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COISAS - Esta semana dei comigo a pensar que os sorteios em que o Fisco vai oferecer carros aos contribuintes bem comportados pecam por poderem incorrer num agravar de desigualdades: e se os carrinhos saírem a cidadãos sem carta de condução, que podem eles fazer com os veículos? Estava eu a remoer nisto dos veículos quando, num destes dias de chuva farta, reparei numa diligente brigada da EMEL bloqueando carros, que estavam bem estacionados, mas já com o tempo da vinheta excedido: de repente fez-se-me luz! O fisco oferece carros para contribuir para o aumento das receitas das multas e, no caso de Lisboa, para ver se consegue melhorar a situação financeira da EMEL. Ocorreu-me então que se a Câmara Municipal de Lisboa fosse tão diligente a reparar as crateras que infestam as ruas lisboetas, como os esbirros da EMEL são pressurosos a passar multas e a bloquear, seria um prazer confortável andar de automóvel em Lisboa, em vez do presente raid de todo o terreno oferecido pela autarquia: atribulada é a estrada que leva a Belém - metaforicamente falando no caso de António Costa, muito na realidade constantando no caso dos condutores alfacinhas que para lá se queiram dirigir. Estava eu absorto a pensar nestas coisas quando constatei que foi em vésperas do Congresso do PSD que Vitor Gaspar apareceu numa encenação perfeita da recomposição do bloco central: o livro sobre as amarguras de um ex-Ministro das Finanças, designado pelo PSD, foi didaticamente apresentado por António Vitorino, um ex-Ministro socialista que se demitiu por uma questão relacionada com um pagamento de sisa ao Fisco. A plateia estava repleta de ilustres do PSD e sem uma alma próxima do CDS/PP. Olhando para o cenário ocorreu-me que gostava de saber se Rui Rio e António Costa trocarão SMS’s sobre os seus respectivos futuros durante o conclave do PSD que neste fim de semana abrilhanta o cartaz do Coliseu dos Recreios, em Lisboa. A História segue dentro de momentos.
SEMANADA - Uma sondagem do “Correio da Manhã” revela que três em cada quatro portugueses não tem confiança na CRESAP, o organismo que faz a selecção de recrutamentos para a administração pública, dirigido pelo senhor Bilhim; no final de 2013 o Estado totalizava 563 595 funcionários, menos 123 mil que em 2011; diversos tipos de fraudes lesam o Serviço Nacional de Saúde em mais de 200 mil euros por dia; a banca portuguesa eliminou mais de quatro mil postos de trabalho em três anos; Portugal foi o segundo país europeu com maior queda no consumo de energia, uma diminuição de 15,2% entre 2006 e 2012; a entrada de imigrantes indocumentados nos países da União Europeia aumentou 48% no ano passado; foi descoberta uma rede que proporcionava noivas portuguesas a imigantes ilegais a troco de 11 mil euros; perto de 30 municípios precisam de ajuda financeira urgente; a Câmara de Cascais assinou um acordo para manter o horário de 35 horas semanais, em vez das 40 preconizado pelo Governo; o novo Presidente da Câmara Municipal de Gaia anunciou não dispôr de um milhão de euros para financiar o Mundial de Futebol de Praia em 2015, que tinha sido negociado por Luis Filipe Menezes com a Federação Portuguesa de Futebol; comentando a legislação que estabele a transferência de competências dos municípios para as freguesias, o Presidente da Cãmara de Aveiro, Ribau Esteves, afirmou que “esta lei foi feita de forma desgarrada com aquilo que é a sustentabilidade financeira para a executar”.
ARCO DA VELHA - Uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça considerou, num processo de divórcio baseado nas queixas de uma mulher que foi vítima de violência doméstica, que o facto de a mulher não ter saído de casa após o espancamento significa que a vítima perdoou ao marido.
FOLHEAR - Henri Cartier-Bresson, um dos maiores nomes da fotografia, morreu em 2004 e agora, no décimo aniversário da sua morte o Centre Georges Pompidou mostra uma exposição sobre toda a sua carreira, desde as primeiras fotografias que fez em finais dos anos 20, até aos desenhos, a que regressou no fim da vida. A exposição tem cerca de 500 trabalhos e documentos e mostra que não existiu apenas um Cartier-Bresson, evidenciando a evolução e as transformações que o seu trabalho foi tendo ao longo dos anos. A exposição estará patente até 9 de Junho e foi o pretexto para uma edição especial, fora-de-série, da revista semanal francesa “Le Nouvel Observateur”. Sob o título “O fotógrafo do século”, esta edição recolhe textos e depoimentos de contemporânneos de Cartier-Bresson, como Raymond Depardon, Sebastião Salgado e Josef Koudelka, evoca algumas das suas grandes reportagens, como nos Estados Unidos, México, União Soviérica e China, percorre a aventura que foi a fundação da agência fotográfica Magnum e fala de outras aspectos mais pessoais da sua vida. A exposição foi comissariada por Clément Chéroux, que dirigiu o catálogo (que pode ser adquirido na Amazon França), assim como o documentário “Le Siécle de Cartier-Bresson”, realizado porPierre Assouline para a ARTE. A edição especial da revista está já disponível em Portugal por €8.20 e tem 106 páginas. Uma edição para guardar.
