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ELEIÇÕES PARA QUE VOS QUERO....

por falcao, em 30.12.21

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TRANSFORMISMOS - Estamos em plena época áurea do transformismo político. Tudo começou com o início da crise actual, quando alguns integrantes da geringonça resolveram  deixar os camuflados com que andaram uns anos e vestiram novas roupagens, com maquilhagem apropriada. Ainda não percebi se estavam a contar com o desfecho que isto teve, ou se foram vítimas da sua criatividade e, sejamos francos, da sua voracidade política. Seja como fôr o motor da geringonça, que era o PS, também se cansou das birras e bateu o pé. Os passos posteriores já se conhecem: o Presidente fez o que disse que faria, dissolveu a Assembleia, convocou eleições e sentou-se à espera. O que se seguiu é um misto  de campeonato de roleta russa com uma simultânea de xadrez, que se desenrolou em reuniões e eleições  partidárias e no sempre muito divertido e esclarecedor processo de elaboração das listas de candidatos a deputados por cada clube. Já se percebeu que o CDS ficou entalado por falta de parceiro para dançar a valsa da coligação, que o PSD acordou cheio de entusiasmo depois de Rio ter passado a ser querido por todos (mesmo os que contra ele disputaram eleições),  que Pedro Nuno dos Santos ganhou novo fôlego com decisão de Bruxelas sobre a TAP e que António Costa se desmultiplica em sessões de propaganda televisiva: sem contar com o seu tempo de antena oficial, Costa apareceu na última quinzena em sete momentos televisivos entre declarações, entrevistas e presença em talk shows populares. Tudo, claro, antes de a campanha eleitoral começar. No fim de Janeiro há eleições, sabe-se lá como no meio do Ómicron. Mas há mais um problema que geralmente é esquecido: cruzando os dados do número de eleitores da Comissão Nacional de Eleições com as estimativas da população residente do Instituto nacional de Estatística verifica-se que há 600 mil eleitores a mais nos cadernos eleitorais, o que pode desvirtuar os resultados eleitorais.  

 

SEMANADA - Quatro investigadores do Instituto Superior Técnico estão a trabalhar num projecto para produzir um filete de robalo numa impressora 3D; nos dois dias do fim de semana de Natal foram cancelados 7000 vôos em todo o mundo; em Portugal foram realizados 620 mil testes ao Covid em dois dias, o que dá uma média de sete testes por segundo; no início da semana existiam 233 mil pessoas em isolamento em Portugal; o Papa Francisco encorajou os casais  a escutarem-se mutuamente para evitarem conflitos em vez de se colarem nos telemóveis; Portugal ficou ligado à Internet há 30 anos, em Dezembro de 1991; apesar das recomendações da Organização Mundial de Saúde só 31% dos alimentos para crianças cumprem todas as suas orientações, nomeadamente no tocante à presença de açúcar; este ano foram registados 35 casos de agressões a motoristas da Carris, um aumento significativo em relação ao ano passado; numa entrevista à CNN António Costa disse que seu objectivo não era a maioria absoluta nas próximas eleições e sorriu ao dizer que o seu objectivo era obter metade mais um do total de deputados; no espaço de uma semana a Omicron passou de 47% para 70% dos casos testados de COVID 19; Gouveia e Melo é o novo Chefe de Estado maior da Armada, mas o seu antecessor, que deixou críticas à forma como foi tratado pelo Governo, não esteve presente na tomada de posse que durou apenas dois minutos.

O ARCO DA VELHA - Apesar do voto contra do Parlamento, no final de 2020, o Ministro das Finanças encontrou um subterfúgio para injectar 317 milhões de euros no Novo Banco ao longo deste ano que está a findar.

 

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EXPOSIÇÕES EM TRÂNSITO - Aproveitem estes dias para visitar algumas exposições que vão terminar em meados de Janeiro. Sugiro que comecem na Fundação Gulbenkian, no Centro de Arte Moderna, por “Morder O Pó”, uma mostra individual de Fernão Cruz que apresenta uma seleção de pinturas e esculturas inéditas num projeto pensado de raiz para a Gulbenkian, comissariado por  Leonor Nazaré. São mostradas 30 obras inéditas: 10 telas pintadas a óleo e a resina e 20 esculturas, quase todas em bronze. Há um lado lúdico na pintura de Fernão Cruz (como se pode ver na imagem, numa fotografia de Bruno Lopes). Há cores vivas, jogos de formas, que têm continuidade nas suas esculturas em bronze. A exposição pode ser vista até 17 de Janeiro. Outras sugestões, agora na área da fotografia: “O Mais Comprido Museu do Mundo” é uma exposição que dá espaço a uma nova forma de ver e pensar a Estrada Nacional 2. De Chaves a Faro, a mais longa estrada portuguesa, ao longo de 739 quilómetros, é um percurso que muitos assumiram como roteiro de descoberta durante a pandemia que impediu outras viagens. A exposição tem curadoria de Pedro Campos Costa e Eduardo Costa Pinto, baseada em fotografias de Álvaro Domingues, Duarte Belo, Valter Vinagre, Daniel Malhão, Nuno Cera e Paulo Catrica. “O Mais Comprido Museu do Mundo” pode ser visitado até 15 de Janeiro de 2022 na Galeria Antecâmara, rua de Cabo Verde 17A. E para terminar, se puderem, vão até ao Largo do Chiado 15, à Escola do Largo, para ver o trabalho de Filipe Condado - podem fazer a marcação pelo telefone 912305928. As fotografias resultam de um convite a Filipe Condado, feito por Tolentino Mendonça quando era ainda pároco da capela do Rato, para acompanhar uma viagem à Holanda com o propósito de seguir o percurso que a escritora judia Etty Hillesum deixou registado num diário durante a ocupação nazi do país. Além da exposição está editado o livro “Nos Passos de Etty Hillesum”, com as fotografias de Filipe Condado e texto de José Tolentino de Mendonça.

