Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
DISPUTAS AUTÁRQUICAS - Retomo o tema das eleições autárquicas, que este ano vão proporcionar interessantes disputas. O pano de fundo, ainda por cima, é dominado pelo facto de mais de um terço dos 308 presidentes de câmara eleitos nas anteriores autárquicas estarem impedidos de uma recandidatura nas próximas eleições devido à limitação de mandatos. Do total de 105 presidentes em final de mandato, 54 são socialistas, 30 do PSD (sozinho ou coligado), 12 do PCP-PEV, três do CDS-PP e um é o único presidente do Juntos Pelo Povo, na Madeira. Há ainda cinco independentes, entre os quais Rui Moreira, que está de saída da presidência da Câmara do Porto. Não é preciso saber ler uma bola de cristal para perceber que há um considerável risco de uma mudança substancial da paisagem autárquica, incluindo no Porto e em Lisboa. Em relação aos presidentes de câmara que se recandidatam vale a pena recordar o que Marques Mendes afirmou no seu comentário de domingo passado: “Mais do que uma vitória ou derrota da oposição uma eleição autárquica é sobretudo uma vitória ou derrota do presidente da câmara em funções” , fazendo ainda notar que uma eleição autárquica é sempre um referendo à acção do autarca em exercício, ao seu estilo, comportamento e obra. Lisboa vai ser nesta matéria um caso particularmente interessante de seguir. Há quatro anos o que aconteceu foi mais uma derrota de Medina do que uma vitória de Moedas. Os eleitores de Lisboa estavam fartos da arrogância de Medina e das medidas que tomou, pensando mais nos visitantes que nos habitantes da cidade. O grande problema de Carlos Moedas é que, além do certamente importante túnel de drenagem e de algumas medidas de âmbito social de limitado alcance (até pela alteração demográfica ocorrida em Lisboa) não se assistiu a nenhuma inversão marcante em relação às políticas que ditaram o fim de Medina. É isto que Alexandra Leitão vai querer explorar, demarcando-se de Medina e atacando a continuidade de Moedas. Se ela vai ou não conseguir captar o sempre oscilante voto do centro político é a questão que irá fazer pender a balança para saber quem vai mandar na capital.
SEMANADA - Durante o ano passado foram apreendidas pelas autoridades 27 armas brancas e de fogo por dia um aumento de 44,7% em 2024 em comparação com o ano anterior; em cinco anos foram instaurados a agentes das forças de segurança 495 processos disciplinares por violência doméstica; nas duas primeiras semanas do ano morreram quatro pessoas em acidentes com bicicletas, todas provocadas por embates de automóveis; Ozempic, o antidiabético que é procurado por quem quer perder peso, já é o quinto medicamento que mais custa ao Serviço Nacional de Saúde e o número de embalagens vendidas por mês ultrapassa as 33 mil; o Porto de Lisboa teve mais de 763 mil passageiros e recebeu 133 navios no ano passado; os preços do imobiliário subiram 11% em 2024; no último trimestre do ano registaram-se 41 mil transacções de imóveis, um crescimento homólogo de 27,2%; cerca de dois milhões de portugueses vivem no limiar da pobreza, dos quais cerca de 500 mil pensionistas que recebem perto de 500 euros por mês e Portugal tem o segundo pior desempenho da UE; todos os países de Leste que, tal como Portugal, estão abaixo da média da UE em termos de PIB per capita, apresentam taxas efectivas de IRC abaixo de 20% e taxas máximas que não excedem os 20%, muito abaixo dos 31,5% de Portugal; nas últimas três décadas, desde 1989, houve 1.355 alterações ao código do IRC e o sistema fiscal português é o sexto mais complexo da União Europeia.
O ARCO DA VELHA - As novas freguesias terão um custo mínimo estimado de 30 milhões de euros anuais, valor equivalente à contratação de mais 500 médicos de família ou ao financiamento de mais de 100 unidades móveis de saúde - mas em vez disso a maior parte dos recursos será gasta na criação de cargos administrativos e duplicação de estruturas.
SOBRE O DEFEITO NA PINTURA - No Porto, na Galeria Fernando Santos (Rua Miguel Bombarda 526), José Loureiro apresenta até 15 de Março uma série de 30 novas pinturas óleo sobre tela a que deu o título “O Defeito Perfeito” (na imagem o quadro “Uma Família Como As Outras/ Festa na Aldeia”). Num texto sobre estes trabalhos, José Loureiro afirma: “As más pinturas não têm defeito nenhum. As boas pinturas têm, nalgum sítio, um pequeno defeito. Nas pinturas ao centro do Panteão da Pintura, o defeito — sendo em todas, sem excepção, grande — deixa de ser visível, mesmo à luz rasante: é o defeito perfeito, pese embora seja o que for.” Na exposição José Loureiro retoma a personagem de Narciso, que tem sido uma presença assídua na obra do artista e que sugere um outro pensamento: “a técnica e o método só funcionam quando alguma coisa corre mal”. José Loureiro estudou Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e começou a sua carreira artística nos anos 80.
