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O VÍRUS INAUGURAL - Com as eleições autárquicas apontadas para o final de Setembro vai uma roda-viva por esse país fora em obras e obrinhas, tanta coisa que não foi feita durante anos e que, de repente, a três meses do voto, ganha uma urgência incontornável. Em todos os ciclos eleitorais há este estranho vírus que alastra pelos políticos: o vírus inaugural. Dantes havia algum pudor em inaugurar o que não estava pronto e em reclamar a autoria que havia sido de outros. Mas, como dizia Camões, “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, de maneira que agora é tudo muito diferente. Um dos recentes casos é o da inauguração, no passado dia 13 de Junho, do novo Jardim Ribeiro Telles, na Praça de Espanha. Medina fez a inauguração em cima do rebentar do escândalo da divulgação dos nomes de organizadores de manifestações, talvez para desviar atenções. Na inauguração as obras não estavam prontas e ainda esta semana lá continuavam escavadoras e maquinaria pesada a revolver a terra, a acabar o que já foi inaugurado mas ainda não pode ser desfrutado. Mas este não é caso único. Sob o olhar tolerante do Presidente da República, a simbólica presença da inquilina Ministra da Cultura e de braço dado com António Costa, Medina lá foi inaugurar a ala poente do Palácio Nacional da Ajuda e a instalação do Museu do Tesouro Real. Toda a cerimónia foi encenada como se tudo tivesse sido feito pela governação actual. Mas na realidade não foi isso que aconteceu. A decisão de avançar com a obra da ala poente do palácio, em ruína há mais de dois séculos, foi tomada em 2013 pelo então Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que procedeu às adjudicações e montou o financiamento. Ora o que António Costa disse na cerimónia de inauguração, dia 7 de Junho, foi que a iniciativa da obra tinha sido do seu Governo. E, cereja no topo do bolo: estiveram todos na inauguração de uma obra que só abre ao público em novembro. Entretanto Rui Rio, esse dinâmico seguro de vida de António Costa, continua entretido a tentar encontrar candidatos autárquicos.
SEMANADA - Mais de metade do total de mortes da sinistralidade rodoviária acontece em arruamentos urbanos; em Portugal, em cada 100 euros de gasolina, 62 são impostos e taxas; Carlos Santos Ferreira, ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos é suspeito de ter favorecido Berardo na concessão dos empréstimos que este recebeu do banco público em 2006 e 2007; muito do dinheiro emprestado foi utilizado para comprar acções do BCP na guerra interna deste banco, para onde Santos Ferreira transitou como Presidente em 2008; segundo a Marktest o Facebook está a perder popularidade para o Instagram e o Whatsapp, sobretudo entre os utilizadores mais novos; ainda segundo a Marktest Cristiano Ronaldo é destacadamente o que regista maior número de fãs e seguidores nas várias redes sociais onde está presente com perto de 149 milhões de fãs no Facebook, quase 280 milhões de seguidores no Instagram e 92 milhões de seguidores no Twitter; cerca de 10% das Câmaras Municipais têm estado sempre nas mãos do mesmo partido, desde as primeiras eleições autárquicas de 1976; o Ministério da Administração Interna continua sem revelar a velocidade a que seguia o carro do Ministro quando atropelou mortalmente um trabalhador que fazia a manutenção da auto-estrada, usando equipamento de sinalização; um especialista da Universidade do Porto considera que são frequentes as más práticas sobre privacidade nos sites do Estado; devido à pandemia 300 ginásios fecharam portas e a facturação do sector caíu 42%.
O ARCO DA VELHA - O Ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, não acatou a decisão da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, que deu razão a uma queixa do Expresso, e mantém, sem justificar, a classificação de ‘confidencial’ no relatório da auditoria às obras do Hospital Militar de Belém, que custaram quase quatro vezes mais do que a previsão inicial.
A FORÇA DA FOTOGRAFIA - Esta semana tenho quatro sugestões na área da fotografia. Começo pelo Algarve, onde Jorge Molder apresenta, na Associação 289, em Faro, a exposição “O estranho substituto”, (na imagem) com a curadoria de Sandro Resende e Sílvia Vieira. A exposição estará patente ao público até 26 de Agosto, de quinta-feira a domingo, das 15h00 às 19h00. Apresentada pela primeira vez em 2018, no Pavilhão 31, do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, “O Estranho Substituto" foi depois exposta em 2020 no Porto, na Galeria Pedro Oliveira. Integra 24 fotografias, de auto-representações encenando diversas personagens ficcionadas pelo autor. No Centro Cultural de Cascais, até 10 de Outubro, Rita Barros mostra "Room 1008: The Last Days". A exposição de fotografia e vídeo dá a conhecer um novo capítulo de "Room 1008", um projeto que a autora tem vindo a desenvolver ao longo de mais de 20 anos, refletindo o ambiente do centenário Chelsea Hotel, um espaço nova-iorquino de referência por onde passaram numerosos artistas e onde vive Rita Barros. E na recém inaugurada Galeria Imago Lisboa (Rua do Vale de Santo António 50, À Graça), Hugo David apresenta até 31 de Julho “Beautiful Disasters”, onde mostra a sua visão sobre a cultura urbana em torno do skate, em imagens poderosas por quem vive também dentro desse universo - para ele o skate é uma paixão que o ajudou a superar a timidez e a ansiedade. Todas as imagens foram feitas com um iPhone, apesar de dispôr na sua actividade de material fotográfico profissional. “Queria manter o trabalho profissional separado do meu projecto e o telemóvel é apropriado para mostrar o ambiente do skate, rostos, sujidade, roupas rasgadas… A baixa resolução não interfere, até dá um toque de vida às fotos” - explica Hugo David sobre este trabalho. E no Atrium Saldanha, até 15 de Julho, o fotojornalista Bruno Colaço mostra “Um Ano, Quatro Histórias de Morte e Esperança”, imagens fortes realizadas sobre a luta dos profissionais de saúde contra o Covid-19 durante os últimos meses.
