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ELEIÇÕES INCERTAS

por falcao, em 23.12.21

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QUEM DECIDE AS ELEIÇÕES ? - Já viram o que se passou em dois meses? No final de Outubro, pela primeira vez em 47 anos, um orçamento foi chumbado no Parlamento; a geringonça desfez-se com acusações recíprocas e o Governo entrou em crise, perdendo até um passageiro; o Presidente da República dissolveu o Parlamento e convocou eleições legislativas antecipadas; a maioria dos partidos parlamentares realizou congressos; nas eleições directas do PSD, Rui Rio, que as não queria, saíu vencedor contra Paulo Rangel e uma boa parte do aparelho; o CDS entrou em crise profunda e viu saírem militantes históricos; Rui Rio fechou as portas a uma coligação pré-eleitoral com o CDS, criando o sério risco que os centristas tenham a sua pior votação de sempre; todas as sondagens indicam que os partidos que pela primeira vez entraram na Assembleia da República nas anteriores legislativas tenham um expressivo aumento de votação, o que provocará um reajustamento do quadro parlamentar. E, se olharmos para a frente, teremos uma campanha eleitoral marcada pela evolução incerta, mas preocupante, da pandemia. Tudo isto reforça as dúvidas sobre o cenário do dia seguinte às eleições. Quem decide o resultado das eleições? Muita gente especula como poderá ser a transferência de votos, sobretudo entre os dois maiores partidos. Não deixando de lado que essa transferência pode acontecer, creio no entanto que o fiel da balança vai depender, em grande parte, da forma como se portar o enorme núcleo de abstencionistas. Será que alguns vão desta vez decidir sair de casa para mostrarem o que querem? Nas recentes autárquicas, em Lisboa, foi o voto dos que decidiram sair de casa ao contrário do habitual, e a ausência  dos que sendo habituais votantes resolveram não votar dessa vez,  que alteraram o sentido das sondagens. E é nesse jogo, entre quem decide ficar em casa e quem decide sair no dia das eleições que se vai jogar o próximo Governo.


SEMANADA - Do Censos 2021: desde os anos sessenta do século passado o número de portugueses aumentou dois milhões; se compararmos com o que se passava há 20 anos Portugal perdeu mais de duzentos mil habitantes; a população imigrante estrangeira residente em Portugal deverá representar entre 5 a 6% do total e há quarenta anos eram menos de meio por cento; a população com mais de 65 anos representava 8% do total em 1960 e hoje anda pelos 24%; os pensionistas e reformados eram 120.000 há meio século e são hoje perto de quatro milhões, mais de 40% da população activa; há cinquenta anos os jovens com menos de 15 anos eram um terço do total da população e hoje são apenas 12%; os nascimentos que chegaram a atingir 200 mil por ano são agora cerca de 80 mil; nos anos 60 a agricultura ocupava 45% da população e hoje ocupa menos de 5%; na indústria chegou a trabalhar 40% da população e hoje a indústria ocupa apenas 24% dos portugueses; o analfabetismo, que nos anos 60 era de 40% hoje anda abaixo dos 5%; na mesma altura os alunos do secundário eram dez mil e hoje são 400 mil; hoje em dia cerca de 20% dos residentes têm um curso superior, quando há meio século eram menos de 1%; cerca de 25% das pessoas em Portugal vivem sózinhas; a área Metropolitana de Lisboa concentra 28% dos habitantes em território nacional; é no litoral que vive a maior parte da população; Odemira foi o município que ganhou mais gente nos últimos dez anos, quase 3 500 pessoas, o equivalente a um aumento de 13,3%, em grande medida devido à imigração, segue-se Mafra, Palmela, Alcochete e Vila do Bispo; o Alentejo foi a região onde a desertificação populacional mais se agravou, entre 2011 e 2021, com uma redução de 52 mil residentes (6,9%), seguido da Madeira com menos 6,2%; 

 

O ARCO DA VELHA - Há tradutores de tribunais à espera de serem pagos há dez anos.

 

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SURREALISTA SEIXAS - “O Sentido do Encontro” agrupa um conjunto de 160  obras de Cruzeiro Seixas, um dos principais representantes do surrealismo em Portugal. A exposição fecha o ciclo das comemorações do centenário do artista, que morreu em 2020, e está na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, até 26 de Fevereiro do próximo ano. “O Sentido do Encontro é uma exposição organizada pela Fundação Cupertino de Miranda, cuja colecção tem um apreciável conjunto de obras do autor, e tem como comissários Marlene Oliveira e Perfecto E. Cuadrado. Inclui ainda obras de diversas colecções, nomeadamente do Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, da Biblioteca Nacional de Portugal,do Centro Português de Serigrafia e do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado. Esta exposição permite dar a conhecer algumas das mais importantes obras de Cruzeiro Seixas, apresentando as diferentes técnicas por ele exploradas e integra desenhos, pintura, colagens e objectos-escultura. Com entrada livre, a exposição conta ainda com o documentário As Cartas do Rei Artur, de Cláudia Rita Oliveira, além de objetos pessoais do artista, documentos e os seus «diários não diários», um registo de memórias, projetos e ideias, recorrendo essencialmente à colagem com fragmentos de vivências, com  alusões diárias do que se passava no seu universo pessoal e profissional. 

