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BASÓFIAS - Por muito que eu tente assobiar para o ar é impossível fugir a este tema: António Costa aproveitou nos últimos anos todas as oportunidades que teve para criticar as medidas de austeridade, e nomeadamente os aumentos de impostos. Aproveitou os ares dos tempos, e sobretudo as indemizações do Estado, pendentes há décadas, à Câmara Municipal de Lisboa, para mascarar resultados e se armar em grande gestor das contas públicas. Depressa se esvaíram os milhões dessas indemnizações num aparelho autárquico que nunca reformou e, à primeira oportunidade, surgida agora, aumentou a colecta de taxas na cidade. Lisboa, quando a coisa fôr vista com atenção e distância daqui a uns anos, tornou-se num sorvedouro de ineficiências durante o consulado de António Costa - e esse é o seu cartão de visita para os eleitores quando se apresentar a eleições nacionais. Pelo sim pelo não já começou a recuar em questões como a reposição dos salários da Função Pública e outras promessas se esvaziarão com a suavidade própria dos vendedores de banha da cobra. Aos poucos se irá descobrindo como a basófia era maior que os ditames da realidade. Esta realidade mostrará que António Costa tem um mau currículo em Lisboa, mascarado apenas pelo efeito para o exterior, que sempre privilegiou, à defesa dos interesses dos habitantes e contribuintes da cidade que cá habitam e que no dia a dia vêem uma cidade mais agreste. Imaginem isto transposto para o país.
SEMANADA - Em 2013 os hospitais portugueses registaram 40462 casos de pneumonia e 8424 doentes (20%) acabaram por morrer; quase15% das torres de refrigeração analisadas de 2010 a 2012 em todo o país tinham a bactéria legionella; a importação de bacalhau aumentou 76% em Outubro; o Presidente da República recomendou ao líder parlamentar do PS que fizesse “o trabalho de casa”; “O que andaram a fazer os accionistas e gestores” da PT - questionou Cavaco Silva numa declaração, sublinhando que essa é “uma pergunta que os portugueses têm o direito de colocar”; Cavaco Silva condecorou Zeinal Bava em 10 de Junho deste ano, com a ordem de mérito comercial; o ex-Presidente Ramalho Eanes afirmou que os portugueses não devem limitar-se a votar de quatro em quatro anos e que devem mostrar aos poderes que “não podem ultrapassar determinados limites”; uma stripper brasileira foi filmada a conduzir um alfa pendular da CP a 220 km/h e colocou o filme on line; Maria Luis Albuquerque admitiu que a classe média foi a grande sacrificada pelos planos de austeriodade, justificando esse facto por, disse, em Portugal existir um reduzido número de ricos; o BBVA fecha 43 balcões em Portugal; a banca reduz mais de 1200 colaboradores só este ano; o número de famílias que deixaram de pagar as mensalidades do crédito à habitação subiu para 150 mil; Luis Filipe Menezes diz ter sido alvo de um “tsunami psicoafectivo”, a propósito das suspeitas de corrupção e enriquecimento ilícito que o têm envolvido.
ARCO DA VELHA - Manuel Maria Carrilho deu uma conferência de imprensa para acusar o Governo de “apoio encapotado” a Bárbara Guimarães, sua ex-mulher, que leu um poema sobre violência doméstica num encontro promovido pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
FOLHEAR - Um livro que conta histórias do quotidiano, na linguagem de agora, sem preconceitos nem pruridos, que relata façanhas e pecados, bondades e malfeitorias, é de si um facto raro. Um livro que foge ao politicamente correcto e fala da vida que existe é quase subversivo. Um livro assim, escrito em Angola, nos tempos que correm, a relatar o dia-a-dia de personagens actuais, é coisa rara e - para mim - nunca vista. “A Virgem” é uma história de amor antigo no tempo de hoje, passado na cidade do Lobito. Está escrito com expressões do país, que nos levam a aprender o que é a Angola para além das intrigas políticas e das lutas de poder - este livro é um romance sem ser em tempo de guerra. É uma história de amor, simples sem ser piegas. Divertida. Bem escrita. Não é passado em Luanda, é no Lobito; não fala de ministros nem de generais, nem de condomínios, nem de fortunas e bancos. Fala das pessoas e do que elas fazem. O seu autor assina Tempestade Celestino, mas de facto chama-se Celestino Jerónimo, estudou Relações Internacionais e é funcionário público numa empresa do Lobito, depois de ter sido repórter, jornalista, cronista. Escreve sobre pessoas, costumes e os ritmos da vida. Só posso dizer que foi uma surpresa e gostei - da diferença e da ousadia que é escrever um romance apenas para contar uma história de amor. Conheço uns rapazes e raparigas que se aborrecem com este conceito. Edição “Guerra & Paz”.
