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O CUSTO DE VIDA - Já que se fala de imigrantes tenho aqui uma coisa para contar: um ucraniano que conheço vive em Portugal há muitos anos. Homem sério, trabalhador, tinha um equilíbrio entre o que ganhava - que não é muito - e o custo de vida. Agora diz que Portugal é um país caro. Admite que começa a considerar se fica ou se parte. Se os emigrantes que cá estão legalmente começarem a pensar em partir, como vai reagir a economia? Mas vamos a factos concretos sobre os custos do dia a dia, tema ausente da campanha eleitoral. Este fim de semana o jornal “Público” fez um interessante trabalho sobre as preocupações dos jovens portugueses em véspera de eleições. Uma das inquiridas , que vive na Alemanha, Ana Rita Póvoas, afirma que gasta em supermercado na Alemanha o mesmo que gastava em Portugal, mas a sua renda de casa actual lá é muito mais baixa do que aqui e o seu ordenado superior. Outro caso: o jornalista Ricardo Dias Felner, que escreve regularmente no “Expresso”, está a frequentar um curso na Universidade de Viena e comparou preços de restaurantes, supermercados e habitação entre Lisboa e a capital austríaca. Vejam a comparação de preços de produtos idênticos entre supermercados em Lisboa e em Viena. Aqui vai , com a devida vénia, o que escreveu: seis ovos gama ML em Viena: €2,49, Lisboa: €2,39; Tomate San Marzano em Viena: €2,99, Lisboa: €3,69; Café solúvel em Viena: €4,99, Lisboa: €5,19; Vinagre, em Viena: €1,99. Lisboa: €1,79; Abacate, em Viena: €4,98/kg. Lisboa: €4,79/kg; Limão, em Viena: €2,29/kg, Lisboa: €1,99/kg; Pernas de frango, em Viena: €7,99/kg, Lisboa: €4,79/kg. Vinho branco bio, em Viena: €5,99, Lisboa €7,49; Sardinhas Nuri/Pinhais, em Viena: €3,90, Lisboa: €5,10 - até as sardinhas em lata produzidas em Portugal são mais baratas em Viena. Agora vamos aos restaurantes, seguindo mais uma vez Ricardo Dias Felner: um cachorro quente de salsicha Bratwurst num restaurante no centro de Viena, o Bitzinger, custou €6,50, menos €1,40 do que as salsichas da Wurst da Salsicharia, no Mercado de São Bento, em Lisboa. Um takumi ramen em Viena custou €15,80, exatamente o mesmo preço que o Ajitama, em Lisboa, cobra pelo seu ramen tontoksu. E um bowl de atum picante com abacate e algas, picles e arroz, custou em Viena €13,40, e o preço nos Poke House de Lisboa é 13 euros. E remata Ricardo Dias Felner: Um T2 em Viena custa menos €600 do que em Lisboa. Portugal está caro, sendo que aqui se ganha menos que noutros países. Quem fala disto nesta campanha eleitoral? E, sobretudo, como se resolve? Aqui está a pergunta a que nenhum dos debates eleitorais tentou sequer responder.
SEMANADA - Este ano, até final de Abril, a média diária de autobaixas solicitadas foi de 1266, um total de 198 mil; em três distritos quase metade dos bébes são filhos de mães estrangeiras; o número de estrangeiros em Portugal mais que triplicou nos últimos oito anos; no mesmo período houve mais 250 mil pessoas com cidadania; em cinco anos o numero de cidadãos portugueses que não nasceram no país passou de 12,7% para 16%; na agricultura e pescas 41% dos trabalhadores são emigrantes, no alojamento e restauração a percentagem é de 31%, em actividades administrativas é 28% e na construção civil é de 23%; no sector da construção há uma carência de 80 mil trabalhadores; a avaliação das casas subiu 16,9% em março e atingiu novo máximo; o debate realizado na semana passada entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos teve a mais baixa audiência nos debates realizados nos últimos dez anos pelos líderes dos dois principais partidos; um estudo da Pordata indica que 34% dos trabalhadores fizeram o ensino superior, enquanto entre os empresários o número é de 28%; entre 2022 e 2024, foram denunciados à Entidade Reguladora da Saúde 319 estabelecimentos que realizaram cirurgias estéticas de forma ilegal; em Abril as vendas da Tesla em Portugal tiveram uma quebra de 33%, na Suécia 80%, nos Países baixos 73%, em França 59%; mais de 60% dos partos em hospitais privados são cesarianas, o dobro dos partos cirúrgicos feitos no SNS; o sistema informático dos tribunais, Citius, está há cerca de duas semanas com falhas graves que impedem o cumprimento de prazos legais de notificação.
O ARCO DA VELHA - O conselho de fiscalização dos serviços de informações, que entre outras coisas investiga ameaças de cibercrimes, alerta que tem grande dificuldade em recrutar e reter pessoal qualificado.
UMA HISTÓRIA AMERICANA - “A Visita do Brutamontes”, é um romance da escritora norte-americana Jennifer Egan, vencedor do Prémio Pulitzer de Ficção em 2011. O livro, considerado um dos grandes romances norte-americanos deste século, foi originalmente editado em Portugal em 2012, e regressou agora às livrarias nacionais, com nova capa. O romance segue a vida de Bennie Salazar, antigo punk rocker, que está a envelhecer e se torna num executivo de uma editora discográfica que fundou e obteve sucesso. Sasha é a sua assistente, uma mulher impetuosa e cleptomaníaca e, apesar de Bennie e Sasha nunca chegarem a descobrir o passado um do outro, o livro mostra-os até ao mais íntimo detalhe. Da mesma forma percorre a vida secreta de um grande leque de personagens, de guitarristas pós-punk a ditadores de pequenos países, cujos caminhos se cruzam ao longo de muitos anos e muitos lugares como Nova Iorque, São Francisco, Nápoles e África. Jennifer Egan explora neste romance a interação do tempo e da música e a capacidade de sobreviver a mudanças e transformações, de forma muitas vezes hilariante e frequentemente inesperada. Edição Quetzal.
