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A CASTA - Algures na semana passada um professor e investigador da área de ciência política da Universidade do Minho, José Palmeira, veio dizer que nas eleições presidenciais a experiência política é uma vantagem incontornável. Vários outras mentes ilustres têm afinado pelo mesmo diapasão em análises sobre as próximas presidenciais e, em particular, sobre a dimensão que a eventual candidatura do Almirante Gouveia e Melo pode vir a ter, insinuando que ele não terá experiência política. Mas acontece que em Portugal a experiência política se confunde cada vez mais com falcatruas internas dos partidos, negociatas cruzadas,  arranjos e combinações, tudo coisas de que o eleitorado parece estar farto. O apoio que a possibilidade de candidatura de alguém que não tem a tal experiência política está a suscitar é o sinal daquilo que os principais partidos do regime há muito não querem ver: estão a funcionar em circuito interno, distanciam-se dos eleitores e têm adubado a abstenção. Muita gente está farta dos resultados da tal  experiência política aos mais diversos níveis do poder. Aqueles que têm experiência política, como a que alguns comentadores desejam, são, com raras excepções, arrogantes, abusadores, videirinhos. Esta casta que existe em todos os partidos, acha-se intocável. Só isso pode explicar que pratiquem os desmandos que se têm conhecido como se nada de mal estivessem a fazer para, no fim,  aparecerem como virgens ofendidas a quem até o Primeiro Ministro agradece os serviços prestados, como aconteceu no recente caso do secretário de estado que acautelava o futuro fazendo empresas enquanto estava no Governo. A verdade é esta: sob o manto diáfano da experiência política têm crescido comportamentos impróprios, censuráveis, ilegais. Como escreveu Rui Ramos no Observador, “se um historiador, no futuro, quiser compreender o regime, vai ser muito difícil convencê-lo a não usar como fontes principais os casos Marquês, Influencer e Tutti Frutti. É a trilogia do regime.“

 

SEMANADA - No ano passado 1545 farmácias notificaram faltas de medicamentos por dificuldades em satisfazer uma prescrição médica num período superior a 12 horas; um estudo recente indica que 59% dos professores já se sentiram vítimas de bullying e 10% dos professores dizem já ter sofrido agressões físicas, principalmente de alunos, mas também de pais; em 2023 registaram-se 176 casamentos com menores, o número mais alto da última década; houve 254 casos de mutilação genital feminina detectados em Portugal em 2024 e o numéro tem vindo a aumentar desde há cinco anos; mais de 70% dos estudantes universitários inquiridos num estudo recente afirmam planear emigrar; o número de armas apreendidas cresceu 30% no ano passado e a apreensão de armas brancas subiu 89%; nas empresas de restauração e similares os imigrantes são já mais de 30% do total de trabalhadores; em 2024 o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem fez 20 condenações ao Estado Português, o maior número desde 2016,  pela falta de condições nas cadeias portuguesas e pela forma excessiva como os tribunais portugueses punem a liberdade de expressão; as taxas e taxinhas, multas e outras penalidades, renderam aos cofres públicos cerca de 4,5 mil milhões de euros no ano passado, mais 2,3% do que no ano anterior.

 

O ARCO DA VELHA -”Foi uma coisa que aconteceu” - disse o dirigente do Chega, Nuno Pardal, quando confrontado com a acusação de prostituição de menores.

 

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O MUNDO - O “Financial Times” e a revista “The Economist” consideraram como melhor livro do ano, em 2024, a obra “How the World Made the West-a 4000 Year History”, escrito por Josephine Quinn, professora de História Antiga na Universidade de Oxford. O livro foi agora traduzido e editado em Portugal, sob o título “O Mundo Criou o Ocidente - uma História com quatro mil anos”. Na introdução a autora conta que a ideia de escrever este livro lhe veio ao constatar que muitos dos alunos que se candidatam à licenciatura que dirige justificam a sua preferência por quererem “estudar o mundo antigo porque Grécia e Roma são as raízes da civilização ocidental”. Josephine Quinn considera que a verdadeira história por trás daquilo a que actualmente se chama Ocidente é muito maior e mais interessante que apenas a evocação da Grécia e Rioma antigas. E, sublinha: “em termos mais gerais pretendo defender a ideia de que são as ligações, e não as civilizações, que impulsionam a mudança histórica”. E neste tempo em que tanto se discutem as diferenças culturais, Quinn afirma: “ Não são os povos que fazem a história, mas as pessoas e as ligações que criam umas com as outras (…) As culturas locais distintas vêm e vão, mas são criadas pela interação - e uma vez estabelecido o contacto, nenhuma terra é uma ilha”. Uma das citações que a autora escolheu para iniciar o livro é de Salman Rushdie e vale a pena retê-la: “É através da mistura, da mescla, de um pouco disto e daquilo, que a novidade entra no mundo”.  Edição “Temas e Debates”.

