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O PANTANOSO - Quando António Guterres se demitiu de Primeiro-Ministro, depois de uma estrondosa derrota autárquica, afirmou que se tinha criado um pântano político sob o seu Governo. Cá para mim ele deve gostar de pântanos porque acabou de criar um novo esta semana com as suas declarações sobre o ataque do Hamas a Israel. O discurso de abertura proferido por Guterres, enquanto Secretário Geral da ONU no Conselho de Segurança da organização, afirmou, preto no branco, que o ataque terrorista do Hamas e Israel a 7 de Outubro “não nasceu do nada”, associando-o à situação vivida pelos palestinianos. Ou seja procurou encontrar justificações para um massacre. Alguém acredita que o Hamas não sabia que Israel iria reagir de forma dura depois do ataque que sofreu? Este foi apenas o mais recente de tantos ataques que aconteceram ao longo dos anos, como a situação que em 1967 deu origem à Guerra dos Seis Dias ou à guerra do Yom Kippur em 1973. Israel é atacada desde o dia em que nasceu, em 1948. O Hamas é um grupo considerado terrorista por grande parte da comunidade ocidental, e, se falamos do que acontece à população civil , é bom não esquecer que desde há muitos anos o Hamas utiliza os civis palestinianos como escudo humano. Para mim é impensável justificar as atrocidades do Hamas em nome da defesa do povo palestiniano. Guterres acabou de se auto-excluir da possibilidade de ser o negociador da paz para se colocar como justificador da guerra. Teresa de Sousa escreveu numa newsletter do “Público” algo com que estou completamente de acordo: “uma certa esquerda europeia tenta apagar ou ignorar as atrocidades sem nome cometidas pelo Hamas no dia 7 de Outubro, justificando-as com a defesa do povo palestiniano, sempre contra um Ocidente democrático que nunca hesitam em culpar por todos os males existentes à face da Terra.”
SEMANADA - O número de pessoas sem abrigo aumentou 78% em quatro anos; há 1,7 milhões de portugueses em situação de pobreza, com um rendimento mensal que não chega aos 600 euros mensais; Portugal terá recebido quase 121 mil imigrantes em 2022, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o valor mais elevado dos últimos nove anos, quatro vezes mais do que o registado em 2014; os portugueses gastam 4,4 milhões de euros por dia em apostas desportivas; o investimento público em Portugal previsto no orçamento para 2024 é o terceiro mais baixo entre os países da zona euro; em 2028 a economia portuguesa não deve ir além da 11ª posição entre os 20 países da zona euro e da posição 138 entre 190 países a nível global; segundo o director da Faculdade de Economia do Porto, Óscar Afonso, ficaram por executar quase 6 mil milhões de euros do investimento público previsto para o período de 2016 a 2023, o que se traduz numa deterioração cada vez maior dos serviços públicos, com graves prejuízos para cidadãos e empresas; um em cada quatro portugueses pede a reforma antecipada, na maior parte dos casos no final do subsidio de desemprego; as previsões apontam para que nesta década se reformem cinbco mil médicos em Portugal; de 1996 a 2022 nunca a taxa de execução de investimentos na saúde chegou sequer aos 60% e em 2022 ficou apenas em 37%; metade da frota automóvel do Estado tem mais de 16 anos; os carros que são abatidos em Portugal tem em média 24 anos; as novas regras do IUC abrangem três milhões de veículos; nos primeiros seis meses deste ano o consumo de combustível para veículos foi o mais elevado desde 2010; o preço dos combustíveis já subiu 7% desde o início do ano.
O ARCO DA VELHA -Segundo a Pordata, o Estado recebeu em média 8759 euros por pessoa no ano passado em impostos e contribuições incluindo IRS, IVA, descontos para a Segurança Social e demais impostos e contribuições sociais.
PARA ALÉM DO PUNK - Michael Grecco é um fotógrafo norte-americano que entre o final dos anos 70 e o início dos anos 90 acompanhou o nascimento do punk e as alterações e ramificações que foi tendo no campo da música. Registou imagens dos Clash, Johnny Rotten (dos Sex Pistols), Ramones (na fotografia aqui reproduzida), Wendy O. (dos Plasmatics), Dead Kennedys, Siouxsie and the Banshees, Adam Ant, Billy Idol, lene Lovich, David Byrne (dos Talking Heads) ou Aimee Mann, entre muitos outros. São mais de uma centena de fotografias do universo rock , feitas em Nova Iorque e Boston. A exposição “Days Of Punk” é uma iniciativa da Fundação D. Luís e estará patente até 28 de Janeiro no Centro Cultural de Cascais,. Para além das fotografias a exposição inclui ainda objectos da colecção pessoal de Grecco além de uma componente de vídeo com imagem de arquivo também captadas por Grecco e que inclui alguns depoimentos de músicos e outros personagens da cena musical da época. Michael Grecco é o autor do livro “Punk, Post Punk, New Wave: Onstage, Backstage, In Your Face 1978-1991”, que agrupa as imagens expostas e que está à venda na loja do Centro Cultural de Cascais. Outro destaque da semana vai para “Zonas de Transição”, que reúne 150 obras da colecção da sociedade de advogados PLMJ, iniciada em 2001 e que é já um dos mais importantes acervos de arte contemporânea, abrangendo 40 anos de produção de artistística do universo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa e mais de mil obras. A seleção apresentada nesta exposição integra 90 artistas de gerações diferentes, de diversos países, de núcleos da coleção que incluem pintura, desenho, livro de artista, escultura, instalação, fotografia e vídeo. Comissariada por João Silvério, que é o curador actual da colecção, co-organizada com a EGEAC, “Zonas de Transição” fica até 7 de Janeiro no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional. Termino sugerindo uma visita à Sociedade Nacional de Belas Artes, onde de 25 a 29 decorre a sexta edição da Drawing Room Lisboa, uma feira de arte dedicada ao desenho contemporâneo e que conta com obras de 65 artistas, apresentadas por 23 galerias.
