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Desde os tempos mais remotos o homem é desafiado a moldar o ferro e dele foi fazendo, ao longo dos séculos, matéria prima para criar o necessário para a vida e para a guerra, já que é o quarto elemento mais abundante na crosta do nosso planeta e um dos constituintes principais do núcleo da Terra. Trabalhar o ferro exige saber e destreza. Usá-lo como base de produção artística é um desafio em tudo: na criação de formas, na sua cor e como reage à luz, na imagem que projecta na imaginação de cada pessoa. Rui Chafes é um escultor português que usa o ferro como matéria prima. Além do ferro que molda e solda, das formas que cria, usa apenas o desenho como se fosse um diário, não o misturando com a sua oficina onde só existe o metal e os utensílios para o trabalhar. Chafes é também um apaixonado pelas palavras e foi o tradutor, logo aos 25 anos, de “Fragmentos de Novalis”, uma obra de referência com citações de Georg Philipp Friedrich von Hardenberg, um expoente do período do idealismo alemão no final do século XVIII. São dele frases como “apenas um artista é capaz de adivinhar o sentido da vida” ou “o maior bem consiste na imaginação”. Cada trabalho de Rui Chafes tem um período de preparação longo: levou nove meses a trabalhar nas 19 novas obras, de grandes dimensões, suspensas do tecto na Galeria Filomena Soares, e que, logo à entrada, formam uma floresta aberta a todas as interpretações - intenção desde logo manifestada no título “Acredito em tudo”. Para além da emoção imediata que a primeira visão deste conjunto de obras provoca, há depois toda uma descoberta de pormenores, dentro de cada uma das esculturas, do ferro que, mesmo sendo negro, tem uma luz própria, como este fragmento mostrado na imagem. Ao ver de perto essas obras é inevitável recordar uma outra citação de Novalis - “a luz é símbolo da verdadeira lucidez”. O trabalho de Rui Chafes suscita inquietações e pode ter várias interpretações, sobretudo nestes tempos tão estranhos e preocupantes. Numa conversa que teve com Delfim Sardo e Nuno Faria em Março de 2019, a propósito da exposição “Desenho Sem Fim”, Chafes afirma: “O resultado artístico final tem de ser muito mais forte do que as intenções conceptuais do artista: não pode necessitar de explicações para ter força. Uma obra de arte, seja de que natureza for, tem de existir na sua autonomia”.
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