 

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MAIS BRILHANTE QUE O SOL  - Quando se sobe ao primeiro piso do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional entra-se num mundo inesperado e fantástico criado por Adriana Molder para uma nova exposição intitulada “Antares” e que ali ficará até 4 de Maio. Na exposição, que tem curadoria de Nuno Crespo, cruzam-se visualizações de memórias e exercícios de imaginação que permitem construir as peças de um universo paralelo em desenho, pinturas, quase esculturas e num filme. Existem cinco núcleos que dialogam entre si, desde a evocação de desenhos feitos entre 1998 e 2000, uma outra série de desenhos monocromáticos  “Sombras”, e “Aleph” e “Antares”, ambos feitos em tela moldada com pastel de óleo, que mostram corpos e rostos bidimensionais, criando diferentes formas, que estão suspensas e marcam um percurso dentro da exposição, e, finalmente, “Serpentina”, um vídeo onde as pinturas sobre papel ganham movimento e onde a própria autora participa. A exposição mostra a variedade das referências e processos de investigação, criação e execução usados por Adriana Molder. Já agora o nome da exposição, “Antares”, evoca  uma das maiores estrelas da constelação de Escorpião, setecentas vezes maior que o sol. Por último cabe referir que, como é hábito, as Galerias Municipais de Lisboa, que gerem e programam o espaço, fizeram uma folha de sala especialmente para os visitantes mais novos que lhes dá uma introdução a este mundo de Adriana Molder.

 

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ROTEIRO - “Happily Ever After”, de Hugo Brazão, é a terceira exposição individual do artista na Galeria Balcony (Rua Coronel Bento Roma 12A). Optimismo, apatia e obsessão pelo progresso linear são os temas explorados pelo artista, que utiliza a pintura, a escultura e o têxtil explorando diversas possibilidades técnicas. Brazão nasceu na Madeira, estudou em Lisboa e Londres e tem exposto em diversos países. Esta exposição, que pode ser vista na Balcony até 15 de março, apresenta mais de duas dezenas de obras, desde uma série de esculturas de parede de pequena escala em resina acrílica, gesso e tinta à base de pigmento  (na imagem) a trabalhos em guache sobre papel e também uma instalação em têxtil. Na galeria This Is Not A White Cube (Rua da Emenda 72) o artista angolano Nelo Teixeira apresenta a sua primeira exposição individual em Portugal, “Vox Populi”, que reúne 20 obras que retratam  a condição humana e social em Angola, “enraizada no diálogo entre precariedade, resistência, resiliência e memória.” Na Galeria Filomena Soares (Rua da Manutenção 80) pode-se ver até 15 de Março “On Top Of The Knee”, uma exposição que junta obras em diversos suportes de  Lúcia Prancha e pinturas de Rudi Brito. 

 

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EMOÇÃO - No novo disco de Gisela João não é só a voz que emociona no tratamento que foi dado a canções que conhecemos nas vozes de Zeca Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho ou Paulo de Carvalho. Os arranjos musicais e a execução instrumental acompanham de forma perfeita, e invulgarmente bem conseguida, a forma que Gisela João encontrou para cantar versões arrebatadoras de seis canções de Zeca Afonso, uma de José Mário Branco, outra de Sérgio Godinho, uma da dupla José Nisa-José Calvário e até um clássico de Fernando Lopes-Graça. “Inquieta”, assim se chama o disco, foi produzido por Gisela João e Luís “Twins” Pereira, com arranjos, invulgares e muito conseguidos, do espanhol Carlos Rodenas Martinez. Peguemos por exemplo em “E Depois do Adeus”, a canção-senha da madrugada do 25 de Abril de 1974, composta por José Nisa e José Calvário e tornada popular por Paulo de Carvalho. Esta nova versão subverte a canção, na realidade transforma-a numa nova. O mesmo acontece com “Inquietação ”, de José Mário Branco,  ”A Morte Saiu à Rua", de Zeca Afonso, “Que Força é Essa, Amiga” de Sérgio Godinho e até com uma das canções heróicas de Fernando Lopes Graça, ”Acordai”. Ouvir este disco não é um regresso ao passado, é perceber como a criatividade também se manifesta na reinterpretação, na capacidade de mostrar canções antigas como se fossem feitas agora. Não basta ter boa voz para se cantar. É preciso sentir o que se canta e transmitir emoção. É essa capacidade, e não só a voz, que faz de Gisela João uma grande cantora. “Inquieta” está disponível nas plataformas de streaming.

 

 ALMANAQUE - Em Amsterdão, num das mais interessantes museus de fotografia que conheço, o FOAM, pode ser vista até 20 de Abril a exposição “An Unfinished World”, um das maiores retrospectivas de Saul Leiter, um fotógrafo norte-americano que é considerado um dos mais importantes fotógrafos dos anos 50 e um pioneiro da utilização criativa da fotografia a cores. A exposição tem 200 fotografias  a preto e branco e a cores e também algumas pinturas abstractas que Leiter fez ao longo da sua vida. Em Paris o Louvre abriu pela primeira vez as suas portas a uma exposição sobre moda, “Louvre Couture – Art and Fashion: Statement Pieces” e que até Julho mostra peças de Alexander McQueen, Christian Dior, Versace, Chanel, Dolce&Gabbana, Azzedine Alaïa e Yves Saint-Laurent entre muitos outros.

 

DIXIT - ”Opacidade na gestão e na distribuição do dinheiro, falta de integridade no exercício de cargos públicos, violação sistemática da Lei. O dinheiro passou a mandar na política ante a cumplicidade geral” - Pedro Santana Lopes

 

BACK TO BASICS - “O que é mais fantástico na democracia é que dá aos eleitores a possibilidade de fazerem alguma coisa estúpida” - Art Spander

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS



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