Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
AS ELEIÇÕES - Em princípio, na próxima semana, o Presidente da República dissolverá o Parlamento, 60 dias antes das eleições legislativas antecipadas, marcadas para 30 de Janeiro. Quer isto dizer que a campanha eleitoral, informal e formal, se desenrolará com o Natal à vista e, em força, durante Janeiro. Com o agravamento da pandemia tudo indica que esta campanha eleitoral decorrerá com limitações, situação que é susceptível de afectar também a forma como o acto eleitoral propriamente dito decorrerá. Esta é uma boa altura para os responsáveis políticos e o novo Parlamento que sairá deste acto eleitoral encararem de frente a necessidade de uma revisão profunda da Lei Eleitoral, quer no que ela estabelece em relação à forma como a campanha se pode desenvolver, adequando-a a uma paisagem mediática que é radicalmente diferente daquela em que a Lei foi criada há mais de 40 anos. O consumo dos mídia e da informação pelos cidadãos não tem nada a ver com o quadro regulamentado na Lei existente e o próprio processo eleitoral deve poder reflectir mais formas de votação não presenciais, obviamente seguras. E já nem falo em questões como os círculos uninominais, a revisão do mapa eleitoral e do sistema de representatividade dos votos. Esta revisão, de forma e de conteúdo, não é uma fantasia, é uma necessidade e face à situação que vivemos ela ganha caráter de urgência. Seja qual fôr o resultado das eleições, o novo Parlamento e os partidos nele representados têm a obrigação de olhar de frente esta questão. Sob pena de a abstração crescer ainda mais e de os eleitores serem cada vez menos representativos da população. Não basta dizer que se defende a democracia, é preciso dar provas disso.
SEMANADA - Os deputados, para celebrar o fim desta legislatura, decidiram proteger-se adiando a votação da lei do lobbying para a próxima Assembleia; Manuel S. Fonseca lembrou na sua coluna do Correio da Manhã que temos um “Estado que nos custa 100 mil milhões de euros ao ano, com uma distribuição desequilibrada de uma legião de funcionários públicos e com um SNS que geme em todos os telejornais num cortejo de demissões”; segundo dados do Eurostat os portugueses recebem os salários mais baixos da Europa ocidental mas pagam a sétima carga fiscal mais elevada sobre o trabalho, 41%; os dez chefes de equipa da cirurgia do hospital de Santa Maria demitiram-se na sequência da falta de resposta às pretensões que formularam há cerca de um mês e que tinha a ver com condições de trabalho, nomeadamente na área das urgências; o Ministério da Saúde atrasou-se a colocar os técnicos necessários e da sua responsabilidade na nova task force da vacinação; as idas às urgências hospitalares por infecção respiratória são quase o triplo de 2020; na área das lojas, hotéis, restaurantes e actividades imobiliárias há falta de mão-de-obra; no total existem 24 mil postos de trabalho por preencher, um aumento de 54% relativamente a outubro de 2020; as exportações de vinho português cresceram 12% nos primeiros nove meses deste ano; os cinco sites mais visitados em todo o mundo são, por esta ordem, o Google, YouTube, Facebook, Wikipedia e Amazon; João Rendeiro afirmou numa entrevista que pretende processar o Estado português por atrasos na justiça; José Sócrates escreveu um artigo de opinião no Diário de Notícias queixando-se da actuação da justiça em relação à sua pessoa, nomeadamente nos atrasos dos julgamentos dos processos em que está envolvido; segundo a Marktest o chá de camomila é a infusão mais consumida pelos portugueses.
O ARCO DA VELHA - O relatório do tráfico de estupefacientes elaborado pela PSP indica que estão a ser usados estafetas de empresas de entrega de comida e pagamentos via MBWay para realizar a venda de droga.
IMAGENS MALANDRAS - Na Galeria Miguel Nabinho Pedro Casqueiro mostra até final de Dezembro uma série de 17 novas pinturas em acrílico sobre tela a que deu o nome de “Granuja” um termo espanhol que, numa tradução livre, significa malandro. São obras de médio formato, que espelham por um lado a atracção de Casqueiro pelo universo da banda desenhada, com um uso propositadamente limitado da côr. Na imagem está uma das obras, “pavimento”. A exposição fica até ao final do ano na Galeria Miguel Nabinho, de segunda a sábado, Rua Tenente Ferreira Durão 18. Outras sugestões: na galeria Módulo (calçada dos Mestres 34) ainda pode ver a exposição If All The Time is Eternally Present, de David Infante. No campo da fotografia destaque também para o trabalho de Valter Vinagre, exposto no Arquivo Municipal de Lisboa , "Homem Morto Passou Aqui", o resultado de um trabalho de cerca de cinco anos sobre a história das três invasões a Portugal e suas batalhas. Utilizando a paisagem para fazer a reconstituição de um legado histórico o autor retrata os cenários actuais dos vários eventos das guerras peninsulares, ocorridos de norte a sul do país, desde Almeida, Bussaco, Chaves, Porto, Amarante, Évora e Olhão, juntamente com as Linhas de Torres Vedras.