VER - Estamos em época alta de exposições - por exemplo Rui Chafes na Gulbenkian, Ana Jotta na Culturgest, Michaelangelo Pistoletto no BES ART. Menos mediatizada mas muito interessante é a exposição de Rui Sanches na Fundação Carmona e Costa, “Dentro do Desenho”, comissariada por João Pinharanda. Mais conhecido pelas suas esculturas, Rui Sanches apresenta aqui 60 desenhos, feitos ao longo dos últimos 30 anos. Quem tem seguido a sua obra sabe que o desenho surge naturalmente a par das suas esculturas e recorre a diversas técnicas e materiais que utiliza sobre o papel que lhe serve de base de trabalho. “Como síntese de uma atitude que abrange toda aobra de Rui Sanches, assistimos a uma organização do ver pensada do interior para o exterior” - escreve João Pinharanda no catálogo da exposição, sublinhando: “Tudo passa para dentro do desenho, tudo se passa dentro do desenho, tudo passa de dentro do desenho para fora dele”. A exposição está no Espaço Arte Contemporãnea da Fundação Carmona e Costa até 22 de Março, sempre de quarta a sábado, entre as 15 e as 20 horas. No mesmo local, mas no Espaço Artes Decorativas, fica até final do ano um projecto de Paulo Brighenti, “Pó”, neste caso um desenho de grande escala e uma caixa com cinco desenhos, ambos surpreendentes.
OUVIR - O quarteto do pianista de jazz norueguês Tord Gustavsen tornou-se particularmente notado com o seu disco “The Well”, de 2012. Já no início deste ano editou “Extended Circle” e mais uma vez faz da elegância e descrição da sua música o maior argumento. Há algo de tímido na sua sonoridade, entre o gospel e o insinuante funk do piano, há algo de orgulhoso no timbre do saxofone, há algo de magnético no entendimento do baixo e da bateria. E sobretudo há uma forma apaixonada - e mais jazzística do que nele é costume - de percorrer o piano, desenhando suaves e intensas baladas. Dos 12 temas, nove são originais de Gustavsen, dois são improvisações do quarteto e há uma versão de um tema tradicional norueguês - e todas se sucedem de forna natural, na continuidade uma da outra, formando uma obra única. (CD ECM, na Amazon).
PROVAR - Em Lisboa, já se sabe, existem muitas nações e evocações de lugares distantes. Em plena Pampulha, na intersecção da Infante Santo com o fim da Rua do Sacramento a Alcântara e o início da Rua Presidente Arriaga, há um pequeno restaurante nepalês, com uma escassa dúzia de mesas. A clientela é variada, desde diplomatas fardados de espiões (certamente saídos do vizinho Ministério dos Negócios Estrangeiros), até passantes de ocasião ou orientalistas dedicados. No local há as cores e fragrâncias da Ásia. Os pratos do dia podem incluir um caril de javali ou de veado, o pão com alho é delicioso e feito em forno de carvão, os preços são módicos. A comida é fundamentalista, o arroz é feito ao vapor, vem solto e aromático, e é perfeito. Está aberto todos os dias, só encerra no Domingo ao almoço. Chama-se Himchuli e fica na Rua do Sacramento a Alcantara nº13, com o telefone 213 901 722.
DIXIT - "Quando alguém, no Canal do Panamá, abre a janela, que vê em frente? - Sines, um porto very beautiful" - António José Seguro na conferência da revista The Economist, em Cascais.
GOSTO - Do livro “Escrita Íntima”, que recolhe correspondência de Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes, entre 1932 e 1961.
NÃO GOSTO - Há 44 autarcas investigados por corrupção pela Procuradoria Geral da República, e há cerca de 80 processos de investigação que envolvem corrupção no poder local
BACK TO BASICS - “O que já fiz não me interessa. Só penso no que ainda não fiz” - Pablo Picasso
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