ROTEIRO - Rui Calçada Bastos apresenta no espaço CUBO (Rua Miguel Bombarda 531, Porto) a exposição “What suits me is the silent hall” (na imagem) onde a pintura e um objecto se completam sob a forma de uma instalação. Nos Açores, na Galeria Fonseca Macedo, em Ponta Delgada, podem ser vistos trabalhos de João Queiroz, José Lourenço, Catarina Branco e Isabel Madureira de Andrade, sob o título “o instante do mundo”. Em Lisboa, no Café A Brasileira, estão agora expostos, em substituição das obras que fazem parte do espaço e que foram para restauro, trabalhos de dez novos artistas: Catarina Oliveira, Nelson Ferreira, Martim Vilhena, António Faria Costa, Margarida Costa, Isabella Fernandes, Catarina Mendes, Filipe Amaral, Sara Conde e Rui Braz. Esta exposição de jovens artistas retoma o propósito do fundador de “A Brasileira”, Adriano Telles, quando em 1925 ali colocou obras daqueles que eram então jovens pintores. As obras que foram para restauro incluem quadros de Almada Negreiros, Eduardo Viana, Nikias Skapinakis, Vespeira e João Vieira e vão regressar à Brasileira em Novembro, a tempo do 120º aniversário do café.
GEOPOLÍTICA - Há 75 anos, com o final da Guerra Civil Chinesa em 1949, nasceram duas Chinas. Mao Ze Dong e o Partido Comunista Chinês venceram e tomaram o território continental, enquanto os nacionalistas de Chiang Kai-shek fugiram para Taiwan, uma ilha frente à China Continental, com uma dimensão semelhante à dos Países Baixos e uma população de cerca de 23 milhões de pessoas, uma das maiores densidades demográficas do mundo, com 610 habitantes por quilómetro quadrado. Em Taiwan são produzidos mais de 90% dos semicondutores de todo o mundo, a ilha é uma democracia próspera que vive sob a ameaça constante dos desejos expansionistas de Pequim. Os Estados Unidos têm tradicionalmente apoiado Taiwan e com a entrada em cena de Trump e as suas posições sobre a China, a região volta a ser uma zona de potencial conflito, já que a ilha é um autêntico barril de pólvora geopolítico que nesta nova fase da História merece ser seguida com atenção. Neste livro, “A Mais Breve História de Taiwan”, Kerry Brown um dos maiores conhecedores mundiais do passado, da cultura e da política chinesa e taiwanesa, explica os motivos pelos quais uma pequena ilha se tornou indispensável para a economia global e como o seu futuro pode definir o equilíbrio de poder no mundo. Edição Ideias de Ler.
JAZZ EM QUINTETO - No seu segundo disco para a etiqueta ECM o pianista Benjamin Lackner apresenta-se com um novo quinteto que o acompanhou no registo de “Spindrift”, o seu novo trabalho. O único músico que permanece da anterior formação é o trompetista Mathias Eick a que agora se juntam Mark Turner no saxofone, Linda May Han o baixo e Matthieu Chazarenc a bateria. O disco tem 10 composições originais de Lackner e destaca-se o diálogo entre o trompete e o saxofone, que é um dos pontos centrais deste disco, em conjugação com as melodias criadas por Lackner no piano. A única excepção a este dueto de metais é “Spindrift”, a faixa título, a primeira do disco, onde o saxofone de Turner marca presença a solo, ao lado do piano. De destacar também a articulação entre baixo e bateria, que criam um pano de fundo rítmico discreto e eficiente. Os cinco músicos articulam-se de forma perfeita entre a liderança do piano de Benjamin Lackner, a sensibilidade do trompete, a ousadia do saxofone e o discreto apoio do baixo e bateria. “Spindrift” está disponível nas plataformas de streaming.
BONS EXEMPLOS - No Reino Unido o governo prepara regras para limitar a participação de membros do Parlamento como comentadores ou apresentadores de programas em estações de televisão. Se a moda pega cá no quintal a coisa vai ser jeitosa...
DIXIT - “A pobreza persistente e a injustiça económica são a grande derrota da democracia portuguesa, resultado da incompetente gestão dos generosos apoios recebidos de Bruxelas, e de políticas erradas e muitas vezes corruptas” - Luís Marques, no “Expresso”.
BACK TO BASICS - Dizem que o tempo muda as coisas, mas na realidade elas só mudam pelo que formos capazes de fazer - Andy Warhol
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.