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SEM RÓTULOS  - A situação criada pelas eleições espanholas é um bom pretexto para pensarmos na necessidade de rever o modo como os maiores partidos fazem as suas alianças. Tradicionalmente o que acontece é que replicam blocos à esquerda e à direita, em vez de procurarem entendimentos que garantam estabilidade e possam permitir reformas profundas. Privilegiam a rivalidade à avaliação da competência. Ainda por cima, em nome de uma superioridade moral que há muito deixou de existir, a esquerda impõe regras de alianças à direita que ela própria rejeita. Ao maior partido da esquerda é permitido aliar-se com extremistas do seu lado político, alguns deles com uma história de desprezo pela democracia, mas qualquer aliança à direita é logo apelidada de pecado. Durante as eleições espanholas Alberto Feijóo, líder do Partido Popular, o mais votado no acto eleitoral, propôs a Pedro Sánchez que ambos procurassem uma plataforma comum de entendimento para o Governo, com uma larga base de apoio. Tal como Costa fez há uns anos por cá, Sánchez escolheu aliar-se a extremistas, incluindo partidos saídos de organizações terroristas e separatistas. O mais absurdo é que este comportamento da esquerda mostra que existe um esforço de apagamento de um facto: na Europa, nos últimos 50 anos, foram mortas mais pessoas por organizações que se reclamam de esquerda do que de qualquer outro espectro político. A instabilidade dos sistemas de rivalidade entre dois blocos não é só um problema da Europa. Nestes dias li notícia de criação, nos Estados Unidos, de um movimento que reflecte sobre a necessidade de criar plataformas de entendimento alargadas. O nome é bem achado, No Labels, Sem Rótulos numa tradução livre, mostrando logo que rejeitam catalogações. Inclui destacados membros do Partido Democrático e do Partido Repúblicano. O movimento já divulgou um manifesto e organizou e está a realizar debates em vários Estados. Está em cima da mesa a possibilidade de o No Labels se apresentar a actos eleitorais e uma sondagem feita por uma Universidade indica que um quinto dos eleitores registados votariam por um partido de ”fusão”, como o New York Times classifica o No Labels. No fundo, a proposta é colocar a competência das pessoas à frente das rivalidades partidárias e garantir uma alargada base de apoio. A mim parece-me uma boa ideia, até agora a melhor para que a Democracia recupere dinamismo e o sistema político e partidário se regenere. E isto seria um bom ponto de partida para a criação de um Think Tank, sem rótulos.

 

SEMANADA - Os juros variáveis do crédito à habitação subiram 80% para dois milhões de famílias; na última década uma em cada cinco casas construídas é para férias e outras utilizações que não habitação permanente;  um estudo da Pordata sobre os jovens portugueses entre os 15 e os 24 anos conclui que 95% deles vive com os pais (em 2004, eram 86%) e 60% tem um vínculo de trabalho precário; segundo o mesmo estudo, Portugal é o sétimo país da UE com maior desemprego jovem; as estimativas demográficas do INE para 2022 indicam que, em Portugal há 1 083 445 pessoas com idade entre os 15 e os 24 anos, 10.4% da população total; nos últimos 31 anos, Portugal perdeu 527 mil jovens nesta faixa etária, passando de um total de 1,6 milhões em 1991 para os atuais um milhão; apenas um terço dos 56% dos jovens entre os 14 e os 30 anos dizem-se religiosos,e apenas um terço é praticante; o número de candidatos ao ensino superior cresceu face ao ano passado; o número de reclamações dirigidas ao Ministério da Educação aumentou 285% entre janeiro e julho deste ano, em relação ao mesmo período de 2022; em termos médios 75% da prestação da casa são juros pagos aos bancos; os cinco maiores bancos lucraram onze milhões de euros por dia no primeiro semestre deste ano; o preço médio de venda da gasolina 95 simples em Portugal foi no segundo trimestre superior em 4,7 cêntimos por litro aos valores médios na UE; segundo a Netsonda, 98% dos portugueses estão sempre, ou quase sempre, atentos a descontos e promoções na compra de produtos alimentares em supermercados; a economia portuguesa estagnou no segundo trimestre face aos primeiros três meses do ano. 

 

O ARCO DA VELHA - Por dia há quase 900 multas por excesso de velocidade em Lisboa.

 

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A MAGIA DA PINTURA - Ruy Leitão , um artista precocemente desaparecido, ainda antes dos 30 anos, no final da década de 70 do século passado, deixou uma obra significativa. O Centro de Artes Manuel de Brito, que fica no nº 113 do Campo Grande, onde nasceu a Galeria 111, tem até final do ano uma exposição (na imagem) com dezenas das suas obras, que lhe é dedicada - “Ruy Leitão, Com Alegria”. Por ocasião de uma exposição realizada em 1994, Maria Filomena Molder escreveu estas palavras: “Encontramos nas suas obras, e justamente devido à exatidão, à mestria com que se domina o afeiçoamento de cada um dos materiais e técnicas utilizados e os movimentos da mão, um poder mágico, uma eficácia sensível imediata, que determina a transformação do objeto de arte em caminho redentor”. Outros destaques: em Coimbra, no Centro de Artes Visuais (CAV), pode ver até 10 de setembro uma exposição baseada na colecção desenvolvida pelos Encontros de Fotografia de Coimbra e que inclui nove dezenas de fotografias de nomes como Horst P. Horst, Debbie Fleming Caffery, Walker Evans, Weegee, Raymond Pettibon, Lyalya Kuznetsova ou Marianne Mueller, entre outros, numa mostra que se centra na auto-representação e no retrato, com curadoria de Miguel von Hafe Pérez, responsável pela programação do Centro de Artes Visuais durante os próximos quatro anos. Em “auto & retrato”, é possível acompanhar o caminho que a fotografia foi fazendo ao longo do tempo, numa exposição que põe em diálogo artistas nacionais e internacionais e fotógrafos de diferentes períodos; e no Museu do Neorealismo, Vila Franca de Xira, apresenta “Uma Poética Neo Realista”, exposição dedicada à obra de Querubim Lapa. Finalmente no Porto e até 9 de Setembro, a Galeria Fernando Santos apresenta uma colectiva com nomes que vão de Álvaro Lapa e Costa Pinheiro a Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Ana Vidigal, Bertholo, Rui Sanches, Sandra Baía ou José Loureiro, entre outros.

