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A BRIGADA - Esta semana soubemos que estamos salvos: António Costa tem uma equipa de choque de propaganda, constituída por 15 pessoas que estão no seu gabinete para convencerem o povo de que tudo está bem. Pouco interessa que o horizonte esteja negro, que a TAP se tenha confirmado como uma filme de terror pago pelos contribuintes a peso de ouro. Há meses que vemos o caos a crescer. Esta semana li este resumo do que se passa e não podia concordar mais: “O PS veio requalificar a ferrovia e agora não há comboios. Veio salvar o SNS e os directores das urgências demitem-se em bloco. Veio apaixonar-se pela educação e há alunos sem aulas. Veio apostar na habitação e há cada vez mais pessoas sem casa! Se o PS se lembra de querer salvar o País isto afunda de vez!”. E já nem se fala da justiça, do custo de vida, do dia-a-dia. Todos os dias há novas greves e além disso novas formas de greve, como na educação e na justiça ou nos transportes, que tornam a vida de todos num inferno. Portugal tornou-se numa entidade que não sai da cepa torta. Há semanas estive em Espanha e a diferença entre os dois países é cada vez mais gritante. Do lado de lá da fronteira sente-se movimento, animação, preocupação pela economia das pessoas e das empresas. Aqui não é isso que se passa e o Governo já nem se preocupa com o estado social. Esta semana Carlos Moedas escreveu um artigo sobre os falhanços do Estado e recorda que na Lisboa que conquistou está a desenvolver um plano de acção anti-inflação, a reforçar o Fundo de Emergência Social em quase 50%, a implementar um plano de saúde para as pessoas com mais de 65 anos, a possibilitar transportes gratuitos para os mais velhos e mais novos, a disponibilizar os equipamentos culturais da cidade de forma gratuita aos lisboetas. Comparem o que se passa em Lisboa com o que se passa no resto do país. Em vez de brigadas de propaganda o que era necessário era medidas concretas que melhorem a vida das pessoas.
SEMANADA - As obras de modernização da linha ferroviária do Oeste estão paradas há dez meses e correm o risco de perder financiamento comunitário; apenas 1% dos empréstimos à habitação estão a ser renegociados pelos principais bancos; o sector do turismo perdeu 45 mil trabalhadores durante a pandemia e debate-se com dificuldades em contratar pesoal; vão abrir 65 hotéis em Portugal em 2023; 15 anos depois de promulgada a Lei que determina a inventariação do seu património imobiliário, o Estado continua sem saber quantos terrenos ou edificios possui e também não sabe quantos dos edificios estão devolutos e poderiam ser colocados no mercado de arrendamento; a greve na Justiça já causou 8 mil adiamentos; oito urgências pediátricas vão fechar na zona de Lisboa; em Portugal os alimentos básicos já são mais caros que em Espanha e quase ao mesmo preço de França; um inquérito recente indica que, no conjunto dos países da União Europeia, a média de trabalhadores satisfeitos com a sua actividade profissional é de 43,8%, mas em Portugal o mesmo inquérito indica que apenas 21,6% dos trabalhadores se dizem muito satisfeitos com o seu emprego; nos últimos sete anos morreram mais soldados nos quartéis em Portugal do que em 20 anos de missões no estrangeiro; o Bispo de Beja sugeriu perdão para os padres abusadores.
O ARCO DA VELHA - Uma investigação no âmbito de um mestrado apurou que existem inquéritos para investigar casos de corrupção que se arrastam durante nove anos sem terem um desfecho.
DESENHOS AMPLIFICADOS - Chama-se “Baixo Eléctrico” a nova exposição de João Jacinto na Galeria 111, que ali ficará até 29 de Abril. Trata-se de um conjunto de novos trabalhos sobre papel feitos em 2022 e já este ano, com um traço marcante onde o desenho é peça fundamental (na imagem). João Jacinto começou a expor em 1986 e a sua obra está representada em diversas colecções nacionais e internacionais.Ao contrário de outras obras anteriores onde a forma de utilização das tintas produz volumes que se incorporam na imagem e criam uma perspectiva por vezes quase tridimensional, nesta exposição é o traço e o desenho que surgem em primeiro plano. A Galeria 111 fica na R. Dr. João Soares 5B, e pode ser visitada de terça a sábado entre as 10 e as 19 horas. Outros destaques: em Coimbra vale a pena visitar a nova exposição do Centro de Arte Contemporânea, “Pose”, que reúne até 28 de Maio trabalhos de nomes como Amadeo de Souza-Cardoso, Andy Denzler, Andy Warhol, Paula Rego, Júlio Pomar, Pedro Cabrita Reis e Vhils, entre outros. Destaque ainda para a exposição #Slow #Stop... #Think #Move Território #2, com curadoria de Ana Anacleto, agrupando um conjunto heterogéneo de obras, e que está até 5 de Maio na Fidelidade Arte, Largo do Chiado 8. Finalmente na Galeria Francisco Fino está a primeira exposição individual de Nuno Ramos, “Opening”, onde o artista apresenta um novo conjunto de instalações, com recurso a som, escultura e fotografia. Rua Capitão Leitão 26, até 11 de Março.
