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REENTRADA - Daqui a pouco tempo o espírito de férias na política desvaneceu-se: acabam as fotografias dos políticos à beira mar, a comer bolas de berlim ou simplesmente a passear no areal. Imagino que para alguns jornalistas seja um alívio deixar de perseguir notícias e reacções, de microfone em punho, eles razoavelmente vestidos, os entrevistados bastante despidos, em dias quentes, com o oceano como cenário de fundo. Este ano o ridículo da caça à notícia no meio da praia excedeu tudo o que é razoável. Até parece que alguns políticos, nos mais elevados cargos, não tiraram férias, apenas mudaram o cenário das conferências de imprensa. A coisa não correu bem - a política pode ser informal mas quando se vulgariza perde dignidade. Quando tudo se banaliza deixa de haver notícia, passa apenas a fazer-se o relato de ocorrências e tudo se consome de forma apressada como as páginas das antigas gazetas sobre casos de polícia, casamentos e necrologia. Passar as divergências e o confronto cada vez maior entre Governo e Presidente da República para o areal equivale a transformar Parlamento e Palácio de Belém em castelos de areia. A ver vamos como corre a reentrada política entre as eleições regionais da Madeira no final de Setembro, a preparação do Orçamento de Estado - com o cenário de reduções de impostos no horizonte - e a actuação de um Governo de maioria absoluta que bem precisa de um impulso reformista e de uma remodelação. Estes dois pontos, no entanto, dependem de uma única pessoa: António Costa. Que legado quererá ele deixar? Manter Portugal na cauda da Europa? Destruir a classe média? E como é que os próximos meses vão impactar nas guerras internas do PS pela sucessão do líder actual? Vão ser uns meses curiosos de seguir.
SEMANADA - Nesta sessão legislativa o PS chumbou 74 pedidos de audição parlamentar a ministros, 11 deles a Medina; Portugal é o oitavo país da União Europeia onde o IVA mais pesa; desde que António Costa é primeiro-ministro a receita fiscal aumentou 25 mil milhões de euros; Portugal já recebeu quase um terço dos 16,6 mil milhões previstos no PRR, ou seja um pouco mais de 5,5 mil milhões, mas até agora só pagou menos de metade a projectos apresentados, 2,4 mil milhões; Portugal perdeu num ano 200 explorações agrícolas e os agricultores com menos de 40 anos são menos de 4% do total; no ano passado as Forças Armadas perderam 7,2% dos efectivos e faltam 7732 militares, havendo actualmente 1,7 oficiais e sargentos por cada praça; mais de metade dos portugueses até aos 34 anos vive com os pais; a prestação média do crédito à habitação subiu 40% entre julho do ano passado e o mesmo mês deste ano; o primeiro semestre de 2023 teve mais nascimentos e menos mortes que no período homólogo de 2022; a corrupção no Ministério da Defesa terá lesado o Estado em pelo menos um milhão de euros e o Ministério Público acusou 73 pessoas e empresas; o número de desempregados aumentou cerca de 2,5% no final de julho, face ao período homólogo, e a maior subida deu-se na região Centro, com um agravamento de 8,7%; o aumento dos juros dos empréstimos de habitação está a levar os portugueses a diminuir despesas correntes e, segundo uma sondagem recente, as maiores reduções foram em restaurantes, férias e roupa; os contratos a termo representavam 13,2% dos postos de trabalho na Administração Central no final de 2015, altura do início da governação do PS de António Costa e em junho deste ano, esse número atingia os 15,2%, o que signfica um aumento do trabalho precário no Estado sob a governação da geringonça e PS.
O ARCO DA VELHA - No serviço nacional de saúde ainda há aparelhos de radiologia antigos, que trabalham com película, cada vez mais escassa no mercado desde a conversão ao digital, impossibilitando a realização de muitos exames.
O HOMEM DA VITÓRIA - Churchill é uma das personalidades políticas mais conhecidas e estimadas graças ao papel que teve no combate aos nazis e na defesa da democracia no Reino Unido e na Europa. Mas como foi a vida de Churchill fora do período da segunda grande guerra? Onde estava ele antes e o que já tinha feito? E no fim da guerra, que aconteceu? Em menos de centena e meia de páginas Sophie Doudet, uma autora de romances históricos e de biografias, escreveu de forma divertida sobre a vida de Churchill. O livro chama-se “Churchill na praia - o velho leão na toalha e na areia”. A autora consegue oferecer ao grande público, com base em elementos biográficos, e de forma rigorosa e acessível, o relato da extraordinária carreira deste homem, considerado um visionário e um dos grandes nomes da História do século XX. Pode ler excertos dos seus grandes discursos, a forma como tomou decisões geniais e também um relato do que foram as suas maiores fraquezas. O livro descreve como Churchill foi um conquistador e um herói, cujo espírito combativo e o desejo de fazer História mudaram o mundo, popularizando o seu gesto de dois dedos a fazerem o V da vitória dos aliados sobre os nazis. Célebre primeiro-ministro de Inglaterra no momento mais crítico da História, os dias sombrios da II Guerra Mundial, deixou ainda a sua marca como jornalista, militar, historiador, Prémio Nobel da Literatura e, por fim, pintor até. Edição Guerra & Paz.
