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ESQUINA 874 - 6 MAIO 2022

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OS RUSSOS DE SETÚBAL  - O caso do acolhimento de refugiados ucranianos por activistas russos pró Putin na Câmara de Setúbal evidencia que ainda há quem considere  haver legitimidade para os russos controlarem os ucranianos, como se a Rússia tivesse ainda direitos e autoridade sobre a Ucrânia. Esta é a realidade: para a Câmara de Setúbal,  dominada pelo PCP, é natural que sejam servidores russos a organizar refugiados fugidos de um país que a Rússia reivindica como seu. O desejo de reconstituição do império soviético sobrepõe-se ao bom senso. Muita gente ainda encara como natural que membros destacados e influentes da Federação Russa, como Igor Khashin,  possam representar cidadãos de países que se libertaram do regime soviético e se tornaram independentes. Vai-se sabendo que o caso de Setúbal, gritante pelos dislates cometidos, é uma gota de água no oceano. Já nem vou buscar o triste episódio das denúncias da Câmara de Lisboa, na altura  dirigida por Fernando Medina, que passou nomes de opositores a Putin para a embaixada da Federação Russa. Mas recordo que o Alto Comissariado para as Migrações incluía em 2021, entre as associações que podem representar a comunidade ucraniana em Portugal, a Associação dos Imigrantes dos Países de Leste (EDINSTVO), dirigida por Igor Khashin que se gaba das suas boas relações com o Kremlin e com a embaixada da Federação Russa em Portugal. A associação Edinstvo, responsável pelo acolhimento de refugiados ucranianos em Setúbal, está envolvida numa outra polémica. Durante, pelo menos, cinco anos terá tido acesso à base de dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) através de um protocolo assinado com o Governo português. O que a Câmara de Setúbal fez resume-se a isto: vêm de Leste? Fogem da Operação Militar Especial? Queixam-se de terem sido invadidos? - então os camaradas do Kremlin têm que saber quem são, de onde vêm e o que fazem. Este é o triste raciocínio. E não é falta de bom senso ou ignorância. É apenas subserviência face a ditadores como Putin. Bem podem dar loas a Abril, mas na prática desconhecem o significado de Liberdade.

 

SEMANADA - No primeiro trimestre do ano foram controlados em Portugal 156 500 vôos, um aumento de 208% em comparação com o mesmo período do ano passado; 6057 pessoas morreram afogadas em Portugal nas últimas três décadas, das quais 38% tinham mais de 65 anos; as mulheres representam 7% do total de reclusos nas prisões portuguesas; mais de 2500 médicos e enfermeiros saíram do SNS nos anos da pandemia; só no ano passado emigraram 88 médicos, a maioria para países nórdicos; há mais utentes do SNS sem médico de família hoje do que quando o Governo tomou posse em 2015; só 11% das autarquias assumiram competências na área da saúde; a manterem-se os planos actuais a península de Tróia vai ter mais de 15 mil camas turísticas e residenciais; no primeiro trimestre do ano o fisco arrecadou por dia 123 milhões de euros em impostos; as tentativas de fraude informática aumentaram nove vezes em 2021; entre os 30 maiores beneficiários de fundos europeus relativos ao quadro comunitário do Portugal 2020 há 28 públicos e apenas dois privados; o programa Chave na Mão, que se destinava a incentivar e dar facilidades de alojamento a quem se mudasse do Litoral para um dos 165 concelhos de baixa densidade populacional, teve zero adesões; a idade média dos membros do novo Conselho de Estado é de 72 anos; Costa dixit: “Sócrates aldrabou-nos”.

 

O ARCO DA VELHA - A Entidade fiscalizadora do Segredo de Estado continua a funcionar em instalações sem condições de segurança física nem capacidade para informatizar os segredos de Estado, com apenas dois membros, e sem assessor jurídico.

 

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CLÁSSICOS REVISITADOS - Uma das exposições incontornáveis que neste momento podem ver em Lisboa está no Atelier Museu Júlio Pomar. Sob o título “Pintura de Histórias” a exposição tem 40 obras, maioritariamente pinturas, e mostra a forma como Júlio Pomar, desde a década de 80, deu mais atenção aos temas literários e trabalhou na exploração de histórias e figuras da mitologia clássica,  que fazem parte do património universal. Neste conjunto de trabalhos Pomar conseguiu com a sua pintura transformar as grandes histórias da humanidade em versões próprias, onde a visão das personagens se faz de acordo com a sua criatividade, com um forte cunho pessoal, com humor e irreverência. Com curadoria de Alexandre Pomar e Sara Antónia Matos, a exposição ficará patente no Atelier Museu até 2 de Outubro - Rua do Vale 7, Lisboa, de terça a domingo, entre as 10 e as 18. (Na imagem uma das obras fotografada por António Jorge Silva). A norte há também uma reinterpretação da antiguidade clássica -  Ana Jotta apresenta de novo em  Serralves as onze máscaras que fez no início deste século sob o título colectivo  “Mirmidão da Tragédia”. Estas onze peças são a interpretação que Ana Jotta fez de máscaras usadas na tragédia grega - os mirmidões foram soldados tessálicos que acompanharam Aquiles à Guerra de Tróia. As máscaras de Mirmidão da Tragédia tinham já sido mostradas em Serralves em 2005 na exposição retrospectiva “Rua Ana Jotta” e a nova exposição pode ser vista até 25 de Setembro. E para terminar, regresso a Lisboa, ao Museu Natural de História Natural e da Ciência onde Jorge Barreto Xavier expõe até 31 de Julho “Alice”, um ensaio fotográfico que se debruça sobre a pele, esse envelope do corpo.

