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DESENCONTROS GOVERNAMENTAIS - Nos últimos dias houve duas crises, mais duas, no Governo. Uma foi ética e envolveu a Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa - mas, acima de tudo, envolveu uma deputada do PS, Isabel Guerreiro, que propôs que as perguntas de outros deputados sobre a atribuição de fundos europeus a empresas participadas pelo marido da Ministra fossem apagadas das gravações da comissão parlamentar em que foram feitas - como se não existissem. O PS lançou há poucos dias, com pompa e circunstância, uma Academia Socialista que bem pode integrar questões básicas não só sobre o socialismo, mas sobre o significado de democracia, debate parlamentar e, já agora, ética. Se Ministros e deputados reprovam nestas matérias o melhor é rever o programa dessa Academia. O outro caso tem a ver com a capacidade de o PS gerir independentes no seu Governo. Costa e Silva, agora Ministro da Economia, levado em ombros por António Costa quando elaborou o estudo para o Plano de Resiliência, teve o pouco cuidado de sugerir em público uma medida que muita gente ligada à economia real defende - a baixa do IRC. Meteu-se com a pessoa errada, ou seja, o Ministro dos Impostos, também conhecido por Ministro das Finanças cargo de cobrador ocupado, nesta conjuntura actual, por Fernando Medina, um dos anunciados delfins de Costa. Enquanto Costa e Silva se preocupa com o estado da Economia, a sobrevivência de empresas e o seu crescimento, Fernando Medina preocupa-se com a forma de fazer crescer a receita do Estado. Historicamente são visões incompatíveis porque o Estado atavicamente não quer saber do bem estar da economia, apenas de si próprio. Fernando Medina é daqueles habilidosos que se especializou em arrancar dentes sem anestesia, Costa e Silva é mais adepto de curar o doente e dar-lhe vitaminas. É o Governo que temos. A mentira e o fingimento são a pior coisa da política e Costa e Silva pecou por não embarcar nesse jogo.
SEMANADA - O ex-Ministro do Trabalho e Segurança Social, Vieira da Silva, disse que preferia que a aplicação da fórmula de actualização das reformas, de que foi autor, fosse suspensa em vez de ser alterada; ao longo de um ano empresas de supermercados e de distribuição foram multadas pela Autoridade da Concorrência em 675 milhões de euros por concertação de preços; a indústria da carne antecipa aumentos de preços entre 15 a 20% nos próximos meses; 48% dos portugueses dizem que já vivem com dificuldades; o cabaz essencial alimentar da DECO teve uma subida de preço de 13% desde o início da guerra, bem acima da inflação; a execução dos fundos europeus nas grandes obras públicas do Portugal 2020 é inferior a metade do que devia ser; os novos créditos à habitação têm os juros mais altos dos últimos 13 anos; o preço das casas vendidas no segundo semestre deste ano aumentou mais de 13%, a subida mais acentuada desde que há registos; ao contrário do que a empresa garantiu, o ciberataque à TAP expôs os dados privados dos clientes, entre eles 15 dos 17 Ministros, do Presidente da República, de líderes partidários e responsáveis de forças de segurança; o trânsito automóvel em Lisboa e no Porto já supera o nível de 2019; Portugal exporta bicicletas para 90 países, mas por cá elas são utilizadas por menos de 1% da população; segundo o Conselho das Finanças Públicas a forga orçamental daria para descer o IRC para 13 ou 14% durante um ano; quase metade da população de Cascais já usa transportes públicos gratuitos; a Câmara Municipal de Lisboa aprovou 22 medidas de combate à inflação dirigidas às famílias e empresas da cidade; há 100 mil aunos sem aulas por falta de professores.
O ARCO DA VELHA - A máquina ATM de bitcoins da Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense, em Alverca do Ribatejo, é uma das mais concorridas do país, a par de uma outra que existe num café-lavandaria da zona dos Anjos, em Lisboa.
CONTRATEMPO - José Maçãs de Carvalho expõe na Galeria Carlos Carvalho (Rua Joly Braga Santos Lote F r/c, Lisboa) uma série de fotografias sob o título genérico “Contratempo” (na imagem), uma visita visual a arquivos, seus e alheios, que cruza visões sobre o tempo, o corpo, a vida e a morte, mas também sobre o peso da História. Um dos momentos mais curiosos é a série “Sem Título (after gerard r.) onde se revisitam alguns dos 48 Portraits de Gerard Richter, num conjunto de fotografias onde as mãos que seguram as molduras ganham elas próprias uma nova dimensão que tem a ver com as imagens que abraçam. "Contratempo" é essencialmente o regresso de José Maçãs de Carvalho à fotografia como meio principal que exibe, evitando o facilitismo da proliferação de vídeos, desta vez centrando-se num único desses objectos, “Video Killed The Painting Stars”, a meio caminho entre Man Ray e o primeiro videoclipe exibido pela então nascente MTV, sobre uma canção das Bangles. De resto as imagens da morte, refletidas nos corpos de animais embalsamados, e da vida, na rua e metamorfoseada em estúdio num contraste entre a pele do corpo e um arranjo floral, são inequivocamente pontos altos desta exposição. Ainda na fotografia vale a pena visitar a exposição sobre a obra da canadiana Margaret Watkins. “Black Light” reúne 136 imagens realizadas entre 1914 e 1939 por Margaret Watkins, um dos nomes incontornáveis da fotografia do século XX e que é a sua primeira grande exposição em Portugal - uma iniciativa da Fundação D. Luís no Centro Cultural de Cascais, até 8 de Janeiro. Por último, no Parque dos Poetas, em Oeiras, com entrada livre, pode ser vista a selecção das melhores fotografias do ano, na já tradicional mostra do World Press Photo, que ali ficará até 16 de Outubro.