VER - Como o nome indica uma revista interactiva, digital, tem que ser vista e às vezes ouvida, não pode apenas ser apenas lida ou folheada. Baseada em três vectores - artes, ciência e tecnologia, e com opção de escolha entre textos em português ou inglês, a “Luz” está disponível para download gratuito para iPad na App Store em 74 países e já tem 4500 leitores. Estão disponíveis quatro edições, focadas nos elementos Sol, Água, Ar e Terra - tudo fontes de energia. A revista, concebida para ser vista em tablets, é uma aplicação nativa para iOS e vai estar brevemente disponível também em Android. Com esta publicação digital a EDP tem claramente como objectivo mostrar como está ligada às tendências e tecnologias mais recentes. Nos números já editados é possível, por exemplo, ver os projectos de arquitectura da nova sede EDP (que pode ser visualizada em 3D) e o Centro de Artes e Tecnologias da Fundação EDP, o primeiro a funcionar já para o ano e o segundo em 2016.
OUVIR - Hoje em dia tenho um método para os discos que continuo a adquirir compulsivamente - primeiro ouço-os no carro, nas voltas da cidade ou a caminho de casa. No carro consigo saltar rapidamente de faixa para faixa, voltar atrás, ver se uma canção resiste à interrupção de um telefonema que entra no sistema - no fundo é o equivalente moderno do salta-pocinhas feito com a agulha no tempo em que se ouvia vinil (por necessidade e não por moda). Álbum que resiste a este tratamento passa para a fase seguinte que é ser ouvido várias vezes em casa, de seguida, de fio a pavio. “Nostalgia”, de Annie Lennox, resistiu aos testes e passou à fase de escuta intensiva. Aproveitando o título do álbum deixo aqui uma nota pessoal, nostálgica se quiserem: o cartaz de lançamento do “Blitz - A Música em Jornal”, feito há 30 anos, tinha um fundo amarelo vivo, com as letras Blitz a vermelho e uma fotografia a preto e branco de Lennox, nessa altura na crista da onda dos Eurythmics, o tempo de “Sweet Dreams”; ainda colei uns cartazes desses à porta do Frágil, no Bairro Alto. O título “Nostalgia” vem do facto de este disco ser feito de versões do cancioneiro popular norte-americano, como “Georgia On My Mind”, “I Put A Spell On You”, “Summertime”, “I Cover The Waterfront” ou “You Belong To Me” e “The Nearness Of You” - são 12 ao todo. Lennox, que está à beira dos 60 anos, claramente amadureceu voz, sensibilidade e capacidade de interpretação. Nunca vai pelo caminho fácil, arrisca por vezes remar contra a tradição. E fez um disco que me deu muitíssimo prazer. (CD Island/Universal, disponível nos sítios onde ainda há discos).
PROVAR - O edifício do Espelho de Água data da Exposição do Mundo Português, de 1940 - foi feito para ser a cafetaria do evento. Ao longo das décadas teve várias utilizações, desde posto de turismo até restaurante, passando por um clube privado e uma discoteca que fez época nos anos 90 do século passado, o T-Club. Os últimos anos foram para esquecer, em projectos sem qualidade e que afundaram rápido. Agora ganhou novo fôlego, com um novo proprietário que pela primeira vez desde há alguns anos soube aproveitar as potencialidades arquitectónicas do edifício e a sua localização, em cima do rio - e assim foi recuperada a esplanada. A decoração é simples mas cuidada, a realçar o edifício - que teve pequenas alterações como um parte do tecto que pode abrir na zona do bar. A cafetaria, aberta desde as 10 da manhã, ocupa o espaço, amplo, de entrada, convivendo com obras de arte - já que o novo proprietário, o empresário luso-angolano Mário de Almeida, é também galerista. E assim, lá está, finalmente, à vista, o mural que o artista norte-americano Sol Lewitt pintou em finais dos anos 80. Arte à parte a cafetaria tem propostas simples, de sandes a saladas, ovos em diversas versões e pisceas, que são as boas pizzas do local, até pratos (bem) confeccionados. Ao longo de todo o dia pode passar-se por lá e dentro em breve abrirá o restaurante, na sala que tem o mural de Lewitt . Em duas visitas, uma delas numa mesa mais numerosa, o resultado foi sempre bom em qualidade e muito razoável no preço. Quando o restaurante abrir darei notícias. Espelho de Água, Avenida Brasília, 213 010 510
DIXIT - “Em Portugal, já não há direita e esquerda, mas só governo e oposição, isto é, os que têm de se reger pelo dinheiro que há, e os que podem fingir que não tem de ser assim” - Rui Ramos, n’ Observador.
GOSTO - Do vinho Têmpera, 2010, de José Bento dos Santos, feito à base de uvas da casta Tinta Roriz.
NÃO GOSTO - Dos croissantes simples, massudos, da Sacolinha, no Chiado.
BACK TO BASICS - Na cauda é que está o veneno - anónimo
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