 

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UMA AVENTURA NO MUNDO DO XADREZ - A “Diagonal Alekhine” é um daqueles livros que não se larga quando se começa a ler. A história começa a meio do Atlântico, no paquete Miracle, em 1940, quando Alexandre Alexandrovitch Alekhine, campeão do mundo de xadrez na época, vinha de Buenos Aires para Lisboa. Toda a história se baseia nos últimos anos de vida de Alekhine, nascido em Moscovo em 1892, falecido no Estoril em 1946, e que teve o título de campeão mundial de xadrez durante 17 anos. Conhecido pela sua forma de jogar agressiva, privilegiando o ataque, Alekhine, venceu o seu primeiro torneio aos 17 anos em São Petersburgo e ao longo da sua vida desenvolveu várias aberturas e jogadas que ficaram como referências do xadrez. A 24 de Março de 1946, numa manhã de domingo, Alekhine, foi encontrado morto no quarto 43 do Hotel do Parque, no Estoril, junto a um tabuleiro de xadrez com as peças na posição inicial. Tinha 53 anos e a sua morte continua ainda envolvida em mistério. Tinha uma personalidade irascível, fez muitos inimigos. “A Diagonal Alekhine,”, um livro agora editado relata os seus últimos dias e foca-se nos sete derradeiros anos da sua vida, não esquecendo as polémicas em que se envolveu e a sua rivalidade com outro mestre do Xadrez, o cubano Capablanca. Não é uma biografia, é uma aventura que segue a vida de um aventureiro. O seu autor, Arthur Larrue, professor de literatura francesa, expulso há poucos anos da Rússia pelas suas relações com intelectuais dissidentes, vive actualmente em Lisboa. O romance decorre com a intensidade de uma disputada partida de xadrez, joga a jogada, com todos os ingredientes de uma personagem consagrada pelo czar, perseguida por Estaline, chantageada por Goebbels e odiada por muitos praticantes do jogo. Uma leitura apaixonante. Edição Quetzal, tradução de Antonio Sabler.

 

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BLUES CLÁSSICOS  - Se gostam de blues, corram a descobrir este disco onde se reúnem dois grandes nomes da música da América, Taj Mahal e Ry Cooder, juntos numa homenagem a dois grandes bluesmen, Sonny Terry e Brownie McGhee. Há mais de 50 anos que Mahal e Cooder não gravavam juntos - em 1968 Ry Cooder foi o guitarrista convidado para o álbum de estreia de Taj Mahal. Apesar da amizade entre os dois e das numerosas colaborações que tiveram ao longo dos anos, só voltaram a encontrar-se num estúdio em 2021, com o objectivo confesso de homenagearem as duas figuras históricas dos blues que são uma referência incontornável para eles. Em “Get on Board: The Songs of Sonny Terry & Brownie McGhee” , Taj Mahal e Ry Cooder gravaram onze temas, repescados de discos e de gravações de actuações de Terry, na harmónica , e McGhee, na guitarra, Neste disco coube a Mahal a harmónica, a guitarra e o piano, e Cooder ficou com a guitarra e o banjo. O filho de Ry, Joachim Cooder, assegurou o baixo e a percussão. Ao longo das 11 canções que compõem o álbum é evidente o prazer e a alegria de Mahal e Cooder em fazerem as suas versões destes temas que conhecem desde a adolescência. Aqui podemos revisitar clássicos de blues como “Midnight Special”, “Deep Sea River”, “Pawn Shop Blues”, “I Shall Not Be Moved” ou ainda os deliciosos “My Baby Done Changed the Lock on the Door” ou “Drinkin’ Wine Spo-Dee-O-Dee”. Irresistível - e disponível nas plataformas de streaming.

 

PETISCO ALEMÃO - Meia dúzia de mesas no interior, uma no passeio, ao ar livre. Uma cozinha pequena onde um cozinheiro alemão, Ralf, confecciona todos os dias petiscos da sua terra, com respeito pela tradição. E na pequena sala, sempre atenta, Josiany explica o que esperar dos pratos com nomes germânicos e avança umas sugestões.  É o “Bistro Café do Alemão”, abre cedo para os pequenos almoços e depois começa a preparar o menu do almoço, que vai variando todos os dias. Ralph confecciona os seus próprios doces e salgados e ainda os diversos petiscos da refeição principal. No menu todos os dias há uma das variedades das deliciosas salsichas alemãs, com diversos acompanhamentos, desde puré de batata até cebola caramelizada, couve lombarda, ou couve roxa salteada. Nalguns dias da semana há o tradicional schnitzel, os escalopes de lombo de porco finos e bem fritos,  com batatas fritas ou batatas salteadas. Todos os dias há uma opção vegetariana, além das sopas, cremosas, de legumes, e das saladas que podem ser um prato principal. Nas sobremesas há um bolo de queijo alemão, um Apfeltaschen (massa folhada com recheio de maçã) ou um Creme de Canela com Ameixas em calda de Vinho Tinto. Há uma boa escolha de cervejas alemãs, a casa aceita encomendas para take away e encerra todos os dias às 16h30. Este é um daqueles sítios meio escondidos, com qualidade mas despretensiosos, que vale a pena conhecer. O “Bistro Café do Alemão” fica na Rua Artilharia Um, nº 98A e tem o telefone 211 347 808.

 

DIXIT - “Tenho grandes dúvidas sobre a importância de uma regionalização nesta altura. Entendo que há que mobilizar o país e não dividi-lo” - Ramalho Eanes

 

BACK TO BASICS - “Se o crime não compensasse, não havia criminosos” - G. Gordon Liddy

 




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