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CRESCIMENTOS - Nisto dos impostos não há santos - há gaspares, há centenos, muda o nome mas os aumentos continuam sempre. E porque continuam? Porque, por melhores que sejam as intenções do LABX e de Maria Manuel Leitão Marques, o Estado age como um parasita voraz que se alimenta do que está à sua volta. Não se reforma porque nenhum dos partidos da bipolarização, PS e PSD, tem coragem para diminuir os custos de uma máquina mastodôntica, tão numerosa que os votos dos seus funcionários são decisivos para quem quiser alcançar o poder. Com gastos e mais gastos a solução é cobrar mais e mais, cobrar sempre mais impostos, taxas, inventar todas as formas possíveis para captar mais receitas. De um lado do parlamento tapa-se o olho esquerdo na altura de governar, do outro tapa-se o olho direito. Daqui resulta um pingue-pongue de anulação de medidas na altura da alternância de poder, modificações cujos custos são igualmente penosos. O mais dramático de tudo é que este estado de coisas conduz a que, para disfarçar as contas, o Estado vai atrasando pagamentos, deixa faltar material nos hospitais, pessoas na educação e reparações e manutenção nos transportes. Quem governa o Estado com base no aumento da despesa - como acontece actualmente - está a ser o coveiro das áreas onde o Estado efectivamente faz falta. Estamos naquele momento triste em que em vez de discutir como fazer crescer a economia se discute como fazer crescer os impostos. Quando a coisa chega a este ponto é muito mau sinal.
SEMANADA - O número de portugueses que lêem notícias em meios online já ultrapassa os cinco milhões; segundo o Bareme Internet, da Marktest, 94% dos internautas nacionais já usa a Internet para aceder a serviços de informação, havendo 90% que o faz para ler notícias, 75% para ver vídeos online e 30% para consultar blogues; um estudo da Anacom revela que apenas 17,6% das residências portuguesas utilizam em exclusivo a TDT para ver televisão; entre o último Censo (2011) e 2015 as estimativas do INE apontam para uma diminuição de 220 848 indivíduos em Portugal; actualmente, 14.1% da população tem menos de 15 anos, 10.7% tem entre 15 e 24 anos, 54.5% tem entre 25 e 64 anos e 20.7% tem 65 ou mais anos; este grupo de população mais idosa foi também aquele que viu o seu peso aumentar mais nos últimos anos, passando de 13.6% em 1991 para os 20.7% agora registados, um acréscimo de 798 mil indivíduos nesta faixa etária; o número de eleitores registados em Lisboa caíu 11,5% entre 2002 e 2015; o PCP chamou a atenção do Ministro da tutela sobre o caos nos transportes de Lisboa e criticou “a acelerada degradação das empresas de transportes”; para memória futura: Câmara de Lisboa espera “um aumento da eficiência e da qualidade” do serviço depois da municipalização da Carris; no Parlamento o Ministro do Ambiente, Matos Fernandes, que tutela os transportes, falando sobre a falha recente de fornecimento de bilhetes em Lisboa, disse que foi um “azar”.
ARCO DA VELHA - Por mais que custe a crer o novo livro de José Sócrates tem por título “O Dom Profano - Considerações sobre o Carisma”. Deverá ser publicado no fim do mês.
FOLHEAR - A “Elsewhere” é uma pequena publicação, editada duas vezes por ano, a partir de Berlim, que se insere na linha das novas revistas de nicho, com enorme cuidado gráfico e que partem de ideias editoriais invulgares. “Elsewhere, A Journal Of Place”, assim se chama a revista, apresenta-se como uma publicação “dedicada à escrita e às artes visuais que explora a ideia do lugar em todas as suas formas, quer sejam cidades, bairros, aldeias, ilhas, as comunidades que lá existem, o mundo como o vemos ou as paisagens que imaginamos” . Seria abusivo dizer-se que a Elsewhere é uma publicação de viagens - e acho mais correcto apresentá-la como um lugar onde se revelam as sensações que as descobertas realizadas em viagem nos proporcionam. Cada número tem um tema central - neste, o quarto volume, o tema é a cartografia. E, depois, há ideias sobre Londres, Praga, e pequenos locais na Moldávia, Austrália, Hawai, Gales e na nossa Madeira. - no caso os faróis da Madeira, a começar pelo da Ponta do Pargo. As ilustrações são o prato forte da parte gráfica, mas em cada número existe também um portfolio fotográfico. Se quiserem saber mais visitem www.elsewhere-journal.com .