 

Os Últimos Dias de Roger Federer.jpg

AS ÚLTIMAS COISAS - Geoff Dyer escreveu, usando as suas próprias palavras, um  livro “sobre as últimas coisas”, ou seja um livro sobre aquilo que podíamos não ter lido ou experimentado antes de morrer. O livro chama-se “Os Últimos Dias de Roger Federer E Outros Finais”, tem uma tradução de Bruno Vieira do Amaral e, recorrendo mais uma vez às palavras de Dyer: «Haverá alguma vez um exemplo mais angustiante do que Roger a servir na final de 2019 em Wimbledon contra Djokovic com 8-7 no quinto set? […] Foi uma derrota particularmente difícil e pesada.» Geoff Dyer explora os últimos dias, as últimas obras ou as obras tardias de escritores, pintores, músicos, cineastas e estrelas do desporto que marcaram a nossa memória. Com charme, ironia e inteligência, revê o colapso de Friedrich Nietzsche em Turim, as reinvenções de antigas canções de Bob Dylan, a pintura de Turner com a sua abstração harmoniosa, a ressurreição tardia de Jean Rhys, as derradeiras melodias de John Coltrane, mas também os últimos quartetos de Beethoven, os poemas finais de Larkin ou as últimas canções dos The Doors, o último sopro criativo de Walter Scott, Joyce, Updike ou David Foster Wallace. O livro percorre um vasto catálogo dos tópicos preferidos de Dyer, que vão do rock à história militar.

 

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GUITARRADA - O disco que hoje recomendo é para os amantes da guitarra. Neste disco há dois instrumentos: a guitarra e as mãos de quem a toca, Ralph Tower. O álbum chama-se “At First Light” e é um disco maravilhosamente simples, um solo de guitarra acústica tocada por um dos grandes nomes do jazz. Towner começou a gravar em 1970 para a ECM, a editora fundada por Manfred Eicher, que desde o início tem um compromisso com a qualidade técnica das suas gravações. Os padrões de qualidade, desde a gravação, à edição, passando pelas capas, têm-se mantido ao longo dos anos e Towner, hoje com 83 anos, continua a seguir a cartilha que o trouxe a esta editora. “At First Light” inclui 11 temas, todos originais de Towner, à excepção de três - o tradicional “Danny Boy”, o clássico standard de Jule Styne “Make Someone Happy” e “Little Old Lady”, de Hoagy Carmichael. Nas notas da capa do disco Towner explica que estes temas o influenciaram quando começou a tocar guitarra. De entre os temas originais destaque para “Fat Foot”, “At First Light” e “Flow”. Editado pela ECM, disponível nas plataformas de streaming.

 

BARES - Há uma tradição portuguesa de fazer longos almoços sob o pretexto de uma conversa. Eu gosto muitas vezes de almoçar sozinho, ganhando um tempo de equilíbrio a meio do dia; e agrada-me a ideia de desafiar um amigo para uma conversa de fim de tarde num bar de hotel - pouco barulho, competência no acolhimento e na execução dos pedidos.  Estou a falar de hotéis com bares onde existam barmen que sabem o que fazem. Há pouco tempo estive na cavaqueira amigável no balcão do bar do recente Hotel das Amoreiras, no jardim homónimo, e fiquei agradado com o cuidado posto pelo barman na preparação de um dry martini - com todos os preceitos e segundo as melhores práticas. Um bar de hotel é um sítio pensado para se estar sossegado - pode usufruir-se do conforto de um grande hotel sem ter que lá dormir. Uns tempos antes tinha estado num fim de tarde no bar do Sheraton, onde pedir uma flûte de Murganheira bruto é um pedido recolhido com atenção e competência e onde também se pode petiscar alguma coisa a acompanhar. E há uns anos era frequente marcar reuniões no bar do Ritz - onde aliás numerosas figuras da política e negócios passavam a tarde, como se de um escritório se tratasse, a receber pessoas para conversas sabe-se lá de quê, umas atrás das outras. Se os bares dos hotéis falassem…


DIXIT - “Entre greves, inoperância e burocracia, os tribunais mostram-se cada vez mais incapazes de assegurar níveis aceitáveis de justiça” - António Barreto.

BACK TO BASICS - “Dizer o que pensamos é como cavar a própria sepultura” - Sinead O’Connor



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