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GOVERNO VENDE AS CARAVELAS DE COSTA

por falcao, em 06.10.23

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AFECTIVIDADES - Na semana passada meio país andou a falar sobre a privatização da TAP, uns a favor, outros contra, outros ainda na típica posição de “vamos ver”. E não faltou quem aparecesse a criticar a privatização em nome da afetividade à companhia. Pois eu, que às vezes tenho que voar na TAP, tenho cada vez menos afetividade por ela e isso é basicamente porque a TAP não mostra nenhuma afetividade para com os passageiros. Já nem falo dos atrasos, mas falo da forma como os passageiros são tratados, tantas vezes sem manga à saída ou chegada a Lisboa e com um serviço de bordo no mínimo pouco simpático. Mesmo quando achávamos que a coisa não podia piorar, eis o que me aconteceu num recente voo de Valência para Lisboa, ao que parece operado por uma tripulação búlgara num avião com as cores da TAP. Para além do costumeiro atraso este vôo teve uma particularidade: nenhum dos membros da tripulação dirigiu palavra aos passageiros. Passeavam, mudos e vigorosos, no corredor, a ver se os cintos estavam apertados. Não surgiu nem um copo de água - que teria sido bem vindo depois de todo o atraso. Cereja no topo do bolo: o comandante não dirigiu uma única palavra tão pouco, não pediu desculpas pelo atraso, não falou durante todo o voo, nem na aproximação a Lisboa, com as habituais informações que se dão nestas circunstâncias. Foi um vôo sui generis, o preço do bilhete não foi nada barato mas a TAP comportou-se pior que uma low cost. Assim sendo, a minha afetividade pela companhia é nula. António Costa nacionalizou a TAP com juras de amor eterno e até a comparou às caravelas portuguesas que partiram a descobrir mundo. Agora já está disposto a vendê-la até na totalidade, se necessário fôr. É mais uma manifestação da sua incoerência e da sua habilidade no ilusionismo político. Nada de novo, portanto.

 

SEMANADA - Os pedidos para bolsas de estudo no ensino superior já totalizam 90 mil, mais dez mil que no ano passado; o consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens está a aumentar desde 2015 e quase 40% dos jovens de 18 anos admitem terem-se embriagado severamente no último ano pelo menos uma vez; apenas 60% dos alunos inscritos concluem os cursos de mestrado; no âmbito de investigações sobre  corrupção há 29 inspecções a decorrer no Ministério da Defesa;  este ano já foram abertos 220 processos crime a lares por “condições indignas e cruéis de tratamento” de idosos e por propriação indevida dos seus bens; a esperança de vida em Portugal dos homens é 78,05 anos e a das mulheres é 82, 52 anos; entre Janeiro e Outubro reformaram-se 705 médicos do Serviço Nacional de Saúde e espera-se a reforma de mais uma centena até final do ano; segundo a Ordem dos Médios há duas dezenas e meia de hospitais sem meios para tratar os doentes em áreas como a medicina interna, pediatria, cuidados intensivos, ginecologia, obstetrícia e cardiologia; a recusa de médicos a mais horas extra fechou as urgências em seis hospitais; em 2021 74% da população portuguesa dizia-se satisfeita com o SNS mas esse valor desceu agora para 53% e três em cada cinco pessoas afirmam ter reduzido os gastos com a saúde por razões económicas; a avaliação bancária na habitação teve uma subida de 8,8% no período de um ano, fixando-se em agosto nos 1538 euros por metro quadrado; os novos radares quadruplicaram as multas por excesso de velocidade em apenas um mês.

 

O ARCO DA VELHA - Em vésperas do início do debate sobre o Orçamento de Estado constata-se que a maioria dos estudos, grupos de trabalho e avaliações propostos pelos partidos da oposição na sequência da discussão do anterior orçamento não saíram do papel e não se efectuaram.

 

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O ENCANTO DA PINTURA - A pintura ocupa um lugar à parte nos meus gostos pessoais em matéria de artes plásticas. Está a par com a fotografia e, ambas, um pouco acima da escultura. Entre estes três mundos - pintura, fotografia e escultura - podia bem passar os meus dias a lavar a vista e a estimular o pensamento. Vem isto a propósito do trabalho que Pedro Cabrita Reis apresentou na passada semana em Lisboa, na Galeria Miguel Nabinho (Rua Tenente Ferreira Durão 18). É um conjunto de oito quadros com o título comum “Flores”, pintados em 2020 os mais pequenos e em 2023 os de maiores dimensões. Para Pedro Cabrita Reis “estas flores são francamente flores, não são flores disfarçadas, digamos, nem de arte abstrata nem conceptual”. O artista confessa a sua admiração pela pintura de Giorgio Morandi (1890-1964) e admite a sua influência: “A Morandi vou buscar os vasos das plantas e, a mim próprio, estas flores impossíveis que não existem.”,   Na imagem está “Flower Pot 6”, uma das oito pinturas da exposição , cujos preços oscilam entre os 150.000 euros e os 25.000 e que ficarão expostas até 25 de Novembro. Um dia antes da inauguração de Lisboa, Pedro Cabrita Reis esteve em Londres para a inauguração da sua exposição “insomnia” numa das mais prestigiadas galerias locais, a Sprovieri, onde apresenta cinco obras até 24 de Novembro. No texto que escreveu para esta exposição londrina, João Pinharanda recorda a importância das referências à história da arte na obra do artista e sublinha: “Insomnia” é um programa ideológico: refere o estado de permanente vigilância em que Pedro Cabrita Reis se encontra, revela-nos como ele dá continuidade discursiva à corrente de testemunhos culturais que nos definem transformado-os em obra pessoal — através dessa obra o artista refere-se ao mundo e a si mesmo mantendo-nos despertos para a realidade“.

