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O ANDOR DAS OFERENDAS - Na tradição popular e religiosa, em muitas terras deste nosso Portugal, nas procissões que se realizam, há muitas vezes um andor que recebe as oferendas dos fiéis agradecidos, que assim pagam as promessas feitas. Na política também há um andor das oferendas, mas funciona em sentido contrário: é o governo que carrega às costas o andor com a figura do primeiro-ministro, tal santo milagreiro, e é de lá de cima que ele vai largando as oferendas para os fiéis, que neste caso são os eleitores. Em ano que precede eleições o saco das promessas vai cheio e assenta no orçamento de estado. Basta ver o que se tem passado nas últimas semanas para perceber como as coisas vão ser. Costa já se dá ao luxo de dar o dito por não dito, de hoje negar o que ontem achava possível e não se tem importado em irritar os seus parceiros de coligação, soprando-lhes que mais vale um pássaro na mão que dois a voar e contentando S. Jerónimo e Santa Catarina com umas migalhas face às expectativas criadas. Assim os vai envolvendo, sempre sorrindo, enquanto do andor distribui o que lhe apetece, como lhe apetece, quando lhe apetece, a quem lhe apetece. E vai ser assim até às eleições, neste jogo do dá e tira, alargando os cordões à bolsa quando é necessário para ganhar mais um tempo. Na realidade o que ele quer é ficar sozinho a fazer os seus milagres, sem ter que repartir os louros com mais ninguém. A ver vamos como vai terminar esta gaiola do orçamento de onde se vão soltando uns passarões...
SEMANADA - António Costa descartou a redução do IVA na luz e no gás; Jerónimo de Sousa afirmou que “não é com a política do PS que se resolvem os problemas do país”; a procura pelo ensino superior privado aumentou 17,5% no último ano; os alunos com necessidades especiais aumentaram 41% em seis anos; a despesa do Estado com professores sobe 23% até 2023; segundo o FMI a dívida mundial, tanto pública como privada, subiu 60% desde 2007; o atraso nas listas de espera para cirurgias afeta 62 mil doentes; a Entidade das Contas alertou que as multas dos partidos entre 2010 e 2015 vão prescrever; os portos portugueses registam uma quebra de 2,7% nas mercadorias movimentadas no primeiro semestre deste ano; todos os anos, em média, 25 homens são condenados por violação mas ficam com a pena suspensa; em Vila Meã, Amarante, um juiz soltou um homem que agrediu de forma violenta e durante quatro anos a mãe dos seus dois filhos, mas o homem acabou por ser preso pela GNR por não ter pago uma multa por guiar sem carta; segundo a Marktest 5,3 milhões de portugueses usam redes sociais e o Instagram é a que mais tem crescido nos últimos cinco anos; Lisboa tem 200 mil lugares de estacionamento e há 745 mil veículos que entram diariamente na cidade; em nove anos Portugal acolheu 23.767 estrangeiros, de 146 países, ao abrigo do Regime Fiscal para Residentes Não Habituais.
PERGUNTAS SOLTAS - Este ano a Emel já passou mais de 270 mil multas, das quais menos de 1,4% são por estacionamento em segunda fila. Esta desproporção será uma anedota ou é só prova do mau funcionamento da empresa oficial de multas da Câmara Municipal de Lisboa?
CRÓNICAS DO MUNDO - “Atlas” foi o último livro publicado em vida de Jorge Luis Borges, já ele tinha perdido a visão. O livro é uma colecção de apontamentos, de cerca de uma centena de páginas onde se reproduzem diversas viagens feitas por Borges, muitos deles acompanhados por fotografias de Maria Kodama, que o acompanhou nestas viagens e nos últimos anos de vida. “As vésperas da viagem são uma preciosa parte da viagem”, escreve Borges que, entre Roma, Atenas ou Istambul acaba por confessar: “O meu corpo físico pode estar em Lucerna, no Colorado e no Cairo, mas ao acordar cada manhã, ao retomar o hábito de ser Borges, emirjo invariavelmente de um sonho que acontece em Buenos Aires”. No prólogo do livro, Borges escreve: “Descobrir o desconhecido não é uma especialidade de Sinbad, de Erik, o Vermelho, ou de Copérnico. Não há um só homem que não seja um descobridor”. E no epílogo, diz Maria Kodama: “O que é um atlas para nós, Borges? Um pretexto para entretecer na urdidura do tempo os nossos sonhos, feitos da alma do mundo. Jorge Luis Borges nasceu em Buenos Aires em 1899, desde cedo viajou pelo mundo e viveu em vários países, tendo morrido em Genebra, em 1986. “Atlas” foi editado originalmente em 1984 e foi agora publicado em Portugal pela Quetzal numa excelente tradução de Fernando Pinto do Amaral.