VER - Noé Sendas não esconde a influência do surrealismo nas suas obras, na concepção das fotografias que encena e manipula e, posteriormente, na forma como as expõe, não apenas numa apresentação, mas numa instalação que quer dialogar com o espaço e as pessoas que forem ver os seus trabalhos. Este cuidado colocado na conceptualização da exposição (na imagem) é muito patente em “Significant Others”, que está na Galeria Carlos Carvalho (Rua Joly Braga Santos, à Estrada da Luz). O próprio autor, em entrevista recente, sublinhou que “esta exposição não é uma exposição de fotografia, mas sim um Set, um carrocel, uma instalação de pequenas esculturas 3D” . Nestes trabalhos é impossível não notar as referências a Man Ray. Nascido na Bélgica, com ligações a Portugal, e a viver preponderantemente em Berlim, Noé Sendas fotografa recorrentemente a sua própria imaginação e a imagem que idealiza dos corpos. Outras sugestões: no Museu Gulbenkian a exposição “Luanda, Los Angeles, Lisboa”, de um dos mais importantes artistas angolanos, e que tem um belíssimo catálogo; e na Chiado 8 mais uma apresentação de trabalhos da Colecção Cachola, desta vez obras de Rui Chafes e Carla Filipe.
OUVIR - O mais recente trabalho de Rodrigo Leão é feito em parceria com o australiano Scott Matthew, chama-se “Life Is Long” e o resultado é muito bom. Matthew, que reside nos Estados Unidos, tem uma carreira começada em 2001, passou por várias bandas e em 2008 começou uma carreira a solo. As 13 canções do disco resultam de uma colaboração entre Rodrigo Leão, que compôs e tocou, e Scott Matthew, que escreveu as letras, desenhou as melodias e cantou. Os dois já tinham feito trabalhos em conjunto desde 2011, duas canções, e a voz grave, serena e melancólica de Scott Matthew parece feita como uma luva para as composições de Rodrigo Leão - o single “That’s Life” é uma boa prova disso mesmo. Rezam as lendas que era Scott ainda adolescente na sua Austrália quando lhe chegou às mãos uma cassette com o tema “O Pastor”, do álbum Existir, dos Madredeus, editado em 1992, e no qual participava ainda Rodrigo Leão. A canção ficou-lhe no ouvido embora não entendesse uma palavra. Muitos anos mais tarde, em 2006, Rodrigo Leão descobriu Matthew nas cinco canções que ele fez para a banda sonora do filme Shortbus, de John Cameron Mitchell. Uns tempos mais tarde Rodrigo Leão enviou um mail a Matthew propondo-lhe uma colaboração e foi nessa altura que o australiano soube que “O Pastor” tinha tido a mão de Rodrigo Leão. Para encurtar - os dois entenderam-se bem e esta é a terceira vez que colaboram - só que agora é num álbum inteiro, projecto de que andaram a falar uns anos. Aqui estão 13 canções pop, com arranjos orquestrais, a maioria com uma sonoridade marcante e envolvente. Leão e Matthew em breve iniciarão uma digressão em Portugal e Espanha e, no próximo ano, em vários países europeus. Life Is Long, CD Universal/Uguru.
PROVAR - Baseado em muitos conselhos fui conhecer um restaurante italiano lisboeta que entrou nas bocas do mundo neste Verão. Trata-se de L’Artusi, que se reivindica de uma nobre tradição culinária baseada nas 790 receitas compiladas por Pellegrino Artusi em “A Ciência na Cozinha e A Arte de Comer Bem”, publicado no final do século XIX. Ouvi dizer que a casa seguia e honrava o receituário, e lá fui. Foi num sábado ao almoço, a esplanada quase vazia e, lá dentro, ninguém. Face à ausência de clientes há que reconhecer que o serviço foi impecável de simpatia e disponibilidade. Depois de aperitivar um branco, obviamente italiano, em muito bom estado, seguiu-se a incursão numa das pastas da casa, tidas como um ex-libris - pastas frescas cozinhadas na hora. Escolhi maltagliati com molho rústico, já que infelizmente nesse dia não havia o de anchovas. A massa estava cozida demais e uma pequena parte mostrava sinais de ter ficado agarrada ao tacho na cozedura; o molho estava insípido e nem o pesto que se poderia adicionar salvava o assunto. A salvação, que existiu, veio do vinho, recomendado pelo italiano que governava as operações, um tinto “Piccini”. Para sobremesa um gelado de amaretto, que estava bem. A rematar a casa ofereceu um licor digestivo caseiro, feito na tradição italiana. Resumo - serviço cinco estrelas, cozinha três estrelas, bebidas quatro estrelas. Rua do Mercatudo 4, a Santos, telefone 21 396 9368.
DIXIT - ”Da mesma forma que muitos esquecem que as escolas servem para ensinar alunos e não para empregar professores, no caso dos táxis muitos esquecem-se que eles existem para transportar clientes e não para empregar taxistas” - João Miguel Tavares
BOB DYLAN E O NOBEL DE LITERATURA - Agora há-de vir aí muita teoria. Mas uma coisa é certa: desde os anos 60 para cá a poesia vive sobretudo na música popular, assim como o retrato escrito dos tempos que correm e das tensões que atravessam as sociedades.
GOSTO - Já começou a época das romãs e dos dióspiros.
NÃO GOSTO - Já começou a época de novos impostos.
BACK TO BASICS - A força de um guerreiro não se encontra no ataque, mas sim na resistência - Guilherme Vanin
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