Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
MUDANÇAS - Quando as campanhas eleitorais das autárquicas e das presidenciais ganharem velocidade vão ter pela frente um horizonte mediático bem diferente do que existia no anterior ciclo eleitoral, com o consumo dos diversos meios cada vez mais fragmentado. A primeira grande diferença tem a ver com a diminuição da importância dos canais generalistas de televisão. Segundo a Marktest 52% dos portugueses usam plataformas de streaming de vídeo, uma subida de mais de 10% em relação a 2021. Isto tem consequências: os três principais blocos noticiosos, das 20h00, na RTP1, SIC e TVI, alcançam em conjunto, em média, um pouco menos de três milhões de espectadores, ou seja cerca de 35% do total de espectadores regulares de televisão. Por outro lado existem novos canais no cabo - o News Now (que pertence à Medialivre que edita o Jornal de Negócios), em escassos seis meses já conseguiu ultrapassar a RTP3 e no horário nobre da noite tem conseguido por vezes ultrapassar a SIC Notícias. Outro canal do mesmo grupo, a CMTV, é o canal mais visto do cabo e na zona da Grande Lisboa chega a ter nalguns dias maior share de audiência que a própria RTP1. Outros dados a ter em conta: a utilização da internet por pessoas com mais de 64 anos duplicou desde 2019; 82% dos portugueses acedem à Internet através do telemóvel; e 63% dos jovens entre os 15 e os 24 anos passam mais de quatro horas por dia na internet e vêem cada vez menos estações generalistas. Segundo a Marktest Instagram e WhatsApp são as redes mais utilizadas pelos portugueses, tendo já ultrapassado o Facebook no último trimestre do ano passado. Por outro lado, os podcasts, que eram quase residuais, estão a ganhar crescente influência e já são ouvidos por 23% dos portugueses. A rádio é agora consumida de forma crescente em streaming e nos últimos dez anos duplicou a sua escuta através do telemóvel. Para terminar, e segundo o Bareme Imprensa da Marktest, apenas cerca de 32% dos portugueses lêem ou folheiam regularmente jornais e revistas em papel. Os homens, os indivíduos entre 35 e 64 anos, assim como os indivíduos das classes mais elevadas, são quem tem mais afinidade com este meio. Outro estudo, o Press Insight, indica que os temas de política e de sociedade são os mais relevantes para os leitores, assim como os espaços de opinião e notícias desportivas. Em contrapartida, quase seis milhões e meio de portugueses costumam ler notícias online, ou seja 88.1% dos utilizadores de Internet. Com toda esta dispersão é certo que vai voltar a ganhar importância o contacto pessoal com os eleitores e a capacidade de cada candidato mostrar, cara a cara, que conhece bem o chão que pisa.
SEMANADA - Nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto 10% das casas estão vazias; em 2024 o Estado pagou 2,8 milhões em rendas de imóveis alugados para o programa Arrendar para Subarrendar, mas, apesar de ter havido 2732 candidatos ao referido programa, apenas 62 desses imóveis estão ocupados; um em cada cinco portugueses reforma-se antecipadamente; em 2024 verificaram-se cinco despedimentos de grávidas por dia, um significativo aumento face a anos anteriores; as mortes infantis no Barreiro, Montijo e Moita, concelhos do distrito de Setúbal, são o dobro da média nacional; no domingo passado estiveram encerradas seis urgências, a maioria em Lisboa e no Vale do Tejo; o Estado faturou 185 milhões de euros por dia em impostos no ano passado, mais 4,5 milhões de euros/dia em relação a 2023; a subida das receitas fiscais deu-se devido a ser arrecadado mais dinheiro em IRC, IVA, ISP e Imposto do Selo; em 2024 os impostos custaram 6400 euros a cada português; pelo menos cinco mulheres foram já mortas este ano em contexto de violência doméstica; no ano passado a GNR recebeu 40 queixas de violência doméstica por dia; em Janeiro registaram-se quase 11 mil acidentes rodoviários que provocaram 34 mortos e 134 feridos graves; na Grande Lisboa 30% dos alunos não conclui o ensino secundário e 17% dos alunos do Norte também não chegam ao fim desse ciclo; Portugal é um dos países da Europa onde menos se dorme, uma média de 6 horas e 51 minutos por noite durante a semana.
O ARCO DA VELHA - Em 2024, foram emitidas cerca de meio milhão de autodeclarações de baixa de curta duração e quase cem mil utentes pediram duas vezes a autodeclaração de doença, esgotando a utilização máxima anual prevista na lei.
VITRAIS - “The Matter Of The Glazed Fence” é o título da quarta exposição da artista alemã Sabine Hornig na Galeria Cristina Guerra. Uma grande escultura metálica, curiosamente intitulada “Wahlkabine” (Cabine de Voto) domina a entrada da galeria. À sua volta estão 15 outras obras, placas de vidro suspensas com fotografias e composições em tinta cerâmica, imagens de Berlim, Tbilisi e Nova Iorque e, no piso inferior da galeria naturezas mortas de flores, evocando a tradição da pintura clássica. As obras em vidro evocam vitrais, às imagens de cidades são sobrepostas frases e declarações sobre temas como a migração, a desigualdade urbana e a guerra. A utilização da transparência do vidro e da possibilidade de dupla leitura que as peças suspensas proporcionam múltiplas interpretações. No texto que acompanha a exposição a artista afirma que estas suas obras “criticam a manipulação de verdades e fronteiras, traçando paralelos com a recorrente aceitação da arbitrariedade política eda autoridade descontrolada”, ao mesmo tempo que “reflecte sobre a fragilidade da liberdade e a vulnerabilidade da participação social”. A exposição fica patente até 15 de Março, Na Cristina Guerra Contemporary Art, Rua de Santo António à Estrela 33.