O REGRESSO DO ROCK - Se me dissessem nos anos 70 que, quase a meio da segunda década do século XXI, os Rolling Stones gravariam um novo disco de originais acharia que alguém estava a delirar. Mas a verdade é que 61 anos depois de terem começado a sua carreira em Londres, os Rolling Stones continuam vivos a fazer rock e já venderam mais de 200 milhões de discos ao longo da sua carreira. Mick Jagger tem 80 anos, Keith Richards 79 e Ron Wood 76. O quarto Rolling Stone, o baterista Charlie Watts, morreu em 2021 e Steve Jordan, cuja colaboração com os Stones já vem de longe, tem sido o seu substituto. É neste cenário que nasce “Hackney Diamonds”, o primeiro disco de gravações originais dos Stones em 18 anos. E desta vez trouxeram convidados como Lady Gaga, Stevie Wonder, Paul McCartney, Elton John e também o regresso de Bill Wyman à banda, três décadas depois de ter saído. São 12 temas, 50 minutos de música. Várias publicações da área musical não hesitam em dizer que “Hackney Diamonds” é o melhor disco dos Stones desde “Some Girls”, de 1978. É muito engraçado perceber que a colaboração de Paul McCartney surge em “Bite My Head Off”, uma enérgica canção rock em que o ex - Beatle toca baixo. O disco começou a ser preparado em 2020, foi interrompido pela pandemia e retomado em 2022, tendo as gravações decorrido até Janeiro de 2023. Foram gravados 23 temas , o que deixa a possibilidade de os 11 temas não incluídos em “Hackney Diamond” ainda serem utilizados num futuro disco. A derradeira faixa do álbum é a única que não foi escrita pelos Stones, trata-se de um original de Muddy Waters, “Rolling Stones Blues”, que, reza a lenda, esteve na origem da relação entre Jagger e Richards e o nascimento do grupo. É também uma homenagem a Charlie Watts, o baterista que cruzava o rock, os blues e o jazz e que Jagger tem evocado constantemente desde a sua morte. O mais curioso de “Hackney Diamonds” é o facto de ser um disco puramente de rock and roll, contemporâneo na produção de Andrew Watt, sem ser revivalista, mas mantendo vivas as origens e a tradição musical da banda. Mais interessante ainda é a qualidade das canções, num equilíbrio entre ritmo, energia e serenidade. Muitos serão os cépticos, mas não custa nada pegarem numa das plataformas de streaming e ouvirem este “Hackney Diamonds” e, depois , tirarem as próprias conclusões. Eu, por mim, sou dos que considera que há muito tempo os Rolling Stones não faziam um disco tão bom.
PARA NÃO ESQUECER A HISTÓRIA - Nestes tempos de revisionismo histórico e de querer confundir o que foi o progresso e a descoberta com perseguição e destruição, vale a pena regressar a uma das mais importantes obras da literatura portuguesa: “Peregrinação”, de Fernando Mendes Pinto. Considerado por nomes como António José Saraiva e Óscar Lopes como “o maior tesouro imaginário da literatura portuguesa”, este livro é uma aventura por mares nunca dantes navegados. "Peregrinação" é, um dos grandes clássicos da literatura de viagens. Editada originalmente em 1614, tornou-se logo num sucesso editorial e, ainda hoje, é um dos livros portugueses mais traduzidos no mundo. Só no século XVII, terão circulado pela Europa, em diversos idiomas, dezanove edições. Este é também um documento histórico para se conhecer a vida e os costumes dos povos orientais no século XVI, bem como os meandros da presença portuguesa na Ásia, descrita sem condescendências por Fernão Mendes Pinto. A presente edição da Assírio & Alvim, celebra os 480 anos da chegada dos portugueses ao Japão e tem introdução, fixação do texto e notas de Sérgio Guimarães de Sousa. O autor de “Peregrinação”, Fernão Mendes Pinto nasceu em Montemor-o-Velho, em data incerta entre 1509 e 1514, e faleceu perto de Almada a 8 de julho de 1583. Tinha um forte espírito aventureiro que em 1537 o levou a embarcar numa armada composta por cinco naus e capitaneada por D. Pedro da Silva, rumo à Índia. Foi assim que começaram as suas aventuras, cheias de de peripécias, por geografias diversas. Ao longo dessa viagem foi um pouco de tudo: soldado, escravo, corsário, etnólogo à medida do seu tempo e até diplomata. Regressou definitivamente a Portugal em setembro de 1558 e, na década de 60, estabeleceu-se numa quinta em Almada, onde redigiu as suas memórias sob o título Peregrinação, publicadas postumamente.
DIXIT - “Um sistema com círculos uninominais de candidaturas e um círculo nacional de compensação iria ajudar a diminuir a abstenção” - Eduardo Ferro Rodrigues sobre a revisão do sistema eleitoral.
BACK TO BASICS - “A arte é um resumo da natureza feito pela imaginação” - Eça de Queiroz
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