OS POEMAS - Há muitos livros que dizem ter poemas, mas há poucos que tenham poesia. E num país que se diz de poetas, encontrar um que saia dos lugares comuns é difícil. António Franco Alexandre é um poeta que faz poemas, o que não é uma coisa muito frequente. A nova versão de “Poemas” recolhe a obra de Franco Alexandre, de 1974 até agora, acrescentada de um livro inédito, “Carrossel”, que finaliza esta belíssima edição de cerca de 600 páginas da Assírio & Alvim. Descobri António Franco Alexandre com “A Pequena Face”, de 1983, depois com “As Moradas”, de 1987. A partir daí fui seguindo o que publicava e fui cada vez gostando mais do que ele escrevia. Esta nova edição de “Poemas”, a segunda recolha da sua obra (a primeira foi em 1996), recolhe os poemas publicados pelo autor posteriores a essa data, (Quatro Caprichos, Uma Fábula, Aniversário, Duende e Aracne) e um conjunto de inéditos com o título «Carrocel», escritos desde a publicação de Aracne em 2004. Permitam-me finalizar com uma breve citação, precisamente de um dos inéditos, “Domínio Público”: “Tantas canções e versos pelo mundo fora/e só um, em querendo, será teu.”
CANÇÕES PORTUGUESAS - Em Setembro de 2020 Jorge Palma subiu ao palco do Castelo de São Jorge, para apresentar o espectáculo “Jorge Palma - 70 Voltas ao Sol”, pensado para celebrar em palco o seu 70.º aniversário. Filipe Melo e Filipe Raposo fizeram a direcção musical e arranjos das versões cantadas em palco e gravadas ao vivo, num disco agora editado. Jorge Palma foi acompanhado em palco por uma orquestra de câmara de 14 elementos, conduzidos pelo maestro Cesário Costa. O trabalho de direcção e de selecção dos músicos que constituem o ensemble ficou a cargo do Maestro Cesário Costa. O disco “70 Voltas Ao Sol” inclui 15 temas, pouco mais de uma hora, com temas incontornáveis da carreira de Palma, como “O Meu Amor”, “Deixa-me Rir”, “Bairro do Amor”, “O Lado errado da Noite”, “Frágil”, “Estrela do Mar” (com a participação de Cristina Branco e , a finalizar, uma versão de “Portugal Portugal”, uma canção cada vez mais actual. Aos 70 anos Jorge Palma mantém-se com uma capacidade de interpretação notável, aqui auxiliada por arranjos que fogem à sonoridade habitual das suas canções. Jorge Palma, um músico com formação clássica no Conservatório de Lisboa, é um dos mais brilhantes compositores portugueses, com um raro sentido de conjugação de palavras com música, autor de relatos de um quotidiano que acompanha a nossa história mais recente. Disponível em streaming.
JOINT VENTURE DE SABORES - Vou pegar em duas coisas magníficas que comi esta semana para propôr a sua junção. Começo por um puré de batata com espinafres, cozinhado por uma familiar belga e que, no seu país, leva o nome de stoempe. Trata-se de uma esmagada de boa batata (nada de preparados instantâneos), devidamente temperada, a que no final se juntam folhas de espinafres crus que acabam de cozinhar no puré. A conjugação de sabores é fantástica e liga bem com qualquer carne, na minha opinião ainda melhor se fôr com um estufado. E chegamos à proposta de joint venture: juntar este stoempe belga com língua de vaca lentamente estufada,cortada em finas fatias, num molho onde nadam pedaços de cenoura. Esta carne foi degustada num dos meus poisos favoritos, que é o Apuradinho, em Campolide. Para rematar com outro petisco que provei esta semana, noutro local muito do meu agrado, o Salsa & Coentros, convoco aqui os sabores de um arroz de entrecosto que lá comi e que estava perfeito no tempero e no ponto de confecção. Resta recomendar que nesta altura do ano, para sobremesa, comam uma pêra bêbada ou marmelo assado no forno. Como o tempo vai esfriando, claro que a época apela a um tinto reconfortante.
DIXIT - “O PS está a agir na Assembleia Municipal como se ainda estivesse a governar Lisboa” - Luís Newton.
BACK TO BASICS - Os dois pecados capitais, de onde derivam todos os outros, são a impaciência e a preguiça - Franz Kafka
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.