 

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UM SONHO ENCANTADO - Conheci “A Menina do Mar”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, algures nos anos 80, numa edição que então foi feita. Mas não conhecia a edição original, de 1958, com ilustrações da pintora Sarah Affonso, que agora foi reeditada. “A Menina do Mar” é o primeiro conto da escritora para a infância e, tendo uma  praia como cenário, revela-nos a história de amizade entre um rapaz e a Menina do Mar. Cada um vive no seu mundo, o rapaz na terra e a menina no mar, mas a curiosidade de ambos leva-os a querer partilhar essas diferenças: a menina fica a saber o que é o amor, a saudade e a alegria; o rapaz aceita viver com ela no fundo do mar. A edição especial, agora lançada pela Porto Editora,  recupera a dezena de ilustrações originais que Sarah Affonso fez para a primeira edição. Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto em 1919 e publicou os primeiros versos em 1940, nos Cadernos de Poesia. Em 1944 saíu, em edição de autor, o seu primeiro livro de poemas, Poesia, título inaugural de uma obra que a consagrou como um dos grandes nomes da poesia portuguesa do século XX. Este “A Menina do Mar” é uma obra onde o encanto e o fantástico se cruzam, como que num sonho. No mesmo ano, 1958, escreveu outro conto infantil, “A Fada Oriana” e, depois, mais cinco até 1985: ” A Noite de natal”, “O Cavaleiro da Dinamarca”, “O Rapaz de Bronze”, “A Floresta” e “A Árvore”. Em 2012, já postumamente, foi publicado “Os Ciganos”, em co-autoria com Pedro Sousa Tavares. O texto da presente edição foi revisto de acordo com as notas deixadas pela autora em alguns exemplares e o poema “A Casa Branca”, que na primeira edição havia sido colocado em epígrafe, foi também mantido.

 

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O IMPROVÁVEL DISCO - Para o jornal “New York Times” o disco "Promises", que resulta da colaboração entre Pharoah Sanders e Floating Points, com a London Symphony Orchestra, é o melhor disco de jazz deste ano. O próprio jornal reconhece que este não é bem jazz, mas também não é música clássica, nem tão pouco música pop electrónica - o território de Floating Points, o nome de trabalho do compositor e músico britânico Sam Shepherd, um experimentalista em música electrónica que tem um doutoramento em neurociência. Pharoah Sanders, que já ultrapassou os 80 anos, é um saxofonista norte-americano que se afirmou no território do jazz improvisado e que integrou o grupo de John Coltrane em meados da década de 60. Sam Shepherd, com pouco mais de 30 anos, grava sob o nome Floating Points, geralmente a solo. O disco derruba as barreiras entre os mundos da música electrónica e acústica, percorrendo territórios do jazz, da música clássica e do pop.  “Promises”, uma obra em nove movimentos, com a duração de quase 50 minutos, foi gravado antes do início da pandemia, após um processo criativo que durou quase cinco anos,  mas só foi editado em Abril deste ano. Shepherd compôs a música, toca vários instrumentos e trouxe a London Symphony Orchestra para a interpretar. Pharoah Sanders é o ponto de união de tudo, com o seu saxofone (e, num momento a sua própria voz), a ligar todas as peças, com a sua forma de tocar, intensa e repleta de emoção. Este é um daqueles discos que surpreende e agarra à primeira audição. Editado pela Luaka Bop, disponível nas plataformas de streaming.

 

MESA DE NATAL - Por muitas voltas que se dê, o Natal passa-se à mesa e o que está nas travessas varia nas várias regiões do país, mas há três hipóteses incontornáveis: bacalhau, peru e polvo. Há regiões onde se ataca o bacalhau ou o polvo na noite de 24, outras em que se avança logo para o peru. O bacalhau originalmente queria-se de posta alta, e cozido, hoje já aparece disfarçado de várias formas. Tradicionalmente tanto polvo como bacalhau eram, nesta circunstância, devidamente acompanhados de boas batatas e couve. Quem ataca bacalhau ou polvo na consoada de dia 24, guarda o peru para o dia de Natal. Feito à moda antiga, o peru de Natal, assado, é uma coisa para de preparação demorada. Ainda sou do tempo em que o peru vinha vivo para casa, era embebedado a goles de aguardente pura pela goela abaixo, para que quando o pescoço lhe fosse cortado ele não estivesse contraído e a carne resultasse mais tenra. Claro que nada disso se passa hoje, o peru vem já embalado, depenado, pronto a ser temperado. E o tempero era outro assunto sério - com laranja, limão, sal, pimenta, louro, especiarias, ficava a marinar mais de um dia num grande alguidar. Depois vinha o recheio que lhe enchia as entranhas, feito dos miúdos da ave, chouriço, azeitonas aos pedaços, cenoura, cebola e alho, miolo de pão, ovo, chouriço. Após um bom tempo no forno o petisco ficava pronto para ser trinchado e, na maior parte das vezes, havia peru para vários dias - a parte mais escura da carne, cortada fina, fazia umas belas sanduíches. E, depois há os doces - todo um campeonato à parte, tudo frito, claro, bem polvilhado de canela. Enfim, antes do takeaway, o Natal era garantia de uns dois dias de intenso trabalho de cozinha.

 

DIXIT - “Fiz mal em ir para o Governo. Perdi uma fortuna incalculável” - Manuel Pinho

 

BACK TO BASICS - “Nunca se deve tentar resolver um problema grave pensando nele a meio da noite” - Philip K. Dick

 

 







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