 

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UM MISTÉRIO AFEGÃO - David Lagercrantz é um escritor sueco que ganhou notoriedade depois de ter sido convidado a escrever a continuação da trilogia Millennium”, após a morte do seu criador, Stieg Larsson. Agora Lagercrantz regressa com “Obscuritas”, um policial em nome próprio que ganha uma dimensão especial com o regresso ao poder dos talibãs no Afeganistão ocorrido este ano. Neste novo livro Lagercrantz parte da morte, na Suécia, de um árbitro, emigrado afegão, que comandava o jogo como se fosse um maestro a dirigir uma orquestra. “Obscuritas”, que se passa em 2003, em plena invasão do Iraque pelos Estados Unido, cruza a investigação com as perseguições e assassinatos que os talibãs fizeram, em 1997,  contra os músicos que tocavam música clássica ocidental, e com os esforços da CIA para evitar que alguns dos métodos que utilizou em Cabul fossem revelados. O livro baseia a história na acção da agente policial Micalea Vargas, de origem sul-americana, mas criada em Estocolmo, e na de Hanks Renne, um psicólogo e professor em universidades americanas que delas foi afastado num conflito com a CIA sobre técnicas de interrogatório. Ex- pianista com notoriedade, Rekke decide aplicar os seus conhecimentos de psicologia e de técnicas de interrogatório à descoberta, em conjunto com  Mikaela, do assassino do árbitro que estava, ele próprio, ligado à perseguição dos músicos afegãos. Um policial intrincado e aliciante.

 

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GRANDES VERSÕES - “Blind Date Party” é um divertimento em forma de disco, dirigido por Bill Callaham e Bonnie “Prince” Billy, que chamaram em seu auxílio um lote de músicos que normalmente trabalham com a editora independente Drag City, de Chicago. O repertório das 19 canções inclui versões de temas tradicionais de gospel, country, pop e rock. Entre os autores das canções estão nomes como Leonard Cohen, John Prine, Lowell George, e  Robert Wyatt O conceito do álbum é simples: Oldham e Callahan selecionaram canções que gostavam ambos de cantar e enviaram-nas a vários e bem diferentes convidados que trataram de fazer arranjos e gravar as suas próprias contribuições, devolvendo as novas versões ao duo que tinha lançado o desafio, que posteriormente as ordenou como agora aparecem na sequência de “Blind Date Party”. Oldham e Callaham não deram diretivas aos seus convidados quando enviaram as canções a cada um, contando com a criatividade e espontaneidade no trabalho remoto que todos foram fazendo. A ideia era mesmo que cada um fizesse aquilo que mais lhe agradava. E foi assim que, por exemplo, Cooper Crain, dos Bitchin Bajas deu ao tema de  Iggy Pop “I Want To Go To the Beach” uma versão reggae a reggae makeover, enquanto Bill McKay pegou nas sonoridades do samba brasileiro para refazer “Deacon Blues” dos Steely Dan. Outros pontos altos são a versão de Callahan para “Rooftop Garden” de Lou Reed ou a aventura pop de Sean O’Hagan em “Wish You Were GAy” de Billie Eilish.Mas o melhor mesmo é ouvirem o disco, hora e meia de grandes canções, numa destas tardes de fim de ano, um testemunho à imaginação musical. Disponível em streaming. 

 

UMA SANDUÍCHE COM SURPRESA - Estes dias foram difíceis imagino, aposto que anda aí no ar uma daquelas decisões de ano novo de fazer dieta e cortar muita coisa. Para quem se deliciou com alguns excessos, nada como uma ideia para uma refeição ligeira. A minha sugestão é uma sanduíche de peru. A que prefiro é em pão de centeio do Museu do Pão, muito levemente tostado. O peru quer-se fatiado em pedaços finos  (eu pessoalmente prefiro a carne mais escura). O segundo passo é barrar bem as duas fatias de pão com mostarda e, nessa matéria, a minha preferência vai para a Savora - que tem a consistência certa para espalhar no pão e não tem um sabor demasiado impositivo. A parte seguinte é distribuir os pedaços de peru em cima de cada uma das fatias de pão. E o remate é feito - e aqui é que está a surpresa - com fatias bem finas de maçã Granny Smith espalhadas generosamente sobre um dos lados. Fecha-se a sanduíche, calca-se um pouco e eventualmente faz-se uma uma ligeira prensadela  numa tostadeira. Vão ver que o sabor da maçã dá um toque especial, fresco. Acompanha com uma cerveja, nesta altura do ano de preferência uma cerveja preta artesanal, como a da Vadia. Podem rematar a refeição com laranjas algarvias, amplamente disponíveis nesta época, fatiadas e polvilhadas de raspa da sua casca e um pouco, pouco mesmo, de açúcar amarelo, tudo bem misturado e deixado a repousar uma meia hora antes de servir.

 

DIXIT - “Não podemos editar em cima de ideias feitas. O trabalho do editor é, exatamente, andar no escuro, tatear, provocar, e, no limite, inventar novos leitores” - João Paulo Cotrim

 

BACK TO BASICS - “Na passagem de ano um optimista fica acordado para ver o novo ano a entrar; um pessimista fica acordado para ver o ano velho a ir-se embora.” - Billy Vaughan, escritor. 

 







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