ROTEIRO - Braga é este ano a Capital Nacional da Cultura e um dos espaços de arte da cidade, a Zet Gallery (Rua do Raio 175), apresenta até 15 de Março uma exposição de Alexandre Batista,“Assuredly I am a flame”, um conjunto de obras inéditas sobre vários suportes, que vão do desenho e da pintura, ao vídeo, passando pela fotografia e pela escultura-instalação, entre outros (na imagem). Em Lisboa, na Galeria Ratton (Rua da Academia das Ciências 2C), “Corpo a Corpo” apresenta obras de Maria Beatriz e Bárbara Fonte. Maria Beatriz é um nome importante da arte portuguesa, que morreu em 2020, e Bárbara Fonte é uma das novas artistas que integrou uma residência organizada pela Ratton. Esta é uma oportunidade para rever alguns dos trabalhos de Maria Beatriz, que nos últimos anos de vida viveu em Amsterdão. Ainda em Lisboa, na Galeria Foco (Rua Antero de Quental 55) Luísa Salvador apresenta até 12 de Março novos trabalhos de pintura sob o título “Retomar o Passo”. E na Galeria de exposições temporárias do Museu de S. Roque está patente até 13 de Abril a exposição “cinco relíquias, cinco fotógrafos” com um olhar sobre as relíquias feito pelos fotógrafos Pedro Ferreira, Lucília Monteiro, Beatriz Vilhena, Sebastiano Raimondo e Paulo Serafim, sob a coordenação de Paulo Catrica.
MEMÓRIA - No meio das transformações marcantes ocorridas nos anos 80 existe por vezes a tendência para nos esquecermos de um dos mais terríveis momentos dessa década - falo do surgimento da epidemia de um vírus até então desconhecido, o vírus da sida. O francês Anthony Passeron escreveu o seu livro de estreia, “As Crianças Adormecidas” a partir da morte de um familiar, um tio. Passeron percorreu a história silenciada da sua família, um silêncio que caíu em tantas outras famílias, ao mesmo tempo que recorda o que acontecia em paralelo no campo científico, quando investigadores tentavam, dos dois lados do Atlântico, encontrar tratamento para a epidemia, desde que o vírus foi identificado em 1983. O livro faz uma narrativa desses tempos, cruzando memórias íntimas com a História e detalhando o que se passava nos centros de investigação que procuravam uma cura. É também o retrato de uma época que oscilou entre o caos e a criatividade, marcada por um luto muitas vezes asfixiado pelo estigma. O livro, escrito numa perspectiva de história familiar e de uma visão francesa do que se passava, ganhou o prémio Première Plume de melhor obra de estreia em França. Antoine Passeron é professor de Literatura e de História e Geografia e “As Crianças Adormecidas” é o seu primeiro livro, de 2022. Está editado pelos Livros do Brasil.
JAZZ - O quarteto da pianista de jazz alemã Julia Hülsmann , tem um novo álbum, “Under The Surface” com dez novos temas, metade originais compostos pela pianista e a outra metade fruto da colaboração dos outros músicos que participam na gravação. O quarteto que a acompanha integra Uli Kempendorff no sax tenor, Marc Muellbauer no baixo, Heinrich Köbberling na bateria e Hildegunn Øiseth no trompete. A sonoridade é muito marcada pelo trabalho do saxofonista e do trompetista, que é uma estreia. O trabalho de ambos articula-se de forma perfeita em temas onde o desafio entre a melodia e o ritmo estão sempre presentes. Julia Hülsmann nasceu em Bona em 1968, estudou piano clássico desde os 11 anos, e aos 23 anos foi para Berlim estudar piano de jazz e no ano seguinte integrou a German Jazz Youth Orchestra. Em 1997 formou seu próprio grupo e o seu primeiro disco data de 2000. Em 2015 gravou o muito elogiado “A Clear Midnight: Kurt Weill and America” , com o cantor Theo Bleckmann. Este novo “Under The Surface”, editado pela ECM, para quem grava desde 2008, está disponível nas plataformas de streaming.
ALMANAQUE - Hoje chamo a atenção para a série de exposições de artistas portugueses fora de portas. Começo por Rui Chafes que apresenta em Paris, na Galeria Bernard Bouche, até 22 de Março, uma exposição conjunta com o também escultor alemão Bernd Lohaus. Os dois artistas não se conheciam e encontraram-se pela primeira vez para esta exposição. Em Madrid, até 19 de Março, Ana Vidigal apresenta obras recentes na Galeria Espacio Minimo, sob o título “Cuéntame del Viento”. Também em Madrid, até 22 de Março, Pedro Calapez apresenta na Galeria Fernando Pradilla a exposição “Desplazamientos”, com uma série dos seus trabalhos em acrílico sobre alumínio. E no Luxemburgo, no Centro Cultural Português, Inez Teixeira apresenta até 25 de Abril uma série de aguarelas sob o título “Mensageiro Cósmico”.
DIXIT - “Nunca houve tantos partidos no meu espaço partidário e eu nunca estive tão órfão“ - Adolfo Mesquita Nunes
BACK TO BASICS - “A Inglaterra e os Estados Unidos são dois países separados pelo mesmo idioma” - George Bernard Shaw
A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE NEGÓCIOS
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.