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VAZIO - Carlos Guimarães Pinto, fundador da Iniciativa Liberal e actualmente seu deputado, publicou no twitter dados muito curiosos. Assim, o rendimento médio bruto em Portugal é de cerca de 20 mil euros por ano, o que significa um salário mensal de 1428 euros pagos 14 vezes por ano. Com a carga fiscal existente, ou seja o total de impostos e taxas para um rendimento deste nível, que em Portugal é de 27,1%, a pessoa recebe apenas 1040 euros por mês. Em Espanha, com uma carga fiscal de 18%, receberia 1170 euros; em França, com uma carga fiscal de 14,6% receberia 1219 euros e em Itália, com uma carga fiscal de 6,9% receberia 1330 euros. (1428/14 meses). A diferença é enorme e a penalização dos salários é muito mais sentida em Portugal. Este tema é crucial quando falamos da convergência com outros países da Comunidade Europeia, nomeadamente estes do sul da Europa, que nos são próximos. Há qualquer coisa de errado no modelo português que degrada os salários e é assente num modelo económico em que no serviço público prestado pelo Estado corresponde cada vez menos aos impostos cobrados. Numa entrevista publicada esta semana, Salvador de Mello dizia que ”Falta um desígnio estratégico para sair do estado onde estamos”. Na mesma entrevista resume a situação deste modo: “o nosso modelo económico está errado. São precisas reformas profundas que permitam ao país produzir mais, atrair investimento, atrair indústria para Portugal. Claro que é muito bom o setor do turismo ter um desempenho tão positivo, mas necessitamos da capacidade de criar outra especialização, não viver apenas do turismo e dos serviços. A indústria é absolutamente crítica para o futuro de Portugal.” É disto que o Governo não fala, enredado em PRR’s com prioridades pouco claras e execuções duvidosas, escudado na impunidade que a maioria absoluta lhe proporciona.
SEMANADA - A transferência do Governo para a sede do CGD, até 2026, vai custar cerca de 40 milhões de euros; as dioceses de Lisboa e Porto optaram por manter no activo os alegados padres abusadores; o Presidente da República classificou como “uma desiluão” a posição da Conferência Episcopal sobre os abusos praticados por membros da Igreja”; no último trimestre de 2022 fecharam em Portugal 14 restaurantes por dia; segundo o Hospital da Estefânia as tentativas de suicídio de adolescentes duplicaram nos últimos quatro anos; a direcção executiva do Serviço Nacional de Saúde anunciou que quatro urgências pediátricas de Lisboa e Vale do Tejo vão ficar fechadas à noite a partir de Abril; os nove sindicatos que representam os professores anunciaram uma greve às avaliações no final do ano lectivo; os pré-avisos de greve triplicaram no arranque de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado; os resultados líquidos da Impresa caíram 91% em 2022; o Plano de Poupança Reforma do Estado sofreu em 2022 a sua maior quebra de rentabilidade, de 15,28% face a 2021; segundo a DECO Proteste o aumento verificado no espaço de um ano num conjunto de 63 alimentos básicos foi de 25,66%; Portugal é um dos países da União Europeia onde o preço dos ovos mais subiu; as prestações do crédito à habitação sobem até 88,5% no espaço de dois anos; segundo a DECO três quartos das famílias portuguesas enfrentam mensalmente dificuldades financeiras.
O ARCO DA VELHA - O responsável pelo Gabinete do Cibercrime afirmou que o acordão que estabeleceu a invalidade dos metadados já destruíu e levou ao arquivamento dezenas de casos de roubo, pornografia infantil e até homicídio.
FANTASIA - Gregory Crewdson é um fotógrafo norte-americano cujo trabalho se caracteriza pela completa encenação das imagens que produz. Trabalha com uma equipa numerosa de entre 20 a 40 pessoas, que inclui cenógrafos, figurinistas, directores de iluminação e até um director de fotografia, Rick Sands. Crewdson, que lecciona fotografia na Universidade de Yale, cuja School of Art frequentou, actua face à fotografia como um realizador faz em relação a um filme. Ele cria a história, escolhe os actores, prepara minuciosamente cada imagem. O seu trabalho esbate a fronteira entre a ficção e a realidade e prefere cenários que evoquem a vida suburbana. Em Outubro de 2009 a série “Dream House”, foi adquirida para a colecção de fotografia do então BES e está agora integrada na colecção de fotografia do Novo Banco. A série, realizada em 2002, tem 12 imagens, todas produzidas no interior e exterior de uma casa desabitada numa cidade do estado de Vermont. Nas imagens aparecem, no papel de figurantes de uma família imaginária, nomes do cinema, como Gwyneth Paltrow, Tilda Swinton, Philip Seymour Hoffman, Julianne Moore, Dylan Baker, William H. Macy e Becky Ann Baker. Gregory Crewdson cita como suas influências Diane Arbus, Edward Hopper e Steven Spielberg e confessa que tem particular interesse pelo universo visual da Interpretação dos Sonhos, de Freud. Não por acaso o seu pai era psicanalista. Esta série “Dream House” tem curadoria de Alexandra Conde e pode ser vista nas instalações da Colecção de Fotografia do Novo Banco, Praça Marquês do Pombal 3A. A imagem que apresentamos é uma das fotografias de Gregory Crewdson, cortesia da colecção de Fotografia do Novo Banco.