AS MIL FLORES - Uma das mais interessantes exposições de obras originais que se podem ver em Lisboa actualmente está na Galeria 111 até 10 de Novembro. Tem por título Mille Fleurs é é da autoria de João Francisco - um artista de 34 anos que começou a expôr em 2008 e que agora apresenta um trabalho de uma grande consistência e criatividade, pintando acrílico sobre papel e sobre esquissos encontrados com mapas para bordados feitos a grafite, sobre papel. Há uma razão de ser para isto, que se prende com o título da exposição - mille-fleurs ou mil flores - o termo utilizado para agrupar um conjunto de tapeçarias produzidas no norte da França e na Flandres entre o final da Idade Média e o início do Renascimento, representando de forma repetitiva flores e plantas, com adição de figuras que podem ir de damas com unicórnios a caçadores e pequenos animais. O traço de João Francisco cria imagens fortes, umas vezes ricas de pormenor, como o painel que agrupa 160 pequenas pinturas, outras fortes e sugestivas, quer em retratos quer na evocação de ausências. Outra exposição em Lisboa que vale a pena conhecer é a Colecção Pinto da Fonseca, que mostra uma parte do acervo colecionado por António Pinto da Fonseca - cerca de sessenta obras de trinta artistas portugueses, provenientes das décadas de 1960 a 1980, como Álvaro Lapa, Júlio Pomar, Jorge Molder, Jorge Martins, Menez, Paula Rego, Dacosta, Vespeira, Rui Chafes, Vieira da Silva e Arpad Szenes, entre muitos outros. A exposição tem curadoria do filho do colecionador, Victor Pinto da Fonseca, ele próprio colecionador e galerista, e tem por título Educação Sentimental. Está na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, até 13 de Janeiro.
CANÇÕES QUOTIDIANAS - O novo disco de Madeleine Peyroux é um exemplo de trabalho colectivo de uma cantora com os seus músicos, nomeadamente o produtor e baixista Larry Klein, o baterista Brian MacLeod , os guitarristas Dean Parks e David Baerwald, o pianista Patrick Warren, o organista Pete Kuzma e uma secção de metais de rara elegância. Hoje em dia não é frequente encontrar um disco de jazz vocal em que se fuja aos arranjos delico-doces e em que seja tão evidente este trabalho colectivo - enriquecido aliás por colaborações pontuais como as da harmónica de Gregoire Maret e as percussões de Luciana Souza. Todas as canções são originais de Peyroux, excepto a faixa título Anthem, que é um original de Leonard Cohen, e Liberté, baseada num poema de Paul Éluard, musicado por Klein e Peyroux. A norte-americana Madeleine Peyroux nasceu em 1974, o seu primeiro disco foi editado em 1996, leva uma dezena de álbuns no activo e uma das coisas que desde o início me fascina nos seus discos é a forma como ela consegue transmitir nas gravações de estúdio uma vivacidade que se encontra no ambiente de um clube de jazz. Este “Anthem” é particularmente conseguido desse ponto de vista logo desde a primeira faixa, On My Own, o primeiro relato do quotidiano, que inclui outros momentos como On A Sunday Afternoon ou Down On Me, este a fazer uma transição para o relato dos tempos correntes na América, relato que tem o seu expoente em The Brand New Deal. Mas há momentos festivos, como Honey Party ou o delicioso We Might As Well Dance. E é justo referir que a versão de Anthem, o original de Cohen, mostra o talento e a sensibilidade de Peyroux. CD Decca/Universal, já disponível em Portugal.
SABORES ORIENTAIS - Em Lisboa existem hoje em dia vários restaurantes que se reivindicam de inspiração oriental mas uma boa parte deles são do género excursões para turistas sem grande interesse nem alma (culinária, entenda-se). No caso tailandês há dois ou três - não mais - que merecem visita e frequência regular. Um deles fica por trás da avenida de Roma, na Rua Conde de Sabugosa, onde em tempos existiu o restaurante típico Arraial. Agora existe lá a Sala Thai, que mantém muita da decoração do velho Arraial, o que quer dizer que escapou à tentação de fazer uma decoração típica tailandesa. Decidiu investir na confecção dos pratos sem artifícios decorativos - e fez muito bem. É daqueles sítios onde apetece voltar, para descobrir mais pratos. Destaque nas entradas para os rolos primavera com noodles e legumes, os pastéis de peixe com especiarias ou as chamuças à moda tailandesa. A sopa tradicional tailandesa de camarão cozinhado com erva princípe, limão e malagueta é uma especialidade, mas comer alguma coisa depois não é fácil. Na área das massas os noodles fritos com camarão ou vegetais recomendam-se, assim como os caris de frango, vaca ou ou camarão, sobretudo o caril vermelho (também há verde…). Nas especialidades da casa destacam-se a garoupa em caril vermelho e o robalo cozinhado ao vapor com molho de limão. E nas sobremesas, para refrescar o palato, os gelados de gengibre e limão com manjericão cumprem bem a função. Sala Thai, Rua Conde de Sabugosa 13A, fecha às segundas, telefone 216 039 946.
DIXIT - “Dá para sermos amigos, mas não dá para casar“ - António Costa sobre os seus parceiros da geringonça.
BOLSA DE VALORES - Até 20 de Outubro pode ver novos e marcantes trabalhos de Nádia Duvall na galeria MUTE, sob o título Abalo I. Cada uma das obras expostas está à venda por 1500 euros. Na Rua Cecílio de Sousa 20, em Lisboa.
BACK TO BASICS - “Existem dois pecados de onde todos os outros derivam: impaciência e preguiça” - Franz Kafka
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