 

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O ESPÍRITO DO TEMPO - The Legendary Tigerman, aliás Paulo Furtado, tem um novo disco que é uma surpresa irresistível. O disco chama-se “Zeitgeist” e vai buscar o seu nome a um termo alemão cuja tradução significa "espírito do tempo". O zeitgeist é, no fundo,  um conceito que abarca o clima intelectual, sociológico e cultural de uma certa época da história, ou as características de um determinado período de tempo. E é isso mesmo que este disco faz. Longe vão os tempos em que The Legendary Tigerman era um one man band com sonoridades tradicionais. “Zeitgeist” é o resultado de um trabalho de composição que demorou o seu tempo, um tempo de recolhimento, de pesquisa, de ensaio de sonoridades. A electrónica é aqui dominante, a par com um conjunto de vozes marcantes que dão outra consistência ao projecto, sem abafar a composição e o experimentalismo sonoro que ele tem. Há em “Zeitgeist” uma síntese entre a música e a palavra num território que The Legendary Tigerman desbravou em dez temas ao lado de nomes como Ana Prior, Sean Riley, Ray, Ed Rocha Gonçalves, Asia Argento, Jehnny Beth, Delila Paz, Best Youth, Catarina Salinas, Calcutá ou Sarah Rebecca,. É o testemunho de uma geração que não faz música óbvia, que trabalha para além das canções como se estivesse a fazer uma banda sonora do mundo que nos rodeia agora, uma geração de músicos que aposta na diferença e criatividade. Num universo musical estagnado onde quase tudo é corriqueiro, este disco faz a diferença e volta a mostrar o talento e a solidez de Paulo Furtado. Disponível nas plataformas de streaming.

 

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UM LIVRO POLÉMICO - Michel Houellebecq, uma das estrelas da actual literatura francesa, é também um dos seus mais controversos escritores. Colecciona prémios, entre os quais o Goncourt, com o romance “ O Mapa E O Território”. Boa parte da sua obra está publicada em Portugal e agora surge o seu mais recente e polémico livro: "Alguns meses na minha vida, outubro de 2022 a março de 2023". Em circunstâncias ainda hoje em dia confusas, Houellebecq assinou contrato com um realizador holandês, Stefan Ruitenbeek, para protagonizar um filme pornográfico. Houellebecq conta que desejava fazer videos pornográficos com a sua mulher e reconhece que para o fazer “a única solução realmente eficaz consiste no recurso a uma terceira pessoa”. O resultado foi o filme “Kirac 27”. O escritor afirma que tinha dito não querer ser reconhecível no filme e o realizador, ele próprio também uma figura polémica, garante que não foi isso o acordado. O resultado de toda esta polémica é este "Alguns meses na minha vida, outubro de 2022 a março de 2023"”, que relata a visão do escritor sobre a sua participação em “Kirac 27”. Ao longo de cerca de 120 páginas, fala sobre esta sua experiência de forma confessional e até inesperada, neste tempo em que proliferam os caçadores de bruxas. Pelo meio, Houellebecq processou o realizador, e o filme, que tinha distribuição em streaming, foi retirado. "Pela primeira vez na minha vida, senti-me tratado, absolutamente, como o tema de um documentário sobre a vida selvagem; é difícil para mim esquecer aquele momento" - escreveu Houellebecq na contracapa do livro. O editor português do livro, Manuel S. Fonseca, sublinha: “o meu desejo por este livro vem da candura, inocência e franqueza com que o autor o escreve”. Edição Guerra & Paz.

 

SIGA A MARINHA - É nos restaurantes mais simples que por vezes surgem as melhores surpresas. Foi o que me aconteceu numa das estivais noites deste início de Outono na Praça da Armada. Não se apoquentam que não foi no restaurante com o mesmo nome do local, mas sim num outro, bem mais simpático. Falo do Zanzibar, situado numa das extremidades do largo. A sala é confortável e a esplanada é agradável nestas noites. A simpatia e eficácia do serviço está a par com a qualidade da comida. Na circunstância a escolha recaiu num rosbife, que pedi sem o molho que podia acompanhar, pedindo para o substituir por mostarda. Assim aconteceu, o rosbife estava no ponto, fatiado fino e em boa quantidade. Veio acompanhado por batatas fritas bem fritas, aos palitos, estaladiças. Do outro lado da mesa a opção foi filetes de peixe galo com arroz de berbigão e um toque de tomate. Os filetes estavam impecáveis, o arroz guloso e sem estar a afogar-se em malandrice. Para quem gosta, a casa tem frequentemente ovos verdes e peixinhos da horta cuja prova ficou guardada para próxima oportunidade. O restaurante aposta na comida tradicional portuguesa e desde a língua estufada à alheira, passando por rabo de boi ou moelas e croquetes, há várias opções. Os preços são sensatos, quer na comida quer na lista de vinhos, curta mas bem escolhida. O Zanzibar fica na Praça da Armada 36 e o telefone é o 216 050 908.

 

DIXIT - “Parece que a Europa encontra satisfação na sua vocação de parque temático e de atracção turística. A sua força é o seu passado. Não o seu futuro” - António Barreto

 

BACK TO BASICS - “Não é a mesma coisa ser-se uma boa pessoa ou ser um bom cidadão” - Aristóteles

 




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