UMA VIDA CHEIA - Nelson Motta é um jornalista, compositor, argumentista, escritor, produtor musical, letrista e noctívago. Acompanhou de perto a carreira de nomes como Elis Regina, Rita Lee, Edu Lobo, Marisa Monte, Gal Costa ou Tim Maia, entre muitos outros. Escreveu mais de 300 letras de canções, divulgou nomes pouco conhecidos, ajudou artistas em início de carreira, escreveu colunas para vários jornais, fez programas de televisão, produziu espectáculos, dirigiu editoras discográficas. Conhecia-o de três livros que adorei quando os li - “Noites Tropicais” sobre a música brasileira e seus protagonistas que ele conheceu de perto, e dois deliciosos policiais, “o Canto da Sereia” e "Bandidos e Mocinhas”. Gosto da sua maneira de escrever, da forma como cativa o leitor. E quando soube que ele, aos 76 anos, escreveu uma auto-biografia, não resisti a procurá-la - na Livraria Travessa (Rua da Escola Politécnica 46). Só o nome do livro é um episódio: “De Cu Para a Lua - Dramas, Comédias e mistérios de um rapaz de sorte”. Nelson Motta escreve a biografia na terceira pessoa, como se estivesse a relatar a vida de alguém que não ele. O seu roteiro de uma vida cheia está aqui - com a música e o jornalismo sempre em primeiro plano, com as suas relações familiares, as suas paixões, a protecção da mãe, o incentivo do pai, o apoio de amigos. É uma história fascinante, que tem passagens por Portugal - com colaborações com Domingos Folque Guimarães, Ana Moura, António Zambujo ou Cuca Roseta, por exemplo. Nelsinho, como ele é conhecido, retrata assim os tempos em que a sua geração foi vivendo:”na juventude, ganharam a pílula anticoncepcional; na maturidade, o Viagra; e na velhice, o Google: liberdade, potência e memória.”
BLUES & JAZZ - A cantora portuguesa de jazz Maria João junta-se de novo ao grupo The Budda Power Blues, depois de colaboração-estreia em 2017. O segundo volume de The Blues Experience tem as participações de Maria João na voz, Budda Guedes na voz, guitarras e teclados, Nico Guedes na Bateria, percussão e vozes e Carl Minnemann no baixo. João Andresen tem uma colaboração especial na harmónica que se ouve em “You Gotta Let Me Loose”. São onze temas produzidos por Budda Guedes, com “Missing You” como cartão de visita, o tema escolhido para o vídeo promocional e um exemplo da força dos duetos entre Maria João e Budda Guedes, baseado no acentuado contraste das vozes. The Buddha Guedes Blues, criado em 2004, com dez álbuns no activo, é hoje considerada a melhor banda portuguesa deste género musical e o cruzamento destes músicos com a tradição de jazz de Maria João tem uma sonoridade surpreendente. Além dos já citados “Missing You” e “You Gotta Let Me Loose”, os meus outros temas preferidos são "Nothing's Too High”, “Stop Praying” e “Building My Own Legacy”. O desempenho dos músicos em todo o disco é extraordinário e permito-me destacar a guitarra de Budda Guedes. Disponível nas plataformas de streaming.
OMELETE RAPIDINHA - Quando não sei bem o que hei-de cozinhar pego num livro que comprei há uns anos, “The Family Meal” e que tem as receitas dos pratos cozinhados para o pessoal que trabalhava com Ferran Adriá no seu restaurante el Bulli, com receitas do próprio. Como sou perdido por omeletes, aqui vai a receita de Adriá para uma omelete de batatas fritas. Muito simples, para duas pessoas: três ovos frescos, bem batidos, e uma mão cheia de batatas fritas de boa qualidade; deixe ficar as batatas a amolecer nos ovos durante um minuto mais ou menos - não adicione sal. Coloque duas colheres de sopa de azeite numa frigideira anti-aderente de 25 cm de diâmetro, deite a mistura por cima quando já estiver quente e com uma espátula de borracha vá despegando os ovos dos lados da frigideira. Deixe estar um minuto em lume médio, tape com um prato e com cuidado vire a frigideira ao contrário, para a omelete ficar no prato. Volte a colocar azeite na frigideira, deixe escorrer os ovos de novo para a frigideira, com a parte mais cozinhada para cima. Espere mais 30 segundos, tire do lume e sirva - a omelete não é enrolada, vai plana e deve ficar fina. Sirva com uma salada ou simples.
DIXIT - “O mais importante é que a aplicação de fundos (do PRR) seja para transformar a base produtiva do país e transformar o Estado” - Vasco de Mello
BACK TO BASICS - Os historiadores são como as pessoas surdas que vão respondendo a perguntas que ninguém lhes colocou - Leo Tolstoy
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