PINTAR NO AZULEJO - “Viagens entre Lisboa e Londres no Azulejo” é o título da exposição de obras únicas e originais de azulejo pintados por Paula Rego e Bartolomeu Cid dos Santos. Os dois artistas chegaram a Londres nos anos 50 e tiveram os primeiros e intensos contactos com o meio artístico londrino na Slade School of Fine Art. A Galeria Ratton, que se especializou em edições de obras em azulejo de artistas contemporâneos, trabalhou com Paula Rego e Bartolomeu Cid dos Santos desde finais dos anos 80. A viver e trabalhar em Londres, ambos os artistas foram convidados pela Galeria Ratton para empreender novos desafios e projectos de azulejaria ao longo dos anos. As “Viagens entre Londres e Lisboa” geraram sempre novas criações. A Ratton apresenta até 31 de Julho um conjunto de azulejos originais de 14x14cm pintados por Paula Rego e dois painéis originais executados pela artista em 1996, num trabalho para o Palácio Fronteira, em Lisboa. De Bartolomeu Cid dos Santos é apresentada uma seleção de azulejos e painéis individuais originais que há muito não eram apresentados ao público. Na imagem à esquerda está um painel de Paula Rego e à direita outro de Bartolomeu Cid dos Santos. A Galeria vai também apresentar alguns testemunhos escritos de Paula Rego e Bartolomeu Cid dos Santos numa publicação que será apresentada no dia 21 de Maio numa conversa que contará com a presença de Helder Macedo, Maria Filomena Molder e José Manuel dos Santos. A Galeria Ratton fica na Rua da Academia das Ciências nº2.
ROTEIRO - O Padrão dos Descobrimentos, que recentemente teve obras de conservação e melhoria, reabriu ao público com a exposição “O Milagre da Sardinha – Memórias e Mistérios de um Ícone Nacional”, que pode ali ser vista até ao fim do ano. A exposição mostra as muitas vidas da sardinha desde a Antiguidade até hoje, a sua imagem apropriada pela cultura popular e erudita e até pela publicidade. E procura responder a estas perguntas: como é que a sardinha se tornou um símbolo de Portugal e da cidade de Lisboa, em particular? Que acontecimentos, saberes e indústrias contribuíram para este fenómeno? Aqui está uma boa maneira de abrir o apetite depois de uma caminhada à beira do Tejo. Mais a oriente, rumando à Expo a boa notícia é que reabriu o Pavilhão de Portugal, desenhado por Siza Vieira. Agora nas mãos da Universidade de Lisboa, o Pavilhão de Portugal retoma a sua vocação inicial com a exposição “Meu Amigo e matalote Luís de Camões” que propõe uma leitura visual e literária contemporânea do poeta, cruzando literatura, arte e património. Entre as obras de arte originais, serão apresentadas esculturas de Simões de Almeida e Canto da Maya, pinturas de José Malhoa, Columbano, Lourdes Castro ou James Ward. Entre os desenhos, contam-se obras de Domingos António de Sequeira, Luca Cambiaso e Abraham Bloemaert e entre as fotografias, obras de Candida Hoefer, Thomas Ruff, Jorge Molder, Hiroshi Sugimoto e Luís Pavão. Na Casa Comum da Universidade do Porto a exposição “Uma viagem pelo asfalto, o rock no Porto nos anos 80” mostra documentos, objectos e fotografias que mostram a importância que a cidade tem tido na música portuguesa contemporânea.
UM PIANO - Para acalmar do ruído eleitoral não há nada como um bom disco onde o piano tenha lugar de destaque. A pianista chinesa Yuja Wang, 38 anos, gravou com a Boston Symphony Orchestra, dirigida por Andris Nelsons o álbum “Shostakovich: The Piano Concertos/ Solo Works” e a sua edição coincide com a evocação do 50º aniversário da morte do compositor russo Dmitri Shostakovich. A gravação foi feita no Boston Symphony Hall, uma sala com uma acústica excepcional. No disco estão incluídos os dois concertos para piano escritos por Shostakovich com uma diferença de 24 anos entre ambos e 6 peças de piano solo, da série de 24 prelúdios e fugas, Op.87 & Op.34. Edição Deutsche Grammophon, disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - A partir de 10 de maio, após obras que demoraram dois anos, abre ao público a renovada Sainsbury Wing da National Gallery, em Londres. O espaço acolherá uma nova selecção e montagem da colecção da instituição, com obras da Idade Média e Renascença de nomes como Leonardo da Vinci, Botticelli and Piero della Francesca. Ao mesmo tempo, a National Gallery, que celebra os seus dois séculos de existência, colocou em exibição toda a sua colecção, uma das mais importantes do Reino Unido.
DIXIT - “A corrida insana aos supermercados (no apagão) é o retrato de um país com fraca cultura cívica. Habituados a viver em paz, não nos sabemos comportar em crise. Habituados a consumir, não sabemos como partilhar.” - João Pereira Coutinho
BACK TO BASICS - “Nunca encontrei um homem que fosse tão ignorante ao ponto de eu não conseguir aprender alguma coisa com ele” - Galileo Galilei
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
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