ROMPER ESPAÇO - Mesmo quando achamos que já poucas coisas nos podem surpreender aparece de repente uma obra que desafia os sentidos, o espaço e o local onde foi colocada. A peça em questão, “Isto Não Sou Eu” é o desafio lançado por Rui Chafes na exposição “Desabrigo”, que apresenta na Fundação Arpad Szenes- Vieira da Silva até 15 de Janeiro próximo. “Isto Não Sou Eu” (na imagem) , criada já este ano expressamente para o local, é um bloco feito de ferro que atravessa duas salas do museu, obrigando a ter uma nova perspectiva do seu espaço e a uma circulação que leva até às outras três peças de “Desabrigo”, todas de 2020, que completam a mostra. O ferro, em contraste com as paredes e o soalho, rompe a arquitectura do edifício,preenchendo um vazio. Como João Barrento escreveu no texto de apresentação da exposição “a obra verdadeiramente digna desse nome não abre passagens fáceis nem óbvias, suscita desde logo interrogações.”Outra exposição a ver está na Galeria Cristina Guerra, “What Is Yet To Take Shape Will Protect Me”, de Christian Andersson, um artista sueco que trabalha entre Malmo e Paris. A exposição mostra um contraste entre a tecnologia, na série “Cache” que são como colagens de um novo tempo que evocam as memórias escondidas dos computadores, até à representação de uma impressora laser esventrada, culminando, ao virar da esquina da sala, com “Marrow”, revisitação de uma escultura gótica funerária. Na Galeria Cristina Guerra Contemporary Art , Rua de Santo António à Estrela 33, até 29 de Outubro.
ENSAIOS SOBRE O ESTILO – «O mundo em que estes ensaios foram escritos já não existe», escreveu Susan Sontag no posfácio de “Contra a Interpretação e Outros Ensaios”, trinta anos após a primeira edição da coletânea em 1966, reavaliando a pertinência dos textos à luz do tempo da sua escrita, do «estado da arte» e do mundo passadas três décadas: «Olhando para trás, como tudo isso parece maravilhoso. Quem nos dera que algum desse arrojo, desse otimismo, desse desdém pelo comércio tivesse sobrevivido.» Este posfácio foi escrito em 1996 e refere-se aos 27 ensaios escritos e publicados originalmente entre 1964 e 1965. A colectânea inclui ensaios de Susan Sontag sobre Ionesco, Sartre, Camus ou Simone Weil e mostra o seu pensamento sobre a cultura e a nova sensibilidade artística que nasceu, por exemplo, com os filmes de Robert Bresson, Godard ou Resnais, entre outros que a autora destaca. O livro inclui ainda o célebre ensaio “Sobre o Estilo”, publicado na Partisan Review. Sontag salientava, em 1966: «Escrevi na qualidade de entusiasta e partidária, com o que parece-me agora, certa ingenuidade. Não me apercebi do imenso impacto que a escrita sobre novas atividades artísticas, ou pouco conhecidas, pode ter na era da “comunicação” instantânea». E conclui: «Escrever textos críticos veio a revelar-se um acto tanto de libertação intelectual como de expressão das minhas próprias ideias. Mais do que ter resolvido, para mim mesma, uma determinada quantidade de problemas fascinantes e perturbadores, tenho a sensação de os ter gasto.» Esta nova edição de “Contra a Interpretação e Outros Ensaios” foi agora lançada pela Quetzal.
WELCOME BACK - Com 56 anos Bjork regressa em grande forma com o seu 10º álbum de originais, “Fossora, o primeiro desde “Utopia”, de 2017. A sua discografia a solo, depois de se ter destacado nos Sugarcubes no final dos anos 80, iniciou-se em 1993 com “Debut”. Tem sido um longo e irrequieto caminho, muitas vezes com incursões inesperadas, cada vez mais elaborado, mas também permanentemente aberto à utilização de novas sonoridades, que vão do reggaeton até melodias indonésias, No Instagram, Bjork revelou o processo criativo que levou a “Fossora”, escrevendo que todos os seus álbuns começam com um sentimento que tenta transformar em som. “Desta vez, o sentimento foi o de aterrar e enterrar os meus pés no chão”, afirmou. Numa entrevista ao jornal britânico “The Guardian”, Björk afirmou que a sonoridade do disco pode ser descrita como “techno biológico”. No álbum colaboram os Gabber Modus Operandi, um duo indonésio, Serpentwithfeet e os seus filhos, Sindri e Ísadóra e ainda um sexteto de clarinetes. A voz de Bjork, inconfundível, continua ao mesmo tempo gutural e envolvente . No disco destacam-se canções como a faixa título, “Fossora”, "Sorrowful Soil”, “Ancestress”, “Atopos”, “Ovule”, “Freefall” ou “Her Mother’s House”, entre a dúzia de novos temas incluídos neste novo disco. Mais uma vez os visuais, das fotografias aos vídeos são cuidadíssimos.
DIXIT - “O que se está a passar com o falhanço no combate aos incêndios, cinco anos após as tragédias de 2017, é difícil de explicar sem recorrermos ao conceito de «irresponsabilidade organizada»”- Rui Gonçalves, presidente da FlorestGal
BACK TO BASICS - “Querem a democracia? Ocupem-se da justiça!” - António Barreto
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