CESARINY - Em Alfama, na Rua das Escolas Gerais, existe uma galeria de arte que se tem dedicado aos surrealistas portugueses, construindo uma importante colecção de artistas portugueses ligados a esse movimento. A Perve Galeria teve há cerca de uma década a iniciativa de, mesmo junto às suas instalações, criar um espaço a que deu o nome de “Casa da Liberdade”, dedicado à obra de Mário Cesariny, cuja fase inicial foi ainda acompanhada na vida do artista. Agora, assinalando o centenário de nascimento de Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006), a Casa da Liberdade e a Perve Galeria apresentam “Primeira Pessoa” e “... e os seus contemporâneos”, duas exposições que celebram a extraordinária vida e o profundo legado daquele que é uma das personalidades maiores das artes e da poesia em Portugal. Na Casa da Liberdade está o núcleo “Primeira Pessoa”, mostrando o seu universo criativo sem barreiras e livre. A exposição, entre uma parte significativa de material inédito, apresenta centenas de documentos, fotografias, textos e obras de arte (na imagem), de Cesariny e de vários autores seus contemporâneos e mostra, pela primeira vez, um núcleo de obras e documentação das décadas de 1940 e 1950, proveniente do recém-doado espólio de João Artur da Silva. No espaço da Perve Galeria são destacadas as relações estabelecidas entre Mário Cesariny “... e os seus contemporâneos” de várias décadas, apresentando perto de duzentas obras de artistas nacionais e internacionais, muitos deles tendo coincidindo com o autor nas múltiplas exposições em que participou entre 2000 e 2006. A exposição, através, da apresentação de correspondência, fotografias e obras visuais podem ser vistas as colaborações de Cesariny com surrealistas portugueses e internacionais, e a sua relação crítica com alguma da tradição nacional. As duas exposições, que ficarão abertas até 26 de Novembro, têm curadoria de Carlos Cabral Nunes, director da Perve Galeria, que começou a trabalhar com Cesariny em 2020, até à sua morte seis anos mais tarde. Rua das Escolas Gerais 13, 17 e 19.
UM DISCO INESPERADO - Incorporar a tradição da música negra dos Estados Unidos com a folk e a country norte-americanos é um desafio conseguido por Rhiannon Giddens, uma contadora de histórias com uma interpretação vocal e instrumental muito próprias. Virtuosa e eclética, Giddens tem percorrido vários estilos até chegar a este seu primeiro álbum de originais que ela própria compôs, “You’re The One” . São muitas as influências musicais que se encontram ao longo dos 12 temas do álbum desde sonoridades zydeco da música Cajun de “You Louisiana Man”, os blues com influência country em “Way Over Yonder” (escrita em parceria com Keb’Mo), a percussão forte a acompanhar palavras certeiras em “Hen In The Foxhouse”, o tom soul envolvente de “Who Are You Dreaming Of”, o jazzy de “You Put The Sugar In My Bowl” e a energia contagiante de “Wrong Kind Of Right” ou de “Yet To Be” num dueto imparável com Jason Isbell, dos 400 Unit, o relato de uma história de amor entre uma mulher negra e um homem irlandês. Dois destaques mais - para “You’re The One”, que dá o título ao álbum e à faixa final, a divertida e contagiante “Good Ol’ Cider”. Um disco absolutamente irresistível. Só para terem uma ideia da versatilidade de Giddens, em 2019 ela gravou, com o músico de jazz Francesco Turizzi o álbum “There Is No Other”, por onde passam evocações de ópera, bluegrass, gospel e músicas tradicionais americanas. Mas este novo “You’re The One” mostra bem, além da versatilidade e virtuosismo, o seu talento de compositora. Disponível nas plataformas de streaming.
PETISCARIA ENTRE MURALHAS - E se ao fim da tarde rumasse a um castelo, se sentasse numa esplanada que de um lado permite vislumbrar Lisboa e do outro a foz do Sado e o mar? O sítio existe e é o Castelo de Palmela. Lá em cima, entre muralhas e ameias, fica O Bobo da Corte, bar e restaurante de petiscos, aberto ao almoço de quarta a domingo e nas noites de sexta e sábado. A casa é uma petiscaria, e não pretende ser mais que isso, mas usa boa matéria prima: queijo de azeitão, pão da região, chouriço assado cortado em rodelas finas, pasta de atum regular e pasta de farinheira superior. Pode pedir uma tábua de presunto e queijos, uma espetada de enchidos ou uma alheira de caça e convém sempre ver qual o prato do dia. Boas opções são o pica-pau, bem temperado e com boa carne e o frango à passarinho, acompanhado de batata doce frita às rodelas. Numa visita recente foi também provado um bom aveludado de melão com hortelã. O vinho da casa, em jarro, tinto ou branco, é honesto e da região e há sangria - que pode ser de moscatel, a pedido. O largo frente à esplanada convida a passear de copo na mão no intervalo dos petiscos. O local é muito procurado por grupos em festa, por isso se quiser ir na noite de sexta ou sábado convém fazer a reserva com antecedência. O Bobo da Corte, Castelo de Palmela, telefone 935 205 936.
DIXIT - “Toda a gente sabe que pelo menos meia dúzia de ministros e mais ainda secretários de Estado não estão à altura”- António Barreto
BACK TO BASICS - “Um bom livro diz-nos a verdade sobre os personagens, um mau livro mostra-nos a verdade sobre o seu autor” - G.K Chesterton
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