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Antes de mais deixem-me registar que esta é a Esquina do Rio número 1000, sempre no Jornal de Negócios.

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AS PESSOAS DE CONFIANÇA - Já que estamos nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 vale a pena falar de um dos problemas que se tem acentuado na sociedade portuguesa: o controlo do aparelho de Estado por facções partidárias. Cada vez que muda o Governo começa um rol de mudanças de dirigentes de vários escalões. Muito raramente é feita uma análise do trabalho efectuado com base em critérios objetivos. Muda-se para que entre alguém do partido vencedor ou lá próximo, o anterior sai e na máquina ficam incontáveis casos de pessoas que foram entrando ao longo de anos, uns de uma facção a puxar para um lado, outros de outra facção obviamente a puxar para o outro lado. Claro que há excepções mas creio que esta é uma das causas da ineficácia da máquina administrativa, da incapacidade em cumprir prazos e objetivos e, pior ainda, da ausência de qualquer perspectiva estratégica continuada. Tudo é conjuntural e efémero, dependendo de quem está no poder, que por definição numa democracia é transitório. No aparelho de Estado não existe aquilo a que se chama “accountability”, o hábito dos responsáveis prestarem contas, responsabilizar-se pelas suas acções, mostrarem compromisso com os resultados e terem uma visão estratégica. Em vez disso procuram-se culpados quando alguma coisa corre mal ou, pior ainda, nem sequer se olha para os resultados e responsabilidades e despacha-se o incumbente para colocar alguém “de confiança”. Temo bem que o que se passou no Ministério da Saúde, com a demissão de Fernando Araújo da Direcção Executiva do SNS, que estava a iniciar uma reorganização crucial para servir melhor os utentes, seja o pior exemplo desta situação nos últimos anos. O resultado está à vista.

 

SEMANADA -  Segundo o advogado Garcia Pereira actualmente realizam-se em Portugal mais escutas telefónicas que na Alemanha, que tem oito vezes mais habitantes; entre 1977 e 2023 houve 641 multas aplicadas pelo Tribunal Constitucional aos partidos políticos, num total de 5,7 milhões de euros, dos quais ainda falta pagar 1,2 milhões; nos dois últimos anos duplicaram os inquéritos  sobre branqueamento de capitais, que passaram de 524 para 920 em 2023; o Conselho Superior do Ministério Público suspendeu sete procuradores em 2023; um estudo da Universidade do Algarve indica que os jovens portugueses entre os 16 e os 32 anos passam em média 141 minutos por dia nas redes sociais; em Portugal há 4,7 milhões de pessoas que subscrevem pacotes de telecomunicações;  4346 milhões de euros é o montante de crédito ao consumo atribuído nos seis primeiros meses do ano, mais 17% que no período homólogo; a Polícia Judiciária abriu cerca de três mil inquéritos relacionados com criptomoedas desde 2022; em 2023 a fatia orçamental do Governo para a ciência recuou a valores de 2014; a PSP registou  9285 infrações na época passada em estádios e pavilhões desportivos, mais 22,5% face a 2022/23 e indica que foram expulsos 300 adeptos e 129 ficaram impedidos de assistir a eventos. 

 

O ARCO DA VELHA - Existem cerca de 400 órgãos consultivos na esfera do Estado e dois anos depois de o Conselho Económico e Social ter recomendado a sua redução para cortar despesas e evitar redundâncias nada foi feito nesse sentido.

 

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DE BRAÇO DADO COM A MODA - Já aqui escrevi sobre a exposição de moda de Coco Chanel, no Centro Cultural de Cascais. Hoje volto à exposição, pegando no seu nome - “Além da Moda”. De facto, a exposição, que está no Centro Cultural de Cascais até 3 de Novembro, com curadoria de Maria Toral, vai muito  além das roupas, sapatos e acessórios concebidos por Coco Chanel. Mostra outros lados do seu trabalho, como criadora do guarda roupa de várias produções em palco, mas sobretudo permite ver a sua relação com artistas seus contemporâneos, de Picasso a Jean Cocteau, passando por Man Ray - a imagem que ilustra esta nota é precisamente um retrato de Pablo Picasso feito por Man Ray. Só pelas fotografias de Man Ray vale a pena visitar a exposição: além deste retrato de Picasso, há outros, da própria Coco Chanel, mas também de Salvador Dali, Óscar Dominguez e de Marcel Duchamp. Além das fotos de Man Ray há um retrato de um notável grupo de membros do Dadaísmo feito por Alfred Stieglitz  e uma série de fotografias de François Kollar que mostram Coco Channel no seu apartamento do Ritz, em Paris. Podem ainda ser vistos os figurinos desenhados por Chanel para uma produção dos ballets Russes idealizada por Salvador Dali - o único artista de quem ela possuía um quadro. Outra relação nascida no palco foi a produção do ballet “Le Train Bleu”, também dos Ballets Russes, com cortina e cenários de Picasso e figurinos de Coco Chanel. Foi uma época de ouro em que tantos talentos se aproximaram e completaram. Na exposição estão também vários estudos e desenhos de Picasso, de quem é aliás a citação com que termino: “O objectivo da arte é tirar o pó da vida diária das nossas almas”.