A NOITE - Na semana passada visitei duas exposições de fotografia de autores portugueses que olham para a noite e a luz e vêem coisas diferentes. Augusto Brázio expõe na galeria das Salgadeiras a série “Visível Corpo” e detalha observações que regista iluminando fragmentos da realidade, por vezes de forma crua, como a imagem que aqui se publica. A outra exposição é de Duarte Amaral Netto e está na Galeria Belo-Galsterer, sob o título “Cratera”. O autor conta que estas fotografias foram feitas numa fase recente da sua vida em que só conseguia fotografar à noite, o que o levou a explorar formas de iluminação diferentes das que habitualmente usa e o obrigou a reflectir sobre o significado que a escuridão impõe às imagens. Também na Belo-Galsterer pode ser vista a exposição “Ringue”, de Ana Velez. Em Coimbra, no Centro de Artes Visuais e integradas no ciclo “a vida apesar dela”, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, estão duas novas exposições - “Now, Here, Nowhere”, de Victor Torpedo e “Escuro”, de Luís Palma. Em Lisboa, no Museu Nacional de Arte Contemporânea está patente a exposição sobre os 50 anos do Ar.Co, com seis dezenas de obras de artistas de alguma forma ligados à história do Centro de Artes Visuais ou cujas obras integram a sua colecção. E finalmente, em Abrantes, no Museu Ibérico de Arqueologia e Arte inaugurou uma nova exposição baseada na Colecção Figueiredo Ribeiro, intitulada “do arquivo do acervo”, com curadoria de João Silvério, e que ali ficará até meados de Novembro.
SOBRE O ENSINO SUPERIOR - Allan Bloom foi um filósofo e professor norte-americano que ensinou nas universidades de Yale, Cornell, Toronto, Telavive e Paris. Profundo conhecedor dos grandes clássicos foi tradutor e editor da República de Platão, do Emílio de Rousseau e autor de obras como Shakespeare’s Politics e de A Destruição do Espírito Americano , que na altura da sua edição original esteve mais de dez semanas na lista dos livros mais vendidos compilada pelo New York Times. A Destruição do Espírito Americano tem como subtítulo “como o ensino superior defraudou a democracia e empobreceu os espíritos dos alunos de hoje”. O livro foi agora editado em Portugal e é aquilo que se pode classificar, nos tempos que correm, como uma obra muito politicamente incorrecta. No prólogo Saul Bellow sublinha que Bloom “ao escrever sobre o ensino superior nos Estados Unidos não respeita as formas, os costumes e as cerimónias da (auto-intitulada) comunidade académica”. Este livro nasce de um ensaio publicado por Bloom na National Review e que era uma crítica ao sistema de ensino nos Estados Unidos. Publicado originalmente em 1987 o livro, visionário na época em que foi escrito, continua a ser um diagnóstico certeiro das transformações culturais das últimas décadas Hoje, com o wokismo a ganhar terreno nas universidade americanas compreendemos ainda melhor aquilo que Allan Bloom viu e antecipou. Num texto publicado esta semana, José Manuel Fernandes, ao falar desta obra, salienta que “Bloom atribui muita da responsabilidade pelo fechamento dos espíritos dos estudantes americanos à pouca atenção que é dada aos clássicos da literatura e do pensamento ocidentais” e recorda que “já não se aprende a escrever ou a pensar lendo o que de melhor a nossa tradição produziu, antes tendo aulas de escrita sobre o último êxito de Hollywood ou sobre teoria queer.” Edição Guerra & Paz, tradução de Maria José Batista.
GUITARRADAS - Em “Popular Jugular” Tó Trips dá nova vida à sua guitarra e faz um disco mais introspectivo, ensaiando aqui e ali novas sonoridades, o que tem muito a ver com os músicos convidados: António Quintino (Dead Combo / Cassete Pirata) no contrabaixo, Sandra Baptista (Sitiados) no acordeão, Gonçalo Prazeres (Club Makumba) no saxofone, e Helena Espvall no violoncelo. São eles que tocam com António Manuel Antunes, aliás Tó Trips, criador dos Dead Combo com o já desaparecido Pedro Gonçalves, e instigador dos Clube Makumba. Este “Popular Jugular" é o começo de uma nova vida agora sem a companhia fundamental de Gonçalves. Podia ser um exercício falhado, ainda bem que não aconteceu assim. Nos 13 temas, 45 minutos de música onde a guitarra está sempre em primeiro plano, destaco Napoli Blue Dreams, O Deus do Vento, Ginga, Ínfimas Coisas, Transpraia, LA Chet ou Península dos Índios. Por aqui passam ritmos ousados e melodias intimistas, a história da vida de um homem que marca uma geração da música portuguesa desde os anos 80 com passagens por bandas como os Santa Maria Gasolina em Teu Ventre ou Lulu Blind. “Popular Jugular” tem edição em vinil e está disponível nas plataformas de streaming.
BOM - Os sindicatos da TAP sugerem que o montante devolvido da indemnização de Alexandra Reis seja aplicado no infantário da empresa.
MAU - Graças ao aumento dos preços o Governo está a ter uma receita fiscal acrescida, mas não baixa o IVA na alimentação.
DIXIT - “O primeiro-ministro e eu temos leituras um bocadinho diferentes da realidade. O primeiro-ministro olha para o lado cheio do copo, eu olho para o lado vazio do copo” - Marcelo Rebelo de Sousa
BACK TO BASICS - “Tenho a certeza que existem demasiadas certezas no Mundo” - Michael Crichton
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