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O INDESEJADO - Segundo essa sinistra figura chamada Sergei Lavrov, o Brasil e a Rússia têm visões similares sobre o conflito na Ucrânia. A declaração foi feita em Brasília, numa visita oficial do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, a convite de Lula da Silva, o mesmo Lula da Silva que se apresenta como mediador para alcançar a paz. O problema é que nada de bom se espera de um mediador que toma partido pelo lado do invasor, como Lula fez na sua recente viagem à China e Lavrov veio elogiar. É este Lula da Silva que vem a Portugal, a convite do Ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, um pouco diplomata membro do Governo que abusivamente convidou um defensor de ditaduras e de opressores a estar presente no parlamento português no dia da celebração da Liberdade, o próximo 25 de Abril. É uma indignidade o que Cravinho fez e a presença de Lula é infelizmente tolerada pelo PS e o PSD em nome de uma suposta responsabilidade que sacrifica princípios. É uma ofensa que Lula da Silva discurse no parlamento nesse dia, seja em que contexto fôr. A circunstância de se dizer que Portugal e o Brasil são países irmãos não atenua nada - há irmãos que se portam mal e são afastados da família. Lula é um caso assim, as suas afirmações sobre a posição da União Europeia, e de Portugal, mostram que ele prefere estar do lado agressor, contra a Europa. Eu, como português, sinto-me ofendido por ele ir ao parlamento no dia 25 de Abril. Espero que haja deputados, de todos os partidos que condenaram a invasão russa da Ucrânia, que ostentem as cores azul e amarela nesse dia. Que digam alto e bom som que a Ucrânia vencerá, que a liberdade triunfará, que os invasores serão castigados. Querer a paz, como Lula afirma, é em primeiro lugar condenar o invasor. O que Lula está a fazer não é procurar a paz, é justificar a guerra.
SEMANADA - Segundo o FMI a economia portuguesa deverá registar este ano a segunda maior travagem económica da zona Euro e Portugal tem a 13ª economia mais lenta do mundo; ainda segundo o FMI a economia portuguesa está entre as que correm riscos elevados de uma crise financeira causada pelo mercado imobiliário; a carga fiscal em Portugal aumentou 15% em termos nominais no ano passado e o rácio entre o valor dos impostos e das contribuições sociais, e o valor do produto interno bruto, está no número mais alto desde 1995; a receita com o IVA aumentou 18% em 2022 e a do IMT cresceu 26%; nos últimos quatro anos 11 mil casas foram compradas por estrangeiros; no sector empresarial do Estado estão mais de 20 mil milhões de euros de dívida, cerca de 10% do PIB português; segundo o FMI o PIB per capita português, em percentagem da média europeia, está abaixo do valor de 1995, quando se concretizou a adesão à União Europeia; desde 1995 Portugal já recebeu mais de 157 mil milhões de euros de fundos europeus; a construção de centrais solares já motivou autorização para o abate de 3775 sobreiros e azinheiras; em 2022 registaram-se 19 insolvências pessoais por dia; os profissionais do SNS realizaram em 2022 cerca de 19 milhões de horas extraordinárias, o segundo valor mais alto registado desde 2014; o governo gastou um milhão de euros para criar uma academia de ciberdefesa com equipamento topo de gama e quer construir uma nova estrutura idêntica sem que a primeira esteja sequer a ser utilizada; este ano a GNR já deteve 34 pessoas por suspeita de crime de incêndio florestal; apenas 13% dos inquéritos por assédio sexual dão origem a acusação.
O ARCO DA VELHA - O deputado do PS Carlos Pereira integrou dois inquéritos parlamentares à Caixa Geral de Depósitos enquanto negociava uma dívida sua a esse banco.
MANEIRAS DE VER - Jorge Molder regressa à observação da sua própria imagem na nova série de fotografias, “Grandes Planos”, em exposição na Galeria Miguel Nabinho até 13 de Maio (na imagem). Esta série, que combina a fantasia do voyeur com o estado de espírito do observado, é toda datada já deste ano e tem 20 fotografias, das quais a galeria expõe 13. São ampliações de grande formato (151x101 cms), a preto e branco, cuidadosamente impressas pelo próprio Jorge Molder em papel Arches cotton de 640 gramas. O auto-retrato tem surgido com alguma frequência no seu trabalho, muitas vezes em narrativas ficcionais onde Molder assume a representação de personagens que idealiza e foi também a ideia central da série “Nox”, com que representou Portugal na Bienal de Veneza de 1999. Nesta nova série, “Grandes Planos”, não há adereços, apenas o rosto, em interpretações da própria fisionomia de Molder, um olhar que ele assume sobre si próprio, contido na premeditada conciliação entre luz e sombra. Uma outra exposição de fotografia, bem diferente , é “A Dimensão Imersiva”, uma viagem pelo percurso de Jorge Marçal da Silva, um cirurgião que no início do século XX se dedicou também à fotografia, nomeadamente explorando o potencial das imagens estereoscópicas, tridimensionais. A exposição, que além das fotografias, tradicionais e estereoscópicas, inclui câmeras e material de laboratório de Marçal da Silva, está patente no Arquivo Municipal de Fotografia (Rua da Palma 246), até 31 de Agosto. Destaque final para a exposição “Janeiro-Dezembro”, de Luís Paulo Costa, com curadoria de Sara Antónia Matos, na qual o artista mostra 12 pinturas que representam os céus ao longo dos doze meses do ano e uma série de outros trabalhos realizados nos últimos anos - na Sociedade Nacional de Belas Artes até 27 de Maio.