 

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ROTEIRO -  A exposição “PoPalolo” de António Palolo, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, pode ser vista no Centro de Artes Visuais, em Coimbra, até dia 15 de setembro. A exposição está aberta de  terça a domingo, entre as 14 e as 19h e tem entrada gratuita (na imagem). Palolo, precocemente desaparecido em 2000, com 54 anos, começou a expôr em 1964. Influenciado por múltiplas correntes da arte contemporânea, nomeadamente a Pop, António Palolo é um nome incontornável da arte portuguesa. Em Coimbra Miguel von Hafe Pérez, organizou uma mostra antológica que inclui 43 trabalhos, de pintura, desenho e colagem e que permite a quem desconhece a obra de Palolo ter uma boa visão do seu trabalho. Um pouco mais acima destaque para a XXIII Bienal Internacional de Arte de Cerveira, que decorre até 30 de Dezembro. Esta edição apresenta 160 obras de 120 artistas de 20 países. O tema central desta Bienal é a Liberdade e além das exposições decorre um ciclo de debates e conferências. A direcção artística desta edição da Bienal de Cerveira é de Helena Mendes Pereira e Mafalda Santos. A sul, no Convento dos Capuchos, em Almada, pode ser vista até 14 de Setembro a exposição “Quando soubermos ouvir as árvores”, de Ilda David.

 

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A AVENTURA DAS ÍNDIAS - Este ano completam-se 500 anos sobre a morte de Vasco da Gama e é uma boa altura para descobrir “A Última Cruzada”, um livro do historiador britânico Nigel Cliff que relata as viagens do  navegador português. Cliff aborda as pioneiras explorações portuguesas como o ponto de viragem na luta entre a cristandade e o Islão. O livro conta como a 8 de Julho de 1497 um jovem capitão de 28 anos navegou de Portugal, circum-navegou África, atravessou o oceano Índico e descobriu o caminho marítimo para a Índia e, com isso, o acesso à riqueza do Oriente. Foi a mais longa e perigosa viagem da História dessa época - 317 dias e 24 mil milhas náuticas. Em duas viagens num período de seis anos, Vasco da Gama travou uma batalha que viria a mudar o destino de três continentes no meio de uma história de espiões, intrigas e traições. Nigel Cliff assina um épico histórico que se estende ao longo dos tempos e recorre a diários inéditos de alguns marinheiros e, sobretudo,  a uma série de cartas – até agora desconhecidas – trocadas entre Vasco da Gama e um rei de Kerala. Cliff  considera que os exploradores portugueses tinham um objectivo verdadeiramente profético: estabelecer laços com os cristãos orientais, desferir o golpe de misericórdia no poder do Islão e preparar terreno para a conquista de Jerusalém aos infiéis naquela que seria um ponto de viragem na luta entre Cristandade e Islão. A “cruzada” foi tão importante que criou uma linha divisória entre as eras históricas dos muçulmanos e dos cristãos – conhecidas, no Ocidente, como as eras medieval e moderna. Agora que o mundo olha mais uma vez para leste, “A Última Cruzada” oferece uma chave para compreender rivalidades culturais e religiosas com séculos de existência. Edição D. Quixote.

 

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UMA SURPRESA - O novo disco do brasileiro  Milton Nascimento, que ele considera a sua derradeira gravação, é uma deliciosa surpresa feito a meias com a contrabaixista e cantora de jazz norte-americana Esperanza Spalding. Milton vai fazer 82 anos daqui a poucas semanas e pouco tempo depois Esperanza fará 40 anos. “Milton + Esperanza”, o nome do novo disco, é o resultado de 15 anos de amizade e admiração recíprocas. O ponto em comum entre os dois, que os uniu inicialmente, é a música de Wayne Shorter, com quem ambos trabalharam e admiram. O disco, com 16 temas, apresenta novas versões de composições anteriormente gravadas por Milton Nascimento, mas também versões de temas dos Beatles, Wayne Shorter, Michael Jackson, além de novos temas de Spalding, que canta em quase todas as faixas e produziu o disco. No álbum colaboram ainda Paul Simon, a cantora de jazz Dianne Reeves, Lianne La Havas, Maria Gadú, Tim Bernardes e o saxofonista e flautista de jazz Shabaka Hutchings, entre outros. O álbum inclui também “Um Vento Passou (para Paul Simon)” uma canção inédita composta por Milton, em que ele canta com Esperanza. Ao longo da sua carreira Milton Nascimento lançou mais de 50 discos, entre os quais “Clube da Esquina”, o seu registo de 1972 que é considerado como a sua obra prima. Milton Nascimento colaborou com nomes como Elis Regina, Antonio Carlos Jobim, Chico Buarque, James Taylor ou Cat Stevens e, claro, Wayne Shorter com quem gravou no álbum “Native Dancer” de 1974. “Milton + Esperanza” está disponível nas plataformas de streaming.

 

IDEIAS AVULSAS -  Três sugestões. A primeira é procurar no Spotify, ou numa das outras plataformas de streaming, as playlist que David Byrne vai publicando regularmente na sua “David Byrne Radio”. A mais recente chama-se “Classic Fun For Summer” e tem-me acompanhado nos últimos dias. A segunda sugestão, para quem se interessa por botânica, é o livro “Eu vi uma flor selvagem”, o herbário do astrofísico Hubert Reeves. E a terceira é uma boa surpresa que me fizeram: uma salada fria de favas, com queijo feta aos bocados, tomate seco em pedaços, cubos de bacon frito, tudo temperado com poejo, azeite, vinagre balsâmico, sal e pimenta. Acompanha com um pedaço de pão de centeio e um rosé.

 

DIXIT - “PS e PSD (...) também têm de comum uma enorme ineficácia e um estranho hábito de uso e abuso do poder político” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “Ser discreto no que dizemos é melhor que ser eloquente” - Sir Francis Bacon


A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS



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