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CONTRADIÇÕES - Cada vez que há eleições lá vou eu fazer uma peregrinação pelos programas dos principais partidos, procurando o que dizem sobre política cultural. Todos garantem querer o bem do mundo e que toda a gente seja muito culta. Mas na realidade, como se tem visto ao longo deste primeiro quarto do século XXI, quase nada de novo surgiu. As reformas que se fazem são orgânicas, burocráticas e por vezes têm até resultados negativos. As promessas são sempre subsídios a atribuir sobretudo para as artes performativas, mas sobre incentivos a uma maior participação dos privados nesta área muito pouco se fez. Entretanto os Museus continuam com reduzida autonomia financeira (quando a têm),  a Lei do Mecenato teve tímidas actualizações e os Primeiros Ministros, todos e sem excepção, gostam de usar a Cultura apenas como uma flor na lapela e não hesitam em ultrapassar quem dirige o sector. Na realidade quem inviabiliza reformas de fundo e de facto manda na Cultura, ao longo dos últimos anos, não é quem assume o cargo de Ministro da pasta, mas sim o Ministro das Finanças, com a cobertura do Primeiro Ministro. Todas as tentativas de incentivar privados a investir na área, alargar a Lei do Mecenato e torná-la mais atractiva, esbarram aí, nas Finanças. Agora,  em plena campanha eleitoral conheceu-se um exemplo do que é o efectivo desprezo do Governo sobre o papel da iniciativa privada na Cultura. Digo isto a propósito das galerias de arte, cuja actividade é crucial para divulgar e vender as obras de artistas plásticos, emergentes ou consagrados, sendo para muitos a principal fonte de rendimento. Além disso, várias galerias desempenham um papel de divulgação da cultura e dos artistas portugueses por esse mundo fora, nas feiras de arte contemporânea, com uma actividade mais constante e relevante que o Estado. Pois eis que, poucos dias depois de a ministra da Cultura  ter sublinhado a importância de baixar para 6% o IVA nas transações de obras de arte, indo ao encontro de uma Directiva da União Europeia, o Governo português  decidiu tornar menos competitivo este sector e publicou o Decreto-Lei n.º 33/2025 de 24/03, que eleva o IVA nas transações de obras de arte, de um valor que andava entre 11,5 e 14,5% para 23%, objectivamente aumentando o preço a pagar por quem compra arte e estreitando o mercado. E quem assina este Decreto Lei? O Primeiro Ministro, o Ministro das Finanças, o Ministro da Economia e o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Como acreditar no programa de um partido que quando está no poder legisla sobre os impactos da atividade económica na Cultura sem envolver a Ministra da tutela nas decisões que toma?

 

SEMANADA -  Os museus portugueses, públicos e privados, registaram, em 2023, 18,1 milhões de visitantes (+14,7%), dos quais 8,6 milhões de visitantes estrangeiros (+12,7%); as 75 370 empresas de atividades culturais e criativas, ativas em 2022, geraram 8,1 mil milhões de euros de volume de negócios, mais 21,5% do que em 2021; em 2023, o emprego cultural foi estimado em 201 000 pessoas, representando 4,0% do emprego total; apesar destes números o sector da Cultura representa apenas cerca de 0,4% da despesa total consolidada da administração central; em 2023, existiam 18 074 empresas do sector desportivo que geraram 2,8 mil milhões de euros de volume de negócios; em 2023, o financiamento das Câmaras Municipais às atividades e equipamentos desportivos aumentou 16,0%, para 426,5 milhões de euros: cerca de sete milhões e portugueses utilizaram a internet em 2024 e metade das pessoas entre 16 e 74 anos fizeram compras pela internet nesse ano; em 2024 cerca de 35% dos portugueses não tinham capacidade para pagar uma semana de férias fora de casa; a habitação significa cerca de 40% da despesa média das famílias; em 2023 Portugal era, a par de Espoanha, o país da União Europeia com maior proporção de pessoas sem capacidade financeira para manter a casa convenientemente aquecida.

 

O ARCO DA VELHA - Cerca de dois mil portugueses foram deportados nos últimos seis anos e em 2024 houve 387 portugueses deportados, mais 117 do que no ano anterior.

 

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UM CRIME NUMA SALA FECHADA - Manuel Vásquez Montalban é um dos grandes escritores espanhóis, criador da figura do detective galego Pepe Carvalho. Em 1981, Montalbán escreveu Assassinato no Comité Central”, uma das suas obras mais marcantes, agora reeditada com nova tradução de Manuel Seabra. O livro foi escrito na época de transição do franquismo para a democracia numa altura em que o Partido Comunista de Espanha era ainda influente, do ponto de vista eleitoral e sindical - influência entretanto desaparecida. A história é simples: numa reunião do Comité Central, realizada num hotel madrileno, ocorre uma falha de energia, a luz é cortada durante escassos três minutos, e quando se restabelece o secretário-geral do partido está caído,  esfaqueado no coração. A sala estava fechada, lá dentro apenas as dezenas de membros do Comité Central. Quem matou o Secretário-Geral? A investigação oficial foi entregue ao comissário Fonseca, um polícia franquista, o que indispõe os comunistas, que contratam um detetive privado, Pepe Carvalho, catalão de origem galega, ex-comunista, ex-agente da CIA, gastrónomo que quando não persegue iguarias, consegue desvendar mistérios com a ajuda de petiscos que vai procurando. Pepe Carvalho descobre como as convulsões ideológicas do Partido Comunista, a luta entre as  diversas sensibilidades e facções no seu interior e as clivagens na política espanhola da época se conjugam para fazer acontecer a misteriosa morte. O livro é um retrato brilhante da forma de pensar e de agir de quem dirigia os partidos comunistas e é também um policial delicioso. Edição Quetzal.