O CONTADOR - Franz Kafka preferia ser considerado mais como um bom contador de histórias do que como um romancista. “Todos os Contos” reúne pela primeira vez toda esta obra de Franz Kafka, com vários textos nunca publicados em Portugal. Esta edição tem um texto introdutório de Álvaro Gonçalves, que fez também a tradução, feita diretamente do alemão e respeitando toda a especificidade da escrita kafkiana, com base na edição crítica da obra de Franz Kafka, que segue os manuscritos originais e, nos casos em que isso não foi possível, as edições que correspondem à última vontade do autor. ”Todos os Contos” compila na íntegra e por ordem cronológica, todas as suas narrativas que possam ser classificadas como contos reunindo tanto os textos publicados em vida como os que foram revelados postumamente. Nesta recolha estão a breve novela “A sentença” e os textos, mais longos, de “A Metamorfose”, “Na colónia penal" ou “Josefine, a cantora, ou o povo dos ratos”. Franz Kafka nasceu em 1883 em Praga e ao longo dos seus 40 anos de vida publicou apenas sete pequenos livros, sendo três deles antologias de contos e fragmentos que haviam saído em conhecidas revistas e jornais de Praga. Álvaro Gonçalves sublinha na introdução que é “neste género de narrativa curta que Kafka demonstra a sua arte de concepção literária, tanto a nível formal (...) como em termos de conteúdo, fazendo de cada narrativa concebida por si uma autêntica obra-prima do género repetitivo (conto curto, fragmento, parábola, alegoria, fábula, novela e aforismo)”. Edição Livros do Brasil, colecção Dois Mundos.
CANÇÕES SÓ APARENTEMENTE SIMPLES - Gosto de Feist, da sua voz, da sua maneira de compôr e de cantar, essa forma envolvente de fundir música e palavras, fazendo com que as canções de um álbum se entrelacem umas nas outras, mostrando diferenças mesmo quando aparentemente se assemelham. “Multitudes” é o novo disco de Feist, depois de uma pausa de seis anos, durante os quais adoptou uma criança, acompanhou de perto a doença e a morte do seu pai e mudou-se para Los Angeles. A morte, o nascimento, a mudança e a persistência são os temas que marcam este seu sexto disco. Feist começou a ser notada com o seu disco solo de estreia em 1999 e afirmou-se como autora de canções quase sempre intimistas, frequentemente com uma forte base acústica, por vezes com laivos experimentais, mas mantendo uma simplicidade que se tornou a sua imagem de marca. “Multitudes” inclui 12 canções, melódicas na composição, fortes nas palavras, que descrevem a forma como a sua vida mudou, os momentos em que tudo se desfazia para depois se reconstruir. Temas como “In Lightning”, “Forever Before” ou “Love Who We Are Meant To”, mostram a força dos arranjos, a cumplicidade entre a voz e os instrumentos, a simplicidade do dedilhar das cordas de uma guitarra. Há temas onde revela o que lhe vai no pensamento como quando em “Hiding Out In The Open” ela canta “Everybody’s got their shit/ But who’s got the guts to sit with it?”. Mas o meu tema preferido talvez seja “Borrow Trouble”, já quase no fim do álbum, onde a guitarra eléctrica, a bateria e um solo de saxofone se juntam à sua voz que canta sentir-se “so good at picturing the life I was gonna be left out of / Rather than the one I’d made”. Disponível em streaming.
A CAVALA - Com o tempo a aquecer vem a vontade de almoços simples com recurso a uma matéria prima muitas vezes desprezada: a conserva portuguesa. Hoje dedico estas linhas às boas conservas de filetes de cavala sem pele e espinhas, felizmente abundantes e de boa qualidade, como as da Minerva, que são as minhas preferidas. Da próxima vez que pensarem numa salada de feijão frade experimentem usar cavalas em vez do habitual atum, adicionem tomate cherry cortado em metades, salsa fresca picada, umas rodelas finas de cebola roxa e rodelas de ovo cozido. Vão ver que ficam a pensar que é uma boa variante para o atum. Outra possibilidade, enquanto as laranjas estão boas como agora, é cortar a laranja às rodelas, dispor num prato largo, temperar com azeite e um pouco de pimenta moída na altura e por cima das rodelas colocar lombos de cavala. Por fim, como entrada, sugiro fatias de pão alentejano cortadas finas, tostadas, salpicadas com um bom azeite e salsa picada com pedaços dos lombos de cavala por cima. Em Espanha, aqui ao lado, as conservas são matéria prima de petisco, aqui muitas vezes são injustamente subalternizadas e merecem mais atenção (e uso) do que aquele que lhes dispensamos normalmente.
BOM - O desmascaramento de Boaventura Sousa Santos.
MAU - A defesa de Boaventura Sousa Santos em nome da suposta superioridade moral da esquerda.
DIXIT - “É uma coincidência que estes casos só apareçam contra pessoas de esquerda?”, questionou Raquel Varela, a propósito das acusações de assédio dirigidas a Boaventura Sousa Santos.
BACK TO BASICS - “As opiniões baseadas em preconceitos são as que recorrem à maior violência para se afirmarem" -Francis Jeffrey
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