HISTÓRIAS DE CRISES - “Há cerca de uma década que venho assistindo a um deplorável declínio não só dos negócios no nosso país mas também no espírito das suas pessoas. Onde outrora morava a perseverança e a iniciativa, arrasta-se agora a apatia e o desespero”. Esta frase podia fazer parte do pensamento de muitos portugueses. Mas não é o caso. Trata-se de uma afirmação de Andrew Bevel, o protagonista da segunda história de “Confiança”, o livro de Hernán Diaz que foi vencedor do prémio Kirkus de 2022 é seleccionado no mesmo ano para o prémio Booker. É fascinante este livro, uma sucessão de histórias que se completam e se cruzam, umas encaixadas nas outras, todas girando em torno do mundo financeiro de Nova Iorque desde 1920, O relatório do prémio Kirkus frisa que “Confiança” é “Uma história complexa sobre poder, amor e a natureza da verdade”. A tradução, de Francisco Agarez, é excelente e esta história está a ser adaptada para uma série da HBO, produzida e interpretada por Kate Winslet. Hernán Diaz nasceu na Argentina, cresceu na Suécia e vive hoje nos Estados Unidos da América. Publicou em 2017 o seu primeiro romance, “Ao Longe”, com o qual venceu o Prémio William Saroyan e foi finalista do Pulitzer e do PEN/Faulkner. O livro atravessa várias épocas, inclui diversas personagens, quase como se a história que é contada se fosse recriando ao longo dos tempos. Estes são os quatro momentos do livro: “Obrigações” é protagonizada por Harold Vanner, “A Minha Vida” tem como personagem central Andrew Bevel, em “Memórias Relembradas” surge Ida Partenza e, a terminar, em “Futuros” é Mildred Bevel que recorda que “um sino, numa redoma, não toca”.
A LISBOETA - “Portuguesa” é o nome que Carminho escolheu para o novo disco, o seu sexto álbum, num ano em que tem em agenda uma série considerável de concertos em várias grandes salas europeias, com passagens por Espanha, Bélgica, Holanda, Reino Unido, Alemanha, Noruega ou Finlândia. Esta clara identificação com o seu país, é realçada pelo grafismo da capa e pela fotografia. Numa muito interessante entrevista a Nuno Crespo, Carminho sublinha que “o fado nasce com os nossos grandes poetas para dizer os grandes feitos dos portugueses”, sublinhando que “procuramos muito as ideias de identidade e pertença, mas depois acabamos a fazer coisas que não dizem nada sobre nós”. Sendo portuguesa, este disco de Carminho é também um retrato de uma lisboeta, que pega na música de Alfredo Marceneiro ou Frederico de Brito ou ainda na Marcha de Alcântara, o seu bairro. É um disco de poetas, de Manuel Alegre a Sophia de Mello Breyner, passando por David Mourão-Ferreira. Mas não é um disco saudosista, é um trabalho que cruza a tradição com colaborações com Luísa Sobral (num magnífico “Sentas-te A Meu Lado”), no “Ficar”, de Joana Espadinha, no “Simplesmente Ser” de Rita Vian, ou no “Levo o meu barco no mar”, de Marcelo Camelo. E há também originais de Carminho, como “As Flores" ou “Praias Desertas”. São ao todo 14 temas de um disco marcante, produzido pela própria Carminho e com arranjos desafiadores baseados no trabalho de músicos como André Dias na guitarra portuguesa, Flávio César Cardoso na viola de fado ou o baixo acústico de Tiago Maia, mas também nas sonoridades da guitarra eléctrica e a lap steel de Pedro Geraldes, o mellotron e o sintetizador de João Pimenta Gomes, a braguinha e o ukulele eléctrico de André Santos ou um teclado Rhodes, tocado pela própria Carminho. “Portuguesa”, edição Warner em CD e disponível nas plataformas de streaming.
PEIXES VEGETARIANOS - Num belo almoço de cozido, que juntou um grupo alargado de amigos, uma das convivas perguntou que alternativas poderiam existir já que era vegetariana e não poderia deliciar-se com os sabores dos enchidos e das carnes que perfumavam o arroz e os legumes que se tinham, todos, juntado na panela. A alternativa proposta pelo restaurante pareceu-me um genial ovo de colombo - peixinhos da horta acompanhados por arroz de coentros. Acontece que o restaurante onde isto se passou era o Papa Açorda, conhecido aliás pela categoria dos seus peixinhos da horta, essa invenção portuguesa de transformar feijão verde num petisco. Normalmente servido como aperitivo, o feijão verde envolto em polme e frito a alta temperatura, para ficar seco e estaladiço, leva-nos para uma das nossas mais antigas exportações gastronómicas, no caso para o Japão, onde se desenvolveram tempuras (frituras) de variadíssimas coisas. Mas regressamos aos peixinhos da horta - a sua combinação com o arroz de coentros resulta bem e constitui um petisco inesperado. A solução vegetariana proposta em dia de cozido revela imaginação e um bom improviso. Recentemente tive ocasião de experimentar uns outros peixinhos da horta muito bons, no Chiringuito, em Lisboa, um belo local de Campo de Ourique onde regressarei numa destas semanas.
BOM - O episódio de estreia de “Motel Valquíria”, na RTP1 - bom som, boa fotografia, bons actores, boa realização, boa edição - uma conjugação que nem sempre aparece nas produções portuguesas.
MAU - As respostas e a posição do cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, sobre os casos de abuso sexual praticados por membros da Igreja em Portugal.
DIXIT - “A crítica principal (à resposta da Igreja) é a de que as vítimas não estiveram no centro do discurso. Foi o que decepcionou mais “ - Daniel Sampaio
BACK TO BASICS - “Há dois pecados capitais de onde derivam todos os outros: impaciência e preguiça” - Franz Kafka
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