 

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AS INFINITAS POSSIBILIDADES DO PAPEL -   “Sobre Papel, 1953-2025” é o título da nova exposição na galeria Rui Freire Fine Art (Rua Serpa Pinto 1C, ao Chiado), que até 18 de Maio apresenta obras de Manuel Caldeira, Jean-Charles de Ravenel, Jorge Nesbitt, Pedro Quintas, Roberto Ruspoli, Bruno Castro Santos, Hanns Schimansky, Bela Silva, Vieira da Silva,  Loló Soldevilla e Arpad Szenes (na imagem), e também de Pedro Casqueiro, Daniela Krtsch e Cristina Lamas. Todos os trabalhos apresentados têm como suporte o papel e foram criados entre 1953 e 2025. A exposição mostra 22 obras que evidenciam as diversas possibilidades de trabalho sobre papel, desde composições geométricas, ao traço do desenho (de Roberto Ruspoli por exemplo) , passando por obras que exploram a criação de camadas e volumes (como Hanns Schimansky), mostrando a plasticidade e capacidade de adaptação do suporte. A Rui Freire Fine Art foi criada em 2018, inicialmente sob o nome da galeria Jeanne Bucher Jaeger, de Paris, onde Rui Freire exerceu funções como diretor. A galeria representa artistas nacionais e internacionais e desde 2019, colabora com a organização americana Parley For The Oceans, que desenvolve projetos de grande escala com artistas como Katharina Grosse e Vik Muniz, entre outros.

 

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ROTEIRO - O destaque da semana vai para a exposição “Caminhos da Floresta” de João Louro, na Galeria Fernando Santos (Rua Miguel Bombarda 526, Porto). A exposição mostra obras recentes, de escultura e pintura (na imagem uma das obras, fotografada por Bruno Lopes) e pode ser vista até 7 de Junho. Em Lisboa, na Gulbenkian, duas novidades. No edifício principal, e com o pretexto do encerramento temporário do Museu para requalificação, algumas das obras mais importantes foram reunidas na exposição “Coleção Gulbenkian. Grandes Obras”, com mais de trezentas peças, da arte islâmica, à arte europeia e a arte da China e do Japão, num percurso que se inicia no século XX em direção à Antiguidade. No Centro de Arte Moderna a novidade, na nave principal, é uma exposição que coloca em confronto obras de Paula Rego com a artista brasileira Adriana Varejão. Sob o título “Paula Rego e Adriana Varejão. Entre os vossos dentes”, são apresentadas até 22 de Setembro cerca de 80 obras das artistas,  entre pintura, gravura, escultura e instalação. Para finalizar, na No-No Gallery (Rua de Santo António à Estrela 39A) está em exposição, até 31 de Maio uma exposição com fotografias de Miguel Marquês, intitulada “Echoes From a Distant Time” , baseada na sua observação de um velho edifício desocupado.

 

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MÚSICA DE HOTEL - The Los Angeles League of Musicians, também conhecido por LA LOM, é um trio constituído pelo guitarrista Zac Sokolow, o baixista Jake Faulkner e o percussionista Nicholas Baker. Começaram a tocar juntos em 2018 num hotel em Hollywood e no ano passado gravaram o seu primeiro álbum para a histórica editora Verve, LA LOM. Praticam uma  música de fusão que tanto vai buscar inspiração às guitarras da Califórnia como a ritmos sul-americanos. O disco é um apelo à dança, constituído por 13 faixas que parecem saídas da banda sonora de um filme da série B. São 40 minutos deliciosos, de música muito bem tocada, aquele género que sabe bem ficar a ouvir ao fim da tarde com um copo na mão num dia de calor. Musicalmente o disco é uma homenagem à tradição pop americana e hispânica, inteiramente instrumental. Pontualmente os três músicos são acompanhados por convidados que complementam os arranjos com um piano e uma secção de cordas. Disponível nas plataformas de streaming.

 

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ALMANAQUE - O quadro aqui reproduzido chama-se “Do Remember They Can’t Cancel the Spring” e foi pintado por David Hockney durante a pandemia, em Março de 2020, quando o pintor estava em confinamento na Normandia. O nome deste quadro é o título escolhido para a grande retrospectiva da obra de Hockney que está patente na Fundação Louis Vuitton, em Paris, até 31 de Agosto e que apresenta mais de 400 obras do artista nas 11 galerias do Museu, de todas as fases da sua carreira, desde as primeiras pinturas, do início dos anos 60. Hockney, agora com 87 anos, envolveu-se na concepção e montagem da exposição que permite seguir a evolução do seu trabalho, desde os desenhos e pinturas até à recente utilização de dispositivos digitais.

 

DIXIT  - “ O conceito de accountability, ou seja, de responsabilidade objectiva, não existe para os nossos profissionais da política, que nunca fizeram nada na vida a não ser pendurados nos respectivos partidos”  - Luís Todo Bom

 

BACK TO BASICS -   Um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo, esperando ser o último a ser comido - Winston Churchill

 

A ESQUINA DO RIO É PUBLICADA SEMANALMENTE, ÀS SEXTAS, NO SUPLEMENTO WEEKEND DO JORNAL DE  NEGÓCIOS

 

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