tacho é um pequeno restaurante no centro de Coimbra, pouco mais que meia dúzia de mesas no interior e uma mini esplanada na rua. O restaurante existe há poucos anos mas tem uma personalidade vincada, baseada em produtos sazonais e especialidades portuguesas. Na mesa, à chegada, estão azeitonas alentejanas britadas, azeite de Macedo de Cavaleiros, pão de abóbora e nozes e pão de mistura, ambos fresquíssimos e estaladiços. Destaco o serviço de vinhos, baseado em provas de pequenos produtores da região. De entrada provou-se um excelente espumante Alazão rosé, bruto, da Bairrada. E depois seguiu-se um tinto reserva da Casa do Canto, também da Bairrada. Os pratos escolhidos foram bacalhau confitado e favas com enchidos, e pelo meio apareceu em jeito de brinde tostas com cachaço em redução de vinho do Porto. As escolhas vieram perfeitas, a posta do bacalhau de boa qualidade e os enchidos superlativos numa confecção cuidada das favas, tenras, mas sem virem afogadas em molho. A costela era outra opção que numa mesa ao lado era apreciada, e tem um porte notável. O serviço muito simpático e eficaz. Reserva necessária. Rua da Moeda 20, Coimbra, telefones 911 925 961 e 239 197 830.

 

DIXIT -“Preciso das minhas memórias. Elas são os meus documentos.”- Louise Bourgeois 

 

BACK TO BASICS - “A liberdade tem um valor inestimável” - Cícero

 

 







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